FIM DE JOGO capítulo vinte e sete
Q
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uem
nunca ouviu dizer aquela frase: "Encontrei minha alma gêmea!". Você
já parou para pensar no que realmente significa essa frase? Teremos nós alguém
compatível vivendo no planeta? O que nos teria feito compartilhar nossa alma
com outro ser? Significa que nasceram juntos? Nessa vida ou em outra? O mito da
alma gêmea foi criado e perpetuado por Platão.
Em
seu livro Platão explicou sua teoria dizendo que no início dos tempos os homens
eram seres completos de quatro cabeças, duas faces, quatro pernas, quatro
braços, o que permitia a eles um movimento circular muito rápido para se
deslocarem. Porém, considerando-se seres tão bem desenvolvidos, os homens
resolveram subir aos céus e lutar contra os deuses, destronando-os e ocupando
seus lugares. Os deuses por sua vez venceram a batalha. Com intuito de
vingança, Zeus resolveu castigar os homens por sua rebeldia. Tomou na mão uma
espada e atingiu todos os homens, dividindo-os ao meio. Zeus ainda pediu ao
deus Apolo que cicatrizasse o ferimento, o umbigo, e virasse a face dos homens
para o lado da fenda para que observassem o poder de Zeus.
Sendo
assim o ser que antes era completo homem-homem gerou o casal homossexual
masculino; o ser mulher-mulher, o casal homossexual feminino. E o andrógino
gerou o casal heterossexual. Dessa forma, os homens caíram na terra novamente
e, desesperados, cada um saiu à procura da sua outra metade, sem a qual não
viveriam. Tendo assumido a forma que nós temos hoje, os homens procuram sua
outra metade, pois a saudade nada mais é do que o sentimento de que algo nos
falta, algo que era nosso antes.
Isso
explicaria o que sinto por Adam. Não são as coisas que temos em comum nos
completa, são as coisas em que nos tornam diferentes. Que graça teria se nós
dois combinássemos em tudo? A vida seria chata e monótona. Porque ainda amo
adam depois dele ter feito tudo o que fez? Porque ainda me bato com esse
martelo mesmo com toda a dor? Porque quando eu paro eu me sinto bem.
Não
são os problemas que definem o nosso relacionamento. O que define nossa paixão
é a forma que nós passamos pelos problemas e mesmo assim o que sentimos um pelo
outro continua intacto.
Ficou
claro no dia em que beijei Adam que ele seria o homem da minha vida. Não tive
dúvidas desde então. É claro que quando ele me magoava ou quando eu estava me
aconchegando nos braços de outro homem o sentimento que eu tinha por ele estava
apenas hibernando dentro de mim.
MAIO DE 2015 | CINCO DIAS ANTES DO BAILE
O
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dia do baile
se aproximava. Dia trinta de maio de dois mil e dez marcaria um dos dias
mais felizes e tristes de nossas vidas. Seria o momento de nos divertimos com
nossos amigos e seria também o dia de dizer adeus aos professores e á nossa
juventude. Estávamos todos ansiosos por esse momento e mesmo assim a tristeza
preencheu o coração de todos. Você conseguia ver isso nos corredores do colégio.
O desespero, e a aflição. Isso significava a despedida para a maioria de nós.
Denny e Sophie são meus melhores amigos. Denny tinha escolhido a carreira de
veterinário. Tinha ganhado a bolsa integral para a NYU e Sophie seria
engenheira civil. Ela foi aceita com bolsa integral em Yale. Meu sonho é ser
Antropólogo forense. Tinha me inscrito em apenas uma Universidade e meu sonho
era conseguir bolsa integral em Harvard. Eu tinha conseguido quatro cartas de
recomendações. Mitchell Morrison, um Juiz no estado de San Diego que era um dos
melhores amigos de minha mãe e as outras cartas foram de meus professores.
Nenhum de nós tinha recebido uma
resposta se tínhamos sido aceitos ou não e isso estava mexendo conosco. Tanta
coisa ao mesmo tempo e nossas cartas com a resposta ainda não havia chegado.
O
Baile seria no sábado e nós estávamos na segunda dia vinte e cinco. Meu
aniversário. Sophie é líder de torcida no meu colégio e ela tinha me enviado um
bilhete dizendo que durante o intervalo eu deveria comparecer ao campo de
futebol para assistir ao treino. Claro que Denny me acompanhou e ao chegarmos,
nos sentamos na arquibancada. Eu assoviei e Sophie olhou ao longe para mim com
o seu uniforme em azul escuro e dourado ao lado das outras animadoras e quatro
rapazes que faziam parte da rotina.
-
feliz aniversário Mike! – gritou Sophie ficando na frente das outras garotas
que se preparavam para ensaiar.
- obrigado Sophie – falei
acenando para ela.
Nesse momento percebi que a banda
da escola estava á do lado direito. Eles começaram a tocar “Mickey” de Toni Basil. Sophie e seu namorado Mason Stevens, que é
capitão do time de futebol, lideraram a coreografia juntamente com o restante
das animadoras que dançavam uma rotina muito bem elaborada.
Não demorou muito tempo para que eu
percebesse que era uma espécie de homenagem á mim. As animadoras gritavam meu
nome dando piruetas e saltos enquanto Sophie e Mason dançavam mais á frente
apontando para mim. Aquilo me deu uma angustia e apertou meu coração. Ninguém
tinha feito parecido para mim. Eram eu aniversário de dezoito anos. Era o mais
velho de todos nós.
No final na canção uma pirâmide
humana foi formada e Sophie saltou de lá caindo no braço de Mason e outro
garoto. Ela veio até mim correndo e me deu um abraço.
- feliz aniversário Mike – falou
Sophie.
- a quanto tempo você vem
ensaiando essa canção? Deve ter dado muito trabalho – falei olhando para as
animadoras e a banda – obrigado por isso! – gritei alto acenando e alguns deles
acenaram para mim e em seguida eles debandaram.
- não importa quanto tempo
trabalhei Mike. Essa é minha forma de dizer adeus.
- eu vou sentir sua falta – falei
pausando por alguns segundos e olhando para Denny – vou sentir falta de vocês
dois.
- nós vamos manter contato –
falou Denny.
- Em vinte anos nós vamos voltar
á esse colégio e vamos olhar pelos corredores e lembrar desse momento. È quando
percebemos que tudo o que passamos aqui é só um teste para o verdadeiro desafio
e vamos perceber que vencemos – falou Sophie.
- amém – falei olhando para
Sophie e Denny.
DIAS ATUAIS
Era um saco estar preso em meu
próprio apartamento. E quando eu digo preso eu digo literalmente. Adam colocou
algemas no meu braço direito e me prendeu á cama. Não sei bem quanto tempo eu
estive dormindo. Tudo o que sei é que em um segundo eu estava na empresa de
frente para Adam tocando seu rosto e no
outro segundo eu acordo no meu apartamento algemado a cama com um bilhete no
criado mudo.
Não corte o braço tentando se livrar das
algemas, estarei de volta ás sete da noite.
Adam White.
Tudo o que eu tinha ao meu
alcance era uma garrafa der água mineral, o controle remoto da TV e um relógio
digital que marcava pouco mais das oito da noite. Tenho certeza de duas coisas:
Adam está atrasado e não está morto. Esse deve ser o motivo de estar preso.
Descobri que Adam não está morto e eu não posso contar a ninguém.
Me pergunto por onde ele andou
todo esse tempo. Por onde esteve Adam enquanto eu tentava esquecê-lo. Onde
estava Adam quando tentei tirar minha própria vida tanta saudades?
- Toc Toc – falou a voz que eu conhecia bem batendo na porta do
quarto. Em seguida a porta se abriu. Era Adam. Para meu azar não era um
pesadelo. Ele estava realmente vivo – desculpa pelo atraso – falou Adam com um
sorriso carinhoso ao me ver. Agora que tudo tinha passado percebia que ele
estava diferente. Seus cabelos antes negros agora eram grisalhos a barba no seu
rosto agora era rala e também grisalha. Seis meses tinham se passado desde que
ele se foi e isso foi tempo suficiente para muda-lo.
- você não morreu – falei
encarando-o.
- eu não morri – falou ele parado
de pé á minha frente.
- eu te odeio sabia?
- eu não vou pedir desculpas pelo
o que fiz. Nós nem estávamos mais juntos quando eu decidi forjar minha morte.
- essa é a sua desculpa? Me
deixou sofrendo todos esses meses porque não estávamos mais juntos? Você não me
amava?
- Mike a última vez que eu te vi
você cuspiu no meu rosto e disse que nunca mais queria me ver. Acho que ficou
bem claro quem não amava quem.
- você não tinha direito de fazer
isso comigo. Nem você e nem ninguém.
- não culpe Xavier por isso. Ele
só descobriu a um par de meses atrás. Ele também não sabia que eu estava vivo.
- você quase me matou Adam.
- não seja tão dramático.
- eu tentei me matar. Quando
fiquei um tempo na casa do meu pai Ray em Nova Orleans eu tomei vários
comprimidos. Eu estava depressivo.
Adam não disse nada e demonstrou
surpresa ao me ouvir dizer aquilo.
- E se eu tivesse conseguido?
você conseguiria viver sabendo que eu me matei por nada? Como disse, você não
tinha direito de brincar comigo desse jeito.
- não sei nem o que dizer – falou
Adam se sentando na cama – você me ama ainda?
- porque você acha que eu tentei
me matar? É claro que eu te amo. O que sentimos um pelo outro é maior do que
qualquer coisa que um de nós possa fazer com o outro. Independente de todas as
coisas que dissemos um para o outro ou as coisas que fizemos tentando machucar
um ao outro. eu pelo menos nunca deixei de te amar m esmo quando disse que te
odiava.
- me perdoa por ter feito isso
com você. Eu precisava me afastar. Precisava ter um descanso em minha vida. Eu
precisava morrer um pouco.
- você planejou tudo aquilo? Não
podia ter forjado uma morte menos cruel?
- na verdade eu sempre vinha
pensando em forjar minha morte e quando houve aquele acidente eu pensei que
fosse o local e a hora perfeita para forjar. Tudo o que foi preciso foi colocar
algumas coisas minhas na cena do crime. O livro que você autografou, o relógio
e a minha aliança que tinha seu nome. Eu simplesmente me escondi por um bom
tempo.
-
você é louco sabia? Você não tem medo de ser preso?
- Mike não é crime forjar a
própria morte. Eu sou advogado e eu não tenho nenhum conhecimento ode uma lei
federal que se aplique a qualquer pessoa que finja a sua própria morte.
- então está dizendo que se você
simplesmente resolver aparecer você não será preso?
- não. Eu não pratiquei um crime
Mike. Só seria crime se eu tivesse de alguma forma fraudado ou tivesse tido
alguma vantagem econômica.
- você fraudou o seguro. Eu
recebi cinco milhões
- errado. Você acha que recebeu
cinco milhões do seguro, mas o que você recebeu foi cinco milhões que eu
depositei em sua conta.
- eu recebi um cartão da
companhia de seguro.
- Não. Você recebeu um cartão do
banco. Aposto que você não leu a carta que veio com o cartão. Não tinha nada a
ver com seguro.
- então você simplesmente de deu
cinco milhões?
- sim. pra você viajar e não pra
ficar guardado no banco igual você fez. Você é muito dramático sabia?
- o que você faria se o amor da
sua vida morresse?
- você?
- Eu não sei. Eu sou o amor da
sua vida?
- Sim e sempre será.
- ainda existem pontas soltas
Adam. A venda da empresa por exemplo ela acarretou lucros e logo após sua
morte.
- errado mais uma vez. A venda
começou antes da minha morte.
- e meu livro? Ele vendeu 300 mil
cópias depois que você morreu.
- eu não tenho nada a ver com
isso afinal o livro é seu e só compra quem quer.
- mas seus filhos receberam a
herança…
- Mike… – falou Adam respirando
fundo – O Código Penal prevê como crime o estelionato e isso não aconteceu. Não
ouve fraude no seguro e eu não lucrei de fato com minha morte. Além do mais a
lei diz que uma pessoa pode forjar a própria morte caso a mídia esteja
perseguindo essa pessoa e dessa forma prejudicando a vida pessoal dessa pessoa.
Isso estava acontecendo comigo na época. O máximo que pode acontecer é eu ser
processado por danos morais, mas fora isso. eu não sou um criminoso.
- quem sabia desde o começo que
você estava vivo?
- Meus filhos, minha ex-esposa,
Roman, Vanessa e seu pai Larry.
- espera… meu pai Larry e Vanessa
sabiam disso?
- sim. Eu contei para seu pai
justamente para evitar que você tentasse se matar só que eu não imaginava que
você estaria na casa do seu pai Ray quando tentasse fazer uma coisa dessas.
- meu pai Larry sabia que o
dinheiro não era do seguro todo o tempo e mesmo assim ele me roubou?
- eu te devo uma explicação
quanto ao roubo.
- e qual é?
- nunca foi roubo Mike. Seu pai
me pediu dinheiro. Ele e Vanessa compartilham o HIV e eles precisavam pensar no
futuro de Rachel. Eu dei o dinheiro, mas como eu não podia mexer na minha conta
bancária eu mandei ele pegar da sua conta. Para dar certo precisava parecer
roubo.
- meu pai nunca me roubou?
- não, mas para manter a história
ele precisou atuar um pouquinho.
- então meu pai e Vanessa não me
traíram e não me odeiam?
- não. Eles te amam.
- você não sabe o quanto isso me
alivia – falei respirando fundo – isso tira um aperto do meu coração.
- Sabe de todas as coisas que eu
pensei o que você fosse capaz de fazer eu nunca pensei que você recorreria ao
incesto.
- O que? Vai me julgar?
- Sinceramente? Não. Estou mais
enciumado do que chocado.
- pois você fez eu te esquecer e
me apaixonar por outra pessoa.
- isso é só mais uma prova de que
você ainda me ama. Você não ama ninguém além de mim Mike. Você estava tão
desesperado tentando me esquecer que se agarrou na primeira coisa que pareceu
amor.
- eu não te amo. Tudo o que tenho
agora é meu tio Roger que está sendo como uma pai.
- eu não sou o único que mente
para você Mike. Roger te ama, mas ele esconde um segredo. Ele esta cumprindo
uma promessa que fez á mim e á sua mãe Ramona.
- Minha mãe? O que ela tem a ver
com isso?
- Mike, sua mãe foi assassinada.
Ela era promotora e colocava os cara maus na cadeia. Ela tinha vários inimigos
e poucos meses antes da morte dela ela começou a receber ameaças por cartas e
telefone. Criminosos ameaçavam a vida dela a sua e a do seu pai. Ela sabia que
o tempo dela era pouco e ela fez seu pai e Roger prometerem que fariam de tudo
pra te proteger.
- Como você sabe sobre minha mãe
e sobre essas coisas do meu tio?
- porque seu tio também sabia que
eu estava vivo e além do mais eu conhecia Ramona. Eu sou advogado e ela era
promotora. Nos tribunais éramos inimigos, mas fora de lá éramos meio que
amigos. Eu não sabia que ela era sua mãe quando te conheci, só algum tempo
depois quando Gray me contou.
- Parece que todo mundo sabe tudo
sobre minha vida menos eu.
- e tem muito mais pare te
contar, mas antes… - falou ele abrindo uma sacola com comida japonesa – vamos
comer.
- você vai me soltar?
- não sou idiota de fazer isso
Mike – falou ele com um sorriso abrindo a embalagem e dando comida na boca.
Enquanto Adam colocava comida na
minha boca nós continuamos a conversar. Confesso que todas aquelas revelações
eram atordoantes e estavam me deixando intrigado. Quando mais descubro sobre
minha vida mais eu penso que não sei nada sobre mim ou as pessoas que estão ao
meu redor. É como se toda minha vida tivesse mudado naquela noite do Baile de
formatura. Tudo se encaixava, mas eu tinha mais e mais perguntas sem respostas
e eu pretendia consegui-las de um jeito ou de outro.
- quando você vai me soltar? –
perguntei mastigando.
- depende de você – falou Adam
colocando comida na boca e olhando pra mim.
- como assim?
- pode ser hoje ou pode daqui um
mês. Depende de você.
- o que eu preciso fazer pra ser
solto hoje?
- ouvir o que eu tenho a dizer e
prometer não ir a policia.
- combinado.
- o que você quer saber?
- Meu tio não me ama de verdade?
- como tio sim. Não como homem.
- Puxa… eu pensei que isso fosse
me atingir, mas eu admito que não.
- Eu só não consigo imaginar
vocês dois…
- sim nós fizemos. E dai? Vai me
julgar por isso?
- Não. Não julgo, só tenho
ciúmes.
- você é falso Adam. Só me
contratou porque sou gay. Eu já sei tudo sobre Anthony Sullivan. O garoto que
você espancou.
- Eu realmente não tenho orgulho
dessa parte da minha vida.
- É bom mesmo. Você quase matou
um garoto por ser gay.
- Mike eu me arrependo de
verdade. Sei que você já sabe tudo sobre o julgamento e acha que eu te
contratei porque queria me livrar da pena e é verdade, mas não porque eu sou um
cara mal. Eu só não queria ter meu nome manchado por isso. Esse julgamento foi
quase que um teatro. Por baixo dos panos eu paguei muito dinheiro aquela
família e até hoje eu pago. Todos os meses eu deposito na conta de Anthony
Sullivan uma gorda quantia.
- Dinheiro não resolve tudo Adam.
Justiça resolve.
- Justiça não resolveu. Perdão é
que resolveu.
- Anthony Sullivan te perdoou?
- não no começo, mas eu visitava
ele todas as semanas e tentava me aproximar dele. Quando eu te conheci Mike
você tirou uma coisa negra do meu coração. Eu comecei a me aceitar lentamente e
com isso eu comecei a correr atrás de Anthony implorando pelo perdão dele.
Demorou, mas alguns meses depois ele perdeu o medo de mim e acabou me
perdoando. Eu estava confuso. Eu era um gay enrustido e homofóbico. Você foi
contratado porque era gay, mas não foi só por isso. Eu precisava de alguém
competente também.
- E Rebecca? Você sabia sobre
ela?
- Não antes de você. Só soube
dela ontem.
- o que você tem a dizer?
- Eu era confuso Mike. Fazia sexo
adoidado com mulheres, muitas vezes sem preservativo. Era uma grande
possibilidade que eu tivesse uma filha ou um filho.
- eu ainda não te perdoo por ter
me contratado por ser gay.
- O cargo que você ocupou era
real. Acredite se fosse só por você ser gay eu podia ter pago alguém para
fingir ser um amigo de longa data. No começo de tudo eu era homofóbico porque
não me aceitava. Conhecer você foi minha salvação. Você me salvou. Pode parecer
bobeira, mas eu me apaixonei por você primeiro.
- me deixa ver se eu entendi. Eu
tinha uma vida normal. Devido ao que aconteceu no Baile eu tive que mudar minha
vida. Eu trabalhei na sua empresa e ganhei um Bolsa de estudos na Universidade
de San Diego. Eu trabalhei e estudei por três anos. Metade desses anos como
assistente de arquivo e a outra metade sendo seu assistente. Eu me formei pouco
tempo depois me apaixonei por você fiz você se aceitar, pedir perdão pelos seus
erros.
- uma linda história de amor –
falou Adam sorrindo pra mim.
- talvez pra nós dois, mas não
para Kevin.
- quem é Kevin?
- quem é Kevin? Exato – falei
rindo – É só o meu namorado. O homem que eu deveria ter me casado, mas fui
obrigado a terminar porque eu comecei a trabalhar pra você.
- Mike eu não tive nada a ver com
isso.
- Sim, eu sei. A culpa foi minha
– falei me lembrando de Kevin – mesmo assim eu não deixo de pensar nele de vez
em quando. Fico imaginando como minha vida seria diferente se nada daquilo
tivesse acontecido. Nós tínhamos sonhos. Nós iriamos ficar juntos. Minha vida
seria tão diferente se tivesse ficado com ele.
- Veja pelo lado bom. Você me
conheceu. Vai me dizer que se arrepende de ter me conhecido?
- Não, mas o que eu sinto por
você é o que sentia por Kevin na época. O que você sente por mim é o que Kevin
sentia por mim. Eu me sai bem, mas e ele? Ele deve ter sofrido muito quando
rompi com ele sem nem ao menos dar uma explicação digna.
- o que você disse á ele?
- Eu disse que terminei com ele porque
ele arruinou a nossa primeira vez. Ele me levou para a Cabana e ao invés de
ficar comigo ele adormeceu.
- você é cruel.
- Gray é cruel. Foi ele quem
mandou eu terminar.
- tudo isso vale a pena agora
Mike. Os ossos de Mason foram encontrados. Se eles ligarem você ao assassinato
de Mason nós devemos estar preparados.
- eles não vão me ligar á Mason.
Não existe evidência ou testemunha que tenha visto o que eu fiz.
- Você deve se arrepender né?
- não.
- você não se arrepende?
- Eu sou um monstro por achar que
fiz a coisa certa? Era ele ou eu.
- Acho que teria feito a mesma
coisa.
- todo mundo diz isso, mas eu não
acho que você faria a mesma coisa. Eu não achava que teria coragem de fazer,
mas quando chegou a hora eu fiz sem pensar duas vezes. Sem hesitar.
- você sabe porque está preso
aqui? Sabe porque está algemado?
- porque você tem medo que eu
conte ao mundo que você está vivo?
- Não. Eu planejo me revelar em
breve.
- então porque Diabos você me
prendeu aqui?
- você é imprevisível Mike. Toma
decisões impulsivamente. Tenho medo de que você não aguente a pressão e que
você vá a policia. Eu não posso permitir que você faça isso. Visitar você
algumas horas por dia não é o suficiente pra mim. eu preciso de você
integralmente. É por isso que desejo me revelar em breve. Quero que nossa vida
volte ao normal.
- o que faz você achar que eu te
quero?
- viu só? É por isso que não vou
te soltar. Você é impulsivo e nervoso. Você sabe que nós dois vamos ficar
juntos no final. você pode tentar me odiar, pode namorar outras pessoas, mas
sabe que nós dois somos fim de jogo. Você é meu e eu sou seu. Você pode
prolongar o final ou aceitar o destino e me ter durante o resto de nossas
vidas.
- Sabe – falei pausando – Eu
fiquei com cinco homens depois de você “morreu”.
- E eu fiquei com três – falou
Adam. Aquilo me machucou. Não consegui esconder.
- que se dane – falei com raiva
de Adam por ter me contado aquilo.
- o que foi? – perguntou Adam –
você disse que dormiu com cinco homens. Você disse isso pra me machucar. Eu só
estou dizendo a mesma coisa. É claro que foram garotos de programa, mas sim. eu
fiquei. Já te disse que me aceito. Eu sou gay e estou vivo Mike ou você acha
que eu ficaria todo esse tempo sem ninguém – Adam parou de falar e ficou me
observando por um tempo. Eu não disse mais nada – ficou com ciúmes?
- mas é claro. Me dói saber que
você seguiu em frente.
- eu não segui em frente. Eu só
fiz sexo. Assim como você fez com cinco homens diferentes todo esse tempo. Você
mesmo disse.
- Eu queria tanto te odiar, não
gostar de você.
- acredite, eu também queria. Não
o tempo todo, mas as vezes eu imagino que minha vida seria mais fácil se…
- … você não estivesse nela –
falei completando a frase.
- exatamente – falou Adam – mas a
maioria das vezes eu agradeço pro você estar na minha vida. Especialmente nos
bons momentos. Eu gosto de compartilhar eles com você.
- pode me soltar Adam – falei
balançando o braço direito – meu pulso está doendo e eu estou com vontade de ir
ao banheiro.
- tem certeza de que não vai me
dar um soco e depois sair correndo pra fora do apartamento?
- bem que eu tenho vontade de te
dar um soco. É tentador.
- porque?
- você não tinha o direito de
seguir em frente sabia? Eu pensei que você estivesse morto. Eu tinha o direito
de seguir em frente. Você estava vivo e tinha a obrigação de esperar por mim.
- eu não segui em frente Mike.
Foi mais como algo para satisfazer minhas necessidades biológicas. Foram
garotos de programa. Ou você acha que eu sai por ai procurando por alguém?
- mesmo assim me dói o coração pensar
que você esteve com alguém que não seja eu.
- como você acha que eu me senti
todo esse tempo? Como acha que me senti ao saber que você estava com esse tal
de… como é o nome dele? Jerry? Acha que eu gostei de saber que você estava se
apaixonando por outro? a todo o momento eu te quis de volta. Eu queria meu
Mike. A todo o momento eu pensei em te contar que estava vivo, pensei em te
sequestrar e te manter comigo.
- e porque não fez isso? Porque
você me deixou sofrer todo esse tempo? Me deixou passar noites em claro? me
deixou chorando por horas a fio?
- eu não sabia se você me queria.
A última lembrança que eu tenho de você não é agradável.
- Lembra de quando viajamos para
Detroit no caso do farmacêutico?
- Claro que lembro. No avião nós
nos beijamos pela primeira vez e foi naquele fim de semana que ficamos.
- Exato. Tenha essa lembrança em
Mente e não de quando eu cuspi em sua cara. Aquele garoto apaixonado que te
beijou no avião é o mesmo que está na sua frente. E esse garoto pede perdão por
ter cuspido.
- esse homem á sua frente é o
mesmo que correspondeu aquele beijo. Eu te amo Mike – falou Adam tocando minha
mão esquerda. Virei a mão e segurei a mão dele apertando forte – Eu sempre vou
te amar mesmo que você não me queira?
- Está de brincadeira? Eu te
quero. Você é meu chefe e pelo o que eu me lembro eu tinha uma grade queda por
ele.
- posso te beijar?
- você quer?
- desde o momento que te vi.
Estou realmente respeitando seu espaço, mas acho que quero um beijo.
- OK, mas só um beijo.
Fechei os olhos e senti Adam
pressionando seus lábios contra os meus. Forma dois selinhos antes de minha
língua ser enfiada em sua boca humedecendo os lábios que por tanto tempo me
deram prazer e amor.
A barba agora ralinha roçando em
meu rosto matou as saudades de um tempo em que tudo era tão simples. Éramos
apenas Adam, eu e o nosso amor. Levei minha mão esquerda até o rosto de Adam
para manter o beijo por mais tempo.
- obrigado por não estar morto –
falei parando o beijo com o rosto colado no dele. Seu bafo quente estava em meu
rosto e eu fechei os olhos aproveitando-o. Como era boa aquela sensação.
- obrigado por manter sua
promessa – falou Adam com um sorriso dando dois selos nos meus lábios – você
prometeu a muito tempo me amar em todas as ocasiões mesmo quando eu não estivesse
e mesmo quando me odiasse. Mesmo quando me odiasse. Você prometeu e você
cumpriu.
- eu queria tanto fazer amor com
você.
- nós podemos – falou ele
beijando meu rosto – vamos fazer amor a noite inteira.
- eu não posso. Eu quero, mas não
posso.
- porque? Você não me perdoa?
- O amor que sinto por você Adam,
eu sentia por Kevin e sinto que mesmo tendo minhas razões eu não fui sincero
com ele. Eu lhe devo uma explicação e uma chance pelo menos.
- o que você está dizendo?
- eu preciso que você encontre
Kevin e peça para ele vir a San Diego. Se você conseguir um número de telefone
eu mesmo ligo pra ele.
- você está me trocando por ele?
- não Adam. Não estou trocando
apenas quero dar uma explicação sobre o porque de ter terminado com ele naquela
época e sim. Se ele me quiser eu vou dar uma chance a ele. Nós merecemos. Ele
merece depois do que eu fiz com ele.
- Está doido? Não vou deixar você
ficar com outro homem.
- Eu preciso saber Adam. Kevin e
eu faríamos amor na noite em que matei Mason. Ele seria meu primeiro. Nós
tínhamos planos naquela época. Ele voltaria para a Marinha e eu iria para
Harvard e quando me formasse nós nos casaríamos. Ele foi um homem importante
para mim e eu preciso saber se nós temos uma chance. Sinto que devo uma chance
á nós dois.
- onde eu fico nessa história? –
perguntou Adam perturbado – e se você descobrir que ama mais ele do que a mim?
- você me deve isso Adam. Depois
de tudo o que me fez passar você me deve pelo menos duas semanas com Kevin.
Você me dá duas semanas com Kevin e arrisca o amor que tem por mim. Se depois
de duas semanas Kevin e eu percebemos que o amor que tínhamos ficou no passado
eu juro que me caso com você de novo Adam.
- você promete?
- sim. se você revelar pra todo
mundo que ainda está vivo. Não quero me casar com um cara morto.
- nesse momento todo mundo já
deve estar sabendo que não morri.
- Porque fez isso?
- não tenho mais razões para me
esconder.
- você acha que alguém vai
acreditar nisso?
- não importa. Essa é a minha
verdade independente de quem acreditar.
- Por mais que eu esteja feliz
por você estar vivo eu me sinto ao mesmo tempo triste por Kevin.
- quer saber? Vou encontrar esse
Kevin e fazer com que ele venha aqui em San Diego.
- pra mim?
- Sim. Eu confio no amor que você
sente por mim e vou dar á vocês dois o tempo que precisarem para se acertarem.
Um dia, uma semana, um mês… enfim… Quero que você tenha certeza de que você vai
tomar a decisão certa.
- você faria isso por mim?
- Sim. qualquer coisa meu amor –
falou Adam levando sua mão direita até minha nuca e ferozmente ele voltou a
pressionar seus lábios contra o meu.
Correspondi ao beijo e abracei
Adam enquanto nos beijávamos uma última vez antes dele retirar ás algemas.
- eu não acho que vou tirar suas
algemas – falou Adam olhando para mim.
- você sabe que eu sou capaz de
matar, tenho certeza de que você não vai me testar.
- adoro quando você fica malvado
– falou Adam com um meio sorriso soltando meu braço da algema.
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