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DESCULPE DESCULPE capítulo três
fim de
semana foi legal, mas na segunda mais uma vez começava a minha labuta. Acordei
cedo e depois de tomar meu banho fui para a cozinha comer algo. Geralmente não
tinha fome de manhã, mas tinha que comer algo, pois não aguentava ficar em
jejum até o almoço e se não tomasse café da manhã por volta das dez horas eu
sentia uma grande fome a qual não podia saciar. Terminei de comer, escovei os
dentes e entrei no quarto do meu pai bem devagar e no escuro mesmo.
- Tchau pai, te vejo a noite.
- Até – falou ele resmungando
algo e em seguida voltou a dormir.
Sai e fechei a porta do quarto.
Gostava de me despedir do meu pai sempre que ia para algum lugar longe dele nós
nunca sabíamos quando poderia chegar nossa hora e eu não tive esse luxo com
minha mãe. Nem me lembro qual foi a última coisa que disse a ela. Assim que sai
de casa tratei de ir ao ponto de ônibus.
Esperei pelo ônibus que mais uma
vez estava atrasado. O ponto ia só enchendo e as pessoas não paravam de chegar.
Apesar da demora o ônibus em certo ponto e eu cheguei à porta da empresa faltando
dez minutos para o inicio do meu expediente. Ao chegar fui até o quinto andar assim
como todos os dias. Troquei de roupa, coloquei meu terno, a gravata e entrei no
elevador. O Sr. White estava dentro do elevador quando eu entrei.
- Bom dia Senhor White.
- Bom dia Mike – respondeu Adam
sem mais palavras – ficamos apenas nós dois no elevador naquele silêncio
constrangedor. O elevador parou no oitavo andar e para meu azar entrou a turma
de estagiários que costumava falar pelas minhas costas.
- Bom dia Adam – falou um deles
tentando mostrar intimidade.
- Bom dia Hunt – respondeu Adam
olhando no celular.
No décimo quarto andar a porta do
elevador se abriu e Adam pediu licença descendo naquele andar. Antes que a
porta de fechasse ele colocou a mão impedindo.
- Mike você poderia, por favor,
mandar um buquê de flores para Megan?
- Sim senhor, algum recado? –
perguntei.
- Sim, eu te passo por e-mail.
- Ok.
- Obrigado Mickey – falou Adam
com um sorriso.
A porta do elevador se fechou e
por alguns segundos o silêncio predominou, mas logo começaram os burburinhos começaram.
Um dos estagiários falava algo e os dois rapazes e duas moças que estavam com
ele riam e olhavam para mim. Tentei não me importar, mas ouvi algo em sua frase
que soou como “será que ele faz a chuca?”.
O elevador parou no décimo oitavo
andar e os estagiários desceram. Ao chegar no vigésimo desci do elevador,
acendi as luzes, desativei o alarme e abri a porta da sala de Adam. Liguei as
luzes do enorme aquário que ficava na recepção, coloquei copos descartáveis no
bebedouro, conferi se a responsável pelo café o tinha feito e confirmei sentindo-o
queimar na minha língua.
Fui para a recepção, liguei meu
computador e exatamente ás oito e dez recebi o e-mail com a frase “Você é a
mulher mais importante da minha vida. Me perdoe, eu te amo muito”. Liguei na
floricultura e encomendei duas dúzias das flores que Megan gostava. Lírios eram
suas flores preferidas. Eu por outro lado nunca gostei de flores e disse a
Charley uma vez que se ele enviasse flores para meu trabalho eu o faria comer
as flores. Passei o endereço da casa de Adam e pedi que fossem entregues depois
dás dez da manhã.
Pouco depois das nove da manhã o
elevador se abriu e de lá de dentro saiu Adam ajeitando a graveta.
- E ai Mike, já encomendou as
flores?
- Sim senhor, lírios.
- obrigado, não sei o que faria
sem você.
Adam foi em direção à sala e logo
olhou para mim.
- Esqueci-me do café – falou ele
voltando
Coloquei o café em uma caneca e
entreguei para ele.
- está do jeito que o senhor
gosta: quente e forte.
- Obrigado – falou ele pegando a
caneca – quase me esqueci – falou ele tomando um gole – marquei uma reunião de
emergência para hoje as nove e meia com todos os sócios. É uma reunião
importante e gostaria que não marcasse nenhum compromisso pra mim na parte de
manhã. E gostaria também que anotasse recados de todas as ligações, a não ser
que seja Megan.
- Sim senhor. Pode ficar
tranquilo
Adam tomou outro gole de café e
foi para a sua sala com a caneca na mão.
Me sentei próximo ao computador e
peguei minha pasta e comecei a digitar as planilhas, atualizando os valores o
que me exigia total atenção e já que os sócios não chegariam até ás nove meia eu
estava mais tranquilo quanto á isso. Atendi a algumas ligações e antes que eu
percebesse já eram nove e vinte.
Me levantei, estiquei as pernas e
tomei um copo de água gelada. Assim que me sentei para continuar a digitar a
planilha ouvi o sino do elevador chegando ao andar.
- ‘Chegaram cedo’ – pensei comigo
mesmo.
Eu olhei para o elevador e vi meu
pai saindo.
- Pai? Tá fazendo o que aqui? –
Me levantei e dei a volta na bancada rapidamente.
- Vim falar com seu chefe – falou
meu velho ajeitando o terno. Fazia um bom tempo que não o via de terno. Ele deve tê-lo tirado do
fundo da gaveta pra parecer um cara bacana
- O que? Por que? – falei
desesperado.
- Disse que te defenderia com unhas
e dentes e não vou deixar que um bando de preconceituosos façam você se sentir
mal em vir para o trabalho. Já não bastou isso no colegial?
- O Colegial? O senhor viu como
terminou quando tentou resolver as coisas por mim?
Meu pai me encarou por alguns
segundos
- Eu disse que não me importo.
Naquela época eu até me importava, mas não agora. Eu cresci e passo por cima.
Faça o mesmo. Por favor pai.
- Sei como você fica quando sofre
preconceito, você fica remoendo por dentro e isso acaba de machucando.
- Se o senhor me ama é hora de
provar isso. Vai embora pai, eu vou perder o emprego – falei isso fazendo com
que ele ficasse de frente para o elevador. Eu apertei o botão esperando o
elevador que ainda estava no quarto andar.
Olhei para trás e Adam estava lá
dentro com a porta fechada. Sétimo andar, oitavo, nono, décimo, décimo
primeiro… A porcaria do elevador demorava muito para subir.
- Que fique registrado que eu
tentei – falou meu pai segurando a chave do carro na mão.
- Por favor pai, se você quer
subir na vida tem que engolir alguns sapos e outras coisas – falei para ele.
O elevador chegou e abriu a porta
e antes que meu pai entrasse Adam abriu a porta de sua sala.
- Mike! Você pode... – ele olhou
para meu pai – Este senhor veio me ver? – perguntou Sr. White confuso e
curioso.
- Não conta para ele que sou gay–
falei sussurrando e ele concordou sinalizando com a cabeça.
Meu pai se virou e apertou a mão
de Adam.
- Esse é meu pai – falei sem
graça.
- Senhor Fabray? Que prazer
finalmente conhecê-lo – falou Adam com um sorriso no rosto.
- Digo o mesmo – falou meu pai –
gostaria que fosse em uma ocasião melhor.
Eu estava travado. Não sabia o
que fazer. Era uma situação surreal.
- Algum problema? – Sr. White disse
isso olhando para mim e para meu pai, mudando sua expressão que agora
demonstrava preocupação.
- Nem sei o que dizer – falei
forçando um sorriso.
- Vamos para minha sala – falou
Adam mostrando a porta – lá podemos conversar. Você vem Mike?
- Não – respondi – vou terminar o
relatório e pular da janela – falei me virando.
Eles entraram na sala e fecharam
a porta. Ao mesmo tempo senti uma dor infernal na cabeça. Puta que pariu era só
o que me faltava. Tentava esconder esse lado do meu chefe, mas meu pai tinha
que aparecer. Eu e minha grande boca.
- Estou frito – falei dando a
volta na mesa e me sentando.
Coloquei a mão no meu rosto e
fechei os olhos tentando relaxar. Quisera eu que aquilo fosse um pesadelo. Se
eu caísse da cama e acordasse no meu quarto seria a melhor coisa que
aconteceria comigo.
Voltei a escrever o relatório,
mas eu estava muito ansioso e não conseguia me concentrar, eles já estavam lá
dentro a mais de quinze minutos e foi quando caiu a ficha que os outros
chegariam em breve, mas antes que eu terminasse de organizar meus pensamentos a
porta do elevador se abriu e todos os quatro saíram de dentro. Eu dei um pulo
da cadeira
- Bom dia! – essa frase ecoou
porque todos disseram ao mesmo tempo.
- Meu irmão já chegou? –
perguntou Xavier.
- Pra falar a verdade ele... – e
pronto. Antes que eu terminasse a frase Adam abriu a porta pedindo para que
todos entrassem.
- Vou pedir demissão e mudar de
país – falei desesperado – vou perder anos de trabalho. Talvez eu tenha uma
chance se meu pai realmente não disser nada sobre minha sexualidade. Com certeza
perderia o emprego. Os minutos se arrastaram como horas e em seguida Steven
abriu a porta.
- Mike?
- Sim.
- Vem aqui, por favor.
Eu estava nervoso com borboletas
no estômago e achei que iria desmaiar... Até que não seria uma má ideia. Um
desmaio é a perfeita desculpa pra fugir de qualquer coisa.
- Com licença – falei entrando e
fechando a porta.
Meu pai estava sentado na cadeira
de frente para Adam e Gray estava sentado em uma das poltronas da sala enquanto
Xavier, Steve e Vanessa estavam em pé.
- Seu pai estava me contando o
que aconteceu e eu contei para todos.
- Si-sim – falei tremendo a voz –
não foi nada demais.
- Quem é esse funcionário? Eu
quero o nome dele e de todos que você ouviu dizendo essas coisas sobre você.
Eu fiquei calado e não conseguia
falar.
- Mike? – falou meu pai.
- Com todo o respeito, mas eu não
dizer os nomes.
- Você precisa dizer o nome –
falou Xavier – você não pode trabalhar em um lugar e ficar ouvindo essas
coisas, não estamos mais no colégio para que você tenha receio de vir
trabalhar.
- Quem são? – falou Vanessa se
aproximando de mim.
Eu fiquei calado e olhei para
Adam.
- Sei que você está protegendo
eles, mas duvido que eles fariam o mesmo por você – falou Adam.
- Não espero que eles façam o
mesmo por mim, só acho que denunciá-los vai apenas piorar minha situação. Eu
sofri com isso no colegial e ter contado só piorou a situação.
Olhei para meu pai e ele fez um
sinal com a cabeça bem discreto e me fez entender que ele não tinha contado que
eu sou gay.
- Você sofreu no colegial? –
perguntou Adam – com o que?
- Com fofoca – falei tentando
contornar a história.
Ficamos todos em silêncio alguns
segundos.
- Pessoal à reunião está
cancelada – falou Adam. Pronto, eu estava frito a reunião importante tinha sido
cancelada por causa de um problema pessoal insignificante. Eu vou pular pela
janela como tinha planejado.
- Sinto muito senhor, mas não vai
ouvir o nome deles pela minha boca – falei – e se me der licença eu preciso
terminar o relatório que o senhor pediu com urgência.
Me virei, sai da sala e fechei a
porta voltando para o meu lugar de trabalho. Me sentei e respirei fundo
pensando no que aconteceria em seguida: Estava desempregado.
Comecei a secar os olhos que
estavam úmidos de suor e lágrimas. Sempre que estava em uma situação de muita
pressão eu não conseguia impedir meus olhos de se encharcarem. Depois que sai
de lá eles ficaram na sala mais uns quinze minutos e logo Xavier, Vanessa, Gray
e Steve saíram. Me levantei e todos vieram até mim.
- Fique tranquilo Mike, não vamos
te mandar embora – falou Xavier. Meu pai provavelmente tinha dito que eu tinha
muito medo de perder o emprego e esse tinha sido um dos motivos para que eu não
contasse sobre o assédio moral que eu estava sofrendo na empresa. Eu presava
muito por aquele emprego.
- Vá para a casa e descanse,
pegue uma folga hoje – falou Gray.
- Não posso, tenho muito
trabalho.
- Não é um pedido – falou Steve –
Seu pai nos contou como você fica envergonhado por falar sobre esse assunto
tipo de assunto. É melhor que você vá para casa.
- Eu estou bem – falei forçando
um sorriso – eu vou ficar melhor aqui no trabalho.
- Mike – falou Sr. Adam saindo da
sala com meu pai – eu sou seu chefe e eu estou mandando que você vá para casa e
pegue o resto da semana de folga.
- Eu te dou uma carona – falou
meu pai.
- Pode ficar tranquilo, eu vou
chamar um dos estagiários para assumir seu lugar essa semana, tenho certeza que
eles vão matar uns aos outros para ficar no seu lugar – ele disse isso fazendo
todos rirem e eu forcei um sorriso.
Peguei minha mochila e dei a
volta na mesa e fui até meu pai.
- Fica tranquilo que você
continua sendo meu assistente preferido. Só quero ver você na segunda – o Sr.
White.
- Tive uma ideia – falou Vanessa
– que tal Mike escolher o estagiário que vai assumir o lugar dele?
- Ótima ideia – falou Adam –
vamos todos com eles.
Todos entraram no elevador e eu
fiquei lá no meio deles me beliscando para que eu acordasse do pesadelo. O
elevador parou no décimo oitavo andar e a barulheira parou quando a porta se
abriu e todos ficaram trabalhando e olhando pelo canto do olho enquanto os
sócios caminhavam entre eles.
- Bom dia pessoa – falou Sr.
White com a voz grossa e em um alto tom.
- Bom dia – respondeu todo o
andar.
- Gostaria de fazer um comunicado
– Sr. White olhou para mim – seu colega de trabalho e meu assistente Mickey
Fabray vai tirar uma folga essa semana e até que ele volte vou precisar de um
ajudante temporário. Alguém que vai me ajudar muito e que com certeza ganhará o
meu apresso para toda a vida.
Nesse momento todos prestaram
atenção no que o Sr. White dizia.
- E como ele tem minha total
confiança é ele quem vai escolher seu substituto.
Olhei em volta e vi Hunt com um
rosto espantado. Aqueles que riram de mim também tinham a mesma expressão em
seu rosto, pelo menos aqueles que eu sabia que tinham falado de mim.
Praticamente todo escritório ria de mim e eu não daria essa chance para alguém
que não merecesse. Foi então que eu lembrei de uma garota que tinha entrado a
duas semanas. Eu tinha dado umas dicas de entrevista e ela tinha sido
contratada e desde o dia que foi contratada eu nunca a vi em nenhum grupinho. Ela
era sempre muito educada, uma das poucas pessoas que conversavam comigo.
- Sabrina – falei apontando para
ela. Ela era a pessoa certa. Adam mesmo disse que fui contratado por ser uma
pessoa confiante e com certeza Sabrina também era.
Ela veio andando até nós e Adam
apertou a mão dela.
- Parabéns Sabrina – falou Sr. Adam
com um sorriso.
- O senhor não vai se arrepender
– falou Sabrina com um sorriso estampado no rosto. Ela olhou pra mim e apertou
minha mão muito agradecida.
- Obrigado Mickey – falou ela.
- Você é a pessoa certa para esse
trabalho, eu vou te ensinar o básico e depois fica por sua conta.
Entramos no elevador e voltamos
para o vigésimo andar. Mostrei o local e tudo o que ela tinha que fazer no dia.
Entreguei a agenda telefônica e os dois celulares da empresa que estavam
comigo. Ensinei o básico no meu cargo. Depois de ensiná-la era hora de me
despedir. Bati na porta da sala de Adam.
- Eu já ensinei tudo para ela
senhor – falei abrindo a porta.
- Excelente! – falou Adam com um
sorriso – e não se atreva a voltar aqui até segunda.
Eu não respondi nada e entrei na
sala e sentei na cadeira.
- Posso te perguntar uma coisa ao
senhor?
- Claro Mike – falou Sr. Adam
franzindo a testa.
- Por acaso isso é um tipo de
armadilha? Senhor... por acaso eu escolhi a pessoa que vai ocupar meu lugar
daqui pra frente?
- Claro que não Mike. Depois do
que seu pai me contou eu preciso tomar uma providencia. E como você não quer
dizer os nomes eu preciso descobrir do meu jeito e posso eliminar uma pessoa da
minha lista... Sabrina. E para evitar problemas com eles prefiro que você não
esteja aqui.
- Obrigado – falei feliz.
- Agora vá para casa e descanse.
Sai da sala e encontrei meu pai,
descemos o elevador e logo chegamos ao seu carro. Entramos e eu fiquei calado
toda a viagem até em casa.
- Você está com raiva de mim? –
perguntou meu pai quando entramos em casa.
- Não – respondi ríspido.
- tem certeza? – insistiu meu
velho.
- sim pai. Tenho certeza. O que
passou, passou.
- Tudo bem – falou meu pai
colocando a mão no meu ombro.
Quando chegamos em casa eu fui
direto para as escadas.
- Vou para meu quarto dormir um
pouco – falei me sentindo cansado.
Subi as escadas tirei minha roupa
e fiquei pensando o quão ridículo eu estava parecendo aos olhos dos meus
chefes. Parar a empresa toda por causa de um problema supérfluo como esse.
Estava me sentindo um completo idiota. Um fraco. Agora já não adianta chorar
sobre o leite derramado.
Havia se passado uma semana e era segunda novamente.
Tive muitos dias para pensar em como eu seria visto na empresa. As piadas não
iriam acabar, talvez eu não ouviria ou veria nada, mas continuariam e desde que
eu não ouvisse sobre eu não me importaria, afinal o que os olhos não veem o
coração sente. Levantei-me religiosamente ás seis da manhã e depois de um banho
bem tomado escovei os dentes e fui até a cozinha para comer algo e meu pai já
estava acordado.
- bom dia pai – Falei me sentando
do outro lado do balcão de frente para ele. Coloquei um copo de leite com
achocolatado em um copo.
- não precisava ter acordado tão
cedo meu filho. Esqueci de avisar que eu vou te levar hoje. Uma carona sempre é
bem vinda.
- não tem problema – falei
sorrindo para ele. Eu estava com uma atitude positiva.
Uma vez que estávamos a caminho
do trabalho decidi iniciar uma conversa com meu velho.
- o senhor vai trabalhar hoje?
- vou sim.
- em casa?
- sim. Porque?
- eu estava pensando em marcar outra
noite de filmes com Charley. Achei legal aquele fim de semana que ele apareceu.
- pode marcar filho.
- gostaria que o senhor estivesse
também. Se não se importa.
- estarei sim. com certeza.
- tem certeza? Não quero que o
senhor esteja presente se o senhor não se sente confortável comigo e Charley.
- porque você é assim Mike?
- assim como?
- você tem essa mania de tentar
decifrar o que as pessoas pensam sobre você e depois joga em cima delas.
- eu não faço isso pai.
- faz sim. Fez comigo. Você
coloca na cabeça que eu não te aceito e depois faz a suposição e fala como se
eu tivesse feito algo. Eu sempre deixei tudo tão confortável com você. Sempre
te aceitei e vai por mim, não foi fácil conversar com você sobre sexo. Eu tive
que passar um dia inteiro assistindo a filmes pornográficos entre dois homens
só para poder te explicar como tudo funcionava. Na época não existia muito
material destinado a pais com filhos gays.
Meu pai estava falando a verdade.
Eu sempre esperava o pior das pessoas. Talvez sejam os noticiários, mas talvez
o mundo esteja mesmo diferente. Um pouco menos pior do que eu imaginava.
- desculpa pai. O senhor não
contou nenhuma mentira.
- eu não estou jogando nada na
sua cara filho, só estou dizendo que talvez seja melhor dar uma chance as
pessoas a se expressarem. Você pode se surpreender com o que elas pensam sobre
você.
- vou tentar – falei sorrindo.
Logo chegamos á empresa e meu pai
estacionou o carro do lado e nós dois saímos do carro.
- o senhor vai me levar lá em
cima? – perguntei.
- não preciso – falou meu pai
tapando o sol em seu rosto com uma mão e com a outra apontou para o Sr. Adam
que atravessava a rua com um copo de cappuccino na mão. Ele vinha em nossa
direção.
- bom dia, bom dia, bom – falou Sr. Adam apertando a mão do meu pai. –
tudo na maior paz com você Mike?
- sim senhor. Tudo ótimo.
- fico feliz que esteja de volta
meu rapaz – falou ele tocando meu ombro.
- obrigado senhor. Também estou
feliz por estar de volta.
- o senhor quer subir para tomar
um café? – perguntou Adam para meu pai.
- vamos pular as formalidades
afinal nós temos praticamente a mesma idade, pode me chamar apenas de Larry.
- aceita Larry? – perguntou Sr.
Adam educado.
- não, obrigado, preciso chegar
em casa e trabalhar em novos cartoons.
- bom, nesse caso, foi bom ver
você Larry.
- digo o mesmo – falou meu pai
apertando a mão de Adam – até a noite filho.
- até a noite pai – falei baixo e
dei um abraço nele e um beijo no rosto.
Meu pai entrou no carro e partiu
enquanto Adam e eu caminhávamos em direção a entrada do prédio. Desci no quinto
andar para vestir meu terno e Adam subiu até o vigésimo. Depois de pronto entrei
no elevador que já tinha alguns estagiários. Assim que entrei eles ficaram em
silêncio até que desceram. Eu achei estranho, mas eu já esperava por isso.
Desci no vigésimo andar e fui até
minha mesa, liguei o computador. Minhas coisas estavam fora de lugar, Sabrina
tinha mesmo passado todo aquele tempo em que fiquei fora. Arrumei minhas coisas
e logo o elevador se abriu e todos apareceram e vieram até mim.
- bom dia Mike Mike – falei para
Gray apertando minha mão – senti sua falta cara.
- também senti, é tão chato ficar
em casa sem fazer nada.
Steve veio e apertou minha mão.
- beleza? – falou ele tentando
parecer um ser humano com alma. Ele acha que esqueci de quando ele jogou lama
em mim.
- sim e você? – falei com um
sorriso falso.
- estou ótimo.
Eles entraram na sala junto com
Vanessa que também me cumprimentou. Passado alguns poucos minutos que estavam
lá dentro Xavier também chegou.
- bom dia Mike! Como é bom ver
você.
- bom dia senhor. – ele veio até
mim e apertou minha mão forte.
Xavier também entrou na sala junto
com o restante dos sócios. Alguns minutos se passaram e assim como eu esperava
meu telefone tocou e o Sr. Adam pediu que eu fosse até a sua sala.
- com licença – falei entrando na
sala e fechando a porta atrás de mim.
- sente-se aqui – falou o Sr. Adam
me mandando me sentar na cadeira de frente para ele. O restante estava de pé.
- Mike, eu gostaria de dizer que
você não precisa mais se preocupar, os responsáveis já foram demitidos.
- como o senhor descobriu?
- eu disse que ia usar as armas
que eu tinha. Foi fácil.
- mas não vai fazer falta?
- eu demiti seis pessoas,
incluindo Hunter que tratou de dedar os amigos.
- nós temos uns quarenta
estagiários na fila – falou Xavier – é só jogar o osso contratar os seis
primeiros quem morderem.
- bom, eu tenho que agradecer –
falei sem graça – mas eu tenho que pedir desculpas por todo o ocorrido.
Especialmente por meu pai ter vindo até aqui trazer esses problemas a tona.
- não precisa se desculpar, eu
também sou pai e sei como ele se sentiu. Imagina descobrir que o filho é falado
de forma tão pejorativa no local de trabalho. Você espera que seu filho seja
uma pessoa de bem e não um viado. Aqui na empresa não admitimos isso.
Adam usou exatamente essas
palavras. Era como se a admiração que eu tinha por aquele homem tivesse se
despedaçado dentro de mim em milhares de cacos de vidros.
- você é um rapaz bom e
responsável Mike, você não merece ser comparado com esse tipo de gente.
Todos riam um pouco enquanto ele
falava aquelas coisas, eu tentei forçar uma risada, mas não consegui. A única
que não riu foi Vanessa que já desconfiava de algo. Percebi que Gray também não
achou muito engraçado as observações de Adam.
Ouvir aquilo me doeu bastante,
era pior do que levar um tiro. Sempre gostei de imaginar que as pessoas para
quem eu trabalho eram educadas e bem evoluídas. O pior é que iria ficar
remoendo dentro de mim, então decidi abrir logo o jogo, para que não precisa-se
que meu pai viesse no meu trabalho outra vez.
- Senhor Adam, com todo o respeito
– falei respirando fundo. Percebi que Adam mudou sua expressão – essas palavras que disse agora me doeram
muito.
Todos pararam de rir e prestaram
atenção em mim. Eu estava nervoso, mas eu tinha que fazer o que tinha que ser
feito, doesse a quem doer. Adam engoliu sexo ao me ouvir dizer aquilo.
- desculpe se esse tipo de gente
não é boa para trabalhar para o senhor. Eu sou gay e posso te garantir que não
tem nada de indecente no meu comportamento.
Todos ficaram em silêncio e Adam mordeu
os lábios parecendo arrependido. Se eu cortasse a bochecha do Sr. Adam não
sairia uma gota de sangue. Ele estava pálido.
- Mike, eu não quis... não
teria... – falou ele se concertando na cadeira.
- não adiantou muita coisa ter
demitido pessoas se eu vou ser ofendido por você que é meu chefe.
Ficamos todos em silêncio e eu
sentia algo dentro de mim, que não me deixava calar a boca e agora que eu tinha
dito tudo aquilo, só restava apenas uma coisa para ser dita.
- sendo assim... Eu me demito! –
disse isso pegando o meu crachá e o cartão que eu usava para entrar no prédio e
colocando na mesa do Sr. White. Me levantei e sai pela porta sem olhar para
trás.
Fui até o balcão da recepção e
dei a volta pegando minha mochila e jogando algumas coisas dentro. Não demorou
para a porta se abrir. Xavier saiu da sala de Adam e veio andando em passos bem
rápidos até mim.
- Mike, meu irmão não quis dizer aquilo…
- estou cansado de pessoas sendo
preconceituosos, homofobicas e depois dizendo ‘Hey, não era isso que eu queria
dizer’ como se nós gays fossemos algum tipo de ser humano não funcional que não
entendem as coisas. Nós sabemos muito bem o que pessoas querem dizer quando
querem nos ofender. E não se preocupe. Eu não vou processar vocês. Eu posso,
mas não vou fazer isso. Eu realmente aprecio tudo o que fizeram por mim apesar
do preconceito.
Sr. Adam e Vanessa saíram da sala
em seguida e vieram até mim.
- Mike por favor – falou Sr. Adam
se aproximando de mim. Xavier deu espaço a ele. Eu não disse nada e apenas continuei
colocando minhas coisas na mochila.
- Xavier; Vanessa, por favor, me
deixem conversar á sós com ele – falou Adam um pouco arrogante.
Adam deu a volta no balcão e me
chamou para perto da parede junto dele. Adam se aproximou perto de mim e falou
em um tom bem baixo de voz para que apenas eu ouvisse o que ele tinha a dizer.
- Mike, pelo amor do que você
acredita, não vá embora.
- não posso continuar sabendo que
o senhor pensa daquele jeito, se um dia você disser algo parecido perto do meu
pai, ele é capaz de ir pra cima do senhor. Vai por mim. Eu respeito o senhor
ter essa opinião. Mesmo que seja uma opinião idiota, preconceituoso de
medieval, mas até eu consigo respeitá-la.
- me perdoa, eu não quis dizer
aquilo, é que achei que estávamos todos entre amigos.
- quando está com seus amigos
héteros é assim que você fala o meu “tipo de gente”?. Você fala como se
fossemos pessoas de segunda categoria. Como se merecêssemos tudo o que sofremos
todos os dias.
- você não é pessoa de segunda
categoria – falou ele deixando a voz falhar como se quisesse chorar. Não sei se
é uma tática de advogado, mas funcionou.
- é meio difícil de acreditar
depois de ver todos rindo da minha cara daquele jeito – falei abaixando minha
guarda.
- Não sei o que dizer para
concertar o que eu disse. Me sinto profundamente arrependido por tudo o que
disse.
Respirei fundo e tentei me
acalmar. Estaria eu equivocado? Estaria eu sendo levado pelas emoções? Finalmente
tinha seguido o conselho do meu pai e deixado as pessoas se expressarem e olha
só no que deu? As pessoas foram exatamente o que eu esperava delas: mesquinhas
e preconceituosas
- eu sinto muitíssimo. Fique! Eu
te dou um aumento de cinquenta por cento.
- então vai me subornar? É o medo
do processo?
- mas é claro que…
- não. Obrigado. Prefiro ser um
desempregado com dignidade do que um homem que fica em um local de trabalho desprovido
de respeito apenas por dinheiro.
- eu não penso daquele jeito, é
que costumamos fazer esse tipo de brincadeira.
- para se sentir superiores?
Fazer essas brincadeiras infla seu ego o suficiente? Se achar melhor do que os
gays realmente faz com que você se sinta melhor consigo mesmo? Qual sua
desculpa? O fato de não podermos engravidar? A “palavra do senhor?” ou o
simples argumento de “o órgão excretor
não foi feito para reproduzir?”. Diga qual sua desculpa porque eu já ouvi
várias e todas elas são imbecis.
- Mike, você entende... essas
brincadeiras surgem quando o assunto surge.
- quer saber? Eu não entendo.
Nunca entendi, não sei o que tem de engraçado. Você faria brincadeira com
negros se ‘surgisse o assunto’? – Respirei fundo quando eu disse aquilo. Estava
claramente muito nervoso, mas agora que tudo havia sido dito já não tinha mais
volta.
- me perdoa Mike. Eu peço
sinceras desculpas pelo o que disse ou por como fiz você se sentir. Realmente
não tive muito contato com gays em minha vida, só no colegial e você sabe como
é. Ou você zoa os gays ou você se torna um deles. Não fui homem o suficiente
para defender os gays que sofriam bullying e acabei me tornando um bully. Eu sei que tenho muito que
aprender e vou aprender, especialmente pelo tipo de pessoa que você é. Se você
estiver disposto a me ensinar eu prometo ser o seu melhor aluno.
- obrigado, significa muito ouvir
isso de você – falei sem graça.
- Se todos os gays forem como
você, responsáveis, trabalhadores, humildes... o mundo será melhor se estiver
cheio deles.
Olhei para baixo e fiquei
encarando o chão, já estava me arrependendo de tudo o que tinha dito para ele.
- me desculpa pelo o que eu disse
– falei sem graça.
- depois do que eu disse, você é
que precisa aceitar minhas desculpas. Você não sabe o quanto eu estou
envergonhado pelo o que eu disse, quando você me falou que é gay eu quase morri
por dentro, me senti impotente por fazer você se sentir assim. Tive muitos
desafios na minha vida e agora sou um homem de sucesso que tem a chance de
fazer a coisa certa. E é isso que eu vou fazer. Você é gay e eu tenho orgulho
de ter você na minha equipe. Tenho orgulho de você ser meu braço direito.
- acredite em mim quando digo –
falei tentando conter um sorriso – o senhor fez a coisa certa dessa vez.
- vivendo e aprendendo – falou
Adam – batendo a mão em meu ombro e mantendo ela – posso contar com você?
- pode sim – respondi sem graça tentando esconder um
sorriso.
- obrigado Mike – falou Adam com
um sorriso apertando os lábios.
Ele me acompanhou até a sala dele
aonde eu pude pegar meu crachá e voltei para a mesa. Os outros estavam em
frente ao balcão conversando. Eles se despediram e logo estava de volta ao
trabalho, pronto para outra semana.
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Para quem não estiver conseguindo acessar, aqui vai o link correto para a página do capítulo 1 desta temporada.
ResponderExcluirhttp://casadoscontoseroticosgay.blogspot.com.br/2014/07/capitulo-1-chuva-paixao-secreta.html