Capítulo 07: Cruel Descoberta | Conto: Cruel Sedutor

VII

Cruel Descoberta

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Q

uase morri de susto quando senti Mya me empurrando no peito contra a cama. Abri os olhos assustado e a primeira coisa que vi foi o rosto de Mya bem próximo ao meu. Pensei que estava sendo agredido ou coisa parecida porque a expressão de Mya era aterrorizante. Ela estava completamente assustada. A primeira coisa que fiz foi pegar o celular que meu irmão me deu. Era sete e meia da manhã. Porque diabos Mya iria me acordar ás sete e meia da manhã em um domingo. Era um dos poucos dias em que eu podia dormir até mais tarde. Lembro que na noite passada Mya estava de ressaca e eu contei para ela tudo o que tinha acontecido comigo. Sobre Julie, sobre a prisão, sobre meu irmão, o emprego novo e a visita ao apartamento da minha irmã Casey.

- se levanta Stan! – falou Mya voltando a ficar de pé.

- o que foi que aconteceu? – falei apoiando meus cotovelos na cama.

- vem ver – falou ela segurando na minha mão me puxando. Ela me arrastou do quarto para a sala. A TV estava ligada. Mya pulou para cima do sofá se sentou em cima das pernas e aumentou a TV. Eu ainda estava um pouco desorientado e me sentei ao lado dela. Mya ainda estava de pijama.

- Quinn me mandou uma mensagem assim que viu na TV – falou Mya.

- o que ela viu na TV? O que aconteceu? – Mya aumentou ainda mais o volume da TV.

- a vítima foi identificada como sendo Krista Theresa Gallardo.  Uma mulher de apenas vinte e nove anos que foi encontrada morta no meio da rua na noite passada próximo a Reserva Ambiental Benjamin Harrison.

- é a duas quadras daqui – falei assustado.

- é aqui pertinho – falou Mya.

- testemunhas disseram que Krista foi arrastada por um carro por cerca de um quilometro – continuou a repórter.

- meu deus! – falei surpreso.

- algumas testemunhas chegaram a afirmar que esse crime esteja relacionado com o avistamento de palhaços, mas a policia desmentiu essa teoria dizendo que não passa de um boato que se misturou com a verdade.

Nesse momento ao lado da repórter apareceu um policial. Era o policial Holloway.

- Mya esse é um dos policiais que me prendeu ontem.

- ele? Achei que seu nome fosse Adam – falou Mya.

Na reportagem apareceu o nome completo dele Clyde Adamson Darius Holloway.

- Adam deve ser apelido de Adamson.

- estou aqui com o policial Clyde Holloway – falou a repórter entrevistando Clyde que parecia sério.

- nós acreditamos que esse tenha sido um crime de ódio – falou Clyde – Krista Gallardo tinha acabado de anunciar que estava procurando investidores para abrir uma clínica de abortos aqui mesmo em Orlando. Ela era lutadora ativa no movimento de direito de escolha das mulheres e hoje teria uma reunião com possíveis investidores.

- algumas testemunhas afirmaram terem vistos palhaços – falou a repórter voltando a olhar para a câmera – a policia considera essa hipótese?

- de forma nenhuma – disse ele negando enfaticamente – isso não passa de uma histeria coletiva. Não há provas de que isso tenha qualquer relação com pessoas vestidas de palhaço.

- obrigada policial Holloway. Voltamos agora com…

- não acredito que isso aconteceu ontem à noite – falei surpreso. Mya abaixou o volume da TV – tão perto daqui.

- eu fico pensando na forma que ela morreu – falou Mya engolindo em seco – deve ser uma maneira horrível de morrer.

- quem faria isso com uma pessoa?

- eu não acredito que isso tenha a ver com essa história de pessoas fantasiadas de palhaço – falou Mya.

- eu também não – me levantei e fui até a cafeteira. Coloquei um pouco de café em uma xícara e tomei um gole. Gostava de café sem açúcar – esse negócio de palhaço deve ser um marketing viral de um filme novo – você me matou de susto quando me acordou – voltei a me sentar no sofá.

- quando a Quinn me mandou mensagem eu não acreditei, mas quando liguei a TV eu reconheci o lugar. É perto da reserva ambiental próximo a praça onde muitas pessoas fazem exercícios.

- aposto que ninguém mais vai chegar perto de lá.

- tenho certeza – Mya disse isso pegando minha xícara de tomando um gole. Em seguida ela me devolveu – você vai trabalhar bem de perto dessa investigação né? Agora que você vai trabalhar na delegacia.

- verdade, mas eu quero distância de qualquer investigação. Vai que eu acabo me envolvendo e vou preso.

- medroso – disse Mya se levantando para pegar sua própria xícara de café – o que você acha de irmos a Orlando Farmers Market?

- o que é Orlando Farmers Market?

- é uma feira que acontece todo domingo. Você está aqui a mais de dois meses e nunca ouviu falar dela? Ela acontece no Lago Eola.

- não.

- É ótimo. Tem barracas de roupas, artesanatos, frutas frescas, alimentos, podemos visitar o jardim botânico, andar nos patinhos na água… o que você acha?

- vamos.

- só que antes de ir lá eu quero passar em um lugar – falou Mya mordendo os lábios.

- que lugar?

- vamos á Reserva Ambiental Benjamin Harrison. Vi no instagram que fizeram um memorial para Krista.

- sério? Vice que rir lá – falei me arrepiando – me arrepio só de pensar em ir lá.

- não sei. Só quero ir lá prestar uma homenagem.

- tudo bem – falei me levantando – no caminho passamos na floricultura e compramos flores.

Mya e eu fomos a pé até a Reserva ambiental. Krista morava bem de frente a ela. No caminho passamos na floricultura e compramos dois ramalhetes de flores. Mya comprou crisântemos e eu petúnias. Nós andamos uma quadra e vimos que havia algumas pessoas em frente a casa de Krista. Havia também policiais. Eles impediam que pessoas invadissem a casa de Krista que era uma cena de crime. Havia algumas fotos de Krista, velas, ursos de pelúcia, cartas, flores e algumas lembranças de pessoas que eram mais próximas de Krista.

Havia um grupo de mulheres com camisetas cor de rosa. Eram algumas feministas que com certeza eram amigas de Krista. Mya e eu nos aproximamos e colocamos nossas flores. Ao voltar para a pequena multidão olhei para o policial do lado esquerdo e era Clyde. Ao me ver ele pareceu surpreso. Sinalizou com a mão me chamando.

 - já volto – falei para Mya.

Me aproxime ide Clyde e ao me aproximar ele estendeu a mão.

- como você está? – perguntou ele com aquela pose de policial cumprindo seu dever. Ele estava de olhos nas pessoas.

- estou bem.

- fiquei sabendo que você vai trabalhar conosco.

- vou sim. Espero que sim. Tenho uma entrevista com seu chefe amanhã.

- fica tranquilo. Vai dar tudo certo.

- espero que sim – falei olhando para o  pequeno memorial.

- o que está fazendo aqui? Veio prestar homenagem?

- sim. Eu moro a duas quadras daqui.

- sério?

- sim. Ainda não acredito que isso aconteceu.

- o mundo está louco, não é mesmo?

- sim – falei respirando fundo – seu nome é Clyde?

- sim. Meu nome é Clyde. Lá no distrito todo mundo me chama de Adam por causa do meu segundo nome que é Adamson e também porque meu pai se chamava Adam e ele foi policial. Ele serviu a cidade por muitos anos e acabei seguindo a mesma carreira que ele.

- entendi. Mas se eu quiser posso te chamar de Clyde?

- não. Você deve me chamar de Oficial Holloway. Estaremos em serviço e não somos amigos.

- Okay – falei respirando fundo.

- brincadeira. Pode me chamar de Clyde – ele continuava sério.

 - beleza – falei sem graça – Acho que já vou indo então. Minha amiga Mya e eu vamos ao Lago Eola pra feira.

- você já foi lá?

- não a primeira vez.

- você vai adorar. Se você encontrar uma garota de vinte anos de cabelos castanhos e sorriso angelical é minha filha Tessa. Ela provavelmente vai estar com o uniforme da Universidade da Flórida.

- você tem uma filha?

- sim. Todo domingo ela e as colegas se voluntariam para trabalhar na feira como aula extra curricular.

- tudo bem. Se eu encontrar com ela eu digo que você mandou um oi.

- beleza – falou ele com um sorriso – conversa com ela. Você parece ser um rapaz legal e talvez role uma química entre vocês dois. Quem sabe você não faz ela esquecer o imbecil que ela está namorando.

- Okay… entendi… – falei sentindo vontade de rir – ele estava realmente me jogando pra cima da filha? – se eu encontrar com ela eu converso com ela.

- beleza só não abuse. Não esqueça que o pai dela é policial – falou Clyde brincando.

- tudo bem – fiquei com uma enorme vontade de rir, mas achei que fosse melhor deixar pra lá.

- vamos Mya.

Nós subimos na calçada da reserva ambiental e seguimos para o ponto de ônibus. Mya me contava algo que tinha acontecido com ela e Quinn no dia que fomos a boate, mas eu não prestava muita atenção. Ainda pensava no que tinha acontecido naquela noite. Olhava para baixo imaginando o que ela tinha passado. Foi então que eu vi algo entre as folhas. Mya continuou caminhando e eu parei para ver o que era. Era um celular. Estava com a tela rachada, mas estava ligando.

Vi que na foto da tela apareceu Krista. A vítima da noite passada. Fiquei chocado com aquilo. Apertei alguns botões e um vídeo começou a passar. Era uma floresta. A floresta que estava ao meu lado. Era noite e eu ouvia uma mulher gritando. Rapidamente o vídeo mostrou duas árvores e em seguida consegui ver ao longe alguém vestido de palhaço. Uma mascara assustadora com os dentes de fora. Aquilo deve ter acontecido pouco antes de Krista ser morta. O pior de tudo é que a policia estava errada. Alguém estava usando a histeria dos palhaços para cometer crimes. Sei que a coisa certa seria dar o celular para a policia, mas por extinto eu o coloquei no bolso e corri para alcançar Mya que estava muito mais a frente.

- onde você estava? Deixou-me falando sozinha.

- meu tênis desamarrou – forcei um sorriso disfarçando.

Mya e eu pegamos o ônibus que em trinta minutos nos deixou no Parque do Lago Eola. Vi que havia uma grande movimentação. A feira era enorme e havia muitas pessoas andando de um lado para o outro. Em uma parte pude ver pessoas brincando com seus animais de estimação. Havia pessoas comendo algodão doce, pipoca e como Mya havia dito havia muito artesanato. A comida então era diversa.

Nós passamos por várias barracas e em todas as pessoas não se incomodavam a nos dar para degustação. Comi comida mexicana, árabe, tailandesa, japonesa, brasileira, colombiana e muitas outras. Era doce misturado com salgado, carnes diversas que nunca tinha experimentado antes. As pessoas eram muito educadas e mesmo que não comprássemos nada elas nos agradeciam com um largo sorriso no rosto. Havia vários tipos de artesanato. Os animais entalhados em madeira foram os que achei mais interessantes. Eram muito bem feitos. Acabei comprando dois gatos feitos de madeira. Tinham uns vinte e cinco centímetros cada um e os dois se encaixavam. Um gato estava com a cabeça repousada sobre o outro como se o estivesse protegendo.

- você gosta de gatos? – perguntou Mya enquanto eu pegava minha sacola com os dois gatinhos.

- sim. Apesar de nunca ter tido um.

- nós podemos adotar um – falou Mya.

- eu não sei. E se eu não conseguir cuidar dele?

- deixa de ser chato Stan. Você não se arrisca. Tudo que é diferente você coloca uma pedra na frente de si mesmo.

- quer saber? Eu vi alguns animais logo mais a frente. Vamos lá e adotar esse gato.

- é assim que eu gosto de ver – falou Mya segurando no meu braço e nós caminhamos.

Nós demos alguns passos e ouvimos algumas garotas gritando. Era como se fosse um grito de guerra. Havia uma música eletrônica tocando alto. Procurei de onde vinha e quando vi eu quase não acreditei.

- você deve estar de brincadeira – falei apontando para Mya.

Do lado esquerdo haviam algumas garotas fantasiadas de palhaço dançando. Elas estavam sincronizadas. Duas delas estavam com o cabelo igual o da Arlequina. O restante estava de mascara. A coreografia era bem elaborada. E foi quando eu vi que havia a bandeira da Universidade da Flórida atrás delas. Havia um grande grupo assistindo. Dois homens vestidos de palhaço estavam com um saco recolhendo dinheiro. Segundo o que pude ler em uma faixa eles estavam juntando dinheiro para doar a um Lar Adotivo.

Quando a coreografia terminou todas as garotas de máscara as tiraram e uma delas me chamou a atenção. Era uma garota de pele clara, cabelos castanhos e um sorriso misterioso. Era grande com longas pernas. Era a filha de Clyde. Tinha certeza disso.

- sabe aquele policial que eu te falei? Aquela é a filha dele.

- você vai conversar com ela? – perguntou Mya fazendo graça.

- eu não. Vou fingir que nem vi.

Nós deixamos aquele pequeno espetáculo para trás e fomos até os animais. Havia algumas gaiolas com cachorros, gatos, hamsters, porcos da índia e outros animais. Havia um lindo coelho com olhos vermelhos que comia um pequeno pedaço de alface.

- esse gatinho é muito fofo – falou Mya com um gatinho nos braços. Era branco rajado de castanho. Ele tinha olhos verdes. Ele parecia sonolento. Ele piscava bem devagar e fazia um som engraçado como se estivesse vibrando.

- tem certeza de que é uma boa ideia?

- claro que tenho. Nós precisamos de um animal fofo em casa para nos fazer esquecer dos problemas.

- como vamos chama-lo?

- ele é macho ou fêmea? – Mya perguntou para uma das mulheres que cuidava da adoção dos animais.

- é macho – falou a mulher sorrindo e entregando um panfleto para Mya. Nele continha algumas informações sobre a criação de gatos.

- o que você acha? – perguntou Mya segurando o gato por debaixo dos braços olhando-o de frente – acha que ele tem cara de Tom?

- acho que não.

- que tal… Burton?

- também não.

- Para de recusar minhas ideias e dá algumas – falou Mya.

- que tal… Chester?

- Chester? – Mya olhou para o gato franzindo a testa – Chester? – Mya disse novamente e o gatinho miou.

- ele gostou do nome – falou à mulher que nos entregou o panfleto.

- então será Chester.

Mya e eu voltávamos pelo mesmo caminho e quando passávamos pelas alunas da Universidade da Flórida uma delas pulou na nossa frente com a mão estendida. Tinha um panfleto sobre o Lar adotivo e formas de fazer doações.

- você me assustou – falei rindo sem graça. Não tinha certeza, mas acho que aquela garota era a filha de Clyde.

- pegue um panfleto. Aqui você sabe tudo sobre formas de doações entre outras coisas.

- obrigado – falei pegando o panfleto. A garota se virou para entregar o panfleto para outras pessoas e eu chame ia atenção dela.

- espera – falei dando dois pulos para frente.

- o eu foi? – perguntou ela com um sorriso.

- por acaso seu nome é Tessa?

- sim.

- Tessa Holloway.

- eu te conheço? – perguntou ela achando estranho. Ela usava um batom vermelho bem forte. Sua roupa de palhaça era uma mistura de uniforme de líder de torcida com uma palhaça sem sensual.

- eu conheço o seu pai. Clyde Holloway.

- sério? De onde?

- trabalho na delegacia       que ele trabalha… quer dizer… vou trabalhar… enfim… eu disse a ele que estaria vindo aqui e ele disse que se eu te encontrasse era para de ter um oi então… “oi”.

- oi – falou ela rindo e olhando para minha mão – obrigado por dar o recado – ela voltou a olhar para minha mão e em seguida forçou um sorriso para mim.

- tudo bem. Não foi nada – coloquei minha mão dentro do bolso.

- preciso ir – falou ela apertando os lábios se virando.

- até mais – acenei com a mão rapidamente enquanto ela voltava a ficar na companhia das amigas.

- ela é estranha – falou Mya com Chester em seus braços se aproximando de mim.

- mais estranha que você ela não é.

Depois desse estranho encontro com Tessa; Mya e eu demos uma volta no parque e acabamos almoçando por lá mesmo. Apesar de todas as degustações aquela comida brasileira caiu muito bem. Um pouco apimentada demais para meu gosto, mas era deliciosa. Depois de darmos uma volta nos patinhos no lago nós decidimos ir para casa. Era por volta das duas da tarde quando pegamos o ônibus de volta para o bairro onde morávamos.

Decidi não contar á Mya que tinha encontrado o celular de Krista. Eu fiquei um pouco perturbado com o que vi e não queria que Mya sentisse o mesmo. Aqueles palhaços tinham feito aquilo com ela e a policia não desconfiava de nada. Só queria ter certeza do que vi antes de contar a alguém o conteúdo daquele celular.

No caminho de casa passamos em uma loja de animais e compramos tudo o que o nosso gato ia precisar. Inclusive um arranhador para que ele pudesse afiar as garras. Compramos comida e uma cama para ele poder dormir. Um rato de brinquedo para que ele pudesse se distrair. Já em casa Mya foi dar um cochilo e eu decidi fazer o mesmo. Deitei-me na cama e fui mexer no celular que Nick me deu. Havia muitas fotos dele. Algumas músicas e outros aplicativos. Nick me disse que já tinha comprado um novo número e já tinha exportado a lista de contatos para o novo celular dele.

Transferi os vídeos, as fotos e os contatos do celular de Krista para o meu. Decidi entregar o celular para os policiais logo de manhã no meu primeiro dia. Fiz uma cópia de tudo apenas por segurança. Não sei por que, mas tinha um mau pressentimento de tudo aquilo. Uma sensação estranha. Gostava de confiar em meus instintos. Coloquei o celular de Krista debaixo do meu travesseiro e me virei na cama fechando os olhos. 

Não esqueçam de comentar e votar. Espero que estejam gostando desse conto. Estou adorando escrevê-lo. Um abraço a todos. ;)

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