Capítula Trinta e Cinco
OS NOVOS ADÃO E EVA
A
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s vezes sinto
que tem algo dentro de mim. Algo sombrio enterrado no fundo da minha alma
cavando tentando sair. Sempre soube que havia algo de errado nos olhos daquele
homem. Os olhos são a janela da alma e quando olhava nos de Randy eu via uma
tempestade, algo nublado. Sabia que algo ali não estava certo. Nesse momento,
quando me olho no espelho, eu percebo que essa “coisa” sombria dentro de mim
tentando cavar sua saída sou eu mesmo quando criança. Não me refiro ao Kai que
ligava para emergência quando os pais tinham uma overdose, o Kai que cuidava
dos 6 irmãos menores quando havia traficantes e viciados dentro de casa. Era o
Kai que aos 13 anos esfaqueou um homem duas vezes. Uma vez em sua barriga e
outra vez em seu pescoço. O garoto de 13 anos que assistiu sem piscar e sem
hesitar enquanto ele engasgava com o
próprio sangue enquanto dava seu último suspiro.
Aquele homem mereceu aquilo, era um assassino, pedófilo, tinha matado e abusado do meu amigo Willie e mereceu o que fiz a ele, mas eu tenho medo de que aquele Kai esteja prestes a conseguir cavar sua saída para fora de mim. Não é normal um garoto de 13 anos fazer o que fiz e não sentir nada, nem mesmo ter pesadelos. Qualquer psiquiatra que não tenha um diploma ia temer que eu me tornasse um assassino psicopata em minha fase adulta, mas eu nunca maltratei um animal e esse é um dos sinais claros de psicopatia. Por outro lado eu pulei direto para o pior sinal de todos que é matar outro ser humano e não sentir nada além de satisfação ao fazer isso afinal ele mereceu.
Você deve estar se perguntando o porquê desse monólogo tão deprimido. É que eu tenho medo que descobrir que Randy é meu verdadeiro pai desperte em mim esse sentimento. Tenho medo de que esse Kai que a tanto tempo está enterrado em mim consiga finalmente sair. Quando Randy me estapeou no rosto e disse 'Me respeite que eu sou seu pai' foi o meu pior pesadelo se tornando realidade. Aquilo me destruiu. Jurei a mim mesmo que nunca procuraria por minha família biológica, mas esqueci que eles poderiam procurar mim mesmo que como meu pai tenha dito que foi uma coincidência. As coisas que ele disse, a forma que ele me enganou todo esse tempo, as desculpas que ele usou para se aproximar de mim.... Juro que a minha vontade é de cravar em seu pescoço uma faca como fiz com aquele pedaço de bosta a quase 14 anos atrás.
Quando Ed me trouxe para casa na noite passada eu cheguei aos prantos. Cory veio correndo da delegacia e chegou nervoso e assustado sem saber o que tinha acontecido. Ele me abraçou e começou a questionar Ed e Kakau que não souberam dizer o que tinha acontecido. Foi então que ele me levou ao nosso quarto, me deitou na cama, me abraçou me fazendo deitar em seu peito e perguntou inúmeras vezes o que tinha acontecido, mas eu não fui capaz de dizer responder. Apenas me deixei adormecer enquanto chorava. Em minha cabeça um turbilhão de coisas passavam. Claro que tinha um monte de perguntas sobre meus irmãos, sobre minha mãe, mas eram perguntas que eu não queria fazer. Ao mesmo tempo eu só queria pegar minhas coisas e fugir, mas sabia que não podia fazer isso. Foi por esse motivo que pelo menos por era noite eu decidi dormir e não falar sobre o assunto.
Ainda estava de olhos fechados e sentia o cobertor jogado sobre mim. Me movi na cama e foi então que senti algo que a muito não sentia. O braço de Cory passado por trás de mim e meu braço direito estava sob sua barriga peluda. Quando me movi ainda de olhos fechados senti ele me puxando e sua bafo matinal em meu rosto. Ele começou a me beijar a orelha dando selinho em me rosto indo até meu pescoço. Devagar e carinhosamente. Sua barba cerrada denunciava que ele estava na cama até aquele momento assim como eu.
- bom dia meu amor – falou Cory jogando metade de seu corpo acima do meu. Ele usava a calça do pijama. Passei o braço esquerdo por ele tocando suas costas abrindo um pouco mais olhos.
- você não fez a barba? – perguntei respirando fundo.
- pensei que gostasse – falou ele segurando meu rosto e dando um selinho na minha boca. Só nesse momento percebi que bem baixinho tocava no iPhone de Cory a música favorita dele: ‘She's a Rainbow’ dos Rollings Stones. Era uma linda música na verdade. Sobre a chegada de uma dama que irradia o ambiente.
‘Ela chega colorindo todo o lugar, penteando os cabelos com os dedos. Ela é como um Arco-íris. Você já a viu vestida de dourado? Como uma rainha em tempos antigos…’
- eu gosto essa sua barba cerrada – falei bocejando – só estou achando estranho você estar na cama comigo até agora. Geralmente quando acordo eu estou sozinho e você está na casa do vizinho tomando cerveja ou foi até o mercado ou só não está comigo.
- ai! Essa doeu – falou ele rindo e tocando seus lábios nos meus ele os manteve e eu o abracei e ele deslizou sua língua para minha boca e eu a chupei enquanto acariciava suas costas – te amo muito viu meu anjo? – falou Cory deixando minha boca babada.
- eu sei – falei fechando os olhos e voltando a beijá-lo.
- desculpa se eu não estou na cama quando você acorda, eu pretendo mudar isso – falou ele voltando a se deitar ao meu lado.
- ótimo – falei me espreguiçando e me deitando de lado coloquei a mão no peito dele e entrelacei minha perna na dele sentindo seu pau mole no pijama – gosto de acordar com alguém do meu lado especialmente quando vou casar com esse alguém.
- está tudo preparado para o jantar de terça! – falou Cory rindo – só falta eles aceitarem.
- eles vão aceitar. Eu serei convincente – falei acariciando o peito dele.
- Kai, posso te perguntar uma coisa... - Cory me deu um selinho e segurou em meu braço respirando fundo.
- sobre ontem? É por isso que ficou na cama até agora?
- sim. Seja lá o que tenha feito você chegar daquela maneira é minha culpa. Não tenho prestado muita atenção em você. Tem algo acontecendo nessa sua cabecinha – falou ele rindo e colocando o dedo indicador na minha testa.
- promete que você não vai surtar quando você descobrir? – toquei o rosto dele e deslizando minha mão chegando a sua boca Cory deu um beijo em meus dedos.
- meu Deus Kai, o que diabos aconteceu?
- descobri que Randy Forge é na verdade um pseudônimo usado por Randolph Gideon De la Croix. Meu pai biológico – coloquei a mão no peito de Cory senti o coração dele acelerando.
- espera ai... - falou Cory deslizando na cama e se escorando na cabeceira – o Randy... o Randy que eu convidei... que a gente fez...
- sim – falei me levantando na hora e me sentando na beirada da cama de costas para Cory – não quero me lembrar disso, mas é ele sim. Esse Randy. Ele disse que não sabia quando me conheceu, mas que quando me viu tocar o piano algo dentro dele despertou. Como uma memória a muito tempo guardada. Ele vem tentando se aproximar de mim desde que comecei a trabalhar na Scorpio Peppermint e eu pensei que ele estava querendo furar o seu olho, mas na verdade ele só estava querendo ser um... pai! – falei rindo daquelas palavras.
- você tem certeza que é ele mesmo? – perguntou Cory se sentando ao meu lado e passando o braço por trás de mim – ele não faz parte da quadrilha de ladrões de órgãos?
- não Cory. É ele. Quando ele disse que era meu pai foi como se algo dentro de mim pintasse uma face em todos os rostos borrados em todas as lembranças que eu tinha. O apelido do meu velho era Dolph. Lembrei da voz dele, a forma que ele conversa, os trejeitos e a prepotência... é ele mesmo. Até o tapa que ele me deu na cara me lembrou...
- que tapa? – Cory pareceu incomodado com aquilo.
- não foi nada...
- ele te bateu Kai? Ele encostou em você? Se esse cara tiver encostado a mão em um fio sequer de seus cabelos eu o quebro. Juro por Deus, Kai! – Cory virou meu rosto e olhou sério para mim – está me ouvindo?
- estou – falei abraçando-o e dando um beijo em seus lábios – você não vai usar suas mãos agredir ninguém Cory – falei me levantando – não prefere usar elas pra me fazer um carinho ou algo parecido?
- não me venha com essa Kai... você me falou um monte de bosta sobre sua família e saber que seu pai apareceu e teve coragem de te bater... - Cory se levantou nervoso e foi até a janela do quarto e a abriu – Ele vai se arrepender de ter tocado em você.
- acho que me arrependi de ter te contado, sabia? – falei coçando a cabeça – esqueci que você sempre leva as coisas pra esse lado. Quer agir como machão e bater em todo mundo tentando defender a minha honra.
- não se preocupe com isso – falou ele vindo até mim e segurando em meus ombros ele me deu um monte de selinhos – não se esqueça que amanhã é sábado e é o dia que eu prometi que vou ao Scorpio Peppermint ser atendido pelo novo funcionário – falou ele levando a mão até minha bunda e apertando minha nádega – fiquei sabendo que ele é sexy e faz qualquer coisa por uma boa gorjeta.
- você ouviu certo Sr. Winchester – falei rindo. Enquanto beijava sua boca eu o abracei e apertei o pau dele meio bomba por cima do pijama – desde que comecei a trabalhar lá todos falam sobre esse tal delegado gostoso e sacana. Estou louco para conhece-lo – falei rindo sentindo o pau dele endurecer em minha mão.
- amanhã você irá conhece-lo – falou Cory pegando minha mão – até lá nada de tocar ou chupar ou rebolar.
- sério? – falei sentindo ele beijar minha mão descendo pelo meu braço – podia jurar que íamos tomar um bom banho juntos e que eu ia poder ensaboar todo seu corpo.
- bem que eu queria meu anjo – falou ele rindo – mas a provocação é parte do jogo, não acha?
- acho – falei rindo enquanto ele fazia cócegas com sua barba cerrada em meu pescoço – eu tomo meu banho e você faz o café da manhã?
- ótima ideia – falou Cory dando um passo para trás mordendo o lábio inferior de sua própria boca apertando o pau olhando para mim me desejando – Porra! – falou ele rindo.
- é bom valer a pena seja lá o que você esteja tramando – falei tirando a roupa.
- vai valer – falou ele gritando do corredor.
Fui para o banheiro e depois que tomei o banho e vesti minha roupa parei em frente ao espelho para pentear os meus cabelos eu e lembrei da minha infância. Sabe quando você tenta se afastar do seu passado e das pessoas que te fizeram sofrer e você consegue? E quando essas pessoas aparecem na sua vida novamente é como se tudo o que você guardou dentro de uma caixinha por anos conseguisse escapar. Todos os demônios, fantasmas estivessem me assombrando outra vez. Agora que meu pai voltou tudo o que eu tenho vontade é de pegar o cinto.
Nesse momento o celular de Cory que estava tocando uma música qualquer começou a falhar. Na verdade nem percebi que o celular ainda estava ali. A voz começou a engrossar como se a bateria estivesse falhando e uma outra música começou a tocar. Andei até o criado mudo e a canção 'The Morning After' começou a tocar.
'Haverá sempre um amanhã se conseguirmos aguentar a noite. Temos a chance de encontrar o sol então vamos continuar olhando para a luz!'
- que merda! – falei pegando o iPhone dele tentando mudar ou desligar, mas não funcionava – que droga é essa? – falei virando ele de um lado para o outro vendo a maçã mordida e então eu voltei a olhar para a tela e comecei a apertar com força. Ela começou a piscar e a canção mudou para 'The Light is Coming' de Ariana Grande. Um trecho em específico.
'A luz está vindo para devolver tudo que a escuridão roubou...'
Nesse momento joguei o iPhone no chão e outra música começou a tocar. 'Time is Up' da cantora Poppy. A música ficava falhando como se fosse um CD furado.
'Sua vida não possui significado, você é como uma barata. Exterminação é sua única esperança... Não fique tão deprimido... logo você não será nada! Você não faz nem ideia do que está por vir...'
- eu estou enlouquecendo! – falei rindo irônico colocando as duas mãos na cabeça olhando em volta sentindo minha respiração se tornar ofegante. A música começou a aumentar o volume sozinho e nesse momento eu comecei a me sentir claustrofóbico enquanto Poppy começava a repetir.
'Querido, Seu tempo acabou...
Querido, Seu tempo acabou...'
Olhei em volta no quarto e fui até a cômoda e vi algo que poderia acabar com aquela merda. Peguei um Cavalo de Cobre que era usado de enfeite. Fiquei de joelhos para quebrar aquele iPhone e acabar com a droga daquela música, mas antes que eu pudesse realizar o movimento para baixo outra música começou a tocar.
'Olhe naqueles Olhos de Anjo e você pensará que está no paraíso. Um dia você descobrirá que ele usa um Disfarce, mas nunca olhe muito fundo naqueles Olhos Angelicais. Não, não, não, não...'
Era 'Angel Eyes' do Abba. Minha mãe costumava cantar para mim e meus irmãos quando éramos pequenas. Nas poucas ocasiões em que estávamos bem. Olhei para o iPhone e ele estava bem. Abaixei os braços e coloquei o cavalo de cobre no chão e apertei na tela desligando a música. Meus olhos estavam molhados pela lembrança e eu me levantei deixando a merda do celular na cama e o cavalo de cobre em cima da cômoda novamente. Acho que eu estava certo no final das contas: Estava ficando louco. Especialmente por achar que aquelas músicas estavam de alguma forma tentando se comunicar comigo.
- no que eu estava pensando – falei rindo limpando os olhos indo até o banheiro. Quando quebrei o celular do Cory. Ao me aproximar do banheiro ouvi o som do chuveiro ligado e pensei que fosse ele, mas a porta estava aberta – Cory? – olhei para dentro do banheiro, mas não havia ninguém. Será que foi eu quem esqueceu? Passei por todo o vapor que ele tinha produzido e desliguei o chuveiro. Fui até a pia e lavei meu rosto. Quando me levantei e olhei para o espelho os números 666 estavam desenhados. Meu coração bateu forte com o susto que levei. Institivamente passei a mão no espelho limpando-os.
- Kai!? – Cory apareceu na porta do banheiro e pareceu intrigado comigo – está tudo bem com você?
- você por acaso escreveu 666 no espelho do banheiro? – olhei para ele tentando não transparecer no rosto o quão assustado que eu estava.
- o que? – perguntou ele olhando para mim e para o espelho – não, porque está me perguntando isso?
- alguém mais veio aqui hoje?
- não. Eu estava na cama com você, lembra? Nós deixamos o quarto juntos, eu fui fazer o café da manhã e você foi para o banheiro – Cory franziu a testa – está tudo bem com você meu anjo?
- está sim – falei respirando fundo – tem certeza que não está tentando fazer uma pegadinha comigo? Se estiver pare agora porque toda essa coisa das músicas no seu iPhone e do espelho está me fazendo surtar – fechei os olhos respirando fundo.
- músicas? – Cory parecia realmente não fazer ideia do que eu estava falando – está tudo bem com você? – ele levou a mão até minha testa – você não parece estar com febre.
- eu estou bem Cory eu só estou um pouco desligado por causa do que aconteceu ontem – falei apertando os lábios em um sorriso olhando para ele.
- tudo vai se resolver meu amor – falou Cory me abraçando quando sai do banheiro – Vou me certifica de que seu pai não chegue perto de você – Cory deu um beijo no meu pescoço.
- o que você vai fazer? – falei olhando para ele.
- não se preocupe com isso – falou ele me dando um selo – o café da manhã está pronto, mas eu vou tomar um banho antes de comer. Você me espera? – Cory tirou sua camisa indo até o quarto.
- claro que espero – segui Cory até o quarto e peguei o meu celular. Me virei e Cory estava com a toalha nos ombros na metade do corredor – Cory, espera! – falei dando passos rápidos.
- o que foi? – perguntou ele em frente ao banheiro.
- deixa eu ver.
- o que? – perguntou ele confuso.
- seu pau – falei ficando de frente a ele – prometo que só quero dar uma olhada.
- isso não facilita as coisas, sabia? – falou ele rindo e tirando o pau e o saco pra fora. Estava meio bomba. A cabeça rosada meio coberta pelo coro. Podia sentir o cheiro do seu cacete mesmo de longe. Talvez fosse só minha imaginação, mas podia jurar que era o cheiro do seu caralho – feliz? – perguntou ele balançando um pouco.
- eu te amo, sabia? – falei segurando seu rosto entre minhas duas mãos e beijando sua boca.
- te amo mais – falou Cory usando as duas mãos para me pressionar contra seu corpo enquanto me beijava – me deixa ir logo tomar banho porque está ficando maior – falou ele rindo e entrando no banheiro ele fechou a porta na minha cara.
- mal educado – falei dando um murro na porta antes de descer as escadas indo para a cozinha. Ao chegar vi a mesa pronta e me atrevi a pegar uma das torradas e morder um pedaço. Tomei também um gole do suco e olhei no meu celular. Era pouco mais de oito e meia da manhã e haviam algumas mensagens perguntando como eu estava. Inclusive de Randy. Mensagens as quais eu apaguei e o bloqueei sem pensar duas vezes. Haviam também mensagens de meu chefe e vizinho Edgar Rogers também conhecido como 'O Canalha que traiu a esposa' ou simplesmente Ed. Decidi ignorar as mensagens dele e fui direto para as de minha amiga Kakau.
Bom dia Kai ❤ ❤ ❤ Como você está? Preocupada com você 😕 — Kakau
Bom dia. Pra ser sincero não sei bem como estou, mas acho que vou descobrir no decorrer do dia — Kai
A campainha tocou antes que eu pudesse escrever outra coisa. Ouvi alguém bater na porta e eu me levantei lambendo os lábios dando passos rápidos indo até a porta. Ao abrir tive uma surpresa ao ver Sam parado a minha frente. Seus olhos azuis me encaram por um tempo. Seu meio sorriso meigo se desfez quando ele me cumprimentou.
- bom dia Kai – falou Sam meio sem graça.
- o Samuel? O que está fazendo aqui?
- perdão por aparecer tão cedo é que fiquei preocupado com você.
- você poderia ter ligado – falei respirando fundo soltando aquilo meio que a contragosto.
- eu sei, desculpa é que hoje quando estava jogando o lixo fora da Scorpio Peppermint depois que tínhamos fechado eu encontrei isso – falou ele tirando algo do bolso e mostrando a corrente arrebentada.
- nossa! – falei colocando a mão no pescoço – tinha me esquecido dela – falei sem graça – obrigado – falei colocando a mão por baixo da corrente e ele a soltou em cima da minha.
- eu já vou, só queria saber se você estava bem… - falou ele mostrando a moto dele estacionada.
- Poxa eu sou péssimo nisso… - falei sem graça.
- no que? – perguntou Sam.
- em pedir desculpas por ter um completo idiota. Você veio até aqui saber como estava, trouxe a minha corrente e eu te recebi da pior maneira possível.
- não se preocupe com isso – falou ele rindo levando tudo numa boa – sou eu quem apareceu sem avisar.
- não é isso é só que…
- já sei – falou Sam apertando os lábios – você achou que a primeira coisa que eu perguntaria é: o que aconteceu para que você fosse embora daquele jeito. Certo?
- bingo! – falei sem graça.
- não se preocupe. Sei que não é da minha conta. Eu realmente só vim devolver o seu colar e saber como você está e pelo o que estou vendo você parece estar melhor.
- você já vai? – perguntei surpreso percebendo que ele pretendia ir embora.
- sim, eu só…
- nem pensar! Entre! – falei abrindo a porta – o café da manhã acabou de ser feito. O que acha de nos fazer companhia?
- não quero atrapalhar – falou Sam entrando e olhando em volta. Fechei a porta e passei por ele achando estranho a forma com que ele olhava a casa.
- algum problema?
- O QUE?!?! – perguntou ele gritando comigo. Ele percebeu que fiquei assustado – desculpa é que eu podia jurar que ouvi uma mulher pedindo por ajuda.
- sério? – olhei em volta em silêncio tentei ouvir algo, mas eu não ouvi nada fora do comum.
- Me desculpa Kai é que eu ainda não dormi desde o trabalho e você sabe como a música naquele lugar é alto e deixa a gente meio surdo – falou Sam inclinando a cabeça meio de lado – eu realmente não quero atrapalhar a sua manhã.
- tudo bem, mas eu insisto que você tome pelo menos um copo com suco. Pode ser?
- chegamos a um acordo – falou Sam rindo
- você tem razão sobre a Scorpio Peppermint – falei indo até a cozinha e deixando Sam na sala – a acústica do lugar é boa e o som deixa a gente surdo –comecei a falar um pouco mais alto para ele ouvir. Peguei um copo com gelo e coloquei suco em um copo para ele – mas acho que logo vou me acostumar – caminhei de volta a sala – ou talvez eu use um daqueles protetores de… - quando cheguei a sala Sam não estava prestando atenção ao que eu dizia e ele encarava o chão.
Ele não tinha nem percebido que eu estava lá e ele estava olhando sério para o chão. Encarando-o como se ele estivesse ouvindo algo que vinha do porão. Olhei em volta e eu não ouvi o som de nada. Olhei para Sam e dei um passo na direção dele.
- Boo! – falei tocando nele.
- o que você disse? – perguntou ele olhando para mim rapidamente percebendo que eu tinha chegado.
- está tudo bem? – perguntei entregando o copo para ele.
- o que? Sim! – Sam tentou disfarçar sorrindo tentando fingir que ele não estava encarando o chão da minha sala como se eu fosse um tipo de psicopata mantendo uma mulher refém no porão. Ele tomou um gole do suco e foi então que eu percebi que todo esse momento ele tinha algo na outra mão. Um livro vermelho de capa dura. Não muito grosso.
- o que é isso? – perguntei curioso.
- hã?! Isso? – falou ele olhando para o livro – é algo que eu trouxe para você – Sam me entregou o livro e eu li o título escrito em letras simples em cor dourada. O livro parecia bem desgastado e antigo. A capa era de couro e estava toda desgastada. Parece que aquele livro tinha sido impresso no ano de 1839.
- ‘Os Novos Adão e Eva’ de Nathaniel Hawthorne – falei virando o livro. Na capa havia um nome escrito a caneta – quem é Frances J. Calliwell? – perguntei franzindo a testa.
- Não sei – falou ele pensativo – acho que era a dona original do livro – falou Sam virando a cabeça para ler – esse livro é primeira edição, é raro e deve ter tido muitos donos – Sam voltou a olhar para mim – você vai gostar da história. O livro não é longo, mas é interessante – falou Sam tomando outro gole do suco.
- olha eu não quero te desrespeitar e nem suas crenças, mas não sou do tipo religioso e nem sei se acredito em Deus.
- Não se preocupe. Esse livro não é religioso e nem vai tentar te convencer de nada – falou ele trazendo a mão até o livro e abrindo. Ele foleou até a página que falava sore o autor - Nathaniel Hawthorne nasceu no ano de 1804 em Salem, Massachusetts e morreu em 1864. Ele foi um dos maiores contistas americanos especialmente quando se tratava da tradição gótica.
- melhor assim – falei passando as páginas. Não me dou muito bem com a bíblia. Tenho sérios problemas com algumas coisas escritas lá – falei fechando o livro.
- você vai gostar desse – falou Sam terminando o suco – conta a história de uma Criatura Divina que tem um casal de filhos chamado Adão e Eva, mas eu juro que não é a história que você conhece.
- agora você me deixou curioso – falei rindo e pegando o copo.
- preciso ir agora. Dê um abraço no Cory por mim.
- dou sim – falei levando-o até a porta.
- o Sr. Ed te deu o dia de folga hoje, certo? – perguntou ele pegando o capacete.
- sim. Te vejo amanhã no trabalho?
- com certeza – falou ele montando na moto e eu acenei fechando a porta.
- quem era? – Cory apareceu chegando aos pés da escada e eu me virei assustado.
- era o Sam lá do Scorpio – falei mostrando o livro e o colar – ele veio trazer o meu colar e me dar esse livro. Veio saber como eu estou.
- sério? – ele pegou o livro de minha mão e o abriu – 'Os Novos Adão e Eva'? – perguntou ele olhando para mim – com certeza não é 'Adão e Ivo' – falou Cory irônico.
- muito engraçado – falei pegando o livro de volta e colocando na mesa de centro – vamos logo tomar o café da manhã, estou faminto.
Cory e eu nos sentamos a mesa para comermos e eu percebi o quão empenhado ele estava em me fazer engordar. Passei geleia em uma torrada e tomei um gole do suco enquanto observava o colar sob a mesa. Me perguntava o que tinha naquele pen drive. Kakau achava que ele tinha desaparecido na noite passada, mas ela está se engraçando para o lado de Sam e ele pode contar a ela que encontrou o colar então é melhor eu dizer logo de cara que encontrei afinal agora eu tenho uma desculpa para ficar com o colar: ele está arrebentado. Posso ficar com ele por um tempo a mais até consertá-lo.
- sabe, acho que estou pensando em arrebentar a porta do porão – falou Cory chamando a minha atenção.
- o que? Não! – falei instintivamente.
- porque não? – perguntou Cory curioso – está escondendo um corpo lá embaixo?
- claro que não seu idiota é só que eu não quero que danifique a casa – falei respirando fundo e tomando um gole do suco. Não queria que Cory fosse até lá porque o chão estava todo arrebentado. Tinha um buraco enorme no chão que eu tinha feito quando eu achava que o bebê misterioso que chorava na casa dos Ferrari estava enterrado ali, mas Daisy me contou que o bebê misterioso (na se chamava Devon e morreu em um acidente quando Daisy o chegou cair) na verdade estava enterrado no quintal deles. Não queria que Cory fosse até lá e começasse a fazer perguntas – o que você quer no porão afinal de contas?
- a pia está pingando. Queria saber se a caixa de ferramentas está lá. Não encontrei no lavabo.
- porque você não pede emprestado a um dos vários vizinhos que temos? Esqueceu que aqui em Moracea Lane na terras das figueiras todos somos uma família? – falei rindo e Cory brindou ao que eu disse antes de tomar um gole de seu suco.
- como você quiser – falou ele rindo – você quem veste as calças.
- É que eu me lembrei agora que a nossa querida vizinha, e minha amiga Flora Venable que foi quem nos vendeu essa casa me disse que não era recomendável entrar no porão a menos que fosse realmente necessário porque o último morador era acumulador e tem um monte de tralhas lá embaixo então a menos que estejamos querendo ser mordidos ou picados por algum inseto é melhor deixar a porta trancada.
- tudo bem – falou ele pegando o celular.
- se você quiser ir no porão pode Cory. Na verdade se você quiser aproveitar o dia de hoje pra tirar todo o lixo de lá seria até bom. Você é alto, forte e robusto. Pode carregar todo aquele entulho de lá e depois...
- Nem pensar! – falou ele me interrompendo – agradeço a proposta, mas eu recuso – falou ele dando um meio sorriso – vou combater o crime a noite e a última coisa que eu preciso e ficar o dia todo carregando tralha e suando meu rabo. Vou pegar as ferramentas emprestada com o Tom.
- ótimo – falei me levantando e começando a juntar a bagunça.
- deixa que eu arrumo tudo – falou Cory chamando a minha atenção – pode ir cuidar das suas coisas.
- sério? – perguntei me aproximando dele.
- sim, muito sério – falou ele dando um meio sorriso enquanto me aproximava e me inclinava dava dar um beijo em seus lábios – sendo assim vou até a casa da Kakau aqui do lado.
- okay – falou ele tomando outro gole de seu suco.
Ao sair de casa vi as garotas Kappa caminhando pela calçada. Estávamos nas férias de verão e havia uma festa todo dia na irmandade delas. Elas estava de biquíni usando óculos escuros cor de rosa já que estava rolando uma festa da piscina. Cordelia acenou para mim do outro lado da rua e eu acenei para ela. Nada como o jogo da boa vizinhança. O bom e velho sorriso em sua cara para depois te esfaquear pelas costas.
- bom dia Kai! – falou Meadow ao lado de seu marido Brock. Eles estavam colhendo figos das figueiras que ficavam dispostas nas calçadas da rua.
- minha esposa e eu estamos colhendo os figos! – falou Brock segurando a cesta enquanto Meadow movia a escada e subia escolhendo pelos frutos que estavam no ponto.
- estou vendo! – gritei parando em frente a eles do outro lado da rua.
- vamos fazer tortas para toda a vizinhança – falou Meadow olhando para um dos frutos – assim que tivermos a quantidade o suficiente de figos, mas essas árvores idiotas não estão ajudando – falou ela olhando para mim – enfim, vamos convidar a vizinhança toda para um Brunch.
- estou ansioso – falei acenando e indo para a casa de Daphne e Kakau. Aqueles dois filhos da mãe. Duas pessoas que eu gostaria de realmente esfaquear pelas costas. Bati na porta e Daphne a abriu.
- Kai? Como você está? – Daphne me deu um abraço e quando entrei vi Kakau comendo pipoca sentada no sofá. As duas pareciam estar assistindo a um filme.
- você finalmente veio! – falou Kakau vindo até mim e dando um abraço – está se sentindo melhor?
- sim – falei sentindo ela me puxar até o sofá me fazendo sentar.
- o que aconteceu Kai? Fiquei tão preocupada com você? – Kakau virou o balde de pipoca para mim e eu coloquei a mão pegando uma. Daphne se sentou do meu outro lado.
Olhei para Daphne e olhei para Kakau. Uma delas sabia o meu verdadeiro passado e a outra conhecia apenas o meu presente. Kakau percebeu que eu não podia contar o que tinha acontecido e seja lá o que tivesse acontecido tinha a ver com a minha vida de verdade.
- o que foi? – perguntou Daphne.
- não é nada... - falei sem graça.
- acho que está na hora de você começar a ser sincero com seus amigos de verdade – falou Kakau.
- Kakau! Não! – falei olhando para ela com medo do que o FBI faria se descobrisse.
- o que está acontecendo? – perguntou Daphne sem graça – estou me sentindo fora do assunto – ela pegou pipoca do balde.
- conte pra ela Kai – falou Kakau olhando para mim.
- do que vocês estão falando? Estou ficando curiosa e com medo.
- você deveria – falei olhando para Daphne.
- coo assim?
- Kai e eu já nos conhecíamos – falou Kakau olhando para ela – Kai está sob proteção do FBI porque é testemunha chave em um crime sob roubo de órgãos – falou Kakau.
- gente isso é algum tipo de brincadeira porque eu não me dou bem com isso... - Daphne parecia não acreditar ou pelo menos não estar acreditando naquele momento.
- é verdade – falei me levantando – Cory e eu estamos no Programa de Proteção a Testemunhas. Nos conhecemos aqui em Moracea Lane. Acabamos não apaixonando e na verdade é a única coisa real que surgiu no meio disso tudo. Meu nome verdadeiro é Kai De la Croix e não Caleb Redfyeld.
- porque vocês estão me contando isso? – perguntou Daphne se levantando paranoica – isso significa que eu também serei mandada embora pelo FBI? E minha faculdade de Medicina?
- relaxa sua vaca! – falou Kakau rindo e empurrando ela – desde que você fique de bico calado eles não vão fazer nada.
- é verdade Daphne – falei segurando nas duas mãos dela – fica tranquila. Eles não vão fazer nada.
- A propósito – falou Kakau pegando pipoca no balde – o nosso vizinho Pedro Ballard é um agente do FBI disfarçado então você deve ter discrição perto dele.
- eu sabia – falou Daphne rindo e se sentando no sofá – desde que ele se mudou pra cá eu sempre soube que ele era meio esquisitão.
- relaxa amiga. Agora que você sabe a verdadeira identidade de Kai nós três podemos ser tipo os 3 mosqueteiros e ajudar Kai no que ele precisar.
- sim – falei ainda de pé.
- então diz – falou Daphne – porque você chegou daquele jeito ontem a noite.
- eu descobri que o Randy é meu pai biológico e isso meio que mexeu com o meu psicológico – falei cruzando os braços.
- aquelas coisas que você me contou sobre sua infância eram reais? – perguntou Daphne.
- sim – falei afirmando com a cabeça.
- sinto muito – falou Daphne se levantando e Kakau fez o mesmo me dando um abraço.
- agora entendo o porquê de você ter ficado daquele jeito – Kakau passou a mão em meus cabelos.
- pois é – falei rindo e me sentando no sofá passando a mão no rosto limpando as lágrimas.
- vou pegar um copo com água pra você – falou Daphne indo a cozinha.
- olha Kai... - falou Daphne de pé a minha frente – quando eu disse que feria qualquer coisa pra te ajudar eu estava falando sério. o que eu puder fazer pra te ajudar eu farei.
- ótimo – falei colocando a mão no bolso e tirando o colar e mostrando a ela. Segurei pela corrente e ela pareceu surpresa a vê-lo.
- você o encontrou? Achei que que tinha perdido.
- Sam o encontrou e trouxe pra mim.
- ainda bem, ele é muito valioso pra mim – falou ela contente.
- você disse que quer me ajudar, não quer? – falei olhando para a cozinha e Daphne estava mexendo no celular.
- claro. No que eu puder – falou Kakau parecendo animada e pronta para fazer qualquer coisa.
- pode começar me dizendo o que eu vou encontrar quando eu conectar o pen drive que está escondido no pingente dessa corrente a um computador.
Kakau não conseguiu esconder a expressão ao me ouvir dizer aquelas palavras. Ela pressionou os lábios e olhou pelo canto do olho para a mesa de centro e viu uma faca de mesa que estava lá junto com os restos de uma maçã. Olhei para uma taça com o resto de vinho. Nós dois rapidamente desviamos o olhar para a Daphne que estava vindo com uma serena expressão da cozinha com um copo com água.
É muito bom estar de volta. Espero que tenham gosta desse capítulo. Peço que todos interajam por favor. comentam, deixem o voto e me motivem. É só o que peço. Em breve inicio uma obra inédita chamada FALL\OUT. Peço a todos que leiam. Tenho certeza de que vão gostar. Leiam a sinopse logo abaixo. Um grande abraço a todos e até o próximo capítulo.
A história se passa em meados de 2009. Barack Obama finalmente se torna presidente dos Estados Unidos e Hugo Venable de 26 anos acaba de ser pedido em casamento por seu noivo Russo, Mirko Krovopuskov. O romance dos dois nasceu de uma situação horrível quando Mirko quase matou Hugo dois anos antes depois de um ataque de fúria de homofobia. Hugo nasceu e cresceu na famosa cidade de Salem em Massachusets (palco dos julgamentos e a queima de mulheres acusadas de bruxaria a quase 400 anos atrás). Hugo trabalha em uma empresa de Engenharia e quando esta prestes a se juntar a um projeto secreto chamado 'Posto Avançado' ele começa a relembrar acontecimentos de sua vida referentes ao nascimento de seu irmãos mais novo. Hugo se lembra de vultos, vozes e pessoas que começam a rondar a sua casa dizendo serem fãs de seu DNA PERFEITO. Uma espécie de 'Culto bizarro' cujo a finalidade é mantê-los a salvo. Hugo agora precisa equilibrar a vida amorosa com seu noivo Mirko, a necessidade de ser Dominado por seu tio Chester e conseguir manter a sanidade quando ele começa a perceber que o Diabo está de olho nele.
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