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Capítula Sete
MASSACRE SEM FIM
ia após
dia eles foram se passando e Cory teve a sua desejada rotina e ela aconteceu
exatamente como ele queria. Eu levantava cedo, fazia o se café da manha e
quando ele chegava o jantar estava pronto. Nós dois não fazíamos as refeições
juntos já que ele mesmo tinha deixado claro que não queria a minha presença e
ele não fazia questão nem de me agradecer por nada ou de ao menos olhar na
minha cara. Desde a nossa conversa sobre um possível homem estar vindo em nossa
casa ele tinha ficado mais puto comigo, mas eu não ligava e não era obrigado a
dar satisfações a ele. Cordelia continuava vindo a nossa casa todas as noites e
pelo menos eu não era obrigado a velos na sala e Cory a levava para o quarto.
Quando ela aparecia eu forçava um sorriso no rosto e ficava na cozinha sentado
próximo ao balcão conversando com Bruce pelo aplicativo até tarde da noite.
Só ele para me distrair dessa tensão infernal que eu vivia em casa com
Cory. Ele era sempre tão bruto e mal educado e por mais que estivessem no
quarto Cordelia sempre gemia e gritava tão alto. Os tapas que ele dava nela
também ecoavam me deixando desconfortável. Em certo momento decidi ir para a
varanda. Fechei a porta da cozinha e me sentei em uma cadeira de balanço e
joguei as pernas por cima da mesa de madeira que Cory usava constantemente para
colocar seu cinzeiro e suas cervejas. Bruce enviou uma mensagem para meu
celular perguntando se podia me ligar e eu respondi que sim.
- oi – falei atendendo o celular olhando para a escuridão a minha
frente.
- desculpa te ligar tão tarde, mas é que queria ouvir sua voz – falou
Bruce ao telefone – espero não estar incomodando.
- não tem problema. Meu tio não está perto de mim. Ele já está dormindo.
- que bom – falou ele respirando fundo – e então? Como foi seu dia?
- foi como os outros dias: chato – falei rindo – só não tão chato porque
amanhã vou ao cinema com um cara legal.
- sério? Que cara é esse? – perguntou ele rindo – como ele se atreve a
ter convidar a ir ao cinema? Vou ter uma conversa com ele – falou Bruce
tentando bancar o sério – vou ter que botar ele pra correr.
- você vai ter um trabalhão pra tirar ele da minha cola. É um gatão,
simpático e beija muito bem.
- você acha? – perguntou ele rindo.
- acho sim – falei rindo.
- você também beija bem – falou ele respirando fundo. Bruce parecia
estar em um lugar silencioso então imaginei que estivesse deitado em sua cama
pronto para dormir.
- obrigado. Você é gentil.
- mal vejo a hora de sairmos amanhã – falou Bruce respirando fundo –
posso pegar você em sua casa mesmo?
- não! – falei um pouco assustado.
- algum problema?
- é que… meu tio… ele não sabe sobre mim sabe… eu ainda estou no
armário.
- sério? – perguntou Bruce surpreso – sinto muito.
- não precisa.
- a gente pode se encontrar no fim da rua, em frente a casa do Wes.
- pode ser. Fica combinado assim
então – falei aliviado – posso te perguntar uma coisa?
- claro – falou ele receptivo.
- sua filha sabe sobre você? Quer dizer… que você… não sei se você já
fez isso antes ou se você gosta dos dois, mas ela sabe?
- olha é complicado – falou ele rindo – ela não precisa saber com quem o
pai anda saindo, mas se chegar um momento em que eu precise contar eu vou dizer
sem nenhum problema.
- entendi.
Nesse momento a porta da cozinha se abriu e eu vi Cordelia sair de lá.
Ela estava vestida apenas com uma camisa de Cory que para ela pareceu um
vestido. Ela estava com uma caneca tomando alguma bebida. Ela sorriu para mim a
meu ver ali sentado.
- olha eu vou precisar desligar.
- tudo bem, a gente conversa amanhã. Um beijo e boa noite. Não precisa
responder se seu tio estiver por perto. Eu vou entender.
- um beijo. Boa noite – falei mandando um beijo e desligando a ligação.
- olha só, já arrumou alguma peguete – falou Cordelia sorrindo para mim.
- parece que sim – falei respirando fundo.
- desculpa pela barulheira – falou ela se sentando ao meu lado quase que
me empurrando para se encaixar ao meu lado – seu tio é um animal.
- eu sei – falei rindo para ela – não podia escolher uma palavra melhor
para defini-lo.
- Cordelia? Onde você está? – ouvi a voz de Cory procurando por ela e
quando ele apareceu estava apenas de cueca e nos viu sentado na varanda
encarando o quintal escuro e as estrelas lá no alto.
- eu estou aqui amor – falou ela segurando na mão dele e puxando-o ele
deu um selo na boca dele.
- que bom ver vocês se dando bem – falou Cory com um meio sorriso
irônico.
- eu não quero atrapalhar a noite de vocês, vou para meu quarto.
- você não está atrapalhando – falou Cory me levando passar por ele.
- amanhã vou atrapalhar muito menos – falei abrindo a geladeira e
pegando a jarra para colocar água em um copo – vou ao cinema.
- com quem? – perguntou ele se aproximando do balcão.
- não te interessa – falei levando o copo até a boca para tomar um gole,
mas Cory bateu a mão no copo derrubando-o no chão antes que eu pudesse tomar a
água.
- o que é isso? – perguntou Cordelia de pé e de braços cruzados na porta
da cozinha.
- com quem você vai sair Kai?
- não é da sua conta!
- Cory o que está acontecendo aqui? – perguntou Cordelia sem entender o
que aconteceu. Ela se aproximou do balcão ajeitando os cabelos.
- Kai disse que vai ao cinema amanha e não quer me falar com quem é.
- qual o problema? – perguntou Cordelia rindo – ele me disse que é uma
peguete que ele conheceu. Pelo amor de deus você mesmo disse que ele tem 26
anos. Qual o problema dele sair?
- Kai disse pra você que é viado? – perguntou Cory olhando para Cordelia
e depois olhando para mim. Eu respirei fundo e olhei para Cordelia que olhou
para mim e depois para Cory.
- qual o problema? – perguntou Cordelia.
- viu só? Até a sua namorada não vê problema nisso tio Cory – falei
cruzando os braços e encarando-o contente com a reação de Cordelia – amanhã eu
vou ao cinema com o meu namorado e você não vai me impedir.
Deixei os dois e subi as escadas rapidamente indo ao meu quarto e
fechando a porta. A primeira coisa que fiz quando entrei foi abrir a porta do
guarda roupas e tirar de lá o cinto que tinha colocado. Tive sobrevivido tempo
demais nesse inferno chamado terra pra desistir agora. Fui até o quarto de Cory
e joguei o cinto em cima da cama dele. Voltando para meu quarto cai na cama
encarando o teto por um tempo antes de finalmente adormecer. Naquela noite tive
um sonho que a muito que me perturbava que até aquele momento eu nem me
lembrava dele. Na verdade nem lembro se é exatamente se é um sonho ou uma
lembrança. Por ser algo bom desconfio ser um sonho já que esses momentos bons
enquanto crescia eram raros. Lembro que no sonho já era um pouco maior e nessa
época. Tinha talvez uns 13 anos na época e já estava no lar adotivo e estava
ajudando a arrecadar fundos para consertar o telhado que tinha caído em uma
parte devido a uma tempestade. Para isso nós estávamos vendendo barrinhas de
limão em frente a um shopping movimentado. Lembro que tinha uma enorme fonte e
meus colegas órfãos e eu tentávamos a todo custo vender o máximos de barrinhas,
mas não conseguíamos chamar a atenção daqueles ricos esnobes.
Foi então que eu vi um piano. Estava lá para qualquer um que soubesse
tocá-lo. Chamei a atenção dos meus colegas e nós corremos até lá com a nossa
barraquinha e todos os pacotinhos de barrinhas de limão. Eu me sentei ao piano
e comecei a dedilhar. Comei a tocar The Waltz em C♯ menor. Segundo trabalho da obra 64 de Chopin. Uma linda e calma
melodia. As pessoas começaram a prestar atenção aquela criança tocando o piano
e começaram a comprar as barrinhas á 5 dólares o pacotinho. Olhei em volta e
percebi que tínhamos vendido um número considerável, mas não era o suficiente.
Percebi que uma das minhas amigas tinha um lenço no pescoço. Chamei a atenção
dela e fiz um gesto dando a entender que era para era vendar os meus olhos e
foi o que ela fez.
Uma vez com os olhos vendados decidi tocar algo mais desafiador. Valsa
Nº 2 de Dmitri Shostakovich. Meus dedos deslizavam lentamente pelos teclados e
pelos sons que ouvia percebi que as pessoas prestavam mais atenção em mim.
Claro. Um garoto de 13 anos, vendado tocando em um shopping? É claro que elas
parariam para olhar. Meus amigos começaram a gritar dizendo que as barrinhas de
limão estavam em promoção e agora dois pacotinhos saiam a apenas a 8 dólares.
Pela movimentação parece que logo teríamos o nosso teto de volta. O governo não
se importava e eu estava cansado de ter que dormir olhando para as estrelas. Um
dos garotos maiores havia me contado uma história assustadora sobre um tal de
Slender Man e eu só queria poder dormir em paz outra vez.
- essas são as últimas unidades! – disse um dos meus amigos.
- Kai! Deu certo! – falou a garota do lenço puxando ele de meus olhos e
quando eu olhei em volta havia um monte de pessoas e foi quando eu vi que um
grupo de violinistas se aproximou e começou a tocar comigo e juntos uma quase
orquestra acabou se formando no centro do shopping. Nossa supervisora pareceu
não acreditar no que nós tínhamos feito. Os seguranças que pareciam ter se
aproximando para ver a confusão daqueles pequenos órfãos acabaram se entancando
com o show quando um trompetista se aproximou se juntando a nós. Alguns casais
começaram a dançar a valsa em volta da fonte que não estava muito longe de nós
e meus colegas logo venderam as últimas barras de limão. Quase que ao mesmo
tempo a valsa terminou e minha supervisora nos chamou e nós saímos correndo com
o montante que conseguimos.
Quando acordei fiquei pensando naquele sonho por um tempo. Não me
lembrava daquilo até ter sonhado e foi bom ter me lembrado porque era uma das
poucas coisas boas que tinham acontecido comigo. Uma das poucas lembranças que
tinha da época em que estive no lar adotivo. Meu celular começou a despertar e
eu rapidamente o desliguei. Tomei meu banho e me levantei para fazer o café da
manha e enquanto descia as escada senti cheiro de comida. Ao chegar na cozinha
vi Cordelia fazendo o café da manhã.
- bom dia – falei me aproximando.
- oi Kai, bom dia – falei vendo que ela tinha feito panquecas – o que
está fazendo?
- o café da manhã. Percebi que você e seu tio brigaram ontem então
decidi levantar cedo e fazer o café da manhã para vocês fazerem as pazes e
conversarem.
- mas esse é meu trabalho – falei com raiva. Não queria gostar de
Cordelia, mas ela estava sendo legal.
- eu sei, mas eu me senti mal pelo o que aconteceu e vocês não podem
ficar brigados. Vocês são família.
- você não entende Cordelia. Já que você sabe de tudo eu vou abrir o
jogo. Meu tio nem faz as suas refeições na minha presença. Ele é homofóbico
nesse nível.
- sério? – perguntou ela jogando outras panquecas no prato.
- sim.
- mas você tem que enfrenta-lo. Se Cory te trouxe pra morar com ele
significa que ele gosta de você. Se ele te odiasse de verdade teria te colocado
na rua quando você fez 18 anos.
- é mais complicado do que isso – falei respirando fundo.
- bom dia, bom dia, bom dia – falou Cory chegando a cozinha com um
sorriso que desapareceu ao me ver.
- bom dia – falou Cordelia dando um selinho na boca dele – amor eu fiz o
café da manhã.
- essa responsabilidade é do Kai e não sua.
- eu sei, mas senta aqui – falou ela puxando a cadeira dele – e você
senta ai – falou ela se sentando em outra cadeira.
- okay – falei me sentando e Cory se sentou de frente para mim.
Cory serviu panquecas para ele e para Cordelia e foi então que ele não
fez o mesmo para mim e eu a ela chutando a perna dele. Eu mesmo coloquei panquecas
para mim e Cordelia fez cara feia para Cory.
- vai logo! – falou Cordelia quase que cochichando brava com Cory.
- ta bom! – falou Cory bravo pegando a molheira – você quer mel nas
panquecas… Kai?
- quero sim, obrigado – falei vendo-o jogar em minhas panquecas.
- então Kai, como passou sua noite.
- foi boa – falei mastigando um pedaço.
- ta, mas foi como? – perguntou ela insistindo tentando criar um assunto
na mesa.
- eu já disse, foi boa.
- eu sei – falou ela com um sorriso – mas me diz ai… foi como?
- eu sei lá. Eu dormi. Esse é o intuito de uma boa noite de sono: não
saber o que aconteceu durante ela.
- Kai! – falou Cory me repreendendo.
- poxa pessoal eu só estou tentando puxar assunto entre vocês – falou
Cordelia decepcionada.
- eu disse que ele não se importa comigo;
- vai lá Cory. Deixa de ser chato. Pergunta como foi a noite dele.
- ele já disse como foi a noite dele – falou Cory tomando um gole de seu
suco – o máximo que eu posso fazer é perguntar se ele teve algum sonho. Você
teve?
- você se importa?
- responde Kai! – falou Cordelia fazendo cara feia pra mim – ele
perguntou então responde.
- sim, eu tive. Na verdade tá mais pra uma lembrança reprimida de quando
eu tinha 13 anos que voltou do que pra sonho.
- e que lembrança é essa? – perguntou ele.
- quando eu tinha 13 houve uma tempestade no lar adotivo onde ficávamos
e acabou derrubando parte do nosso telhado. O governo disse que ia dar verba
para consertá-lo, mas nós não podíamos esperar a boa vontade. Nós então
decidimos vender barrinhas de limão em um shopping da cidade. Um desses
shopping pra gente rica. Enfim, as vendes não iam tão bem, mas eu me lembro de
ver um piano em exposição. Tipo esses que eles deixam pra qualquer um tocar.
Lembro-me de começar a tocar e as pessoas paravam para apreciar e acabavam
comprando. Lembro que em certo momento pedi pra uma das minha colegas me vendar
e quando eu tirei a venda tinha uma multidão me observando. Um trompetistas e
até dois violinistas que também estavam tentando fazer alguns dinheiro ali
perto.
- nossa! – falou Cordelia abismada – você esteve em um lar adotivo?
Pense que seus pais tinham morrido e Cory tinha te adotado.
- sim – falou Cory percebendo que eu tinha contado algo que não deveria
– quando os pais do Kai morreram ele ficou alguns anos no lar adotivo até que
as autoridades conseguiram me contatar. Foi então que eu entrei na justiça para
conseguir a guarda dele e eu consegui.
- a ta – falou Cordelia acreditando. Respirei fundo aliviado por ele ter
me livrado daquela.
- você sempre tocou piano bem assim? É um dom ou você fez aulas para
aprender?
- acho que é um dom, mas eu sempre pratiquei sabe. Nunca tive um piano,
mas praticava como podia. Desenhava as teclas do piano em pedaços de madeira ou
então eu simplesmente imaginava.
- eu já percebi – falou Cory sério – esses dias eu o peguei dedilhando a
mesa imaginando que fosse um piano.
- viu só? – falou Cordelia – vocês tem um assunto para poder conversar.
- qual? O piano que nunca tive porque meu tio nunca me deu?
- eu desisto – falou Cordelia jogando a cara na mesa.
- se quer um piano compre você mesmo – falou Cory.
- talvez meu novo namorado compre – falei respirando fundo.
- talvez, o seu namorado que a propósito é… - Cory fez cara de pensativo
esperando eu dizer quem ele é.
- eu não vou dizer quem é – falei tomando um gole de meu suco.
- olha, eu só quero saber quem é Kai. Porque você não me diz logo? Qual
o problema?
- eu não confio em você – falei me levantando – tenha um ótimo dia no
trabalho tio Cory – falei levando meu prato até a pia – as panquecas estavam
maravilhosas Cordelia.
Passei o dia todo naquela expectativa do meu encontro com Bruce. Não
sabia o que ele tinha planejado para a noite. Não sabia se nós íamos apenas ao
cinema ou se ele tinha planejado algo para antes ou depois, mas eu estava
morrendo de ansiedade. No meio da tarde Bruce me enviou uma mensagem no
aplicativo dizendo que estava muito ocupado, mas que me pegaria ás oito no
local marcado e eu respondi com ‘ok, não vejo a hora’ e ele respondeu com um
rosto sorridente. Meu falso Tio Cory chegou do trabalho ás sete da noite e
passou em frente ao meu quarto quando eu estava em frente ao espelho me
arrumando. A porta estava aberta e ele parou em frente a porta e ficou me
olhando enquanto eu penteava os cabelos.
- o que foi? – perguntei olhando para ele.
- nada – falou ele sério.
- eu não sei a hora que vou voltar, mas quando voltar espero que a porta
esteja destrancada. Não me faça ter que escalar até a janela do meu quarto –
volte ia olhar para o espelho e pentear os meus cabelos – fique feliz Sr.
Homofóbico. Hoje você e Cordelia terão a casa todinhas só pra vocês.
Cory saiu da porta do meu quarto e foi para o dele batendo a porta com
força. Pouco antes de dar a hora marcada eu decidi sair de casa, mas antes quis
ter certeza de que Cory não estava na minha espreita. Não sei se ele ia fazer o
jantar ou ia pedir algo fora, mas ao descer as escadas eu o peguei jogado no
sofá assistindo ao jogo de futebol todo largado.
- eu já estou indo – falei caminhando até a porta e Cory pareceu não se
importar.
Atravessei a rua caminhei em direção à casa de Wes Crawley que era a
última da rua e a mais escondida junto com a de Pedro Ballard. Por falar em
Pedro, quando passei em frente a casa dele Pedro estava saindo para botar o
lixo pra fora.
- Kai? O que faz aqui arrumado?
- eu estou indo encontrar um amigo – falei apertando os lábios.
- entendi – falou ele rindo – você quer que eu banque o guarda costas.
- não se preocupe é um cara legal.
- não foram dois caras legais que mataram seu amigo e tentaram levar
todos os seus órgãos?
- sim, mas esse é diferente. Acredite em mim. Aquele erro eu não vou
cometer de novo – falei rindo e pelo canto do olho eu vi Cory do outro lado da
rua meio que escondido nos arbusto. Foi então que eu tive uma ideia.
- tudo bem, mas qualquer coisa é só me ligar – falou ele jogando o saco
de lixo na lata de metal.
- me passa seu número – falei segurando no braço dele e pegando meu
celular.
- okay – falou Pedro com um sorriso – vamos lá dentro que eu te passo o
número.
Enquanto caminhávamos eu levei minhas mãos até as costas de Pedro e eu a
acariciei e percebi que uma vez que entramos e eu fui até a janela Cory já não
estava mais lá. Pedro me passou o número dele e disse para eu tomar cuidado e
mais uma vez eu prometi que tomaria. Agora que estava mais tranquilo e tinha
despistado Cory deixando ele pensar que o meu pretendente era outro cara fui
até a casa de Wes e vi um caro cinza fosco parado lá. Enquanto me aproximava os
faróis piscaram e eu percebi que era o carro de Bruce.
- você veio – falou Bruce me vendo entrar no carro.
- desculpa pela demora – falei rindo – tive que despistar meu tio –
falei me inclinando e dando um selinho em sua boca.
- não importa. O importante é que você veio – falou ele com um sorriso –
coloca o sinto.
- onde vamos? – falei olhando para ele enquanto colocávamos o cinto.
- tem um cinema perto daqui chamado Apex Theater – falou ele ligando o
carro enquanto seguíamos viagem.
- você tem ideia do filme que vamos assistir.
- tenho sim – falou ele pegando minha mão e entrelaçando os dedos aos
seus ele levou ao meio de suas pernas e manteve á enquanto ele dirigia – você
tem cara que gosta de terror então eu passei lá mais cedo e comprei dois
ingressos para nós. É um filme muito bom que estreou hoje.
- sério? Qual o nome? – perguntei apetando a mão dele achando gostoso o
gesto dele.
- Tráfico de Órgãos 2: Massacre sem Fim – falou ele olhando para mim.
- Tráfico de Órgãos? – perguntei assustado.
- por quê? Não gostou do primeiro? – perguntou ele olhando para mim
preocupado.
- não, na verdade não assisti – falei forçando um sorriso.
- eu também não, mas o cara do cinema disse que não ia atrapalhar o
entendimento e falou que é um dos melhores filmes de terror já feitos.
- a ta – falei sentindo a ironia do destino ao ir ao cinema com um cara
tão bacana assistir a um filme sobre o meu pior pesadelo. Passar duas horas
assistindo um filme sobre a pior noite da minha vida. Por favor, alguém me dê
um tiro ou me mate logo de uma vez.
- sabe – falou ele parando no sinal e levando minha mão até a boca ele
deu um beijo – se a gente gostar do filme de hoje essa é a desculpa perfeita
pra gente assistir ao primeiro filme. Dei uma olhada no Netflix e tem o
primeiro filme lá. Daqui a alguns dias minha filha e ex esposa vão fazer uma
viagem e a casa será toda minha por alguns dias. Você poderia passar o fim de
semana lá em casa e a gente pode assistir ao primeiro filme e outros filmes
também. O que você acha?
- passar o fim de semana com você? – perguntei sorrindo pra ele – só nós
dois?
- sim – perguntou ele levando minha mão para onde estava – gosta da
ideia?
- sim. gosto muito.
- combinado então. Se gostarmos do filme o fim de semana está marcado.
Se a gente não gostar eu prometo nunca mais te ligar.
- tenho certeza de que o filme será perfeito – falei rindo e Bruce deu
risada comigo.
Quando chegamos ao cinema Bruce fez questão de pagar por tudo. Comprou
um enorme balde de pipoca, um enorme copo de refrigerante nós dois ganhamos
duas miniaturas: um coração humano e um par de rins hiper-realistas. Era uma
promoção boba devido a estreia do filme. Que lindo premio para se dar a alguém
que está fugindo de uma quadrilha de tráfico de órgãos.
- você quer? – perguntou ele me mostrando o par de rins que tinha ganho.
- não, obrigado. Pode ficar – falei forçando um sorriso olhando para o
coração humano que estava em minhas mãos.
Assim que o filme começou Bruce levantou a divisória das poltronas e
passou o braço direito por trás de mim me puxando para junto dele e eu passei a
maior parte do filme de olhos fechados. Especialmente as cenas em que me
lembrava de Jack na banheira parecendo um frango depois do abate: oco por
dentro. Abri os olhos para pegar a pipoca e Bruce assistia a tudo e gritava e
dava risada junto com o restante do pessoal do cinema. Os sons de sangue e
tripas enquanto o assassino matava todo mundo ecoou pelos meus ouvidos e quando
um deles começou a comer foi o ponto alto da minha noite. Realmente estava
sendo um massacre sem fim ficar ali.
- quem mandou você fugir! – falou o assassino em uma das cenas – vou
arrancar seus órgãos sem anestesia! – o homem começou a gritar e eu afundei meu
rosto no peito de Bruce para não ver nada. Ele usava um perfume tão gostoso que
quase esqueci que tinha um homem sofrendo uma vivissecção em uma tela gigante
logo a minha frente. Percebi ali agarrado a ele que Bruce era um homem forte e
percebendo o quão assustado eu estava Bruce me puxou para mais junto dele. Juro
que tentava assistir algumas cenas, mas em certos momentos era impossível. Ver
aqueles jovens amarrados e terem seus órgãos arrancados para serem vendidos era
demais para mim. Quando as luzes se acenderam e eu olhei para tela e vi as
letras subindo eu mal acreditei.
- o filme já acabou – falou Bruce.
- nossa, já? Estava tão bom – falei me levantando rapidamente. De
propósito eu deixei o coração de brinde em cima da cadeira ao lado da minha. Vi
que Bruce tinha deixado o brinde dele e fiz questão de não lembra-lo e sai logo
atrás dele indo para fora do cinema.
Nós jogamos as embalagens na lixeira e Bruce começou a procurar algo nos
bolsos.
- acho que esqueci meus rins lá dentro – falou ele rindo – vou lá
buscar.
- não precisa – falei segurando na mão dele e puxando – eu esqueci meu
coração, mas pode deixar lá.
- tem certeza? Eu posso pedir pra voltar ou pra um funcionário pegar pra
gente.
- não precisa Bruce. é sério.
- okay – falou ele com uma expressão não muito boa enquanto nós nos
afastávamos do cinema e atravessávamos a rua em direção onde seu carro
estávamos estacionados. Ao chegarmos Bruce se escorou em seu carro e pegou um
cigarro e colocou na boca acendendo-o. Eu cruzei meus braços sentindo o frio e
olhei para os lados. Já era tarde.
- você está bem?
- não – falou ele direto e bruto olhando para mim – eu fiz de tudo pra
noite ser agradável e você mal assistiu ao filme, se desfez de tudo o que
tentei fazer pra te agradar, deixou os brindes de propósito lá dentro. Achei
que ia ser uma noite legal, mas você sinceramente deixou ela insuportável.
- eu mereço – falei baixinho pra mim mesmo coçando a cabeça. Deixei um
brutamontes mal educado em casa pra sair com outro. O cara é um estourado.
Porque será que fui gostar logo do bruto do outro lado da rua? – olha a culpa é
minha, mas é que…
- eu sei que a culpa é sua. Em nenhum momento disse que é minha – falou
Bruce.
- quer saber? Cansei – falei me virando e dei dois passos e então virei
de novo pra ele – eu já aguento merda do meu tio Cory em casa e quando saio eu
quero sair com alguém que não fique se desfazendo de mim. Eu gosto de filme de
terror, mas eu não gostei desse. Desculpa-me se eu não gosto de ver um monte de
gente ser usada de mercadoria e ter seus órgãos arrancados para serem vendidos.
Além do mais… - falei respirando fundo – um amigo meu morreu nas mãos de
traficante de órgãos e…
- você fala sério? – perguntou ele assoprando a fumaça e lambendo os
lábios.
- sim. era um amigo não muito próximo, mas mexeu comigo.
- porque você não disse nada?
- porque você tinha comprado os ingressos e eu não queria estragar sua
noite, mas acabei estragando.
- me desculpa – falou ele jogando o cigarro no chão e me puxando para
junto dele.
- me solta seu mal educado – falei abraçando ele.
- desculpa de verdade – falou ele dando um beijo na minha testa e
segurando meu rosto entre suas mãos – é só o meu jeitão de ser. Sou todo bruto
assim, mas te garanto que posso ser um ursão carinho se eu quiser – ele me deu
um selinho e pressionou forte os lábios junto aos meus.
- mas eu estou cansado de ser saco de pancada de todo mundo e você é a última
pessoa que eu espero que me trate assim.
- eu admito que perdi um pouco a cabeça porque eu gosto de você Kai. Te
garanto que se eu te tratar com indiferença é porque eu não me importo com você,
mas prometo que nas nossas próximas brigas vou contar até dez… mil.
- combinado – falei rindo e beijando a boca de Bruce outra vez sentindo a
sua língua em minha boca enquanto ele trocava de lugar comigo e me pressionava
contra o carro – sabe… - falei tentando parar de beijá-lo – o filme não foi tão
assustador porque estava ali juntinho com você. No meu ponto de vista a noite não
foi um desastre: foi perfeita.
Bruce deu um sorriso meigo eu me ouvir dizer aquilo e me abraçou me
dando um beijo gostoso e eu o abracei enquanto nos beijávamos. Não sei por
quanto tempo ficamos ali só nós dois sentindo os lábios um do outro. Bruce começou
a beijar meu rosto e passou a língua em meus lábios e eu mordisquei seu lábio inferior
e ele olhou para mim com um sorriso e passou o dedão na minha boca. Todo o
momento sentíamos a excitação um do outro e aquilo era gostoso. Ter o corpo
dele juntinho do meu.
- uma pena que a noite com Netflix ta cancelada já que eu odiei o filme.
- porra nenhuma – falou ele rindo – o que não falta é filme no catálogo.
A noite está de pé. Será no próximo fim de semana. Sem contar amanhã, na próxima
sexta elas viajam.
- está combinado então Sr. Ferrari – falei abraçando-o e recebendo um último
beijo antes de entramos no carro para irmos embora.
Assim que chegamos a Moracea Lane Bruce estacionou o carro em frente a
casa de Wes e então eu tirei o cinto.
- você pode ir. Vou ficar aqui olhando pra ter certeza de que você
chegará bem em casa.
- meu herói – falei rindo.
- a gente se vê amanhã no churrasco de boas vindas na casa do Ed e da
Agnes.
- com certeza.
- tudo bem então. Boa noite –falou ele com um sorriso se inclinando e nós
demos um beijo. Enquanto nos beijávamos passei a mão pelo rosto de Bruce sentindo
a barba espetar minha mão e ele passou a língua em meu rosto e foi até a minha
orelha e a mordiscou e passou a língua nela – durma bem meu amor.
- você também – falei pegando a mão dele e trazendo a minha boca eu dei
um beijo.
Caminhei pela rua deserta sentindo aquela sensação gostosa dentro de
mim. Uma sensação que nunca tinha sentido antes. Era tão boa. Quando entrei em
casa estava tudo escuro e enquanto eu procurava o abajur vi a luz do cigarro de
Cory se acender na escuridão e ele mesmo ligou a luz do abajur.
- o que está fazendo aqui?
- te esperando – falou ele mostrando que estava com a arma no criado
mudo ao lado dele.
- que porra é essa?
- caso você resolvesse trazer alguém pra dormir aqui.
- seu idiota. Porque você está aqui me esperando ao invés de estar lá no
seu quarto comendo sua vadia?
- Cordelia? – perguntou ele se levantando – mandei aquela menina chata
do caralho ir pastar. Quem ela pensa que é pra se intrometer na minha vida?
- que se foda. Eu vou pro meu quarto. Estou morto de cansado.
Enquanto eu subia as escadas Cory chamou a minha atenção.
- mande abraços ao Pedro Ballard da próxima vez que se encontrar com ele
– falou ele me fazendo sorrir ainda de costas. Respirei fundo parando por
alguns segundos e continuei a subir. Ele tinha mordido a minha isca igual a um
patinho.
Espero que tenham gostado desse capítulo, não esqueçam de deixar a opinião nos comentários (que me motiva a continuar com mais frequência) e não esqueça também de deixar o seu voto que é muito importante. Compartilhe com seus amigos que gostam de ler sobre a temática. Um grande abraço a todos e até o próximo capítulo.
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Amei Kai afrontoso haaaha
ResponderExcluirhahahahaa pro Cory aprender
ExcluirOlá.
ResponderExcluirdesculpa o sumiço. a vida deu uma embaralhada e foi foda...
eu li essa história toda numa lapada só, e acho que é uma das minhas preferidas até agora (o que é estranho, pq eu falei isso da anterior hahahah)
mas tá INCRIVEEEEEL!
parece que todo mundo na vizinhança tem algum segredo. todo mundo fala que é a melhor rua de todas, mas todo mundo ali parece que tá escondendo algo. O QUE É MARAVILHOSO.
tenho certeza que vai rolar tanta coisa ali ainda que vai ser de cair o cu da bunda.
adoro que o Kai tá fugindo um pouco dos personagens principais que aceitam tudo que lhe dão. ele tá revidando todas as ofensas do Cory e não tá aceitando merda vindo na sua direção, e acho que isso se deve ao fato dele nunca ter tido uma vida fácil. ele tá se tornando um dos meus personagens preferidos.
eu to super ansioso pra ver o que vai acontecer.
a sua escrita tá fenomenal, você tá se prendendo aos detalhes, pequenos, que deixam a história muito mais excitante e mexe com nossa imaginação. PARABÉNS!
esperando ansiosamente pelo próximo cap.
Valeu Charlie. Tava lembrando de você esses dias. Senti sua falta ;) Obrigado pelos elogios :)
ExcluirMaravilhoso como sempre ansioso pros próximos capítulos! Sucesso meu lindo!
ResponderExcluirValeu! obrigado :)
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