Capítulo 13: Cruel Festa de Aniversário | Conto: Cruel Sedutor

XIII

Cruel Festa de Aniversário

---

N

ão preciso dizer que estava sem ar. Cada vez que o ar entrava em meus pulmões ele saia queimando. Meu estômago doía, meu coração se agitava e meu cérebro não se desligava. Deve ser por isso que passei a noite de sexta para sábado acordado. A ansiedade e nervosismo me mantiveram acordado a noite toda. Cochilei algumas vezes, mas acordava de hora em hora com pensamentos e pensamentos. Perguntas sem respostas, sentimentos estranhos. Meu corpo era literalmente um caleidoscópio de sensações. Quando acordei ás seis da manhã decidi sair para uma breve caminhada. Depois de caminhar por quatro quadras vi de longe o Parque do Lago Eola. O sol estava prestes a nascer.

O lilás e o amarelo se misturaram á medida que o sol avançava para cima. Não era apenas eu. Havia dezenas de pessoas no parque visualizando o por do sol. A maioria de nós estava de pé na grama apreciando algo que acontecia todos os dias, mas que passava despercebido. Às vezes é preciso parar e observar ao seu redor o quanto a vida é bela. O nascer do sol, alguns patos e cisnes no lago, um cachorro correndo atrás de um pássaro que pega voo rapidamente ao perceber que está sendo atacado. Era como se visse o mundo se mover em câmera lenta.

Na sexta feira eu praticamente nem existe. Apenas estive lá. Não me sentia um ser humano, mas sim um zumbi andando de um lado para o outro obedecendo a ordens. ‘Sim senhor’, ‘não senhor’, é pra já… essas foram algumas das frases que mais utilizei nessa sexta feira. Sem perguntas, sem conversar, nada. Eu inclusive disse á Quinn que não poderia lanchar com ela como fazia todas as tardes. Para meus colegas de trabalho disse que almoçaria com minha amiga Mya, mas a verdade é que voltei para o hotel e me tranquei. Pedi meu almoço e fiquei lá sozinho. Aquela sexta feira foi um pouco obscura para todos os envolvidos. Para minha sorte eu não cheguei a ter uma conversa completa com Clyde e nem com Paul. Eu não o encontrei como acontecia as vezes. Eu só queria ficar sozinho e pensar.

Mya parecia mais animada do que eu. Para ela era algo normal. Ela já havia passado pro a    quilo dezenas de vezes. Aquilo é algo que nunca imaginei fazer. Não com essa mão. Pensei que talvez depois da cirurgia eu conhecesse alguém legal em uma festa ou em um bar e de lá nós iriamos para a casa dele ou a minha. As coisas não estavam acontecendo da forma que eu imaginei. Aqui estou eu com as mesmas mãos sendo convidado para uma noite com um casal. Talvez fosse pesado demais para uma primeira vez, mas e dai? Duas cabeças pensam melhor do que uma.

Talvez por sexta feira ter sido tão cinzenta que eu tenha decidido levantar mais cedo no sábado para poder assistir o por do sol iluminar as diversas cores a minha volta.. Alguns minutos depois e o sol mostrou toda sua face. Decidi voltar para o hotel, pois teria um sábado agitado. Clyde estava de folga já que era seu aniversário então os colegas policiais decidiram chegar de surpresa para um almoço na casa de Clyde para comemorar seu aniversário da melhor maneira possível: um almoço, churrasco, cerveja e um bolo. A esposa de Clyde estava envolvida. E parece que a filha de Clyde não poderia ir porque estava viajando com as colegas da universidade para um evento das Nações Unidas em Washington.

Estava um pouco nervoso por conhecer a esposa de Clyde. O desejo que tinha pelo marido dela era intenso e eu não sabia como olhar para a mulher com quem ele dividia a cama com ele todos os dias. Talvez houvesse um pouco de ciúmes ou inveja envolvidos, mas sabia que era bobeira minha. O dia seria perfeito. Começou perfeito e terminaria perfeito.

Ao chegar ao hotel fui até o restaurante e me espantei ao encontrar Mya. Era cedo. Pouco mais das sete e meia quando cheguei ao restaurante.

- onde você estava? – perguntou Mya enquanto me aproximava.

- fui ver o sol nascer no Lago Eola – Parei ao lado dela e peguei uma das uvas que tinha em seu prato – o que diabos VOCÊ faz aqui tão cedo? Você devia estar dormindo.

- não posso. Rudolph me ligou e disse que hoje vamos fazer uma pequena vigem.

- viagem? Para onde?

- ele disse que vamos dirigir até a Cocoa Beach para passar o fim de semana. Vamos á praia, fazer trilha, visitar os parques… um fim de semana perfeito.

- e a esposa dele?

- acha que ele estará viajando á trabalho – falou Mya colocando um morango na boca.

- só ele pra te fazer levantar tão cedo da cama né?

- olha quem fala. Aposto que nem dormiu ansioso com a noite de hoje.

- eu quem o diga – falei tomando um gole do café dela – eu nem sei com vou fazer esse almoço para o aniversário de Clyde. Minha cabeça está voando sabe.

- relaxa Stan. Você não disse que Paul garantiu que tudo ocorreria bem? Relaxe. Eles devem ter experiência nisso. Devem fazer isso o tempo todo.

- eu sei, mas é que por mais que eles sejam experientes essa será minha primeira vez. Não conheço meus gostos. Ninguém nunca tocou meu corpo dessa forma.

- nossa! Eu quase esqueci – falou Mya chegando bem perto de mim – você precisa se cuidar antes de ir.

- eu vou me cuidar. Depois que voltar da festa de Clyde vou voltar aqui pro hotel tomar um banho e pegar um Uber até a casa deles. Não fica muito longe daqui.

- ótimo. Nas minhas coisas você vai encontrar um creme de pêssego para a pele. Depois que tomar banho você passa ele pelo corpo todo. Todo mesmo. Ele tem um perfume maravilhoso.

- mas eu odeio esses cremes. Eles me deixam grudento.

- só no começo. Depois ele seca e ainda te deixa com um perfume da hora.

- eu não sei…

- Amor você vai fazer sexo pela primeira vez. Precisa ir cheiroso. E tenho certeza de que eles vão tirar todo o creme de você… com a língua.

- credo Mya.

- pelo amor de Deus Stan. Vá com a mente bem aberta.

- sim. Eu vou é que eu estou mais preocupado com a penetração do que com o resto.

- não se preocupa. A penetração será o momento mais doloroso e mais prazeroso que você sentirá na vida. Segunda feira você me conta.

- okay – falei rindo envergonhado.

- meu amigo vai tranzar – falou Mya rindo.

- cala a boca – falei apertando os lábios com vergonha – preciso ir. Nós combinamos de nos encontrar na delegacia ás oito para irmos para a casa de Clyde.

- vai lá. Boa sorte pra você.

- pra você também. Bom final de semana.

- te ligo amanhã cedo para quem e conte como foi.

- combinado – dei um beijo no rosto de Mya e corri para o meu quarto.

Tomei um longo banho e quando sai do banheiro me sequei e joguei a toalha em cima da cama. Peguei minha cueca e vesti. Peguei a camisa, mas antes de me vestir olhei para o criado mudo de Mya. Tive um pequeno debate interno e depois de alguns segundos resolvi pegar o creme e usá-lo como teste. Joguei na mão e passei nos braços, nas pernas, no pescoço na bunda e é claro nas minhas partes intimas. Aquilo era grudento e deixava uma sensação horrível. Vesti uma camiseta de mangar vermelha e uma bermuda que ia até abaixo do joelho na cor azul esverdeado. Calcei meu par de tênis pretos sem salto, peguei o presente de Clyde e parti para o Departamento de Polícia.

O departamento ficava á três quarteirões de distância então fui a pé. Ao me aproximar de longe e ouvi que todos haviam chegado. Olhei no relógio do celular e vi que estava quinze minutos atrasado. Ao perceber que estava atrasado apertei o passo. De longe vi Judy e Lola acenando para mim.

- finalmente – falou Cory rindo – pensei que não viria mais.

- desculpem é que achei que dava tempo de vir a pé – Mya estava certa. A sensação ruim do creme passou e agora nem fazia diferença.

- vamos gente a esposa de Clyde já me mandou umas dez mensagens perguntando onde estávamos – falou Lola.

- você vem comigo – falou Cory.

Ao todo foram quatro carros e como Cory queria que fosse com ele eu fui. Me sentei no banco da frente e coloquei o cinto de segurança.

- fica muito longe daqui? – perguntei enquanto seguíamos logo atrás de Vince.

- ele vive em Holden Heights. Fica a uns nove quilômetros daqui.

- Okay – falei respirando fundo com o presente dele no meu colo.

- preparado para fazer o almoço?

- preparado não estou não – falei rindo – mas vou fazer o meu melhor. Eu estive me preparando psicologicamente todos esses dias.

- tenho certeza de que você vai se sair bem.

- eu espero.

Nós seguimos viagem por mais de vinte minutos. Ao chegarmos em Holden Heights não demoramos muito chegar há casa de Clyde. Viramos a esquerda duas vezes e a direita uma vez e vi o carro de Vince estacionar. Cory estacionou logo atrás dele. Judy estacionou atrás de nós e Blacke atrás de Judy. Ao todo viemos: Cory, Blacke, Judy, Lola, Vince, um policial chamado Randy, outros dois policiais que não lembrei o nome e eu. Eu ainda não sabia como ia cozinhar pra tanta gente afinal com Clyde e a esposa seria o total de onze pessoas. O máximo que eu cozinhei foi pra cinco. O nervosismo me pegou de jeito.

- Anne disse que o portão está aberto – disse Lola indo na frente. Ela abriu o portão e nós passamos pelo jardim e antes que chegássemos a casa vi a mulher loira que estava nas fotos da mesa de Clyde.

- bom dia! – falou ela quase cochichando – ele está dormindo. A esposa dele começou a abraçar todo mundo cumprimentando. Ela abraçou Cory que me apresentou.

- Anne esse é Stanley.

- prazer – falou ela com um largo sorriso. Ela tinha uma expressão serena. Seus cabelos eram tão loiros que chegavam a ser quase brancos.

- Stan, Anne é nossa legista forense.

- Legista? – perguntei surpreso. Não achei que a esposa dele também trabalhava na área de investigação.

- sim. De vez em quando ela dá uma passada na delegacia.

- acho que te vi lá uma vez – falou Anne com um sorriso.

- ele está dormindo? – perguntou Blacke.

- sim. Como um bebê – falou Anne entrando na casa e nós a seguimos. Assim quem Anne entrou um garoto bem pequeno correu até ela e levantou a mão entregando uma flor. Anne pegou e deu um cheiro.

- oi campeão! – falou Cory se abaixando e pegando na mão do pequeno garoto e sacudindo.

- quem é esse? – perguntei para Judy.

- é Aaron. O filho mais novo deles – ela cochichou ao dizer aquilo – ele tem cinco anos.

- Aquele bebê no porta retrato na mesa do Clyde é ele?

- sim

- vamos indo pessoal – falou Anne com um sorriso. Ela parecia ansiosa.

Anne foi a primeira a subir as escadas. Cory e Blacke foram logo atrás seguidos por todos. Eu fui por último. Enquanto todos subiam em silêncios pelas escadas percebi que eu era o único com o presente na mão. Olhei para trás e voltei descendo os degraus e vi que os presentes estavam em cima do balcão da cozinha próximo a uma fruteira de vidro. Fui até a cozinha e coloquei o presente juto aos outros. Olhei para frente e um arrepio na espinha me fez congelar. Fiquei sem ar. Havia um palhaço parado a alguns metros de mim. Dei dois passos para trás e esbarrei a mão na fruteira que caiu no chão se estilhaçando.

‘Surpresa!’ – ouvi todos gritando no andar de cima batendo palmas e assoviando.

- soco… soco… - tentava gritar, mas não conseguia. Escorreguei para trás do balcão e me sentei no chão apoiando ás duas mãos que encontraram os cacos do vidro que penetraram me cortando. Eu apenas fechei os olhos esperando que algo acontecesse. Que fosse queimado vivo ou arrastado pelo pescoço com uma corda, mas quando abri os olhos tudo o que vi foram os policiais parados na porta da cozinha olhando para mim com espanto.

- Stan? O que aconteceu? – Clyde pulou da multidão e se abaixou vindo até mim. Ele estava com uma pequena bermuda e uma camiseta branca. Ele estava descalço.

- tem um… um palhaço – falei apontando para trás.

- palhaço? – perguntou Clyde colocando a mão no meu ombro olhando para trás. Nesse instante a esposa de Clyde, Anne, surgiu na multidão.

- é essa estúpida roupa – falou ela caminhando até lá. Me atrevi a olhar ainda sentado no chão e vi que não passava de uma fantasia.

- é só uma fantasia – falou Clyde tentando me acalmar – o aniversário de Aaron é em alguns dias e ele adora palhaços. Eu comprei a fantasia para que eu pudesse usar.

- Okay – falei segurando no braço de Clyde com a mão direita. Eu sujei o braço dele com um pouco de sangue.

- você se cortou Stan.

- precisamos fazer um curativo – falou Judy se abaixando do meu outro lado.

Anne levou a fantasia até o quarto da dispensa e a deixou lá.

- você cortou as duas – Judy pegou meu outro braço e virou a palma da minha mão. Quando Aaron viu minhas garras ele saiu gritando e correndo.

- Aaron! – gritou Anne. O filho correu subindo as escadas e ela parou fechando os olhos. Parecia nervosa – tudo culpa dessa fantasia idiota – falou Anne olhando para Clyde.

- você sabe que o garoto gosta de palhaços Anne! – falou Clyde.

- me desculpe – Anne disse olhando para mim e foi atrás do filho.

- eu estou bem – falei tentando em levantar. Clyde e Judy me ajudaram

- Okay pessoal, o show acabou – falou Lola batendo palmas dispersando todo mundo – vão lá arrumar a churrasqueira, vocês vão temperando a carne e alguém, por favor, pegue a vassoura e varra esses cacos de vidro antes que alguém mais se machuque.

Já de pé olhei para baixo e vi que Clyde havia se cortado.

- você também se machucou – falei tirando os pequenos cacos da minha mão. Os cortes não haviam sido profundos.

- eu vou pegar o kit de primeiros socorros.

- está no banheiro – Clyde apontou para as escadas e Judy se foi.

- você se machucou – falei me sentando em um banco próximo ao balcão.

- não foi nada – falou ele pegando minha mão de três dedos tirando os cacos. Ela tinha sofrido um corte um pouco mais do que a outra. Havia um pedaço comprido de caco enfiado e enquanto ele puxava eu gemi de dor.

- porra! – quando o caco saiu por completo começou a sangrar.

- vai ficar tudo bem – falou ele passando o dedos limpando o sangue – me desculpa pelo o que aconteceu, Aaron não está acostumado a esse tipo de coisa.

- não tem problema. Eu entendo – falei respirando fundo – me sinto um idiota.

- não se sinta idiota. Depois do que você passou é normal ter medo. Você só não pode deixar eles ganharem porque é isso que eles querem. Que você tenha medo.

- acho que se esse fosse o final do Super Bowl o tipo dos palhaços ganharia.

Clyde deu risada quando em ouviu dizer aquilo

- deixa que eu faço – falou Judy chegando com o kit de primeiros socorros.

- eu vou lá em cima trocar de roupa.

- eu estraguei a surpresa.

- não estragou não – falou Judy – digamos que a surpresa se estendeu a todo mundo.

- foi sim – Clyde colocou a mão no meu ombro e apertou. Ele ficou sério e lambeu os lábios – vou lá em cima e daqui a pouco volto.

- beleza – falei me contorcendo enquanto Judy aplicava um remédio que fez meus pequenos cortes arderem.

- seja forte! – falou ela brincando enquanto colocava mais do remédio.

- e então? Como estão as mãos do nosso cozinheiro? – perguntou Cory chegando a cozinha. Ele colocou a mão no meu ombro – acha que consegue cozinha ou vai amarelar?

- consigo. Não foi nada.

Blacke estava varrendo o chão enquanto Vince e os outros convidados preparavam a carne e ajeitavam as bebidas na geladeira. As coisas ficaram um pouco desconfortáveis quando Clyde e Anne começaram a discutir no andar de cima. Eles não estavam gritando nem batendo as portas, mas falavam alto. Alto sobre o tema da festa de aniversário de seis anos do filho deles. Anne não aprecia muito gostar da ideia. Clyde por outro lado só queria fazer o que o filho queria.

- Au! – resmunguei quando Judy apertou o algodão na minha mão direita. O corte não era grande, mas era profundo e ardeu um pouco mais.

- agora levanta essa bunda dai e vai fazer o nosso almoço!

- tudo bem – falei me levantado.

- vejo que já está melhor – falou Clyde descendo as escadas. Ele tinha um sorriso no rosto. Agora ele usava uma camiseta branca, por cima uma camiseta de botões xadrez que estava aberta. Usava calça jeans e um par de tênis surrado.

- estou sim.

- Aaron tem algo para te dizer – falou Anne ao lado de Clyde acariciando os cabelos do filho.

- me desculpa por gritar! – falou o filho deles se aproximando.

- não tem problema amigão – falei colocando a mão no ombro dele deixando-o confortável.

- eu posso vê-la?

- claro – falei mostrando a calma da mão com um band-aid.

- pode tocar. Não precisa ter medo.

- ele colocou a pequena palma de sua mão em cima na minha e eu fechei minha mão. Ele sorriu para mim – assustado? – Aaron começou a roer a unha da outra mão e balançou a cabeça negativamente. Ele parecia com vergonha.

- viu só Aaron? É só uma mão como qualquer outra – falou Clyde colocando a mão dele próximo da minha. Em seguida ele colocou a mão dele por baixo da minha e a fechou. Nossas três mãos estavam juntas. Clyde olhou para mim com uma cara boba com um sorriso no rosto e o filho dele me puxou.

- vamos ao meu quarto! – falou o garoto me puxando.

- eu posso?

- claro – falou Clyde – acho que vou com vocês.

- por quê? – perguntei.

- você verá – ele colocou a mão nas minhas costas e nós subimos as escadas.

- não demore muito – gritou Cory – o almoço está em suas mãos. Literalmente.

- você fará o almoço? – perguntou Clyde surpreso quando chegamos ao andar de cima.

- sim. Cory me fez prometer.

- estou ansioso – Clyde abriu a porta do quarto de Aaron e entendi o porque dele querer nos acompanhar.

- Uau! São um bocado de palhaços – falei entrando e olhando em volta.

- ele adora palhaços – falou Anne chegando de surpresa do quarto.

O papel de parede do quarto era de palhaços, o forro da cama, havia bonecos de palhaços em uma prateleira. Aaron foi até a prateleira e pegou um boneco do palhaço Krusty dos Simpsons e me entregou.

- pra mim? – perguntei olhando para a prateleira. Entre os palhaços reconheci o do filme ‘It A coisa’, ‘Bozo’ e o palhaço Ronald McDonald.

Aaron balançou a cabeça confirmando.

- ele coleciona esses bonecos de palhaços.

- não posso aceitar – falei colocando de volta o palhaço – se não a sua coleção ficará incompleta.

- escolhe outra coisa filho! – disse Anne. Aaron foi até uma gaveta e pegou um desenho que ele tinha feito de um palhaço e me entregou.

- coloca debaixo do seu travesseiro quando for dormir e você não terá mais medo – falou Aaron.

- tudo bem. Vou fazer isso – falei abraçando ele – você é muito inteligente, sabia?

- Ele sempre faz isso – disse Anne esfregando as mãos juntas – sempre que Aaron tem medo de algo eu digo para ele fazer um desenho e colocar debaixo do travesseiro antes de dormir. Isso fará com que o medo dele desapareça. E funciona, não é meu filho?

- sim mamãe – Aaron respondeu coçando o rosto.

- acho que vou fazer isso – falei dobrando o desenho.

- Que comece a festa! – gritou Vince no andar de baixo. Em seguida ouvi o som de música.

- acho melhor irmos – falei saindo do quarto e descendo as escadas.

- você precisa de ajuda com o almoço? – perguntou Cory segurando minha mão e me puxando para a cozinha.

- preciso sim.

- eu serei seu ajudante – falou Cory pegando um avental com o corpo de uma mulher desenhada – provavelmente era de Clyde – e colocando em mim – é só dizer o que preciso fazer.

- Okay – falei esfregando as duas mãos juntas. Era hora do trabalho.

Cory era um excelente ajudante. A primeira coisa que fiz foi cortar os frangos, temperá-los e colocar os pedaços temperados para descansar. Vince acabou cuidando da churrasqueira. A esposa e os filhos de Blacke chegaram pouco depois. A esposa de Blacke trouxe o bolo. Era bonito e parecia delicioso. Ela o colocou na geladeira. O namorado de Judy também apareceu não muito depois que a namorada de Vince. Lola também veio para poder ajudar na cozinha. Enquanto ela cortava os legumes e as verduras eu coloquei os pedaços de frango na forma e pincelei-os com óleo. Clyde, Vince e Blacke ficaram a maior parte do tempo lá de fora conversando. Tomando cerveja e comendo alguns pedaços de carne. Cory se juntava a eles às vezes para poderem beber e fumar. As esposas e namoradas se sentaram em uma mesa e conversavam juntas enquanto as crianças tomavam banho de piscina.

- você sabe me dizer se alguém aqui é alérgico a amendoim ou amêndoas?

 -não que eu saiba – respondeu Lola.

- Okay – falei separando-as e as lavando.

Cortei as amêndoas e o amendoim em lâminas e coloquei a parte. Procurei nas prateleiras até que encontrei um vidro de mel. Enquanto jogava mel no frango pela janela da cozinha vi o momento em que Clyde apagou o cigarro no cinzeiro e pegou um prato caminhando em direção à cozinha.

- trouxe algo para os cozinheiros – falou ele colocando o prato cheio de carne em cima do balcão.

- obrigado – falei massageando o frango com as mãos.

- suas mãos estão ocupadas – falou ele pegando um pedaço de carne com o garfo trazendo-o até minha boca.

- obrigado – falei mastigando.

- eu também quero na boca – falou Lola brincando.

- na na ni na não. Esse serviço é exclusivo do chef – falou Clyde pegando outro pedaço e trazendo até minha boca.

- obrigado – falei mastigando – quando ele fez isso pela segunda vez senti o cheiro do seu perfume. A primeira vez que ele ficava tão perto de mim por tanto tempo. Lambi os lábios respirando fundo e senti novamente seu cheiro. Não era o cheiro artificial. O cheiro verdadeiro. De homem. O cheiro do perfume misturado ao cheiro do cigarro da cerveja que se misturava ao cheiro do creme de pele que ele usava, talvez o shampoo… ele estava muito cheiroso.

- você está tão cheiroso – falou Clyde tocando o nariz no meu pescoço. Ele respirou fundo e sua barba me pinicou. Aquilo me surpreendeu e fez minha boca salivar.

- obrigado – falei sem graça.

- quer beber algo? – perguntou ele se afastando.

- tem refrigerante? Ou suco?

- não bebe cerveja?

- não gosto muito.

- tá na mão – falou ele jogando uma lata de Fanta Verdia para o alto e pegando-a. Ele a abriu e colocou em um copo com gelo – eu não tenho o seu suco natural de ervas levemente adoçado com stevia, mas tenho esse refrigerante de maçã.

- está ótimo – lavei minhas mãos e peguei o copo tomando um gole. Preciso agradecer Mya. O creme dela realmente fez efeito. Fico imaginando quando o passar pelo corpo. Espero que Paul goste tanto quanto Clyde. Pouco depois de Clyde ter saído Cory voltou para a cozinha.

- o que posso fazer para ajudar agora… Chef – falou ele com um sorriso.

- você pode fazer o arroz?

- claro – falou ele juntando as mãos e se inclinando.

- as babatas estão prontas – falou Lola colocando-as em cima da mesa.

- perfeito – falei sorrindo para Lola.

- o que é isso? – perguntou Lola.

- polenta. Já comeu?

- não – falou ela curiosa.

- é típica da Itália e vai bem com tudo. Especialmente com frango.

- parece delicioso.

- e é. Vocês vão adorar.

- Okay Okay – falou Vince entrando na cozinha ao lado de Clyde – é hora de dar um descanso para o Chef.

- o que? – perguntei assustado. Vince me virou e começou a tirar meu avental.

- é hora de um descanso. Você não veio aqui apenas para trabalhar. Veio pra se divertir também. Vamos lá pra fora aproveitar um pouco a festa – falou Clyde segurando no meu braço enquanto Vince tirava o avental.

- nós cuidamos de tudo por aqui – falou Cory.

- Okay – falei saindo da cozinha e indo até o lado de fora pela primeira vez. As crianças brincavam na piscina. Percebi que Blacke também tinha dado um mergulho. Anne conversava com Portia – esposa de Blacke – com Flora – namorada de Vince e outros dois policiais que não conhecia direito.

Eu me sentei em uma cadeira entre Clyde e Vince. De frente para mim estava o policial Randy, Judy e Eric – namorado de Judy – que estavam de mãos dadas conversando entre si e dando risadas.

- e então? Como está a vida? – perguntou Clyde ao meu lado aproximando um pouco de mim por causa do som alto.

- bem. Até que não é tão ruim viver naquele hotel.

- de qual hotel você está falando? – perguntou Eric.

- Hotel Cécille.

- Cécille? – perguntou Flora – esse não é…

- e a vida amorosa? – perguntou Clyde interrompendo Flora. Vince se inclinou para a namorada e disse algo em seu ouvido antes de se levantar e ir cuidar a churrasqueira. Ele cortou outros pedaços e levou até o outro grupo de pessoas.

- o que diabos têm aquele hotel? – perguntei rindo – parece que todo mundo torce o nariz quando digo o nome dele.

- nada – falou Clyde rindo – é que ele não é dos mais luxuosos, agora me fala – ele usou um tom mais baixo de voz como se quisesse que a conversa ficasse apenas entre nós dois – como está sua vida morosa? Na quinta feira vi você saindo do carro daquele corretor. Está rolando algo? Não precisa ter vergonha de me falar sobre essas coisas. Eu apoio o arco-íris e tudo.

- eu não sei… - falei com vergonha – posso ser sincero?

- claro. Pode ser. Tudo o que disser fica entre nós dois.

- ele me convidou para um jantar na casa dele hoje.

- que… que bom – falou Clyde – mas você não disse que ele era casado?

- sim. Ele é – falei respirando fundo – e o marido dele também estará nesse “jantar” – olhei para Clyde e ele ficou pensativo por alguns segundos. Não sei se ele eu tinha sido claro, mas eu fui.

- tudo bem. Se você gosta dessas coisas você deve – falou ele sério.

- eu não sei se gosto sabe… estou nervoso.

- se você não gosta não deve ir. É o que eu acho.

- mas como vou saber se vai ser bom ou ruim se nunca fizer? Vou ser virgem o resto da vida.

- você é virgem?

- sou. E é por isso que estou tão nervoso.

- Acho que talvez seja melhor você pensar antes de fazer isso. Você não vai querer que sua primeira vez seja com dois.

- tá brincando né? – falei empurrando ele de leve – vai me dizer que quando você era adolescente não tinha vontade de perder sua virgindade com duas mulheres? Aposto que até com mais – Clyde não respondeu nada e apenas balançou negativamente a cabeça.

- você que sabe – falou Clyde tomando um gole da sua cerveja e se levantando. Ele colocou um cigarro na boca e saiu para o lado de fora próximo a piscina. Olhei para trás e depois para frente. Judy estava olhando para mim. Ela tinha um sorriso no rosto. Quando olhei para a minha esquerda o detetive Cory DeLarosa estava do lado de fora tomando cerveja. Esqueci eu na cabeça de Judy o cara que me ‘deixava louco’ era o detetive Cory.

Eu forcei um sorriso para ela e respirei fundo. Estava nervoso.

- trouxe para você – falou o detetive se sentando onde Clyde estava me entregando uma lata de Fresca Black Cherry – espero que goste desse sabor.

- sim. Eu gosto – falei abrindo a latinha e tomando um gole.

- fiquei sabendo que você tem um gato?

- tenho. Quer dizer… tinha. Ele desapareceu naquela noite. O nome dele era Chester.

- sinto muito. Eu gosto muito de gatos. Tenho dois pra dizer a verdade.

- eu vi uma foto deles na sua mesa. Como eles se chamam?

- A fêmea se chama Foxxy e o macho se chama Donald.

- aquele de olhos verdes é o Donald?

- isso mesmo – falou ele rindo tomando um gole de sua cerveja – você é esperto. Tem uma boa intuição. Precisa confiar mais nela.

- um brinde a isso – falei levantando minha latinha e ele bateu a dele contra a minha. Em seguida tomamos alguns goles.

- como está tudo? – perguntou Anne se sentando do meu outro lado.

- está maravilhoso – falei olhando para ela – obrigado por me receber na sua casa.

- não por isso – falou ela com um sorriso – você é da família. Nós protegemos uns aos outros nesse ramo. Você será sempre vem vindo.

- muito gentil – falei forçando o sorriso – acho que vou dar uma olhada na cozinha para saber como tudo está indo.

Fui para a cozinha e Cory me acompanhou. Ao chegar lá vi Lola fazendo o molho do frango com mel e amêndoas e eu fui até ela para saber se ela tinha feito tudo certo como mandava a receita. Cory não veio até nós. Ele se escorou no balcão e ficou tomando sua cerveja olhando para nós. Ele ficou lá nos encarando como se estivesse apreciando a vista. Acho que alguém tem um sério crush na Lola. Meu celular vibrou em cima do balcão e vi que eram mensagens de Mya. Ela me enviou várias fotos dela e de seu amante Rudolph na praia. Ela tinha um largo sorriso no rosto. Imagino que o fim de semana esteja sendo maravilhoso para ela em Cocoa Beach. ‘Espero que esteja se divertindo’. Enviei uma mensagem para Mya e voltei a cuidar do almoço. Faltava muito para o dia terminar.

Obrigado pelos comentários :) Um grande abraço a todos. Comentem o que estão achando ;)

VISITE A PÁGINA DE PERSONAGENS