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Capítula Vinte e Três
VIZINHOS DO INFERNO: PARTE II
uando
cheguei à delegacia não fui levado para a sala de interrogatórios e também não
fui levado para a cela. Pelo contrário. Fui levado para a sala do delegado. Meu
marido Cory. Estava sentado em sua cadeira ainda algemado. Já fazia mais ou
menos uma hora que estava lá. Ainda não acreditava como tinha sido burro o
suficiente pra fazer uma coisa daquelas. As paredes eram de vidro e eu vi
Cordelia saindo da sala de interrogatório e para minha surpresa o seu advogado
era Carter. Marido de Selma. Saíram de lá de dentro Denis e Cory. O que diabos
Carter estava fazendo lá? Cordelia não fez nada de errado. Eu deveria ter um
advogado. Não ela. Todos se cumprimentaram e para minha surpresa Cory deu um
caloroso abraço em Cordelia que retribuiu dando um demorado beijo em seu rosto
e o abraçou deitando a cabeça em seu ombro. Cory a afagou consolando-a. Ela
olhou para mim nesse momento como se estivesse me provocando.
Todos eles se despediram e Cory veio em direção a sala. Ele entrou,
sentou em sua cadeira, acendeu um cigarro e depois de traga-lo uma vez ele o
colocou no cinzeiro, se levantou e ficou de costas para mim com uma das mãos na cabeça e a outra na cintura
como se estivesse pensando no que faria. Ele ficou assim por algum tempo e eu
decidi dizer alguma coisa.
- Cory…
Ao ouvir minha voz Cory se virou, pegou uma escultura de cobre que tinha
em cima de sua mesa e jogou contra a parede de vidro que se quebrou. Todos na
delegacia se assustaram com o que ele fez. Inclusive eu.
- o que você fez Kai? – gritou Cory batendo as duas mãos na mesa.
- não fui eu Cory! Foram aqueles vizinhos do inferno! Eles armaram tudo.
- os vizinhos? – falou ele rindo irônico ligando a TV que tinha na sala
dele. Era uma reportagem sobre o ocorrido.
- um ataque aconteceu hoje na pacata vizinhança de Albafross – falou a
repórter Bertha Banks em frente a casa Kappa – um ataque foi feito a irmandade
Kappa Kappa Zeta quando o jovem Kaleb Winchester colocou cobras no tubo de
ventilação da casa. Toda a ação foi filmada e denunciada pelos vizinhos Brock e
Meadow Wilton – uma foto dos dois abraçados com um fundo cinza apareceu. Nesse
momento cenas filmadas de um celular mostraram de longe eu me aproximando da
casa, e até mesmo eu subindo no contêiner e lixo e retirando a grade que
protegia a tubulação de ar.
- desgraçados! – falei com raiva.
- foi horrível – falou Meadow dando entrevista – não podemos mais nos
sentir seguros em nossa própria vizinhança.
- sua vizinhança? – falei rindo – nós chegamos aqui primeiro! – gritei
para a TV.
- acordei no meio da noite porque ouvi um som estranho – falou Brock a
repórter – Peguei minha arma e quando desci as escadas percebi que a janela
tinha sido quebrada e algumas de minhas cobras tinham sido roubadas. Sou
biólogo e as crio como animais de estimação a anos. Tenho paixão pelos animais.
Só nunca imaginei que alguém faria algo tão horrível com seres tão belos.
- cerca de 20 cobras foram roubadas, mas felizmente apenas três delas
eram venenosas – nesse momento imagens de cobras diferentes das que eu
aparentemente tinha levado foram mostradas na tela.
- o que você fez Kai? – perguntou Cory sentado na mesa com os braços
cruzados.
- O Centro de Zoonose recuperou três cobras da espécie Marrom. Três
alunas acabaram sendo picadas por essas cobras: Rita Dean, Shelly Grant e Alice
Ferrari. Graças à Brock Wilton, o proprietário das cobras, o soro foi fornecido
ao hospital e as três estudantes estão fora de perigo.
- Graças a Deus – falei aliviado pensando em Alice
- era o mínimo que eu podia fazer depois desse desastre – falou Brock
para a TV.
- e então Kai, feliz? – perguntou Cory desligando a TV.
- pelo menos ninguém morrei – falei olhando para Cory.
- é isso que você tem a dizer? Que ninguém morreu? Então você admite que
atacou aquela casa? Não espera… Você não precisa admitir. Tem um vídeo! – falou
ele gritando.
- Cory você precisa entender que eles me enganaram. Eles estão mentindo!
- Porque eu devo acreditar em você Kai? Você mente pra mim o tempo todo!
- por favor, Cory.
- tudo bem – falou ele pegando o cigarro e levando a boca – me explique
porque Denis te prendeu dentro do quarto de Bruce na casa de Daphne – vamos lá!
– falou ele assoprando a fumaça esperando a explicação – vamos lá! Diga! Explique
o porquê e depois olhe na minha cara e me diga que você não é um mentiroso.
- tudo bem… eu menti pra você – falei respirando fundo.
- viu só? Até você concorda – falou ele rindo.
- mas não estou mentindo sobre esses vizinhos. Eles armaram para mim.
Você precisa acreditar em mim.
- com licença – falou o Agente Pedro chegando na porta da sala de Cory –
posso entrar?
- claro Agente Pedro fique a vontade – falou Cory ajeitando a gravata
respirando fundo.
- no que você estava pensando Kai? – falou Pedro cruzando os braços –
sabe os favores que eu tive que pedir? Sabe quantas pessoas eu tive que
subornar para impedir que uma foto sua aparecesse no jornal?
- eu sinto muito Agente Ballard – falei novamente me sentindo mal por
tudo aquilo.
- parece que você não entende que isso daqui não é realidade, Kai. Você
está sob proteção. Pessoas estão atrás de você. Tentando te matar. Você não está
de férias! Quantas vezes eu vou precisar repetir isso?
- sei que pisei na bola, mas você precisa investigar os novos vizinhos –
falei olhando para ele – investigue Brock e Meadow Wilton! Eles estão
inventando tudo! Eles me deram as cobras, eles mandaram eu atacar a casa.
- mentira! – falou Pedro agressivo – porque eles mandariam você fazer
isso? Eles estão morando na rua a três dias.
- se acalme cara! – falou Cory ficando entre Pedro e eu – sei que o seu
trabalho no FBI é estressante e por mais que você ache que o que Kai e eu
vivemos não é real, se você tocar um dedo nele eu te mato!
- okay – falou Pedro rindo e passando a mão no rosto – tudo! okay! Eu
admito que estou nervoso, mas é que estou cansado de limpar a bagunça que vocês
dois estão fazendo desde que chegaram aqui. Especialmente a bagunça que ele vem
criando – falou Pedro apontando para mim.
- prometo que não vai acontecer novamente okay? – falou Cory colocando a
mão no ombro de Pedro.
- okay – falou Pedro deixando a sala de Cory.
- obrigado por me defender.
- não me agradece moleque mimado – falou Cory sentando em sua cadeira e
respirando fundo ele ficou em silêncio por alguns instantes me observando
pensativo.
- no que está pensando?
- em todas as vezes que você me levou até a porta e disse ‘bom trabalho’
e dez minutos depois estava montado em Bruce.
- Pelo amor de Deus Cory…
- e sabe qual a pior parte? Eu nem posso quebrar a cara dele – falou
Cory rindo da ironia – Ele está no hospital com a filha porque você a colocou
lá. Vou ter que engolir calado que ele estava te comendo pelas minhas costas.
- Esquece isso Cory.
- eu vou esquecer – falou ele rindo – mas Grace não vai – falou ele
pegando o celular.
- do que você está falando.
- enquanto estávamos lá na sala de interrogatório convencendo Cordelia a
mão prestar queixa contra você eu recebi no meu celular um vídeo interessante –
falou ele colocando o vídeo pra rodar me mostrando – Esse daqui é você chupando
o Tom, não é?
- merda! – falei respirando fundo.
- pois é – falou ele rindo – eu já recebi umas 15 ligações no eu celular
e todas são de alguém da querida Moracea Lane.
- Isso não se faz com amigos Kai – falou Cory rindo – Bruce me esfaqueou
pelas costas e você esfaqueou Grace.
- me perdoa…
- pare de dizer isso – falou ele se levantando – especialmente quando
não significa nada pra você – Cory vestiu seu terno e segurou no meu braço e me
fez levantar. Ele me guiou para fora da sala e quando pensei que ele ia me
levar para a prisão ele começou a se despedir de todo mundo.
- onde estamos indo?
- pra casa – falou ele apertando o botão do elevador.
- mas são três da manhã.
- felizmente eu sou o chefe e Carter conseguiu subornar todo mundo então
ninguém vai prestar queixa contra você, então…
- nem Bruce? – falei olhando para ele enquanto entramos no elevador.
- pelo o que Carter disse Bruce não quer o seu mal, mas ele também não
quer o seu bem – falou Cory franzindo a testa – as palavras que Bruce disse
foram ‘Não quero mais ouvir o nome dele’ – Cory deu um sorriso contente com a
situação – irônico, não é? Você queria todo mundo e acabou sem ninguém?
- seu desgraçado – falei me sentindo mal – quando você vai me soltar?
- quando chegarmos em casa – falou ele segurando no meu braço me levando
para seu carro. Ele me jogou no banco de trás e nós seguimos viagem até em
casa. Quando chegamos em Moracea Lane percebi que as luzes da casa de Grace
estavam acesas Cory estacionou o carro e ele me tirou do carro. Nós chegamos à
sala e Cory tirou o terno e se jogou no sofá e estendeu as pernas na mesa de
centro. Me sentei no sofá ainda algemado ao lado de Cory e comecei a chorar. Me
sentia mal com tudo o que estava acontecendo.
- sabe o que eu deveria fazer? Chamar as suas amiguinhas e deixar você
algemado com elas por meia hora – falou Cory rindo.
- chega Cory – falei chorando – não aguento mais! Será que dá pra me
soltar?
- não Kai – falou ele olhando pra mim – Fui sincero com você. Contei
sobre o meu passado. Contei sobre as minhas inseguranças e o que você faz?
Chupa o vizinho da esquerda e dá o cu pro da direita. Como você teve coragem de
fazer isso comigo depois de eu dizer que o meu maior medo é não ser capaz de
amar de novo? Porque eu não sou o suficiente pra você?
- desculpa Cory – falei me inclinando e deitando a cabeça em seu ombro
chorando– Bruce é um cara sofrido assim como eu. Ele teve uma infância ruim e
foi machucado pelas pessoas que deveriam amá-lo ele disse que me queria e eu
não consegui dizer não.
- esse é seu maior erro Kai. Não saber dizer o que sente – falou Cory
passando o braço por trás de mim.
- você me perdoa? Me perdoa pelo o que fiz?
- Vai demorar até a ferida cicatrizar, vai demorar até que eu possa
confiar em você novamente, mas com certeza estou disposto a te dar outra
chance.
- obrigado ursão – falei olhando pra ele – agora me solta. Meus braços
estão doendo.
- sabe… a ferida cicatrizaria mais rápido se você passasse a noite no
sofá algemado.
- okay – falei me levantando do sofá e me deitando no chão de costas
para Cory – se eu passar a noite no chão acha que amanhã já terá me perdoado?
- deixa de ser bobo Kai – falou Cory me virando de barriga no chão e se
ajoelhando por cima de mim ele começou a apalpar os bolsos – eu só estava
brincando.
- graças a Deus – falei rindo sentindo o chão gelado em meu rosto – me
solta logo porque estou dando câimbra.
- merda – falou ele se levantando.
- o que foi?
- minhas chaves ficaram na delegacia.
- está de brincadeira Cory?
- meu amor fica aqui! – falou Cory me levantando e me deixando no sofá –
vou lá buscar e já volto.
- você é doido? Vai me deixar algemado no sofá com aqueles vizinhos
malucos ali do lado?
- relaxa Kai – falou ele pegando as chaves do Carro – vou avisar a Grace
e ao Tom a situação e eles vão ficar de olho em você.
- Você bebeu gasolina? Cory? – falei me levantando do sofá ouvindo a
porta da sala bater com força – Cory?! – falei indo até a janela vendo Cory ir
até a casa de Tom. Ele bateu na porta e quando ela se abriu vi Tom se
ajoelhando no chão com as mãos juntas.
- não me mata, por favor! – falou Tom implorando pela vida. Acho que ele
pensou que Cory fosse mata-lo, mas Cory o fez levantar e explicou a situação.
Tom pareceu aliviado enquanto Cory explicava que eu estava algemado e que ele
ia até a delegacia buscar as chaves. Tom disse que ficaria de olho em mim e foi
então que Cory deu um soco na cara dele. Tom cambaleou e ficou tonto, mas logo
se recuperou e fechou a porta.
- Meu Deus! – falei vendo Cory voltar e tirar o carro da garagem. Nesse
momento ouvi a porta da cozinha se abrir. Quando olhei para trás vi Grace. Ela
estava acompanhada de Agnes, Selma e Zara. Claro que fiquei assustado ao ver as
quatro ali na minha casa. Especialmente se elas foram ali para acabar comigo.
Grace olhava para mim com raiva.
- Grace? O que… o que vocês estão fazendo aqui?
- Daisy está no hospital com a filha – falou Agnes – ela teve uma
convulsão por causa da picada de cobra.
- cobra que você jogou na tubulação de ar da irmandade – falou Zara.
- como você teve coagem de fazer isso comigo? – falou Grace com raiva.
- me perdoa Grace. Eu sinto muito mesmo – falei encostado na parede.
- nós te recebemos tão bem na nossa vizinhança e você espera eu sair de
casa pra fazer o que fez com o meu marido? Com o filho da nossa amiga?
- eu já pedi desculpas. O que vocês querem de mim? – falei me
aproximando delas – eu errei ao jogar as cobras na irmandade? Sim. Errei ao
fazer o que com o seu marido? Sim. Errei, mas quem não comete erros?
- não tente nos comparar a você Kai – falou Agnes – eu estou realmente
decepcionada. Você pareceu um cara legal e Cory não merece ter você. Não me
admira que ele tenha tentado se matar.
Ouvir aquelas palavras de Agnes me irritou profundamente e eu não estava
mais disposto a bancar o bonzinho se elas estavam dispostas a brincar com o
suicídio do meu marido.
- eu sei sobre Chun Li – falei para Agnes. Ela mudou a expressão ao
ouvir aquele nome – sei que você e Ed deram um cheque de 200 mil ao Leroy por
nada. É estranho, não acha? É como se vocês estivessem tentando comprar o
silêncio dele.
- você não sabe do que está falando – falou Agnes.
- e Zara – falei dando a volta nela –
me impressiona você estar aqui me julgando sendo você é uma lésbica
enrustida que traí o seu marido.
- ela o que? – perguntou Selma surpresa.
- você não sabe do que está falando – falou Zara com raiva.
- me deixa adivinhar… sua amante lésbica é a Daisy. Todas olharam para
Zara e ela ficou vermelha.
- Zara! – falou Selma – você é lésbica?
- é engraçado né? Entrarem na minha casa para me julgar quando vocês
mesmas tem os seus segredos.
- nem todas nós – falou Grace.
- sério? – falei rindo. Agora estava no meio das quatro que faziam um
circulo – porque eu sei sobre Devon.
Quando disse aquele nome elas se entreolharam e eu percebi que aquele
assunto era sério. Muito mais sério do que uma pessoa no armário e uma babá
desaparecida. Dei uma volta e olhei a feição de cada uma delas. O que fiz foi
errado, mas elas não tinham o direito de me julgar quando tinha um bebê morto
envolvido.
- pois é – falei rindo – quem nunca pecou que atire a primeira pedra.
- amor, eu cheguei! – Cory abriu a porta e se deparou com a cena. Ele
franziu a testa e observou a cena. Agnes, Selma, Grace e Zara sorriram para
Cory – o que estão fazendo aqui.
- nós vimos vocês chegamos e viemos dizer a Kai que o perdoamos – falou
Zara.
- perdoam? – perguntou Cory.
- sim – falou Selma – é obvio que ele agiu por impulso e todos nós
agimos de vez em quando.
- na verdade viemos convidar Kai para a nossa noite de pôquer semanal –
falou Zara – essa semana será a minha casa.
- tudo bem então. Estou ansioso – falei olhando para Cory.
- você perdoou ele mesmo? – perguntou Cory para Grace.
- perdoei – falou Grace olhando para mim e colocando a mão no meu ombro.
- obrigado por me perdoar – falei olhando para ela.
- mas eu não te perdoei – falou Grace sorrindo para mim.
- mas você disse… – Grace deu um soco na minha boca que me fez cair no
chão.
- ai! – falei batendo a cabeça no chão.
- agora eu te perdoei – falou Grace sacodindo a mão – boa noite Kai e
boa noite Cory. As quatro passaram pela porta e Cory acenou dando risada de
mim.
- para de rir e me ajuda, porra – falei lambendo os lábios sentindo
minha boca doer.
- gostei do estilo dela – falou Cory rindo e tirando as minhas algemas.
- idiota – falei me levantando e passando a mão no meu queixo.
- ela agiu certo. Foi exatamente o que eu fiz com Tom – falou ele rindo
e jogando as algemas no criado mudo.
- eu sei que não deveria romantizar a violência, mas achei fofo da sua
parte dar um soco no Tom por minha causa, sabia?
- amanhã vou convidá-lo para tomar umas cervejas e me desculpar com ele.
O safado da história foi você, não ele – falou Cory afrouxando a gravata.
- poxa, você não pode deixar o clima acontecer? – falei tocando no braço
dele.
- que clima? – perguntou Cory se afastando de mim – acha romântico você
ter me colocado dois pares de chifre?
- não é isso é só que…
- ao convidar outro homem para o quarto conosco acho que passei uma
ideia errada a você Kai – falou Cory sério – tudo é uma questão de conversa.
Sexo a três é diversão e foi combinado entre nós dois, certo?
- certo – falei respirando fundo.
- você chupando o vizinho e tranzando com o outro enquanto eu trabalho é
bem diferente. Posso ter sido um canalha, ordinário e imbecil, mas se tem uma
coisa que eu sempre fui a você é fiel – falou ele alto.
- desculpa Cory. Já entendi.
- eu ouvi a história sobre sua vida e entendi que você precisava de
alguém divertido e que fosse o seu porto seguro, mas você não parece ter ligado
à mínima para o que eu disse.
- você disse que me perdoava Cory. Porque está brigando comigo? Porque
está jogando tudo isso na minha cara? – tentei me aproximar para tocá-lo, mas
ele se afastou como se estivesse com nojo de mim.
- Eu disse que te perdoo, mas a
ferida ia demorar a cicatrizar então não abusa da sorte – falou ele sério
virando as costas para mim – vai tomar um banho, você está fedendo – falou Cory
subindo as escadas – eu vou arrumar o seu quarto.
- o meu quarto? – falei alisando meus pulsos que doíam subindo as
escadas atrás de Cory.
- sim – falou Cory entrando em nosso quarto – você não vai dormir comigo
despois do que fez. Até eu conseguir te perdoar você vai dormir no seu quarto.
- você fala sério?
- pareço estar brincando? – Cory pegou uma mochila, encheu de roupas e
jogou em cima da minha antiga cama no meu antigo quarto junto com um par de
cobertores e um travesseiro – prontinho – falou ele passando por mim – você vai
tomar banho ou eu posso ir primeiro?
- eu vou – falei pegando a minha toalha e uma muda de roupa indo em
direção ao banheiro. Depois de fechar a porta do banheiro pendurei a toalha e tirei
a minha roupa. Quando tirava a cueca meu celular começou a tocar e eu vi que
era um número restrito – alô?
- Hey, sua biba! espero que tenha gostado do presentinho que deixamos em
seu banheiro. Se você tiver força de vontade e bastante lubrificante tenho
certeza de que aguentará ela inteirinha dentro de você – era a voz de Meadow.
- passa pra mim – falou Brock do outro lado da linha.
- presentinho!? – perguntei com raiva – porque vocês estão fazendo isso
comigo? o que eu fiz pra vocês?
- escuta aqui – falou Brock rindo. Meadow dava gargalhadas do outro lado
da linha – não gostamos de gente como você na nossa vizinhança. Você quase
matou três garotas inocentes, o que você estava pensando?
- vai se foder! – desliguei o celular e ouvi um som vindo de dentro da
privada. Meu coração começou a bater rápido e eu peguei a escova de lavar o
banheiro e me preparei para abri-la. Contei até três e quando abri a tampa vi
uma cobra negra deslizando dentro da privada. No impulso comecei a bater com a
escova nela e então dei descarga fechando a tampa – vai embora! vai embora! vai
embora! vai embora! – sentei em cima da tampa e segurei a descarga por uns
vinte segundos.
- Kai?! Está tudo bem? – perguntou Cory na porta do banheiro.
- está sim. Eu só estou… escovando os dentes – respirei ofegante.
- okay – falou ele saindo da porta. Soltei a descarga e me levantei
pronto para atacar aquele monstro dentro da privada, mas quando levantei a
tampa ela não estava mais lá. Fechei novamente a tampa e comecei a tomar o meu
banho. Não suportava esse sentimento de desprezo que Cory estava tendo por mim.
Sei que eu merecia. Ele tinha toda razão em me desprezar, mas eu sabia que esse
era o primeiro passo para que Cory me odiasse e desistisse de mim assim como
tinha feito com Stanley e com Logan. Podia conviver com a ideia de a vizinhança
toda me odiar pelo o que fiz, mas não posso conviver novamente com o Cory
malvado. Ser desprezado por quem a gente ama dói muito. É irônico finalmente
perceber que eu o amo só depois de fazer magoá-lo. Acho que é hora de deixar
Moracea Lane para trás.
Saí do banho já vestido secando meus cabelos e olhei em direção ao
quarto de Cory.
- o banheiro é todo seu Cory.
- finalmente – falou ele passando por mim me empurrando sem se desculpar
entrando no banheiro e fechando a porta com força. Engoli em seco percebendo
que o Bruto Irresistível estava indo embora e o Bruto Babaca estava voltando.
Eu estava certo. Aproveitei que Cory estava no banho e peguei minha mochila.
Coloquei o máximo que pude nessa mochila. Fui até a carteira de Cory e peguei
todo o dinheiro que tinha em sua carteira. Calcei os meus tênis e arrumei a
cama para parecer que eu estava deitado nela. Joguei o cobertor por cima e
apaguei a luz e fechei a porta.
Desci as escadas sorrateiramente e ao chegar à cozinha com minha mala
peguei o bloco de notas, uma caneta e comecei a escrever.
‘O FBI não precisa mais se preocupar comigo. Sou bom em desaparecer. Não
é a primeira vez. Desculpe te magoar. Não deixe que o meu erro te impeça de
conhecer alguém que valha a pena. Meu nome é só mais um em sua lista de
imperfeições. Você será adicionado a minha lista de homens perfeitos de deixei
escapar. Qualquer um que tenha a honra de te conquistar será sortudo por ter
você. Kai’
Dobrei o bilhete, coloquei o nome de Cory e coloquei em um imã na
geladeira. Coloquei a minha mochila nas costas, conferia a hora no celular e
percebi que era pouco mais de quatro da manhã. Hora perfeita para desaparecer.
Sai porta a fora e cruzei os braços sentindo a brisa gelada passar por mim.
Passei em frente a casa de Grace e Tom e atravessei a rua passando em frente a
casa de Daisy. Atravessei a rua e segui pela esquerda até que ouvi passos atrás
de mim.
- Kai? – falou uma voz feminina.
- Daisy? – perguntei confuso. Ela estava com frio e parecia confusa.
- onde você vai? Vi você através da janela.
- vou embora. Pensei que você estivesse no hospital com Alice – nós
chegamos a pouco. Alice e Bruce estão dormindo. Eu não consegui.
- me perdoa pelo o que fiz a sua filha. Okay? Você nunca mais vai me
ver.
- Agnes me ligou e disse que você sabe sobre Devon.
- não é da minha conta.
- você precisa saber Kai – falou ela respirando fundo – vamos lá pra
casa. Eu vou fazer um chá e te conto.
- não. Por favor. Não quero me encontrar com Bruce. Ele ia me matar se
me visse na sua casa.
- você não vai. Os dois estão dormindo feito duas rochas – falou ela
rindo – Alice dormiu nos braços dele. Ela vai ser sempre a garotinha dele.
- eu vou, mas depois disso eu vou embora.
- tudo bem.
- Assim que chegamos em sua casa nós fomos para a cozinha e eu me sentei
junto ao balcão e Daisy vez um chá de cravo e canela e nos serviu.
- você deve estar curioso para saber sobre Devon – falou ela assoprando
a caneca e se sentando de frente para mim.
- eu não sei de mais nada. Fiquei tanto tempo atrás desse mistério que
destruí as amizades que fiz, acabei com meu relacionamento.
- Devon era meu filho Kai. Um bebê de três semanas – falou Daisy.
- então vocês e Bruce tiveram mesmo um bebê?
- não era de Bruce – falou ela lambendo os lábios – era de um antigo
vizinho nosso chamado Luke Cohen.
- você traiu o Bruce? Ele soube disso?
- sim. e ele ficou sabendo disso.
- posso te fazer uma pergunta pessoal?
- você quer saber se eu sou lésbica? – perguntou Daisy rindo.
- mais ou menos – falei rindo sem graça.
– sim. Eu sou e foi por isso que eu decidi confirmar isso ficando com o
vizinho.
- então você e Bruce são se amavam quando se casaram? Fizeram isso só
pra se acobertarem?
- exato – falou Daisy ajeitando os cabelos atrás da orelha Bruce e eu
éramos amigos desde o colegial. Ele era um gay enrustido e eu uma lésbica
enrustida. Ambos pressionados a se casar pela família. Nós acabamos nos
acostumando com essa vida. Nós conseguimos reprimir esses sentimentos durante
muitos anos. Quer dizer, pelo menos eu consegui – falou Daisy rindo dando a
entender que durante os anos que se seguiram Bruce deu suas escapadas.
- entendi – falei rindo
- Bom, Bruce sempre deu suas escapas, mas eu sempre tentei reprimir o
que sentia, mas então Zara se mudou para a vizinhança e esses sentimentos
começaram a florescer dentro de mim. Foi então que eu decidi fazer um teste.
Acabei ficando com o vizinho e engravidando. Como Bruce e eu sempre fomos
sempre sinceros um com o outro eu contei o que tinha acontecido e foi então que
eu conheci o outro lado dele: o lado possessivo e violento.
- ele matou o bebê?
- não Kai – falou Daisy tomando um gole do chá – ele me manteve refém no
porão durante todo o período da gravidez. Ele meio que transferiu o nosso
quarto lá para baixo. Ele não queria que ninguém me visse. Foi então que ele
inventou essa história de que eu tinha viajado para a casa dos pais. O plano de
Bruce era doar o bebê, mas quando ele fez o parto e o segurou nos braços ele se
apaixonou no mesmo instante. O problema é que ninguém tinha me visto grávida e
para todos os efeitos eu estava na casa dos meus pais. Nós decidimos manter a
história em segredo por mais um tempo até decidirmos qual mentira contaríamos
aos vizinhos – falou Daisy deixando uma lágrima escorrer de seus olhos – foi
então que um dia eu estava com ele nos braços e enquanto descia as escadas
acabei tropeçando e nós dois rolamos escada a baixo – Daisy colocou a mão na
boca começando a chorar tentando abafar o choro – ele só tinha três semanas.
- eu sinto muito Daisy – segurei a mão dela consolando-a – eu não
conseguia olhar para ele – eu nem… eu não… não sabia o que fazer então peguei
meu telefone e liguei para Grace que ligou para Zara que ligou para Selma que
ligou para Flora… todas elas vieram. Quando Bruce veio da oficina eu contei o
que tinha acontecido e todas nós concordamos que esse segredo precisaria ser
mantido.
- vocês o enterraram no porão da minha casa?
- o que? – perguntou Daisy surpresa – não. Nós o enterramos no nosso
quintal – falou Daisy se levantando e ligando a luz de fora. Nós caminhamos até
lá e nós vimos um jardim em volta de uma lápide enfeitada e bem construída.
Tinha letra ‘D’ entalhada na cerâmica – dizemos a todos os amigos que perguntam
que um animal de estimação da infância de Alice está enterrado aqui – falou ela
respirando fundo.
- Daisy eu sinto muito. Eu pensei coisas horríveis de vocês por causa
disso…
- Ele teria 6 meses de vida se estivesse vivo – falou ela suspirando –
eu perdi um filho Kai! Já é um grande fardo a se carregar. Imagine ter carregar
esse segredo todo esse tempo. Você não sabe como é bom poder finalmente contar
para a alguém.
- você não precisa se preocupar. Seu segredo estará guardado comigo.
- obrigada Kai.
- Agora eu preciso ir Daisy – falei me afastando dela chegando próximo a
porta da cozinha – Antes que Cory perceba que não estou mais lá.
- você tem certeza de que quer ir embora? Com o tempo as pessoas vão
esquecer.
- tenho certeza. Eu nasci pra ficar sozinho – falei apertando os lábios
e indo na direção de Daisy dei um forte abraço nela – obrigado por me contar –
peguei meu celular e entreguei a ela – fica com isso.
- por quê?
- Cory vai me rastrear se eu estiver com o celular. Deixe-o no seu
jardim. Dessa forma ele vai achar que eu joguei aqui quando passei em frente
sua casa.
- tudo bem Kai – falou ela segurando na minha mão – tenha cuidado.
- eu terei – falei pegando a minha mochila e saindo da casa de Daisy
segui o meu caminho pela estrada.
Não sei bem por quanto tempo andei afinal tive que deixar o meu celular
para trás. Tudo o que sabia é que estava suado e meus braços estavam gelados. Devo
ter caminhado uns 3 ou 4 quilômetros até deixar Albafross para trás. O céu
começou a mudar de cor quando finalmente cheguei a uma rodovia. Com sorte
talvez eu conseguisse uma carona. Depois de andar uns 200 metros eu já tinha
que usar uma das minhas mãos para tapar o sol que começava a nascer. Com a
outra mão eu comecei a levantar o polegar pedindo carona. Aquele frio da
madrugada estava me matando, mas por incrível que pareça logo um caminhoneiro
passou buzinando e parou o caminhão mais a frente. Sai correndo e ao entrar
agradeci o motorista por ter parado. Sem perguntar para onde ele estava indo eu
simplesmente deixei o destino me levar. Coloquei o cinto de segurança enquanto
o motorista seguia viagem.
Queridos leitores espero que tenham gostado desse capítulo, não esqueçam de deixar a opinião nos comentários. Não esqueça também de deixar o seu voto que é muito importante. Compartilhe com seus amigos que gostam de ler sobre a temática. Um grande abraço a todos e até o próximo capítulo.
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- Cruel Sedutor: Volume Um
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- Verão Em Vermont
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REVELAÇÕES, RELEVAÇÕES!!!!
ResponderExcluiresse foi o melhor capitulo até agora. o Kai mereceu tudo o que o Cory falou pra ele. eu falo que eu adoro esse jeito safado do Kai, mas ele foi sim filha da puta, tanto com o Cory, tanto com o Bruce.
eu dei um grito quando ele começou a contar todos os segredos de todo mundo. a cara das meninas foram ao chão!
Cordelia sendo filha da puta como sempre. nada novo sob o sol.
agora os novos vizinhos... ainda tem muito mistério em cima deles.
Devon finalmente revelado. é só tragedia atrás de tragedia nessa rua.
to ADORANDO
Valeu Charlie ;) Feliz que está curtindo ;)
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