CAPITULO 18
Eu estava outra vez naquele parque de diversões. Eu tinha ouvido alguém
chamar meu nome. Eu finalmente tinha morrido.
- estou aquí – gritei alto olhando entre a neblina.
Eu olhei em volta e ninguém veio. Eu comecei a andar entre os brinquedos
do parque procurando por alguém. De certa forma eu me sentia aliviado por
finalmente ter partido daquele mundo cruel.
Eu fiquei olhando para o carrossel e me lembrei de que eu e meu pai
costumávamos a ir ao parque de diversões quando eu era pequeno. Eu me lembrava
também que meu irmão ficava de fora olhando, provavelmente desejando que eu
caísse do brinquedo.
Eu continuei andando e ví uma figura parada ao longe vindo em minha
direção bem devagar. Era várias pessoas vindo em minha direção, mas elas
passaram direto por mim. Era como se estivéssemos no mesmo lugar, mas em mundos
completamente diferentes.
De repente eu comecei a sentir uma falta de ar. Eu não conseguia
respirar, eu comecei a andar tonto tentando pedir ajuda, mas era como se
ninguém ligasse eu então me ajoelhei senti que ia vomitar e depois de alguns
segundos comecei a cuspir terra. Eu estava engasgado.
Eu cai no chão de barriga pra cima e ainda engasgado fechei os olhos e
senti uma mão me puxando. Eu abri os olhos e ví o céu preto, eu estava gelando
e com muito frio. Senti meu corpo todo doendo, era Jake me tirando do buraco.
Eu tinha acordado.
- estou aquí Jack, não se preocupe. – falou Jake me tirando e colocando
deitado na grama, eu olhei fraco para o lado e ví Amy caída no chão. Essa foi à
última coisa que ví antes de desmaiar.
Transgressão de Jake
Eu tinha saído com meus amigos e estava voltando pra casa o relógio
marcava 18:40. Jack tinha ficado em casa sozinho e quase chegando em casa
decidi dar meia volta e comprar um sanduíche no Burger King que Jack tanto
gosta.
Assim que pedi o lanche fui em direção de casa outra vez. Assim que
cheguei com o carro ví que as luzes da casa estavam apagadas, mas como já
estava escuro eu percebi que as luzes do quintal dos fundos estavam acesas. Eu
saí do carro e usei minha chave para abrir a porta. Assim que entrei eu fui até
a cozinha e ví o sangue no chão.
Eu levei um enorme susto, coloquei os lanches em cima do balcão e segui
os rastros.
- Jack! – gritei alto. Tinha uma mulher parada de costas, quando gritei
ela se virou e largou uma pá que estava em sua mão.
- quem é você? – perguntei dando dois passos.
A mulher se agachou e pegou uma faca que estava no chão e correu em
minha direção gritando. Eu me virei e fechei a porta da cozinha e fui até meu
quarto subindo as escadas e peguei uma arma que eu tinha no meu quarto.
Eu ouvi um silêncio na casa. Eu desci as escadas devagar e assim que
cheguei à cozinha eu ví que a porta estava aberta. Eu fui me espreitando até a
sala para ligar para a policia, mas assim que me virei levei um susto com
aquela mulher. Ela veio pra cima de mim com a faca e passou a faca de raspão,
pois eu consegui desviar no último segundo. Eu a empurrei com uma das minhas pernas
e fui com minha arma pra fora e ela veio atrás de mim.
- largue a faca! – falei apontando a arma pra ela.
Ela largou a faca e levantou as mãos.
- fica parada – falei olhando fixamente pra ela – onde está meu irmão?
Ela apenas apontou para baixo e eu olhei pra trás vendo uma cova onde Jack
estava enterrado apenas com o rosto de fora.
- Jack acorda – gritei alto, mas ele não respondeu.
Eu olhei pra frente e aquela mulher estava vindo até mim com a faca, mas
antes que ela chegasse eu apertei o gatinho.
O barulho do tiro ecoou enquanto ela caiu pra trás largando a faca e
caindo como uma boneca de pano no chão.
Eu me virei e comecei a desenterrar Jack e foi quando eu ví que ele
estava cheio de cortes pelo corpo.
- por favor, não morra.
Eu o tirei e depois de alguns tapas do rosto ele acordou. Ele parecia já
estar morto, estava pálido e seus ferimentos cheios de terra.
Eu o coloquei na grama e corri para dentro e ligar para emergência. Enquanto
chamava eu olhei para meu celular e meu pai tinha me mandado uma mensagem de
texto: “Jack Não Pode Assistir Ao Noticiário”.
Transgressão de Henry
O relógio marcava por volta dás 18h30min quando recebi uma ligação do
meu advogado.
- Henry falando.
- olá Henry, tudo ok?
- tudo, estou tentando ir embora mais cedo para ficar com meu filho, o
que você manda?
- eu não queria te dizer isso, mas caso você ainda não saiba Kenny vai
sair da prisão.
- ok? como? porque?
- como ele não pego no flagrante cometendo o crime de abuso e apenas em
posse pornografia ele irá responder liberdade apenas por fiança. Pelo que me parece
ele já pagou e será liberado amanhã de manhã.
- isso não possível – falei me levantando e desabotoando a gravata.
- sinto muito – falou meu advogado.
- não tem nada que possamos fazer?
- olha eu sei que você não quer ouvir isso, mas o único jeito é se Jack
prestasse queixa eu sei que faz tempo, mas com toda a avaliação psicológica que
ele já teve podemos provar que o TOC de Jack foi causado pelo trauma de abuso.
- eu não posso expor meu filho. Ele não quer ser exposto assim.
- eu sei, sinto por ter sugerido isso. Mas não podemos fazer nada. O
juiz já decidiu.
- obrigado – agradeci desligando o celular.
Eu nem acreditava que aquele cretino iria ficar livre. Ele merecia
apodrecer na cadeia.
- Jack não pode saber disso, não agora. – falei pegando o celular e
mandando uma mensagem para Jay e Jake.
Eu precisava de uma restrição do Juiz contra Kenny. Ele não podia chegar
a 1 metro se quer de Jack. Se ele se aproximar de minha casa eu matava aquele
canalha.
Transgressão de Jay
Boa tarde. Falei para a recepcionista chegando ao meu consultório ás 14h00min
depois de ter ido á casa de um paciente.
- tem mais algum paciente depois dela?
- sim. Mais quatro marcados para hoje.
- ok. Respondi abrindo a porta e pedindo para Amy entrar em meu
consultório.
Amy tinha sido diagnosticada com esquizofrenia logo após nossas brigas.
Na verdade eu tinha notado os primeiros sintomas e um amigo meu Stephen tinha
feito o diagnóstico completo. Eu sei que não era minha culpa, mas eu queria
trata-la. Ela exigiu que só queria ser tratada por mim ou as outras iriam
mata-la. Eu não tinha contado nada para Jack para que ele não pensasse que eu
ainda gostava dela.
- como está Roger? – perguntou ela sentando e cruzando os braços.
- está bem Amy, está com a babá, mas nós viemos falar de você hoje. Como
você se sente.
- bem – falou ela alisando o cabelo na orelha sem expressão de alegria.
- as outras ainda estão de incomodando?
- ás vezes.
- o que elas dizem?
- algumas coisa, não me lembro direito.
- posso falar com elas? Se você se sentir confortável é claro.
- pode – falou ela balançando a cabeça.
- Britney? – falei esperando alguma resposta.
Amy continuou olhando pra mim sem expressão. Depois de alguns segundos
eu ví seu olhar inocente acendendo uma chama.
- olá querido – falou ela se levantando e sentando em meu colo.
- por favor – falei me levantando – sente-se lá Britney.
- tudo bem – falou ela se sentando com um sorriso no rosto.
Eu me sentei outra vez e peguei meu caderno de anotações.
- Amy disse que você tem falado com ela.
- você não quer saber da Amy. Ela é mole e fraca. Eu apenas digo algumas
coisas que eu penso. Algumas ideias.
- sobre o que? – perguntei curioso.
- não sei. – disse ele com um sorriso me encarando. Logo o sorriso
desapareceu e ela se levantou assustada e se ajoelhou no sofá.
- por favor Jay. Você tem que protegê-lo – falou ela cochichando.
- Amy? – falei.
- Patrícia.
- proteger quem?
Ela abaixou a cabeça e logo levantou com um sorriso no rosto.
- eu estou louca por isso – falou ela colocando a mão nas minhas pernas
e deslizando até minha barguilha.
Eu segurei as mão dela e pedi para que ela se levantasse.
- por favor – sente-se.
- como você não quer fazer sexo com sua própria esposa?
- primeiro você não é minha ex-esposa e segundo não estamos aquí para
falar de mim e sim de você.
Ela continuou sentada sorrindo.
- eu não sei se posso continuar tratando você, vou ter que indicar você
para outro profissional, porque minha presença na sua vida não vai te ajudar.
- não faça isso Jay – falou Amy se levantando.
- é você Amy?
- sim – falou ela se sentando abatida. – eu prometo melhorar, eu aceito
nossa separação, mas preciso que não me abandone.
- eu não posso. Não está me ajudando e nem a você.
Correu uma lágrima dos olhos dela.
- posso pelo menos passar um dia com Roger.
- infelizmente não – falei fechando o caderno – mas você pode passar lá
em casa para vê-lo quando quiser.
- tudo bem – falou ela se levantando.
- não se preocupe, vou te passar para alguém de confiança.
- tudo bem – falou ela outra vez sem me olhar.
- você me promete que vai direto pra casa?
- prometo – falou ela tentando um sorriso sem sucesso.
Eu a acompanhei até no elevador e ela entrou nele.
Transgressão de Kyle
Eu realmente estava me sentindo bem. Apesar de Jack não ter me escolhido
eu me animei por ele estar feliz. Eu confesso que ainda o amava, mas respeitava
a escolha dele. Eu só não queria que ele perdesse contato comigo, eu sentia que
podia superá-lo, mas eu queria que ele estivesse em minha vida mesmo que apenas
como amigo.
Eu estava sentado na cama assistindo um pouco de TV. O relógio marcava
por volta dás 19:10. Eu assistia o canal de notícias quando uma delas me chamou
atenção.
- o empresário Kenny Morgan preso por acusação de abuso infantil e posse
de pornografia infantil responderá em liberdade os processos sob fiança de 300
mil dólares.
Eu me lembrei assim que o ví. Era o Kenny que tinha abusado de Jack. Eu
não acreditava que aquele bastardo tinha sido liberado.
- Lara! – gritei
Ela veio até a sala e se sentou ao meu lado.
- esse homem Kenny é o homem que arruinou minha vida e a vida de Jack.
- esse é o homem que... você sabe.?
- ele mesmo – respondi coçando minha barba.
- você acredita em inferno? – perguntou Lara.
- não – falei balançado ao cabeça.
- eu também não – falou Lara – esse cara na minha mão sofreria. Ele tem
que pagar aquí na terra o que ele fez. A morte é uma saída muito fácil.
O telefone de casa tocou e Lara se levantou para atender. Depois de
alguns segundos ela veio até mim.
- Kyle...
- sim? – perguntei curioso.
- aconteceu algo com Jack – falou ela se sentando e segurando.
- o que? – olhei para ela esperando uma resposta.
Ela apenas olhava pra mim pedindo para que eu me acalmasse.
De Volta Pra Mim
Eu abri meus olhos esperando ver minha mãe. Abri meus olhos esperando
finalmente estar morto. Meu pai estava sentado do lado da cama.
- que bom que você está bem! – falou meu pai apertando minha mão. – não
tente dizer nada você ainda está muito fraco. Foi por pouco.
Eu olhei para o teto e fiquei pensando no que tinha acontecido. Meu
corpo doía um pouco e as lembranças do que tinham acontecido voltavam e iam
como ondas que quebravam nas pedras.
Eu não merecia todo aquele sofrimento. Teria eu feito as escolhas
erradas na vida desde o começo?
O que aconteceria comigo se tivesse escolhido Kyle ao invés de Jay? Qual
seria o outro lado dessa vida?
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