SEGREDO
capítulo vinte e oito
P
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assaram-se
alguns dias desde que tinha descoberto sobre Adam. O mundo todo já sabia sobre a farsa da morte dele
e assim como ele disse, nada aconteceu. Ele deu umas três entrevistas
explicando seus motivos, mas fora isso o mundo pareceu não se importar. Larry e
Vanessa voltaram para San Diego agora que toda a farsa tinha sido descoberta.
Meu pai pediu perdão por ter que mentir para mim todo aquele tempo, mas ele
enfatizou que nesse tempo se odiou por ter que mentir para mim. Meus pais
biológicos Ray e Abby e meu irmão Keith estiveram na cidade por três dias para
passar um tempo comigo. Eles sentiam minha falta e eu gostei de estar com minha
família.
Eu estava outra vez vivendo no
apartamento de dois milhões de dólares. Sozinho é claro. Combinei com Adam que
me casaria com ele novamente se Kevin e eu acertássemos tudo. Era de manhã,
estava deitado em minha cama olhando para o teto tentando imaginar o que faria
naquele dia. Meu telefone tocou e eu atendi.
- bom dia – falei para Adam
atendendo o telefone.
- bom dia meu amor – falou Adam
tossindo.
- você está bem?
- só um pouco gripado – falou
Adam tossindo outra vez.
- você vai melhorar.
- você não quer vir aqui cuidar
de mim? meu corpo todo dói.
- pede para um dos garotos de
programa que você ficou.
- eu mereço – falou Adam rindo.
- você conseguiu alguma coisa do
Kevin? Conseguiu encontra-lo.
- na verdade sim – falou Adam –
ele ainda está na marinha.
- sério?
- sim. Eu conversei com ele.
- como ele está?
- você poderá perguntar isso
pessoalmente porque ele estará chegando em San Diego em quatro dias no máximo.
- você falou pra ele do que se
tratava? Falou sobre mim?
- sim. Quando ouviu seu nome ele
ficou todo animado. Não pensou duas vezes em dizer sim.
- obrigado por fazer isso por mim
Adam.
- e então? Eu fiz o que você
pediu, não acha que eu mereço você cuidando de mim?
- claro. Me passa o endereço do
seu apartamento.
Anotei o endereço do apartamento
de Adam e depois de pegar minha carteira chamei um taxi. Ao chegar na portaria
fiquei do lado de fora esperando pelo taxi.
- Mike – falou uma voz perto de
mim.
Ao olhar para o lado eu vi meu
tio Roger. O único que eu não tinha visto desde que soube de Adam. Não tinha
visto ele desde que descobri que ele tinha me enganado sobre saber que Adam
estava vivo e não tinha me dito nada.
- você – falei olhando para ele.
- faz tempo que não te vejo.
- o que está fazendo aqui?
- é sério? Você vai ficar com
raiva de mim?
- o que você acha?
- eu fiz isso por Adam. Por Adam
e por sua mãe. Ela me pediu para te proteger Mike. Eu faria qualquer coisa para
te proteger.
- inclusive comer o filho dela?
- Eu sabia que corria o risco de
você me odiar por toda a vida, mas eu prefiro que você me odeia do que não ter
feito o que fiz. Eu te impedi de tomar decisões idiotas Mike.
- não era mais fácil me contar
que Adam estava vivo? Você sabia e não falou nada.
- eu te amo Mike, mas eu fiz uma
promessa aos dois. Você vai me odiar até quando?
- eu não te odeio. Você é meu
tio. Vai levar um tempo até que eu consiga olhar na sua cara de novo, vai levar
um tempo para que eu consiga confiar em qualquer um que me enganou. Você, meu
pai, Vanessa, Xavier… eu não odeio nenhum de vocês. Eu perdoo todos vocês, mas
não significa que eu vou esquecer. Todos vocês tiveram a chance de me contar
que Adam estava vivo, mas nenhum de vocês fez isso. Todos vocês me fizeram
acreditar que ele estava vivo.
O taxi chegou e parou na minha
frente.
- onde você vai? – perguntou tio
Roger.
- vou ver Adam.
- o que? Porque Adam merece ter
você depois de tudo? Porque ele merece seu perdão incondicional sendo que foi
ele quem contou a maior mentira? – perguntou meu tio enquanto eu abria a porta
do taxi.
- Porque eu o amo demais para não
conseguir perdoá-lo – falei entrando no taxi – eu não te odeio, perdoo você
como perdoei todo mundo durante minha vida. É o meu jeito. Eu posso fingir
estar com raiva, mas pra me magoar de verdade você precisa fazer algo realmente
bárbaro.
- Isso é o suficiente pra mim –
falou meu tio acenando quando o taxi se foi em direção ao apartamento de Adam.
Quando cheguei ao apartamento de
adam a porta estava destrancada. Ao entrar vi Adam apenas com a calça do pijama
na cozinha tomando algo em um copo.
- o que está tomando?
- um chá qualquer – falou ele
terminando de tomar e colocando copo na
pia. Suas bochechas estavam vermelhas. Ele estava realmente com um resfriado ou
uma gripe.
- você acha que vai ficar melhor
andando descalço pela casa?
- que bom que você veio. Já é
ruim estar gripado, mas ficar gripado e sozinho é o fim.
- vá se deitar. Fiquei de
repouso.
- OK – falou Adam indo para seu
quarto. Eu o segui e assim que ele se deitou eu joguei o cobertor em cima dele
e me sentei na cama.
- obrigado por estar aqui.
- Você doou um rim para a vida do
meu pai e doou o seu coração a mim salvando minha vida.
- isso é poético – falou ele com
um sorriso.
- só um pouco meu amor.
- deita comigo. Eu estou sentindo
frio, estou tendo até calafrios.
- se você me passar, seja lá o
que você tem eu te mato – falei tirando minha camisa e colocando no cabide.
- sem problemas – falou ele se
aconchegando atrás de mim em uma conchinha aconchegante.
- seu corpo está quente – falei
sentindo sua respiração também quente na minha nuca.
- eu poderia morrer agora sabia?
Isso é tudo o que sempre quis. Você comigo nessa cama. Eu morreria feliz.
- não se atreva a morrer outra vez
– falei virando-me de frente para ele.
- você que manda.
- esse apartamento é seu?
- alugado.
- porque você não compra um
apartamento.
- porque quando nos casarmos nós
vamos viver no seu apartamento.
- você já está fazendo planos?
- eu quero ter uma vida normal
com você. Nós nunca tivemos isso porque a cada semana algo acontece pra
atrapalhar. Toda semana você tem um pai diferente.
- a culpa é minha então?
- não é isso o que estou dizendo.
Eu te amo, mas espero que esse segundo casamento seja diferente do primeiro. O
casamento será minha primeira prioridade, não meu trabalho.
- eu te amo tanto meu amor.
- eu não sei o que faria sem
você.
- provavelmente ligaria para
algum garoto de programa.
- você nunca vai esquecer isso?
- nunca – falei me aproximando do
rosto dele e dando um selinho em seus lábios – como foi?
- ficar com outro homem?
- sim. Eu fui seu primeiro homem.
Como foi ficar com outro.
- foi bom… quer dizer, eu gozei
todas as vezes.
- me poupe dos detalhes.
- me deixa terminar – falou ele
autoritário.
- OK.
- eu gozei todas as vezes, foi só
sexo. Todas as vezes que eu terminava eu sentia sua falta. Ninguém faz amor
como você Mike.
- do que você sentiu mais falta?
- de te dominar – falou ele dando
um selinho na minha boca.
- eu também sinto falta disso,
mas não fiquei pensando oque eu vou fazer amor com você.
- porque eu estou doente?
- porque você não merece. Você
mentiu pra mim, me fez achar que está morto.
- eu faço qualquer coisa pra você
me perdoar.
- sabe o que eu queria de
verdade? – falei deitando de bruços e olhando para o alto.
- o que? – perguntou Adam me
encarando.
- Viajar. Eu queria tirar um ano
da minha vida sabe. Trezentos e sessenta e cinco dias da minha vida para
conhecer o mundo. Eu queria ir para a Costa Rica, Amsterdã, Austrália – falei
com um sorriso no rosto – Grécia. A Grécia deve ser um lugar lindo.
- deve ser – falou Adam olhando
para mim.
- A Etiópia. Eu sempre quis
conhecer a Etiópia. A Inglaterra – falei rindo.
- Você está rindo?
- claro – falei olhando para Adam
– eu sempre quis conhecer esses lugares. O mundo todo.
- porque você ainda não foi?
- qual a graça de conhecer o
mundo todo sozinho? Eu sempre quis que essa fosse nossa lua de mel quando nos
casamos pela primeira vez, mas você estava tão ligado no trabalho que eu nem
disse nada.
Ficamos em silêncio por um tempo.
Adam ficou me encarando tentando decifrar minha feição. Depois de um tempo ele
desistiu de tentar adivinhar.
- no que está pensando? –
perguntou Adam.
- eu? Em nada.
- Mike eu te conheço tempo o
suficiente para saber quando você está mentindo.
- em meu tio Roger.
- Ho… - falou Adam.
- o que foi? – perguntei olhando
para Adam.
- me perdoa por isso.
- Eu me sinto mal por ter ficado
com raiva dele. No fim eu estraguei. Nós tínhamos uma relação boa.
- sinto muito. Eu percebo que
minhas mentiras te afetaram mais do que você pensa.
- Eu também tenho minhas mentiras
e meus segredos. Alguns segredos que nem você mesmo sabe.
- como é que é?
- o que? Você acha que sabe tudo
sobre mim?
- Eu achava que sim até agora.
- pois você está errado. Tem
coisas que a gente não conta pra ninguém. Vai me dizer que você não tem nenhum
segredo que eu não saiba.
- algumas coisas sim.
- viu só? Eu nunca vou querer
saber o que é porque algumas coisas devem se manter privadas. Todo mundo tem
segredos e deve continuar assim. Segredos.
- quer fazer sexo?
- o que?
- é uma pergunta honesta – falou
Adam rindo.
- não eu não quero.
- porque? O que tem de errado?
Vai negar o pedido de um homem doente? Você tem que cuidar de mim.
- eu quero ter certeza de que nós
ficaremos juntos e eu só terei certeza depois que me encontrar com Kevin.
- eu estou começando a achar que
eu cometi um erro em encontrar esse Kevin.
- deixa de ser bobo. Ele
provavelmente não sente nada por mim e deve estar vindo pra quebrar minha cara
depois de terminar sem dar uma razão válida.
- Acho que eu te amo o suficiente
para esperar.
- é bom mesmo – falei respirando
fundo – você é a única coisa boa que realmente aconteceu na minha vida, sabia?
- Wow! De onde veio isso?
- Só estou sendo sincero. Essa
não é a vida que eu planejei. Tudo mudou naquela noite. Eu deveria ir para
Harvard estudar. Eu deveria continuar namorando Kevin e se tudo desse certo era
com ele que eu me casaria. Minha vida seria normal e tranquila do jeito que eu
planejei.
- Ainda bem que nada deu certo
para você porque foi você quem me salvou. Acho que eu não teria aguentado muito
tempo se não tivesse conhecido você.
- como assim? – perguntei olhando
para Adam.
Ele fez gestos com a mão dando a
entender que teria dado um tiro na cabeça.
- a vida é engraçada. Eu fico
dizendo que sinto falta da minha vida antiga, mas eu gosto dessa. Essa é só a
prova de que não existe só um caminho certo a se seguir. Existem caminhos. Você
é que faz dele algo bom ou ruim.
- palavras sábias – falou Adam me
abraçando por trás se aconchegando em mim novamente.
Ficamos em silêncio por um tempo.
- poso te fazer uma pergunta
pessoal sobre seu pai? – perguntou Adam.
- não.
- porque? Você nem sabe o que eu
vou perguntar.
- eu sei sim. Você quer saber
como ele e Vanessa pegaram HIV e isso não é da sua conta.
- me desculpa.
- tudo bem – falei alisando o
braço de Adam que estava repousado sobre minha barriga - eu não perguntei para
meu pai como ele pegou HIV. Ele me contou porque sentiu que me devia uma
explicação.
- tudo bem, não precisa me
contar.
- eu conto. Me desculpa por ter
sido malvado.
- tudo bem, mas não precisa
contar se não quiser.
- eu quero-, mas você tem que
prometer não contar a ninguém.
- eu sou advogado. Guardar
segredos é meu trabalho.
- você já ouviu falar em Bacanal?
- já sim.
- aparentemente meu pai e Vanessa
tinham o hábito de participar de Bacanais. Ele disse que todos os envolvidos
usavam preservativos e faziam exames periodicamente, mas algum deles deixou
passar. E você sabe que mesmo com preservativo ter a rotina de fazer sexo com
outros casais aumenta as chances de se pegar alguma coisa.
- obrigado por compartilhar isso
comigo – falou Adam me abraçando forte – fico feliz que confie em mim.
- eu te amo. Você confia em quem
ama.
Fechei meus olhos e tentei
relaxar. Estava ansioso para ver Kevin. Ele fazia parte da minha vida. Ele foi
um dos meus primeiros namorados e acho que o primeiro homem que realmente amei
antes de Felix. Eu só queria encerrar as coisas amistosamente depois da forma
que tudo terminou.
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