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Capítulo 16
DIA 1187 — 96h88min ás 70h03min
cabana ficou
para trás. Anita e eu corríamos de mãos dadas pela floresta por dentro da
floresta escura. Era tarde da noite e agora eu me lembrava de tudo. As lágrimas
escorriam em meus olhos ao perceber onde estava e o que era aquilo tudo. O que
tinha acontecido antes da explosão. Não sei se Anita sabia de tudo o que eu
sei, mas eu precisava protege-la da forma que fiz desde que éramos pequenos.
Claro que minhas tentativas de defende-la rendia mais e mais punições. Eu
reconhecia o lugar onde estávamos. Era a primeira parte da floresta. Escura e
densa cheia de animais e criaturas demoníacas.
- me solta! – falou Anita puxando
o braço. Estava escuro e mal conseguíamos ver algo que estivesse na nossa
frente.
- não tenha medo de mim.
- eu quero voltar para a cabana –
falou Anita olhando em volta – eu preciso voltar para casa.
- eu sei que lá é seguro e
aconchegante, mas não vai te proteger pra sempre – falei segurando em seus
braços.
- o que isso quer dizer? – ela
estava confusa sem entender nada do que tinha acontecido.
- qual o nome do seu pai, Anita?
Você consegue se lembrar?
- claro. Benjamin, mas todos o
chamavam de Ben – ela pressionou os lábios e pareceu confusa – eu não consigo
lembrar do rosto dele.
- o meu pai também se chama
Benjamin e eu não conseguia me lembrar do rosto dele.
- o que isso tem a ver?
- você é minha irmã, Anita e o
Benjamin que estava na cabana é o nosso pai.
- não. isso é impossível – falou
ela levando as mãos até a cabeça – minha cabeça está doendo muito.
- o seu corpo se desenvolveu
biologicamente para te proteger. Sua mente reprimiu todas as memórias
traumáticas para te proteger.
- e que memórias são essas?
Nesse momento eu levantei a blusa
e mostrei uma pequena tatuagem feita usando o método de escarificação. A
tatuagem trazia a frase ‘Propriedade de B’. Anita passou o dedo na cicatriz e
em seguida levantou a manga da blusa e viu que tinha a mesma cicatriz.
‘Propriedade de B’.
- o que significa isso?
- quando eu tinha seis anos meu
pai fez isso em mim. Foi a forma dele de dizer que eu era dele. Meu corpo –
falei engolindo em seco me sentindo enjoado – quando você fez seis anos ele dez
a mesma coisa com você.
- então é verdade? Nós somos
irmãos?
- sim.
- seu nome é Kyle?
- sim.
- onde nós estamos Kyle?
- eu não sei onde estamos, mas
sei onde nós não estamos. Não estamos em um lugar seguro. Precisamos continuar
andando. Deve amanhecer logo.
- como você sabe?
- eu já estive nessa floresta.
Ela é dividida em três partes: Trauma, Esperança e Raiva.
- o que isso quer dizer?
- Essa parte da floresta foi onde
eu perdi a bagagem quando estive aqui pela primeira vez – falei olhando em
volta – a bagagem que perdi foi mais do que físico. Foi emocional. O trauma que
eu sofri. A segunda parte é a Esperança. É por isso que a floresta é toda verde
com musgos e cheia de trevos. Quando você consegue sair do Trauma vem o
sentimento de esperança e de melhora.
- isso é bom, não é?
- sim, mas você precisa passar
pela Raiva. Uma floresta seca cheia de folhas secas no chão. Nessa floresta tem
um rio vermelho. Um rio de raiva. Do outro lado desse rio existe uma floresta
seca cheia de rosas vermelhas.
- e o que tem nessa floresta?
- não sei. A última vez que
estivemos nessa floresta nós não conseguimos atravessar o rio. A nossa raiva é
grande demais.
- vermelho é a cor da raiva –
falou Anita.
- exato.
- nós precisamos chegar ao outro
lado do rio. Precisamos saber o que tem lá. Não podemos ser arrastados pelo
rio.
- porque não? – perguntou Anita
confusa se sentando em uma pedra.
- o rio nos levará até uma
cachoeira e no alto de uma colina se encontra uma mansão maravilhosa.
- e o que tem de mal nisso?
- É a Fraude. Tem de tudo nessa
mansão. Comida, roupa, piscina, é bonita e confortável, mas ela só serve para
nos desviar do propósito inicial de estarmos aqui. É uma frauda. Ela nos dá a
falsa sensação de segurança. Igual a cabana.
- o que tem a cabana?
- quando estivermos na floresta
pela primeira vez você ficava sempre querendo volta para a cabana. A cabana é o
limbo.
- então estamos mortos?
- eu acho que sim.
- e esse é o céu?
- acho que está mais para o
inferno – falei me sentando ao lado dela – eu já sofri tanto na vida… – falei
segurando a mão dela – nós dois sofremos tanto quando estávamos vivos, porque
viemos para o inferno? Será que Deus não existe? Ele não tem piedade?
- acho que você já tem sua
resposta – falou ela se levantando – o que exatamente nosso pai fazia conosco?
- eu não consigo dizer, não quero
me lembrar disso.
- você mesmo disse que precisamos
enfrentar o nosso medo.
- quer mesmo saber? Acha que está
preparada?
- apenas diga. Eu acho que já tenho
uma ideia.
- nós dois perdemos nossa
virgindade com nosso pai. Ele abusou de mim desde que eu tinha seis anos e ele
abusou de você desde que você veio para casa. Você tinha apenas dias de vida.
- para! – falou Anita colocando a
mão na boca. Os olhos dela estavam sangrando. Exatamente como aconteceu quando
Ted e eu fizemos sexo.
- você está bem?
- não diga mais nada – falou ela
tirando a mão da boca e o sangue começou a escorrer pela nariz junto com o
vômito vermelho que caiu no chão – isso é horrível.
- esse é o nosso pai – falei
olhando em volta. Percebi que o sol estava começando a nascer.
- o sol já está nascendo?
- o tempo funciona diferente aqui
de fora. A cabana foi feita pra te manter lá dentro, dormente.
- você disse que haviam três
corpos na cabana. Eles não estavam lá?
- não. Aqueles corpos éramos
você, eu e nosso pai… Benjamin. Acho que essa não é a primeira nem a segunda
vez que passamos por isso Anita. Acho que nós já passamos por isso centenas de
vezes. Isso vem se repetindo. Em alguma dessas realidade nós três morremos na
cabana.
- eu não quero passar por isso de
novo.
- dizem que o inferno não é um
lugar, mas uma bagunça. E nós estamos metidos em uma tremenda bagunça. O tempo
aqui é uma bagunça. Não faz sentido.
- você acha que se conseguirmos
atravessar o rio nós vamos ficar em segurança?
- é a minha teoria. Eu não sei o
que tem naquela floresta seca cheia de rosas vermelhas, mas a raiva que nos
consome não nos deixa chegar até lá.
- vamos andando – falou Anita
passando a mão no rosto limpando o sangue – talvez nós consigamos chegar até
lá.
- okay – me levantei e Anita e eu
caminhamos pela floresta.
O sol estava nascendo pouco a pouco. As
árvores eram longas e por todo o caminho tinha a impressão de que os galhos se
contorciam e conversavam conosco. Como sussurros. Anita não disse nada todo o
caminho. Acho que estávamos caminhando a mais de uma hora. Subimos por uma
ladeira e eu fui na frente ajudando Anita puxando a mão dela.
- você está ouvindo isso? – falei
Anita limpando as mãos na roupa.
- as árvores?
- isso – falou ela olhando em volta
– eu sinto que elas estão conversando comigo.
- é só ignorar – olhei para a
frente e ouvi o som da cachoeira. Foi naquele pequeno córrego que nós tomamos
ganho depois de comermos as maçãs.
- isso é um rio?
- não. Cachoeira – falei
segurando na mão dela e correndo para poder mostrar a ela.
Quando chegamos ela deu o
primeiro sorriso desde que tínhamos nos conhecido. Ela pareceu fascida.
- aqui é lindo.
- nós passamos aqui da outra vez.
- então estamos no caminho certo?
- sim – falei me sentando – nós
podemos ficar aqui algumas horas pra descanças.
- não Kyle. Vamos log. Estamos no
caminho certo – Anita segurou em minha mão me puxando – não podemos nos dar ao
luxo de ficar.
‘Não vá, fique conosco’
‘Veja como á água é cristalina’
As árvores se contorceram e ouvi
um sussurro pedindo oque ficamos na floresta. Ela tentava nos manter lá. Presos
ao trauma como parasitas. Eu acordei do meu tranze e percebi que Anita estava
certa. Agora não era ela quem estava sendo seduzida e sim eu. Querendo ficar
para trás.
- você está certa – falei
seguindo-a – aqui não é seguro.
A transição do Trauma para a
Esperança aconteceu sutilmente. As flores foram ficando mais verdes e o chão
não ficou tão molhado. As árvores não ficaram tão altas e a floresta já não
tinha tantas pedras no caminho. Nós pisávamos em montes de trevos enquanto
caminhávamos, mas de alguma forma eles não se machucavam. Continuavam inteiros.
Nós caminhamos em silêncio por um bom tempo e então eu esbarrei em Anita que
estava parada.
- me desculpa – falei olhando
para ela que estava fixamente olhando para algo.
- é ali! – falou ela me guiando
até o seu olhar. Era a floresta seca. A mudança da Esperança para a Raiva não
era tão sútil. Era de uma vez como um baque.
- sim. A floresta seca que eu te
disse.
- precisamos mesmo ir? –
perguntou ela olhando para mim.
- não. podemos ficar aqui e
continuar revivendo esse mundo maluco até descobrirmos se estamos vivos ou
mortos.
- vamos – falou Anita segurando
em minha mão. Ela confiava em mim. Mesmo sem saber o que havia acontecido mesmo
sem se lembrar de nada Anita confiava em mim. Ela sabia que no fundo nós éramos
irmãos.
Seguimos pela floresta verde e
quando demos o primeiro passo na floresta seca os galhos começaram a se quebrar
debaixo de nossos pés. Nós estávamos sempre de mãos dadas e hora ou outra um de
nós tropeçava ou até mesmo escorregava. Eu a segurava e quando eu escorregava
ela me segurava me dando apoio.
- eu consigo ouvir o som do rio –
Anita parou olhando em volta.
- precisamos descer essa ladeira
– falei do outro lado chamando por ela. Anita se aproximou e viu o rio de água
vermelha. Eu me sentei no chão e Anita se sentou ao meu lado. Nós seguramos na
mão um do outro e escorregamos ladeira abaixo rolando quando chegamos lá
embaixo. Nós dois demos risada pela diversão que a descida nos proporcionou –
se levanta – falei ficando de pé e segurando em sua mão.
Anita e eu nos aproximamos do rio
aparentemente calmo. Anita se abaixou e passou a mão no rio.
- ele não se parece nada da forma
com que você o descreveu.
- espere até nós dois entramos e
você verá do que ele é capaz – falei me abaixando e pegando um pouco de água e
levando até a boca. O gosto era amarga – que nojo.
- o que foi?
- a água é amarga. Experimenta.
Anita colocou um pouco de água na
boca e em seguida cuspiu fora. Ela passou a língua em uma folha seca tentando
eliminar aquele gosto horrível da boca.
- é horrível.
- você e eu somos os únicos que
sentimos o gosto amargo. As outras pessoas que estavam conosco da outra vez não
sentiam. Por isso que eu acho que esse rio está aqui por nossa causa. É o rio
da ira. Nós sentimos tanta raiva que ele se agita quando entramos.
- como nós faremos para
atravessar?
- eu não sei – falei me
levantando e olhando em volta – eu tenho medo de entrar e ele nos jogar cachoeira
abaixo. Nós teremos que passar por tudo isso de novo e não sei se da próxima
vez estarei tão lúcido quanto agora.
- nós precisamos tentar – Anita
se levantou – não podemos ficar presos do lado de cá pra sempre.
- e se da próxima vez que
acordarmos na cabana eu não estiver me lembrando das coisas como agora?
- já sei – falou Anita correndo
em direção a uma árvore – podemos passar por cima do rio.
Me aproximei e vi que as galhas
daquela árvore eram espessas e ela tinha um tronco na horizontal que ia até
quase do outro lado do rio. Poderíamos subir na árvore e usar o tronco como uma
ponte, mas corríamos o risco do tronco se quebrar e de cairmos bem no meio do
rio.
- é a única maneira. De qualquer
forma vamos ter que tentar atravessar para o lado de lá – falou ela se
preparando para subir – me ajude.
Me aproximei de Anita e juntei a
mãos fazendo uma escada empurrando ela para o alto. Anita agarrou em um galho e
com minha ajuda conseguiu subir. Ela olhou para mim ofegante.
- não venha!
- claro que eu vou.
- espere eu ir primeiro. Se o
galho se quebrar pelo menos só um de nós será jogado cachoeira abaixo. Você terá
uma segunda chance.
- eu não quero atravessar esse
rio sem você.
- você consegue.
Anita levantou os braços e
conseguiu subir para o segundo galho que era o maior. Se ela fosse com cuidado
poderia cair na terra do outro lado ou pelo menos na beirada do rio.
- cuidado! – gritei aflito.
- okay – falou Anita olhando para
frente e sentada no galho e calmamente foi engatinhando por ele. A árvore se contorcia
rangendo como se o galho não fosse aguentar. Ela se esgueirou de pouco em pouco
enquanto eu segurava a respiração tentando não me mover para que nada acabasse
com o equilíbrio.
Quando Anita estava chegando ao
limite do galho ele se quebrou. Anita deu um grito e caiu no rio bem perto da
beirada.
- corre! Se salve!
Olhei para o rio e vi uma grande
onda vindo. Ele se tornou violento, mas Anita estava perto da beirada. Antes que
a onde chegasse ela conseguiu se agarrar firme em uma delas e tirar o seu corpo
para fora.
- você está bem?
- estou – falou ela tossindo a água
amarga.
Como mágica o rio voltou a se
acalmar. As águas se tornaram calma como se nada tivesse acontecido.
- você conseguiu! – gritei animado.
- mas e você? – falou Anita se
levantando – o galho se quebrou.
- não importa. Vá você e me diga
o que tem nessa floresta.
- eu não vou sem você.
- você precisa.
- espera! – falou Anita olhando
em volta e então ela foi até uma das árvores e tirou a blusa ficando de sutiã. Ela
usou a blusa para se pendurar em um galho até que ele se quebrou.
- o que está fazendo?
- entra no rio e segura no galho.
Eu te puxo até aqui.
- não podemos arriscar. E se você
for puxada para dentro do rio.
- isso não vai acontecer, Kyle. Eu
prometo que se não conseguir te segurar eu solto o galho.
Anita então pegou o galho que
deveria ter uns dois metros e colocou dentro do rio. Tudo o que eu tinha que
fazer era conseguir chegar até ele. Para ajudar eu me afastei o máximo que
pude. Respirei fundo e sai correndo na direção odo rio. Usando uma enorme rocha
eu dei um pulo para o alto e cai na metade do rio. O gosto amargo entrou em
minha boca e eu senti as águas se agitando.
- Segura! Segura Anita me vendo
nadar rapidamente até conseguir segurar em seu galho. Anita começou a puxar e
as águas foram se agitando cada vez mais. Sentia meu corpo ser puxado pela água,
mas eu segurava com força no galho tentando chegar á beirada. Anita se sentou
em cima do galho e puxou com todas as forças uma rocha que estava perto dela até
que ela conseguiu coloca-la em cima do galho. Anita então foi até a beirada do
rio e esticou o braço.
- Vem! você consegue – Anita estava
com oi braço esticado e eu soltei uma das mãos e segurei na mão dela.
Com todas as forças ela começou a
me puxar e eu ainda segurava firme no galho. Anita parecia ter adquirido forças
sobrenaturais. Ela me puxou até que eu consegui segurar em uma pedra. Eu estava
tossindo a água amarga e quando finalmente estava em terra firma eu vomitei
sentindo aquele gosto horrível em minha língua. Parecia ter se impregnado.
- você conseguiu! – falou Anita deitada
ofegante.
- nós conseguimos – falei de
joelhos olhando a floresta á nossa frente. Havia centenas de roas onde não
deveria haver. Nos galhos secos, nos troncos, nos chão e até mesmo rosas
nascendo por entre rochas enormes.
Fiquei de pé e Anita se aproximou
e tentou pegar uma das rochas, mas ela espetou o dedo.
- que merda – falou ela
resmungando.
-
o que foi?
- espetei meu dedo na rosa.
Me aproximei para olhar e vi que
a rosa tinha espinhos em todo o seu caule.
- temos que tomar cuidado – falei
segurando em sua mão enquanto adentrávamos a floresta.
Pouco a pouco a floresta seca foi
dando espaço a um jardim de rosas vermelhas e enormes pedras e rochedos. O chão
se tornou molhado e a cada passo ficava um pouco mais difícil caminhar. Os
passos se tornaram pesados e precisávamos nos apoiar em troncos de árvores
tortas para sairmos no lugar.
Depois de um tempo andando
chegamos a grandes rochedos que nós subimos. Era uma ladeira não muito íngreme e
quando chegamos no alto vimos que havia um lado com rosas ao seu redor. O lago
por sua vez não era de água e sim de lama. Bolhas se formavam e explodiam no
alto. Não era um lago pequeno e sim um lago gigante formado exclusivamente de
lama. Tinha a densidade da areia movediça.
- o que é isso? – falou Anita passando
o dedo no lago.
- é um lago de lama – falei olhando
em volta e foi quando eu pensei ter visto alguém – aquilo é uma pessoa?
- parece que sim – falou Anita correndo
pelo lado esquerdo do lado do lado de Lama.
O céu era cinza e parecia que
estava se aproximando uma grande tempestade. Eu corri atrás de Anita e quando
nos aproximamos eu vi que era uma mulher de cabelos castanhos curtos e ondulados.
Seus olhos eram castanhos.
- vocês pode me ajudar? – falou a
mulher que tinha metade do corpo dentro do lago.
- claro -falou Anita olhando em volta procurando um
galho.
- Não! – falei sentindo duas lágrimas
escorrerem por cada um de meus olhos.
- o que está falando, Kyle? Precisamos
ajuda-la.
- Kyle? – falou a mulher se
lembrando de mim. Ela olhou para Anita e também a reconheceu – Anita?
- você conhece a gente? – perguntou
Anita parando a procura.
- claro que conhece – falei limpando
os olhos – é nossa mãe.
- o que eu estou fazendo aqui? Me
ajudem.
- sim.
- não! – falei segurando no braço
de Anita.
- o que você está falando? –
falou Anita preocupada – precisamos ajuda-la.
- ela nunca nos ajudou.
- como assim? – Anita estava
perdida.
- ela sabia dos abusos. Sempre
soube. Ela fez vista grossa pra tudo. Ela fez de tudo para acobertá-lo. Até
mesmo quando papai batia nela. Ela inventava uma desculpa para as amigas e para
a polícia.
- isso é verdade? – perguntou Anita
para ela.
- você não sabe como foi difícil ver
o que ele fazia com vocês!
- ver? – gritei com raiva – se você
acha que foi difícil ver imagina como foi pra mim sentir. E não só a dor de ser
repetidamente estuprado de novo e de novo desde criança. Ter que engolir.
Faltar as aulas porque estava assado e com feridas ao redor do ânus. Ou quando Anita
engravidou aos oito anos e vocês mantiveram ela presa dentro de casa até que o
bebê nascesse e vocês o enterrassem vivo no porão.
Ao ouvir aquilo Anita levou as mãos
até a barriga e olhou perplexa. Ela começou a chorar.
- ele existiu? – falou ela
olhando pra mim – não era só um sonho.
- do que você está falando?
- eu sempre tive esse sonho de
que tinha um filho que chorava n i berço. Quando eu chegava ao berço não tinha
nada lá.
- eu sinto muito. Eu tentei fazer
algo para sair daquela situação.
- você não fez nada – falei chorando.
- você não sabe como é amar alguém
– falou minha mãe começando a afundar – não sabe como é descobrir que o amor da
sua vida é um monstro.
- que amor doentio é esse? Isso não
é amor. É uma doença. A verdade é que você é e sempre será uma mulher mesquinha
e mal amada que só conseguiu encontrar amor nos braços de um soldado nojento
que destruiu as nossas vidas.
Mais uma vez o corpo dela começou
a submergir na lama.
- você nos traiu – falou Anita com
raiva se virando – vocês dois. Deveriam ser nossos pais. Deveriam cuidar da
gente.
Percebi que Anita se lembrava de
tudo. sentia a raiva em suas palavras.
- mas eu contei a policia – falou
minha mão agora afundando os seios. Ela estava nua e suas costas estavam
cortadas. Só agora percebi que havia um homem com cifres e olhos brancos com um
chicote parado a uns dez metros. Olhei para o lado e percebi que ela não era a única.
Haviam mais pessoas naquele lago. Percebi que aquilo era realmente o inferno. Pessoas
no lago de lama apanhando pelos seus pecados.
- contou, mas era tarde demais –
falei segurando na mão de Anita e nós voltamos pelo mesmo caminho de onde
viemos.
Espero que tenham gostado. Espero também que tenham compreendido um pouco mais sobre a mitologia da estória. Um abraço a todos e até o próximo.
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Muito bom explicou muita coisa, mais e o Ted ele não vai mais ver ele.
ResponderExcluirVai siiiiiiiim
ExcluirTenso e bem confuso... mas eu gostei muito! Um capítulo bastante revalador, parabéns!
ResponderExcluirDomingues, Lucas.
OBrigado Lucasss <3
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