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Capítula Dezenove
OS GAROTOS PERDIDOS
abe qual
a coisa mais engraçada sobra a minha infância? Os rostos. Às vezes é difícil me
lembrar deles. Muitas vezes eles não passam de um simples borrão em minha
mente. É como se eu me lembrasse das pessoas pelos gestos ou expressões
corporais ou até mesmo pela voz. Isso na verdade me lembra de quando eu tinha
dez anos e ainda vivia com meus pais. Todos os dias depois da escola eu acabava
ficando por lá porque era meio que o meu refúgio.
Não gostava de voltar para casa afinal meus velhos estavam fabricando,
vendendo e usando drogas. Quando eles não estavam doidões tranzando no sofá
enquanto meus irmãos e eu assistíamos a tudo, eles estavam deprimidos, chorando
e jurando a nós que nós teríamos uma vida melhor. Algumas vezes eles acabavam endividados
e minha mãe tinha que levar o traficando pro quarto deles pra fazê-los ir
embora. Às vezes dois ou três deles iam até lá. Lembro-me de levar meus irmãos
para debaixo das cobertas no meu quarto e contar histórias para eles para que
eles vão a ouvissem gritando de dor. Enfim… a escola era como meu Oz. Onde eu
não queria bater os calcanhares para ir embora.
A verdade é que havia um piano e após as aulas havia um grupo de teatro
e uma professora aspirante à diretora da Broadway teve uma brilhante ideia de
fazer uma peça musical de outono inspirada no filme de 1987, ‘Os Garotos
Perdidos’. Para aqueles que não estão familiarizados é um filme que conta a
história de Sam. Um garoto que se muda para uma nova cidade e conhece um grupo
de jovens liderado por David. O que Sam não sabe é que esse grupo de jovens
desordeiros são na verdade vampiros. Sei que a principio a história não é
adequada para uma peça escolar, mas minha professora Irina soube adaptá-la o
suficiente para que o diretor a aprovasse para exibição na época de Halloween
afinal ela seria executada pelos alunos do ensino médio.
Lembro-me de me esgueirar toda tarde após as aulas para assistir aos
ensaios. Lembro-me de assistir ao número de abertura ‘Cry Little Sister’ cantada pelo ator que interpretada David na
peça. Lembro-me que uma enorme lua aparecia no palco e David aparecia no alto
todo de preto e uma névoa aparecia logo embaixo. Assim que entoava os primeiros
versos David pulava do alto através da névoa enquanto os outros atores serviam
de backing vocal. Lembro-me de ficar até um pouco assustado com a cena, mas não
era como se aquele sentimento me fizesse querer desistir de aparecer todas as
tardes. Pelo contrário. Era apenas mais um motivo. Lembro que em um desses
ensaios durante o número de abertura David acabou voando por cima da plateia e
acabou me vendo lá escondido. Ele acabou errando algumas falas e colocou a
culpa em mim.
- Hey! Garoto! – falou David vindo para cima de mim.
Lembro-me de me levantar assustado com David porque na minha cabeça ele
era um vampiro. Já tinha o visto aturar tantas vezes naquele papel que eu tinha
medo de que ele me transformasse em vampiro como ele fizera com Sam.
- ele é só uma criança! – falou a professora Irina repreendendo David –
vamos fazer uma pausa de 5 minutos pessoal – falou a professora vindo até mim e
se ajoelhando – qual o seu nome garotinho.
- é Kai senhora… Kai De la Croix.
- porque você está aqui Kai? Não deveria estar em casa?
- eu venho assistir os ensaios todos os dias.
- você gosta? – perguntou Irina com um sorriso e eu apenas balancei a
cabeça afirmativamente.
- eu posso participar? – perguntei inocente.
- você é muito pequeno. Essa peça é para adultos. O diretor nunca
aprovaria.
Olhei para o piano e Irina seguiu meu olhar e então se levantou e
segurou minha mão e me levou até lá. Meus olhos brilharam afinal era a primeira
vez que eu chegava tão perto de um. Passei a mão pelas teclas e Irina me deixou
sentar no banco.
- eu posso te ensinar a tocar se você quiser – falou Irina – eu sou
professora de piano – quando Irina disse isso pressionei os dedos e comecei a
entoar uma versão em piano de ‘Cry Little Sister’. Ela e os alunos que me
olhavam debochado começaram a me ver de outra maneira – como você… aprendeu só
ouvindo?
- sim – falei olhando para ela.
- acha que consegue tocar essa daqui – falou Irina pegando seu iPod e
colocando os fones de ouvido para que eu ouvisse uma música. Era ‘Life on
Mars?’ de David Bowie – na minha peça Sam tem uma irmã chamada Hannah e eu
estava tentando encontrar um jeito de encaixar essa música. Se você conseguir
tocá-la seria perfeito e você poderia participar da peça como nosso pianista.
Lembro de ouvir a música e sinalizar positivamente com a cabeça. Participei de
todos os ensaios a partir daquele dia e eles até colocaram o meu nome nos
panfletos que espalharam pela cidade ‘Os Garotos Perdidos’ apresentando Kai De
la Croix o prodigio Pianista.
Lembro de estar animado no dia da estreia. Era véspera de dia das Bruxas
e a primeira música que eu tocava era justamente Life on Mars? e o primeiro
lugar que eu olhei quando entrei no palco e recebi os aplausos de toda a cidade
foi para os lugares reservados para meus pais, mas eles não estavam. Toda
criança sente a dor de tão ter os pais nesses momentos, mas eu passei por cima
e não decepcionei minha professora, meus colegas e meu diretor. Fui aplaudido
de pé quando toquei o encerramento com ‘Total
Eclipse of the Heart’ da Bonnie Tyler. Todos os personagens principais
cantando sob a luz do luar e o holofote azulado focado em mim. A névoa sob o
piano. Lembro-me de me levantar e me inclinar recebendo os aplausos e os atores
que interpretaram David e Sam me pegaram nos braços e me levantaram pro alto
enquanto todos gritavam alto. Lembro de ver minha professora conversando com o
diretor nos bastidores. Ela parecia furiosa com algo.
Depois dessa primeira apresentação nós comemos pizza e tomamos sorvete
para comemorar. O próprio diretor pagou por tudo. Os ingressos para mais 10
apresentações haviam esgotados. Lembro que depois de todos comerem, meus
colegas de palco se despediram de mim e uma das gartoas até apertou minha
bochecha e me chamou de fofo: ‘se você fosse 5 anos mais velho’ – falou ela com
um sorriso no rosto.
Lembro que era tarde e ficamos apenas Irina, o diretor e eu. O relógio
na parede marcava que era dia das bruxas. Eu balançava minhas pernas ansioso
com medo do que aconteceria quando meus pais chegassem e lembro de ver aquele
casal sem rosto aparecendo. Um homem de cabelos desgrenhados e uma mulher de
cabelos castanhos desarrumados. Magros, ansioso, fedidos, cheios de feridas no
rosto devido ao uso excessivo de meta anfetamina, cocaína e heroína. Minha mãe
e meu pai deveriam pesar uns 45 quilos na época. Pareciam dois zumbis
agressivos. Não sei como não me tiraram deles antes.
- Sr. e Sra De la Croix eu sou o diretor Platten – falou o diretor
apertando a mão dos dois.
- pode me chamar de Dolf – falou meu pai com os olhos vermelhos coçando
a cabeça parecendo nervoso – essa é minha esposa Arianna – falou ele olhando
pra mim – vamos embora Kai.
- vamos embora querido – falou minha mãe com aquelas orelhas sorrindo
para mim passando a mão em meus cabelos.
- não posso deixar que levem o Kai antes de termos uma conversa – falou
o diretor levando os dois para a diretoria. Não sei bem qual foi o teor da
conversa entre os quatro, mas houve muita gritaria e muita ameaça. Lembro que
meu pai saiu de lá de dentro apontando o dedo na cara do diretor ameaçando ele
e Irina antes de agarrar forte no meu braço me puxando. Aquela foi à última vez
que vi Irina e a última vez que fui à escola. Eles pediram transferência para
outro lugar, mas eu nunca fui. Graças a negligência da nova escola só voltei a
estudar três anos depois quando fui arrancado dos meus pais.
Acordei abrindo os braços e sentindo o lençol sob minha bunda nua e
lembrei na noite anterior e como meu corpo foi usado por Randy e Cory. Quando
me virei de lado e procurei por Cory ele já não estava. Peguei meu celular e vi
que era quase meio dia. Fui até a janela do quarto e vi que eu era o único a
estar dormindo a vizinhança continuava lá embaixo na festa sem fim. Fui até o
quarto e tomei um longo banho até me despertar por completo. Durante o banho o
que ficou em minha cabeça não foi nem os atos libidinosos da noite anterior,
mas sim as coisas que descobri sobre Bruce. Ele era um homem mal, violento,
agressivo e tudo o que fiz todo esse tempo foi julgar Daisy. Me sentia mal por
ela. Percebi que Cory tinha deixado em cima da cômoda uma muda de roupa e um
bilhete: ‘para você’. Depois me vesti e calcei os mocassins que ele tinha
deixado. Ao descer as escadas ouvi ‘Mi Gente’ tocando e tive uma desagradável
surpresa ao ver Cordelia aparecer da cozinha com um copo. Ela bebia algo com o
canudo. Ela usava óculos escuros e estava de biquíni.
- oi Kai – falou ela com um sorriso. Ela tinha duas amigas ao seu lado.
- Cordelia? O que faz aqui?
- fui convidada pra festa – falou ela com um sorriso. Nesse momento Ed e
Carter apareceram da cozinha a caminho da porta da frente.
- Ed! Isso é verdade? Elas… foram convidada?
- claro! – falou Ed com um sorriso – somos como uma família. Não sei
como esquecemos de convidá-las ontem.
- viu só? – falou Cordelia – não se sinta mal Kai. Na verdade eu é que
me sinto péssima pelas coisas que disse a você ontem.
- tenho certeza que sim – falei olhando para as duas garotas que também
estavam de biquínis e óculos de sol – quem são vocês.
- essas são Nancy Duncan e Rita Dean. Co presidentes da Kappa.
- muita prazer – falou Rita com um sorriso estendendo a mão e eu a
apertei. Rita era uma linda garota de pele negra. O que a diferenciava das
outras garotas Kappa.
- vamos indo garotas. A piscina nos aguarda! – falou Cordelia entregando
o copo para Nancy que sorriu para mim. As três seguiram pela cozinha e foram para
a área externa. Eu respire fundo e lembrei que a casa não era minha. Além do
mais eu só poderia ser atingido pelas coisas que eu me permitisse atingir.
- ai! – falei sentindo uma bola ser jogada na minha cabeça.
- parem com isso garotos! – falou Carter repreendendo dois dos filhos de
Ed – vão brincar lá fora.
- obrigado – falei rindo.
- você viu quem está de volta? – falou Carter carregando um saco de
carvão.
- não. quem? – perguntei curioso o seguindo.
- o Bruce – falou Ed – chegaram hoje cedo. Ele e a Alice.
Solhei par o lado de fora e vi Bruce com uma cerveja na mão conversando
com Tom, Leroy e Pedro. Alice estava conversando com a namorada de Leroy. Bruce
olhou na minha direção e acenou para mim. Eu acenei de volta.
- boa tarde meu amor – falou Cory chegando a cozinha e me abraçando ele
de um beijo na minha boca – viu só quem está de volta?
- sim, eu vi – falei recebendo o beijo de Cory, mas olhando para Bruce
que não olhou para nós. Senti um arrepio na espinha ao vê-lo – pode parar de
show. Ele não está olhando.
- quando você vai terminar com tudo? – perguntou Cory passando o braço
por trás de mim e tomando um gole de sua cerveja.
- eu não sei Cory – falei respirando fundo – me deixa pensar um pouco,
okay? Acabei de acordar…
- desculpa. Não queria te irritar – falou ele dando um beijo no meu
rosto e me deixando.
- oi Kai! – falou Daisy atrás de mim. Percebi que ela tinha acabado de
chegar e fpi em direção a geladeira pegar uma cerveja.
- oi Daisy – falei cruzando os braços e forçando um sorriso a ela.
- você viu que Bruce chegou?
- sim, eu vi.
- já foi cumprimenta-lo? – perguntou ela abrindo a long neck e tomando
um gole.
- olha Daisy – falei me aproximando dela – eu sei que você sabe sobre Bruce eu… não… não
vamos fazer esse joguinho. Você viu a foto dele no meu celular aquele dia.
- sim. eu vi – falou ele apertando os lábios com um meio sorriso
colocando a cerveja em cima do balcão.
- eu sinto muito – falei segurando na mão dela – se eu soubesse antes… -
me senti mal – eu te julguei sem te conhecer e estou mal.
- eu sei – falou ela rindo – eu sou a ‘vadia ciumenta’. É o que todo
mundo novo na vizinhança acha.
- me perdoa. Okay? Prometo que vou terminar tudo com Bruce na primeira
chance que eu tiver – falei rindo sem graça.
- o que? Por quê? – perguntou ela curiosa.
- Cory me contou sobre Bruce. Tom contou a ele sobre o casamento de
vocês. Sobre… sabe… sobre Bruce ser violento – falei olhando para trás vendo
Bruce lá rindo e contando alguma história para Grace e Denis que davam risada –
não ia dizer nada no inicio já que o avô dele faleceu e Bruce era tão ligado a
ele, mas depois de saber que ele mantem você refém em casa eu estou pouco me
fodendo – falei olhando para Grace.
- Kai? Do que você está falando?
- do avô de Bruce ter estar doente e ter falecido.
- sim, eu sei – falou Daisy – de onde você tirou que Bruce e o avô eram
ligados?
- Ele mesmo. O Bruce me disse que o avô foi como um pai para ele.
- Sim Kai. O avô foi como um pai, mas Bruce o odiava – falou Daisy rindo
– não sei porque ele te disse que era ligado a ele, mas se fosse você teria uma
conversa séria com Bruce antes de dizer qualquer coisa – falou Daisy se
afastando do balcão.
- porque você está defendendo ele?
- eu fui casada com ele e o conheço bem. Ele é violento, estressado,
possessivo… bem… de qualquer forma Bruce é um homem… complicado. Tudo o que
dizem sobre ele é verdade, mas você já se perguntou como nascem os monstros
Kai?
- não, como?
- são criados por outros monstros – falou Daisy pressionando os lábios e
saindo da cozinha.
Olhei para Bruce lá de fora e percebi que eu também tinha sido criado
por monstros e muitas vezes tinha agido como um. Muitas vezes eu precisei que
alguém me desse o beneficio da dúvida e muitas vezes eu não o tive. Peguei meu
celular e enviei uma mensagem para Bruce.
Preciso conversar com você! — Kai
Olhei para Bruce lá de fora e vi o momento em que ele pegou o celular e
leu minha mensagem. Eu o vi me procurando e quando me viu na cozinha ele me
respondeu.
Na minha casa. Não tem ninguém lá — Bruce
Respondi a mensagem com um ‘ok’ e respirei fundo determinado em obter
algumas respostas. Ao mesmo tempo que tinha vontade de obter algumas resposta
eu tinha medo de que algo de ruim acontecesse. Foi por isso que decidi confiar.
Vi Selma caminhando até a cozinha com duas vasilhas na mão. Uma delas tinha guacamole
e a outra tinha nachos. Ela cantava uma música qualquer que tocava. Quando ela
entrou e passou por mim vi Bruce dando alguma desculpa e colocando o celular na
orelha se afastando de todos pelo lado de fora. Respirei fundo e me aproximei
da Salma rapidamente assustando ela
- Selma nós somos amigos, não é?
- que susto Kai – falou ela com um sorriso.
- somos ou não? – falei olhando em volta com pressa.
- somos sim.
- posso confiar um segredo a você?
- claro. O que aconteceu.
- não me pergunte nada. Só quero que saiba que se alguma coisa acontecer
comigo e por acaso eu não voltar a aparecer o último lugar que estive foi na
casa do Bruce. Okay?
- na casa do Bruce? – perguntou Selma confusa.
- okay?
- okay. Tudo bem – falou ela respirando fundo.
- obrigado Selma – falei saindo da cozinha a caminho da porta da frente.
Vi Bruce ao longe entrando em sua casa e caminhei calmamente tentando não
chamar a atenção das pessoas que caminhavam na rua. Assim que cheguei a casa de
Bruce bati na porta, mas ninguém abriu. Decidi não esperar e abri a porta
fechando-a logo em seguida. Nesse momento senti alguém me agarrar por trás e me
enforcar me jogando contra a parede e foi então que assustado Bruce me virou e
deu um beijo na minha boca.
- desculpa te assustar – falou ele me abraçando e enfiando ao língua em
minha boca – senti tanto sua falta Kai – ele segurou meu rosto entre suas mãos
e senti seu corpo junto ao meu. Seu beijo era molhado e sua barba pinicava. Era
incrível como o beijo de Bruce era diferente do de Cory. Tinha algo que eu não
percebi logo no inicio, mas logo eu percebi que não era o beijo em si, mas a
forma com que Bruce me acariciava. Ele me aconchegava em seus braços e me
mantinha preso junto ele como se eu fosse dele e me mais ninguém.
- precisamos conversar – falei tocando o rosto de Bruce e afastando o
rosto dele devagar. Lambi os lábios engolindo o sabor de sua boca. Parte de mim
queria continuar beijando-o.
- o que foi?
- eu vim aqui pra terminar tudo Bruce – falei desviando o olhar dele e
me afastando. Bruce olhou para mim com uma expressão estranha e então ele
pareceu ficar nervoso.
- o que? Kai?! Mas nós conversamos e…
- eu sei de tudo Bruce. Sua esposa me contou! – eu queria provoca-lo.
Querias conhecer o verdadeiro Bruce. O Bruce nervoso, o Bruce sob pressão – ela
me disse que você não a deixa sair de casa – falei cruzando os braços – além do
mais Cory e eu nos acertamos enquanto você esteve fora.
- aquele babaca? você me disse que ele te trata como um lixo! – falou
Bruce se aproximando de mim nervoso – Ele deve ter feito sua cabeça. Deve estar
te ameaçando. Eu vou lá quebrar a cara dele.
- Não! – falei entrando na frente da portas, mas Bruce veio para cima de
mim e me empurrou com tanta força para sair de frente da porta que eu bati o
rosto em uma estante que tem ao lado da porta e me desequilibrei caindo no
chão. Senti uma forte dor abaixo do olho e percebi que tinha um pequeno corte.
Olhei para Bruce e ele parecia espantado pelo o que tinha feito.
- Kai eu não queria… - Bruce fez mansão de se abaixar para me ajudar a
levantar, mas eu o impedi.
- não toca em mim – falei me encolhendo no canto e me escorando na
parede. Levantei o braço mão e peguei a primeira coisa que toquei para me
defender. Era um candelabro.
- eu não vou te machucar Kai – falou Bruce se afastando com as mãos a
mostra.
- você já machucou – falei olhando para a mão. Não tinha muito sangue
então deve ter sido um corte pequeno.
- deixa eu te ajudar. Fazer um curativo.
- não precisa. Eu mesmo faço – falei me levantando – se você der um
passo na minha direção eu arrebendo a sua cabeça com esse candelabro.
- okay, okay – falou Bruce dando passos para trás e trancando a porta da
casa.
- o que está fazendo?
- não posso deixar você sair – falou Bruce tirando a chave e colocando
no bolso – se você sair assim todo mundo vai achar que eu te ataquei. Okay?
Todos vão achar que sou maluco. Eu não sou maluco Kai – Bruce manteve as mãos a
mostra e sempre distante – Vá até o banheiro no andar de cima. Tem tudo o que
você precisa pra fazer um curativo. Depois que você fizer o curativo a gente
conversa e eu posso te explicar tudo.
- tudo bem – falei respirando fundo – onde eu encontro o banheiro?
- é a segunda porta á direita – falou Bruce respirando fundo e colocando
uma das mãos na cabeça pensativo – não faça nenhuma loucura Kai.
- do que está falando? – falei me aproximando da escada sempre com o
candelabro em punho.
- não vá pra um dos quarto e pule a janela. Okay? Você vai se machucar.
- melhor do que ficar aqui com você. Não acha? Você trancou a porta,
colocou a chave no bolso e está me mandando subir até o andar de cima. Parece
que você está me encurralando.
- não é isso – falou Bruce lambendo os lábios – eu só não quero te
perder, okay? Confie em mim. Lembra do fim de semana que passamos juntos? Eu
sou aquele Bruce.
- Eu vou agora – falei dando passos de costas até as escadas e quando me
aproximei o suficiente eu larguei o candelabro e corri rapidamente seguindo as
instruções de Bruce. Abri a segunda porta a direita e ao entrar vi que
realmente era o banheiro. Eu o tranquei e me sentei no chão me escorando na
porta. Respirei fundo e ouvi passos subindo as escadas e se aproximando da
porta do banheiro.
- você está bem Kai?
- estou sim – falei ainda sentado – só me dê um tempo pra pensar.
- me desculpa – falou Bruce se sentando no chão e se escorando na porta
– eu não sei o que deu em mim Kai, eu só… - Bruce parecia perturbado – eu só
não quero te perder.
- Daisy me contou sobre seu avô – Bruce não disse nada – ela me disse
que você o odiava. Porque você mentiu pra mim?
- você não entenderia.
- experimenta – Bruce ficou em silêncio por alguns segundos e então eu
percebi que ele tinha cedido.
- meu pai morreu quando eu ainda era pequeno. Ele sim era meu verdadeiro
herói – falou Bruce fazendo uma pausa.
- como ele morreu?
- eu tinha nove anos. Ele trabalhava em uma fundição. Ele sempre foi
trabalhador e por mais que o trabalho fosse desgastante era o tipo de pai que
sempre tinha tempo pra mim. Nos fins de semana me levava a jogos de beisebol,
me levava pra pescar… enfim… - falou Bruce rindo – ele acabou sofrendo um
acidente no trabalho, perdendo o movimento das pernas e acabou ficando
inválido. Isso acabou com ele. Minha mãe teve que começar a trabalhar e isso
fez ele se sentir inútil. Ele foi criado para ser o provedor e o meu avô que
morava com a gente na época o fazia se sentir mais pra baixo ainda. Ele chamava
meu pai de ‘vagabundo’, ‘lixo’, ‘peso morto’, ele falava que minha mãe
provavelmente tinha um amante fora de casa. Meu pai acabou deprimido e bêbado.
- sinto muito Bruce.
- claro que minha mãe fazia de tudo para quem eu pai se sentisse melhor
e nós somos ao parque um dia. Para um piquenique. Meu pai ficou a beira do lago
tomando sua bebida como sempre e meu avô ficou na cabeça dele falando merda.
Não lembro bem o que aconteceu naquele dia. Tudo o que lembro é que nós nos
distraímos e quando nos demos conta percebemos que meu pai tinha se jogado no
lago com a cadeira de rodas e tudo.
- suicídio?
- ele não aguentou, sabe – falou Bruce chorando. Percebi que ele estava
tentando disfarçar, mas eu podia ouvir pela voz trêmula.
- porque você foi ao funeral do seu avô se você o odiava tanto?
- porque eu queria estar lá quando ele fosse enterrado. Wes disse que
seria bom pra mim. Ter um encerramento.
- o Wes?
- sim. ele é psiquiatra.
- é verdade.
- Não que eu o tenha perdoado, mas ver ele morto no caixão e poder
fechar a tampa e jogar a terra em cima dele me mostraria que ele não conseguiu
fazer comigo o que ele fez com meu pai.
- ele te maltratou quando era criança? – perguntei para Bruce. Ele
respirou fundo e então perguntou com aquela grave voz.
- você sabe o que é enema?
7 de Agosto de 1984
Oklahoma, Arizona
t
Bruce tinha apenas 9 anos quando o pai cometeu suicídio no Lago Starks
depois de um piquenique em família. Quase um ano se passou desde o ocorrido e o
seu avô ainda comenta com os amigos como o filho foi um maricas por ter se
jogado no lago. ‘ele deveria ter dado um tiro na cabeça como um homem de verdade’.
Era isso que o avô dizia nas conversas de bar com os amigos enquanto azarava as
novinhas de 14 e 15 anos. As filhas dos vizinhos. Ele é um típico macho
tradicional americano. Gosta de cerveja, buceta, Cristo e armas. Ele era casca
grossa com neto e agora que a mãe passa mais tempo no trabalho do que em casa
ele é o pai do pequeno Bruce. Com ele não tem essa de castigo ou conversa. Se o
neto faz algo errado ele da cintadas no garoto usando a fivela para mostrar que
não estava de brincadeira.
Era agosto e Bruce estava nas férias de verão. Ele tinha alguns amigos
de escola com quem ele passava bastante tempo e naquela tarde eles acabaram
fazendo algo que todo moleque faz: vendo pornografia. Sabe quando os moleques
se reúnem pra ver as revistas que pegaram escondido dos pais? Foi mais ou menos
assim. Um dos amigos de Bruce – JR – tinha uma casa da árvore e eles tinham
combinado de pegar o máximo de material que encontrassem para levar até lá. O
pequeno Bruce sabia que corria um grande risco ao pegar as revistas do seu avô,
mas ele queria se enturmar. Depois da morte do pai ele ficou conhecido como o
filho do suicida e isso não ajudou em sua fama. Bruce levou as suas revistas e
ao chegar a colocou junto com as outras que seus colegas levaram.
Eles começaram a olhar as revistas e Bruce começou a folear uma por uma
e então ele percebeu que uma daquelas revistas era diferente. Havia um homem na
capa. Um mecânico para ser exato. Estava com a camisa aberta, o corpo definido
e um sorriso bonito no rosto. Bruce abriu a revista e percebeu que o que tinha
ali o agradou. Os amigos não tinha visto aquela revista e Bruce decidiu levar
ela com ele. Bruce colocou a revista entre as do seu avô e se despediu dos seus
colegas dizendo que precisava ir.
- eu preciso ir! – falou Bruce com o coração palpitando.
- deixa suas revistas, ainda não vimos! – falou JR.
- não posso. Meu avô deve estar voltando do bar – Bruce desceu as
escadas com as revistas embaixo do braço e montou em sua bicicleta e foi embora
o mais rápido que pôde. Ao chegar me casa ele foi direto para seu quarto. Ele
se sentou na cama e jogou as revistas do avô de lado e abriu a Playguy olhando
foto por foto. Era a primeira vez que ele via o corpo masculino daquela forma e
ele gostava do que via. Bruce ficou fascinado com as formas. Tão fascinado que
não notou que seu avô entrou em casa, subiu as escadas e parou em frente a
porta do seu quarto.
- o que está olhando moleque?
Bruce tentou esconder a revista, mas seu avô o empurrou e pegou a
revista da mão dele.
- eu sabia moleque! Era só questão de tempo até você virar maricas! –
falou o avô puxando Bruce pelo braço arrastando-o até o banheiro – você vai
aprender uma lição!
- não vovô! Não! – Bruce tentava se soltar, mas seu avô era grande e
forte e ao entrar no banheiro ele trancou a porta.
- tira a calça moleque! – Bruce balançou a cabeça negativamente, mas o
avô o empurrou – tira logo!
O avô de Bruce pegou uma bolsa de enema e a mangueira e Bruce tirou a
calça que usava e a cueca tapando o sexo com as mãos. Ele tinha vergonha afinal
só tinha nove anos. Seu avô o colocou de quatro na banheira com a bunda pra
cima e o fez abaixar a parte da frente deixando sua bunda empinada. Ele encheu
a bolsa de enema com um liquido verde. Diabo Verde pra ser mais exato. Em
seguida o avô pisou na cabeça de Bruce para mantê-lo quieto dentro da banheira.
Em seguida ele colocou uma ponta da mangueira na bolsa e a outra ponta ele
colocou dentro do ânus de Bruce. O Avô manteve a bolsa no alto enquanto via o
liquido vagarosamente descer pela mangueira transparente adentrar seu netinho
favorito. Enquanto o liquido entrava em seu corpo ele gritava e tentava
escapar, mas o pé de seu avô esmagando seu rosto contra o piso o manteve domado
enquanto o liquido o queimava por dentro.
Atualmente
t
Olhei para minha mão e a ferida que o Diabo Verde tinha deixado em meus
dedos. Imaginei o que aquilo faria dentro do corpo de alguém… dentro do ânus de
alguém. Me levantei, abri a porta e vi Bruce sentado com os olhos úmidos. Me
ajoelhei atrás dele e o abracei forte. Ele era igual a mim. Apenas uma pessoa perturbada
criada por monstros tentando melhorar. Éramos apenas garotos perdidos em nossas
épocas de infâncias e crescemos sem ninguém para nos guiar.
- eu sinto muito – falei dando um beijo no rosto dele acariciando seu
peito – desculpa Bruce. Me perdoa. Se você tivesse me contado antes eu não
teria te tratado do jeito que fiz.
- não tem problema – falou Bruce lambendo os lábios sentindo o gosto de
suas lágrimas – agora você sabe – falou ele respirando fundo – a maçã não cai
muito longe da árvore.
- não diz isso – falei dando um beijo no pescoço dele afundando meu
rosto em seu pescoço – você pode ser diferente. Você mesmo disse conversou com
o Wes. Isso significa que você quer mudar.
- eu quero – falou ele sério – foi por isso que me apeguei tanto a você
Kai. Por isso me apeguei tão rápido. Você é o motivo de eu querer mudar. Ser um
cara diferente. Eu sei que fui violento no passado e sei que é errado manter
Daisy aqui contra a vontade dela. Até mesmo a Alice não gosta de ficar aqui. Sabia que ela está cursando sociologia na
Universidade de Phoenix e que ela deveria morar na irmandade Kappa, mas eu não
deixei?
- sério? – falei ainda abraçado com ele, mas levantando a cabeça – é aqui
do lado.
- sim. eu sei, mas não gosto que as pessoas se afastem de mim. Wes disse
que isso tem a ver com a morte do meu pai. Gosto de manter as pessoas que amor
por perto
- Eu também sou assim, sabia?
- sério?
- posso te contar um segredo?
- claro – falou Bruce acariciando meu braço.
- eu tinha seis irmãos quando fui parar no lar adotivo e você sabe o que
acontece com irmãos que vão parar em lugares como esses.
- sim. Se separam.
- exato. Isso acabou comigo. É por isso que eu digo ‘Eu te amo’
mentalmente – e às vezes verbalmente – pra todo mundo que entra ou sai da minha
casa. Eu nunca sei quando vou ver essas pessoas de novo então eu garanto que
elas saibam que eu as considero muito.
- promete pra mim que não vai me deixar? – falou Bruce me pegando de
surpresa.
- Não posso te prometer isso…
- Por favor, Kai. Em você eu vou me perder de novo. Eu detesto ser esse
cara violento e estressado que todo mundo sorri, mas que na verdade tem medo de
ficar sozinho no mesmo ambiente porque ninguém sabe qual será o meu humor no
momento.
- eu não tenho medo.
- diz isso pro candelabro – falou Bruce chateado por eu não fazer a
promessa.
- Sei que você está chateado Kai, mas eu não posso te prometer algo que
não vou cumprir. Eu estou mesmo me dando bem com Cory.
- eu só estou pedindo uma chance Kai. Você nunca pediu uma chance a alguém?
Por favor, não me diga não também.
Bruce me colocou em uma posição difícil e por mais que eu estivesse
dividido eu via muito de mim em Bruce. A infância, os medos, as falhas e a
vontade de ser melhor.
- tá bom, okay?
- é sério? – falou Bruce virando o rosto e olhando pra mim.
- sim. é sério, mas você também me precisa prometer uma coisa.
- qualquer coisa amor.
- você vai mandar Alice pra casa Kappa e quando Daisy voltar para casa
as suas malas vão estar prontas.
- minhas malas? – perguntou Bruce.
- sim. É cortesia do marido deixar a casa com a esposa quando o divórcio
é finalizado.
- tudo bem. Eu concordo com você, mas se eu for pra um hotel nós dois
vamos ficar longe.
- você não vai pra um hotel. Vou conversar com a minha amiga Daphne
Weston. Ela vai adorar ter alguém pra dividir as despesas. Além do mais a sua
oficina fica aqui e nós dois seremos vizinhos.
- tudo bem então – falou Bruce me puxando e me dando um beijo no rosto –
obrigado Kai.
- não precisa agradecer Bruce – falei passando a mão no rosto dele
limpando suas lágrimas. Existe um motivo para que eu não tenha dito ‘eu te amo’
para Cory quando ele disse para mim. Ele ficou tempo demais agindo como o cara
mal, me tratando como lixo. Claro que Cory é um cara divertido, apaixonante e
bom de cama, mas a verdade é que eu sinto algo por Bruce. Acho que estou
apaixonado por Cory, mas sinto algo forte por Bruce. Algo que eu me recuso a
chamar de amor porque como eu já disse antes: ‘quanto mais tempo passo com os seres
humanos mais tempo percebo como amo os animais’. Só que Bruce está me fazendo
repensar essa frase.
Pessoal obrigado a todos pelos votos e comentários. Fico muito feliz com a reação de vocês. De verdade. Fico motivado a postar com mais frequência pra vocês. Um grande abraço a todos e até o próximo capítulo.
Logo abaixo tem o link para comprar as minhas obras na Amazon. Tem também o link do convite para fazerem parte do meu grupo do Whatsapp. Espero que tenham gostado desse capítulo e até o próximo. Um abraço.
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Nossa que situação essa de Kai em, eu n saberia o que fazer haha
ResponderExcluirhahaha eu ficaria com os 2 kkkkk
Excluirmeu deus, eu não sei o que pensar de mais ninguém ai.
ResponderExcluirto confuso, amo os dois, o que fazer????
PS: adorei a história de como ele começou a tocar piano. lindíssima.
valeu Charlie ;)
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