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CALMARIA ANTES DA TEMPESTADE capítulo dezessete
eu pai estava ao meu lado segurando minha mão
esquerda. Ele estava confuso e assustado afinal eu era seu único filho. Eu
imagino que todo esse incidente lembre minha mãe. Lembro como nós dois sofremos
quando ela se foi. Segurado minha mão ele olhava fundo nos meus olhos. Ele
repetia alguma coisa em um tom de voz muito baixo, nem eu mesmo conseguia
entender bem oque ele dizia.
- você vai ficar bem – falou ele
apertando minha mão.
Fritz estava do outro lado
falando com os paramédicos sobre o que tinha acontecido. Eu não conseguia ouvir
direito e não me importava muito, mas ouvi-os dizerem que Charley estava indo
para o mesmo hospital em outra ambulância.
Estava assustado a ambulância às
vezes fazia curvas com a velocidade muito rápida de modo que me dava à
impressão de que eu iria cair.
Logo a ambulância parou e a porta
se abriu e logo tiraram a maca. Vários médicos ficaram em volta de mim e a maca
foi puxada para dentro da emergência.
- ele ficou quatro minutos e sete
segundos sem respirar – falou Fritz.
Assim que eu ouvi isso eu senti
uma dor imensa no peito. Uma dor tão grande que eu não conseguia gritar e nem
respirar. Eu tentava puxar o ar, mas não conseguia e logo tudo começou a ficar
preto então eu senti algo como se fosse um murro no meu peito eu senti como se
alguém me beijasse. Eu apaguei por alguns segundos e logo voltei a respirar.
Os médicos colocaram minha maca
na emergência e colocaram remédios no meu soro e aos poucos fui ficando calmo e
a agonia de estar amarrado foi diminuindo.
- espere lá fora – falou uma das
enfermeiras para meu pai.
- você é o médico dele? –
perguntou uma das enfermeiras?
- sim.
Mais uma vez ele explicou para a
enfermeira o que tinha acontecido e ela disse que iria chamar a policia porque
era obrigação do hospital chamar as policias nesses casos.
A emergência estava cheia, pessoas
entrando e saindo, chegou uma mulher gritando. Eu começava a me sentir
claustrofóbico outra vez. Eu não queria morrer. Não queria sofrer como minha
mãe sofreu. Eu então tentei me mexer. Sem sucesso.
- fica calmo Mike – falou Fritz
preenchendo meu papel no prontuário.
Logo alguém abriu a porta. Era um
médico.
- o senhor é? – perguntou o
médico que entrou.
- Dr. Kröhling – respondeu Fritz
apertando a mão dele.
- Dr. Palmam – respondeu ele.
Fritz começou a explicou meu
estado de saúde para o médico.
- ele foi enforcado por mais ou
menos 3 minutos. Ele ficou desacordado durante 1 minuto e 27 segundos, que eu
marquei. Quando ele chegou teve uma parada cardiorrespiratória.
- e essa cicatriz na testa?
- ontem ele caiu da escada e
ficou desacordado por quase 5 horas.
- porque ele não foi trazido ao
hospital por causa da queda?
- ele tem Nosocomefobia.
O médico anotou algumas coisas na
prancheta que segurava e logo veio até mim checar maus sinais vitais.
- podemos aproveitar que ele está
aqui e fazer uma tomografia computadorizada no crânio – falou o médico.
Ele gritou para um dos residentes
para que agendasse.
- o nome dele é Mickey? –
perguntou Dr. Perry
- sim, mas pode chama-lo de Mike.
- Mike você está bem. Melhor do
que eu – falou o médico – pode ficar tranquilo, nós vamos coloca-lo em um
quarto para observação. Você vai precisar passar a noite aqui, você acha que
consegue.
Algumas lágrimas escorriam no meu
rosto, mas eu pisquei devagar e sinalizei positivamente com a cabeça.
Um enfermeiro veio e tirou a maca
pra fora e levou aos quartos.
- coloque-o em um quarto
particular.
- tudo bem – falou o enfermeiro.
- ele está bem? –perguntou meu
pai.
- está sim, ele vai ficar em
observação.
Logo entrou pela porta mais uma
pessoa era Charley. Meu pai ficou olhando todos atendendo ele e Fritz bateu a
mão no ombro do meu pai.
- esquece isso, preocupe-se com
seu filho, vamos comigo dar entrada lá na recepção.
Meu pai apenas sinalizou com a
cabeça e foi com Fritz.
Fui levado para um quarto e com
ajuda do enfermeiro eu passei para uma cama. Eu ficava o tempo todo de olhos
fechados, tinha medo de abrir e ter um surto.
Não sei por quanto tempo, mas só
abri o olho quando ouvi a voz do meu pai.
- você está bem filho?
- estou – falei com a voz rouca.
- eu vou embora?
- amanhã. – falou Fritz entrando.
– fica tranquilo você está em um quarto sozinho é só fechar a porta e isso não
é um hospital é só um quarto. – falou
Fritz fechando a porta – Imagine que está em um hotel.
Olhei para os lados e apertei
minhas mãos e abri. Era bom poder mexer meus braços outra vez.
- eu vou parar de respirar de
novo? – perguntei.
- não, eles já colocaram um
remédio em você. – falou Fritz – fica calmo.
As horas passavam devagar. Nesse
tempo eu fui levado para fazer a tomografia computadorizada, voltei. Meu pai ia
até a sala de espera e dava noticias a cada meia hora de como eu estava para
Denny, Adam, Xavier, Steve, Gray e Vanessa.
- você vai poder passar a noite
comigo não é? – perguntei para meu pai.
- vou sim – falou ele.
Por mais que eu tentasse esquecer
que aquilo era um hospital eu não estava totalmente confortável, mas quem nesse
mundo se sente confortável em um hospital. Eu olhei no relógio e já era
23h13min.
Meu pai saiu do quarto para
atualizar todos de que eu estava bem e Fritz veio ficar comigo no lugar dele.
Ele entrou no quarto, fechou a
porta e ficou em pé enviando mensagens pelo celular.
- Fritz... – falei.
- sim? – falou ele olhando pra
mim.
- você faz um favor pra mim?
- o que? – falou ele se
aproximando de mim.
- se acontecer alguma coisa
comigo essa noite você pede para o Denny destruir meu computador?
- tudo bem eu falo, mas não vai
acontecer nada com você. Você já está melhor, sua respiração já está quase
100%, você só está rouco. Estamos aqui mesmo só por precaução, caso aconteça
algo estamos no lugar certo.
Meu pai entrou no quarto e disse
que todos desejaram melhoras e foram embora.
- vai ficar cicatriz? –
perguntei.
- na sua testa? – perguntou
Fritz.
- no meu pescoço – falei
apontando para os curativos.
- sim – falou ele – ele
pressionou forte seu pescoço suas unhas rasgaram seu pescoço, mas não via ser
nada muito grande.
- ele me marcou – falei. – agora
eu sou a vaca dele.
- vejo que seu senso de humor
voltou – falou meu pai.
- como ele está? – perguntei.
- pelo amor de deus Mike, pra que
você quer saber? – perguntou meu pai contrariado.
- só quero saber se ele morreu ou
está vivo.
- não sei e não quero saber, se
eu vê-lo eu não sei do que sou capaz de fazer.
- eu achei que a policia viria
até mim.
- e vai – falou Fritz. Eles
pegaram depoimentos de todos, agora eles estão falando com Charley e a família
dele, você será o próximo.
- eu quero descansar – falei –
estou morrendo de sono.
Logo alguém bateu na porta. Era a
polícia. Eles entraram no quarto e eu pedi para ficar sozinho com eles. Eu
contei o que tinha acontecido. Não contei sobre as filmagens é claro, mas
contei que ele tinha tentado me matar porque eu tentei terminar o namoro.
Depois de várias perguntas eles
foram embora e meu pai e Fritz entraram outra vez.
- como foi?
- foi bem pai.
- você sabe por que ele fez isso?
– perguntou meu pai.
- sim. Eu tentei terminar o
namoro, mas ele não aceitou e disse que se ele não ia me ter ninguém mais
teria, nem mesmo você.
- o que você sentiu enquanto ele
te enforcava? – perguntou meu pai. – eu sei que é maldade te perguntar, mas eu
queria saber como foi, você viu a luz no fim do túnel?
- não – respondi – só a
escuridão. Sem luz no fim do túnel. Mas eu só desmaiei pai, foi como dormir.
- OK – respondeu ele.
- pai, posso te pedir uma coisa?
- claro filho.
- pede para o Adam vir até aqui.
- tudo bem – falou meu pai saindo
do quarto. Em seguida Adam entrou.
- tudo bem campeão.
- estou sim – falei respirando
fundo e estendendo minha mão para que Adam a pegasse, mas ele não fez isso.
- Mike… - falou ele pensativo.
- o que foi? Se arrependeu da
noite passada?
- Mike, sei que não é a melhor
hora para dizer isso, mas eu acho que a partir de hoje nós devamos manter uma
relação de amizade.
- você se arrependeu.
- eu não me arrependi – falou
Adam.
- sim, você se arrependeu.
- não Mike. Arrependimento é
aquele sentimento que diz que se você tivesse a chance de voltar atrás você não
faria de novo. Se eu tivesse a chance de voltar no passado eu faria tudo outra
vez. Não estou arrependido, só acho que que alimentar suas esperanças é ruim.
Veja o que aconteceu com você. Seu namorado acabou de tentar te matar, tudo o que
você precisa é de um homem que possa estar ao seu lado e te de todo o carinho
possível. Eu tenho esposa e dois filhos. Não sou o homem para você.
- nove dias.
- o que? – perguntou Adam.
- levou nove dias para que eu me
apaixonasse por você até nós finalmente irmos para a cama juntos – falei com os
olhos cheios de água.
- sinto muito, mas eu não posso –
falou ele apertando os lábios e saindo do quarto.
Meu coração estava doendo muito,
mas era a verdade. Adam não era gay, tudo o que fizemos foi passar uma noite
juntos. Eu não queria ser como Charley. Não queria obrigar ninguém a me amar.
Logo que Adam saiu Fritz entrou
no quarto.
- Mike, quero falar uma coisa com
você – falou Fritz se aproximando.
- o que foi? Você parece chocado.
- não, é que o pai do Charley
quer conversar com você, mas se você não quiser eu entendo.
- tudo bem.
- tem certeza?
- tenho, só não deixe meu pai
saber.
- OK – falou ele siando da sala.
Aguardei por alguns segundos e em seguida a porta se abril. Era Jeremy. Ele
fechou a porta e veio ate mim.
- O que veio fazer aqui? Implorar
para que eu não dê queixa contra Charley?
- claro que não – falou ele se
aproximando e parando ao lado da minha cama – essa é uma escolha sua. Charley é
meu filho, mas o que ele fez foi errado. Não vou acobertar ele por isso.
- o que veio fazer aqui então?
- quero saber se você está bem? –
perguntou ele colocando sua mão no meu braço.
- estou sim.
- só quero que saiba que se
precisar de algo eu estou aqui. Você e seu pai.
- porque você se importa?
- pode ter sido uma noite como
qualquer outra pra você, mas a noite em que fizemos sexo foi a melhor noite da
minha vida. Não consigo tirar aquela noite da minha cabeça, não consigo tirar
você da minha cabeça.
Respirei fundo e não disse nada.
- olha, eu não sou como meu
filho. Sei que pode parecer errado, mas só quero que saiba que eu vou esperar
por você. Se algum dia você achar que devemos nos ver outra vez, eu estarei a
sua espera.
- obrigado – falei colocando
minha mão junto a dele e apertando.
- melhoras, espero que fiquei bem
– falou ele se abaixando e dando um selinho na minha boca.
- obrigado – falei outra vez.
Jeremy saiu do quarto me deixando
sozinho outra vez. Em seguida Fritz entrou no quarto.
- agora você vai descansar –
falou ele com um sorriso.
- vou sim – falei deitando de
lado.
Fritz disse que passaria a noite
com meu pai e eu poderia dormir tranquilo. Aquilo foi música para meus ouvidos.
Ele mal terminou de falar e eu me cobri e pedi que eles diminuíssem a luz para
que eu dormisse. Eu fechei os olhos e tudo o que tinha acontecido nas últimas
48 horas passaram em minha mente como um flash. À noite com Adam, a descoberta
do estupro, minha queda na escada e a tentativa de assassinato de Charley. Eu
pensei nisso tudo e me rendendo ao cansaço logo cai no sono.
Quando viram que eu apaguei eles
saíram do quarto devagar e foram para o corredor.
- não sei como te agradecer Fritz
– falou meu pai – eu sei que pode parecer precipitado, mas fique tranquilo,
pois eu te pagarei cada centavo.
- você não vai me pagar nada,
porque não me deve nada – falou Fritz.
- muito obrigado por salvar meu
filho.
- é o que eu vim ao mundo para fazer.
Ser médico é minha paixão e a cada vida que eu salvo eu sinto que minha vinda á
esse mundo tem um profundo sentido.
Bem que a paixão e a obsessão
poderiam entram em um acordo. Charley era obcecado por meu pai que por sua vez
não ligava. Eu era apaixonado por Adam que era casado e tinha acabado de me dar
o fora. Jeremy estava obcecado por mim e eu mal o conhecia. Porque será que só
queremos aquilo que não vamos ter?
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