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VERDADE DOÍ capítulo dezoito
E
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ra quarta-feira. Estava em casa desde o incidente e
já não aguentava mais ficar sem fazer nada, mas infelizmente meu pai não me
deixava levantar um dedo para fazer nada. O mínimo que podia fazer por ele
depois das coisas horríveis que pensei dele é obedecê-lo. Na quinta-feira quem
me visitou foi Gray. Ele chegou por volta dás 17:00 horas da tarde. Meu pai
ofereceu algo para comer e beber, e ele aceitou apenas algo para comer.
- como você está? – perguntou
Gray.
- estou ótimo.
- sabe, eu nem acredito que
aquilo aconteceu. Foi tudo tão rápido e inesperado. As vezes eu acho que tudo
não passou de um sonho.
- eu tenho vontade que seja.
Seria tudo mais fácil. – falei.
- com certeza. – respondeu Gray.
- e então, já estão treinando meu
substituto? – perguntei.
- que isso, seu lugar sempre
estará lá. Estamos nos virando, decidimos não colocar ninguém no seu lugar.
Preferimos ajudar uns aos outros.
- é bom saber que estou fazendo
falta assim não me preocupo em perder o emprego.
Gray deu uma risada.
- posso te perguntar uma coisa? –
falou Gray.
- claro.
- você viu Charley depois de tudo
o que aconteceu? Ele está no hospital, em casa, preso?
Me aproximei e comecei a falar
cochichando porque meu pai não aceitava eu nem tocar o nome dele.
- olha, pra te falar a verdade eu
não sei de nada. Meu pai não quer que eu toque no assunto e se eu pego o
telefone ele se senta ao meu lado pra saber com quem estou falando. Eu quero
saber sobre ele não por que eu gosto dele, mas sim pra ficar mais tranquilo,
ficarei mais calmo quando souber que ele não vai chegar perto de mim ou dele.
- Vou procurar saber algo e eu te
ligo avisando ok?
- obrigado – falei sorrindo.
Logo Gray se despediu e foi
embora e disse que na sexta iria comparecer ao jantar.
Denny logo chegou e por volta dás
19h00min começamos a assistir a um filme. Nós três. O filme era de animação e
ele conseguiu nos distrair por duas horas seguidas. O filme acabou e meu pai
ligou para o restaurante de comida japonesa.
Ele foi até o quarto pegar o
dinheiro e ficamos apenas eu e Denny.
- nossa eu sinto até uma coisa
ruim quando seu pai vai ao quarto sozinho. Eu fico pensando no que aconteceu
enquanto você estava desacordado. Ele quase comete uma besteira. – falou Denny.
- o que? Que besteira? –
perguntei confuso.
- você não sabe? – perguntou
Denny.
- não – respondi – me conta o que
meu pai fez?
Denny ficou calado. Ele estava
arrependido por ter tocado no assunto. Foi realmente uma mancada, mas eu estava
curioso e queria saber que besteira meu pai tinha feito.
- agora você me conta Denny.
- eu não devia ter tocado nesse
assunto.
- me conta agora – falei.
Ele ficou calado por uns
instantes.
- seu pai vai ficar chateado por
eu contar.
- não tem nada não, se não contar
sou eu que vou ficar chateado.
- tudo bem – falou ele. – é o
seguinte Mike. Quando seu pai viu você caído no chão sem respirar ele pensou
que você tinha morrido. Ele então... entrou no quarto dele...
- e o que? – perguntei.
Ele abriu o cofre e pegou a arma,
eu fui atrás dele e quando abri a porta ele estava com a arma apontada pra ele.
- meu pai ia se matar? –
perguntei sentindo meu coração disparar na hora.
- PAAAI! PAI! – gritei alto.
- o que foi? – perguntou ele
descendo as escadas.
- que história é essa pai? pode
se livrar dessa arma.
- da minha arma? porque?
- o Denny me disse que você ia se
matar quando pensou que eu estava morto.
Foi um silêncio total no
ambiente.
- eu não ia me matar – falou meu
pai.
- mas você estava com a arma
apontada para si mesmo – falou Denny.
- você entendeu errado Denny. Eu
não ia me matar eu ia matar Charley. Se meu filho ia morrer ele também iria
morrer, mas eu fico agradecido por você ter chegado e me derrubado antes que eu
fizesse uma besteira.
- assim eu fico mais tranquilo. –
falei.
- posso te perguntar uma coisa
agora filho?
- claro Pai.
- eu estava procurando a carteira
e esbarrei na minha cômoda e sem querer encontrei essa câmera minúscula.
Gelei quando ele falou isso. Eu
tinha me esquecido das câmeras. Esqueci-me de tirá-las.
- foi você que colocou? –
perguntou ele com a cara desconfiada.
- não pai, é que... eu achei
que...
- eu quero a verdade.
- eu pensei ter ouvido alguém
andando a noite e pensei que o senhor fosse sonambulo.
- deixa eu ver as filmagens –
falou ele.
- eu apaguei.
- porque? O intuito não era
saber?
- agora que eu lembrei, eu não
exclui, mas o computador está sem monitor eu ainda não comprei.
- não tem problema, mas quando
comprar o monitor eu quero ver, pra falar a verdade vou amanhã bem cedo comprar
um novo, eu até tinha me esquecido disso.
Ele se virou e foi para a
cozinha.
- eu estou tremendo – falei
mostrando a mão para Denny.
- Mike... eu estava pensando será
que não é melhor você falar a verdade?
- tá ficando maluco Denny? Eu
nunca vou contar isso pro meu pai. ele vai ficar arrasado.
- Mike se isso estivesse
acontecendo comigo eu gostaria de saber, se você não me contasse aos meus olhos
você apenas seria um cumplice.
O interfone tocou e meu pai foi
até a porta pegar a pizza.
- eu não posso fazer isso Denny.
Eu vou decepcioná-lo. Meu pai é um homem orgulhoso.
- você não pode ter certeza
disso. Ele pode ser mais forte do que você imagina.
- não sei.
- pensa nisso – falou Denny – seu
pai merece saber a verdade.
- eu não tenho coragem.
- verdade? – falou meu pai se
aproximando com a pizza na mão. – eu preciso saber a verdade sobre o que Mike?
- não é nada pai – falei forçando
um sorriso no rosto.
- você não me engana – falou meu
pai – se você não contar eu vou forçar seu amigo a falar.
Eu fiquei olhando para ele
colocando a pizza na mesa.
- você pode confiar em mim filho
– falou ele se sentando ao meu lado.
Eu respirei fundo, era agora ou
nunca.
- eu menti sobre as câmeras –
falei.
- como assim? Você queria me
ver... pelado?
- claro que não pai, pelo amor de
deus, que coisa o senhor pensa...
- ainda bem... que susto.
Eu me levantei e peguei as
câmeras da sala, a da cozinha e a outra câmera do quarto dele.
- pra que todas essas câmeras? –
pergunto meu pai.
- vou deixar vocês a vontade –
falou Denny saindo da sala e indo para a cozinha.
- e então filho, você mentiu
sobre o que?
- o motivo de eu ter colocado
essas câmeras.
- e qual foi?
Ele fiquei calado. Eu pensava em
falar, mas não saia voz e antes que eu percebesse caiu uma lágrima do meu rosto
e o que eu disse em seguida saiu mais como um pedido de desculpas do que uma
confissão.
- me perdoa pai. – falei.
- pelo que?
Eu me ajoelhei no chão e fechei
os olhos escorrendo lágrimas.
- me perdoa – falei entre
soluços.
- levanta filho – falou ele ficando
de pé e tentando fazer eu me levantar. – está partindo meu coração ver você
assim. Fala o que aconteceu.
Eu me forcei a ficar no chão e
ele tentava me levantar.
- me deixa pai – falei.
- me conta o que aconteceu? –
perguntou ele nervoso e preocupado.
- o Charley te drogou e te
estuprou. – falei de uma vez sentindo meu coração parar e meu cérebro congelar.
A expressão do meu pai foi de
partir o coração de qualquer um. Ele simplesmente parou de se mover e seus
olhos viajaram distantes e eu percebi que a ficha tinha caído.
- me perdoa pai – falei me
abaixando e deitando a cabeça nos pés dele. – toda vez que vocês bebiam ele colocava
drogas na sua bebida e logo te levava pra cima e transava com você.
- mas, como... eu não acordei...
- a culpa foi minha – falei – foi
por isso que ele tentou me matar, eu disse que contaria tudo. Ele é apaixonado
pro você pai. Ele tentou me matar para que vocês pudessem ficar juntos.
Ele não dizia nada. Pelo menos eu
não entendia, ele estava confuso.
- a culpa foi minha pai, foi eu
que trouxe esse homem pra nossa casa. O que aconteceu com você é culpa minha. –
falei colocando as duas mão no meu coração e pedindo perdão para ele.
- se levanta – falou ele.
- me perdoa.
- SE LEVANTA AGORA! – gritou.
Eu me assustei e me levantei. Eu fechei os olhos
ainda em prantos e esperei ser expulso ou levar uma surra, mas o que eu senti
foram os braços do meu pai em volta de mim.
- a culpa não foi sua – falou ele
me abraçando. – eu estou aqui filho, não chora mais.
- a culpa foi minha – falei
abraçando ele.
Ele beijou meu rosto e continuou
abraçado comigo.
- a culpa não foi de ninguém além
de Charley.
Eu o apertei e me senti
confortável em seus braços. Era como se todo o medo do mundo fosse embora.
- você não está arrependido
agora? De ter me adotado? Se não fosse por mim...
- cala a boca – falou ele. – se
disser mais uma palavra eu te bato até sair sangue, já te falei que não me
arrependo de ter te adotado, você foi a maior alegria que eu tive na vida. Eu e
sua mãe fomos muito felizes ao seu lado e você continua sendo o anjo dos meus
olhos filho.
Abraçado ao meu pai eu chorei
tudo o que tinha. Tudo o que sofri, tudo o que se passou na semana foi se
acumulando dentro de mim e era como se eu tivesse tirando um peso de cima de
mim.
Meu pai se sentou no sofá e eu
sentei ao lado dele. Eu não tinha coragem de olhá-lo nos olhos.
- dorme com o pai igual quando
você era criança.
Ele me puxou e me fez deitar a
cabeça no peito dele. eu fechei os olhos e dormi rapidamente. Eu me sentia
melhor por ter contado tudo e finalmente dormi sem os pesadelos que me
assombravam desde que eu tinha assistido as filmagens.
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