PROLOGO
O chão sob os meus pés parecia se
desfazer lentamente enquanto eu caia em um enorme buraco sem fundo. A escuridão
ao meu redor era indiscutivelmente reconfortante. Existe sim coisa pior do que
a morte: estar vivo. Estar vivo para ver a pessoa que você mais ama no mundo
simplesmente partir. O pior de tudo é a culpa. É tudo minha culpa. Foi tudo
minha culpa. Ele está morto por minha culpa. Eu nem podia tocar seu rosto pela
última vez. Minhas mãos estavam algemadas para trás. A agente do FBI Justine
Diaz estava mesmo empenhada em me botar na cadeia. Ela não precisa se preocupar
porque eu não vou fugir. Três pessoas que eu amo foram baleadas e uma delas não
resistiu. Lambi meus lábios sentindo o gosto salgado das lágrimas.
- precisamos ir – falou Justine
abrindo a porta. O frio morgue fez eu tremer meus lábios. Eu merecia ir para a
prisão. Merecia apodrecer.
- pode soltar minha mão para eu
tocá-lo? Para me despedir.
- não – falou ela com as mãos
rígidas.
Olhei para ele respirei fundo.
Nem poderia ir ao seu funeral. Me inclinei e dei um beijo em sua testa e
mantive os lábios lá grudados. Tomei muitas decisões discutíveis nesses últimos
meses e agora elas já não faziam mais sentido. Eu havia me tornado um monstro
assim como os que eu perseguia.
- Eu te amo Clyde e vou sentir
saudades de você. Você foi um irmão maravilhoso e tudo o que fiz foi te magoar
e te colocar nessa bagunça. Você me deu a vida pai e em retribuição eu tirei a
sua. Nunca vou me perdoar.
VINTE E SEIS MINUTOS ATRÁS
Quase não acreditei quando vi o
noticiário. Três pessoas foram baleadas fora do tribunal. Eu ainda estava
estarrecido por tudo o que tinha acontecido e minha mãe entrou pela porta da
emergência em estado de choque. Ela estava com traços de sangue pelo rosto e
pela roupa. Ela gritava sem parar. Sem acreditar. Os agentes do FBI me
seguraram forte e eu tentava me soltar. Quem é aquele? – perguntei para a
agente Justine Diaz enquanto seus colegas me arrastavam para longe do corpo.
- é a vítima do tiroteio – falou ela
com um olhar sério.
- quais foram às três pessoas que
foram atingidas? –Seus colegas pararam de me puxar e Justine respirou fundo ao
me dizer aquilo. Ela não parecia nada feliz com toda aquela situação.
- Seu namorado, seu irmão e seu
pai – ela lambeu os lábios ao me dizer aqueles nomes. Ela respirou fundo e
percebi que ela sentiu o mesmo que eu. As lágrimas caíram de meu rosto.
Respirei fundo sem acreditar.
- eu posso ver quem é antes de me
levar?
Justine confirmou com a cabeça.
Os colegas soltaram meus braços e eu me aproximei da maca com o lençol. Respirei
fundo e usei as duas mãos para levantá-lo. Meu coração se quebrou ao vê-lo lá
deitado. Ele havia levado pelo menos quatro tiros. Um no peito, um na barriga,
um no pescoço e outro abaixo do olho esquerdo. Ele estava com o rosto roxo. Ele
não se parecia nada com o homem que conheci e amei.
- Não! Não! Não! Por favor! –
falei me afastando dois passos da maca – Nãaao! – cai de joelhos no chão
gritando sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto – Meu Deus, por quê? –
Casey veio até mim e se ajoelhou me abraçando. Ela também estava chorando. Ela
sabe o quanto eu o amo. A verdade é que nunca entendi o significado de ‘Coração
Partido’ até vê-lo deitado naquela maca. A dor não era apenas uma metáfora como
se ouvia nas canções. Era uma dor real. Doía de verdade. Era como se meu
coração tivesse sido partido em dois.
- eu matei meu pai – falei
sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto – eu matei meu pai. Casey
começou a chorar, mas ela não disse nada. Apenas me abraçou forte enquanto eu
era destruído no chão daquele hospital.
- a culpa não foi sua.
Minha mãe se aproximou de onde eu
estava e eu olhei para seu rosto. Ela não disse nada e apenas bateu com a mão
no meu rosto.
- mãe! – falou Casey assustada.
- mãe? – perguntei surpreso.
- Você matou seu pai – falou ela
com o rosto ainda sujo com o sangue de Clyde, Nick e de meu pai – seu irmão
está entre a vida e a morte e a culpa é sua. Você é como uma erva daninha
Stanley. Você tenta de tudo para se encaixar em um mundo que não te quer e você
acaba matando tudo o que você entra em contato. Tudo ao seu redor morre.
Todos ficaram em silêncio. Eu não
consegui dizer nada.
- quando você nasceu eu devia ter
feito o que seu pai não teve coragem de fazer: ter cortado as suas malditas mãos.
- cala a boca mãe! – falou Casey
se levantando.
- precisamos ir, sinto muito –
falou Justine me ajudando a levantar. Ela me arrastou para fora da emergência e
eu vi as pessoas que eu amava se afastando. Casey e minha mãe ficaram para
trás.
- você matou seu pai! – gritou
minha mãe chorando – você matou seu pai! – ela berrava com todas as suas
forças.
- vamos dar um tempo – falou
Justine quando saímos do hospital.
- o que quer dizer? – falei com
os olhos vermelhos.
- você quer se despedir do seu
pai? – perguntou Justine um pouco maternal.
- sim – falei respirando fundo –
por favor.
- eu vou conversar com o médico –
falou ela dando alguns passos e lá na frente ela parou e olhou para trás –
fiquem de olho nele – falou ela olhando para os dois agentes do FBI que estavam
comigo. Não se deixem enganar pelo rostinho bonito ou a mão com deficiência.
Esse garoto é um sedutor maldito e a última coisa que quero é ter que colocar a
cidade toda em alerta porque vocês o deixaram escapar.
- não se preocupe – falou um dos
homens com cara de mal
- comporte-se Stanley – falou
Justine com um sorriso se virando.
- eu prometo – ao dizer isso fiz
um gesto com a mão como se estivesse em uma queda de braço. O mesmo gesto que
fazia quando queria recrutar alguém para meu culto. Só que dessa vez era
diferente, eu estava sozinho e não havia ninguém para me ajudar.
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