UMA MENTIRA PERFEITA capítulo três
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evantei-me para tomar um copo de água, quinze
minutos depois de estar sentado. Minha bunda doía. Voltei mais uma vez para o
sofá para escrever mais algumas linhas. Escrevi por alguns minutos, mas logo
fui incomodado com alguém na minha porta.
- não acredito que Bart deixou
alguém subir direto. – falei me levantando.
era só dar um pouco de intimidade
e logo eles começavam a fazer coisa errada – falei indo até a porta. Olhei pelo
olho mágico e era um homem de boné. – o que você quer?
- o senhor Adam White fez uma
encomenda – falou ele.
Eu abri a porta rapidamente e
logo tive uma surpresa. Era um buque de flores e uma caixa pequena lacrada.
Peguei ele no pulo.
- Desculpe o incomodo, mas o Sr.
White deu o endereço da “Partners Company” para entrega, mas eu fui até lá e
ele não estava. A recepcionista do prédio me disse que ele havia acabado de
sair. Meu chefe ligou no celular dele, mas não conseguiu falar com ele. Como
ele já havia feito uma encomenda com a gente a alguns meses meu chefe disse
para entregar no último endereço em que ele fez pedido. Presumo que esse seja o
apartamento dele?
- presumiu certo.
- o senhor é?
- meu nome é Mickey, o Sr. White
é meu…
- eu me lembro de você. Ele é seu
parceiro, certo?
- culpado – falei pegando o
comprovante de entrega e assinando.
- no final das contas acabei
entregando no local certo, espero não ter estragado a surpresa.
- acredito, eu estou surpreso –
falei entregando o papel e em seguida pegando o buquê e o presente – muito
obrigado.
Eu fechei a porta e fui até a
mesa da sala e coloquei em cima. Acompanhando o Junto com tudo havia um
envelope branco com enfeites dourados. Infelizmente estava lacrado.
- olha só – falei sentindo o
cheiro das flores – Marisol vai adorar esses presentes – falei sentindo um
arrepio na espinha.
Me senti mal por um instante e
desejei não ter acabado tudo com Teddy. Por mais que eu fingisse não me
importar, por dentro eu sabia que aquilo me destruía.
- aposto que hoje Adam “trabalha
até mais tarde” – falei sarcástico – ele vai sair do trabalho, ir até a loja
perguntar porque sua encomenda não foi feita e “boom”. Ele descobre que sua
encomenda veio parar no último lugar onde devia.
Eu me afastei da mesa e olhei de
longe. O buque era formado por flores vermelhas com enormes folhas verdes.
- essa Marisol tem um péssimo
gosto. Sério? Tulipas?
Decidi ligar no celular de Adam e
perguntar como vai seu dia. Vou dizer que lamento por ele trabalhar no sábado e
que um belo jantar estará esperando por ele.
Peguei meu celular e chamei pelo
nome de Adam. O telefone tocou até cair. Mais uma vez chamei por seu nome, mas
dessa vez o celular chamou duas vezes e eu fui redirecionado para a caixa de
mensagens.
- desgraçado – falei jogando o
celular no sofá – recusou minha ligação.
Eu me aproximei da mesa e peguei a
caixa na mão.
- É provavelmente um anel – falei
sacodindo a caixa.
Eu realmente não sabia o que
fazer. Eu não queria sair por baixo, mas por outro lado me doía muito saber que
estava prestes a ter uma grande briga com Adam. Apesar de tudo o que mais me doí
é saber que nosso casamento está no fim. Como chegamos a esse ponto?
Peguei um dos enfeites de vidro
em cima da mesa e olhei bem perto do rosto. Minha mão tremeu e eu respirei
fundo antes de jogá-lo contra a parede. Em seguida fui até o quarto e peguei em
baixo da cama o taco de beisebol usado para espantar os intrusos. Fui até a
sala e me ajeitei em frente a mesa e o levantei arremessando contra a mesa.
Cacos voaram para todos os lados.
Usei a força do taco e apenas me virei quebrando as taças que ficavam na
estante próximo a mesa. Pulei em cima do sofá e quebrei a tela da televisão que
ficava na sala. Em seguida pulei em cima da mesa de centro. Ela se quebrou com
meu peso. Eu cai no chão machucado. Peguei um dos pedaços de vidro e passei em
meus pulsos. Não porque queria morrer, mas porque queria que a dor que sentia
dentro de mim acabasse. Fiquei deitado no chão agora coberto de sangue.
Levei um susto quando o interfone
tocou. Eu respirei fundo e coloquei o enfeite de vidro de volta em cima da
mesa. Fui até ele e atendi. Adam me transformou em um monstro
- alô.
- senhor Fabray.
- eu mesmo.
- eu só estou fazendo um teste no
interfone. Agora a pouco tentei ligar para seu apartamento, mas não chamou.
Espero que não tenha se importado por eu ter deixado ele subir. Achei que não
devia manda-lo embora levando em consideração o que ele tinha em suas mãos.
- não, tudo bem – falei tentando
me acalmar – essa ligação pode ter salvado minha vida. – obrigado Bart.
- por nada – falou ele
desligando.
Eu precisava sair daquele
apartamento. Peguei minha carteira e desci de elevador até a entrada. Ia passar
direto pela recepção, mas Bart falou comigo.
- vai dar uma volta?
Eu parei e olhei para ele pronto
para dar uma má resposta, mas por um momento pensei no Mike do passado. Não
podia simplesmente desabar todos os meus problemas e frustrações nele. Ao invés
disso forcei um sorriso.
- vou sim, quer dizer… eu não sei
bem onde vou.
- não sabe onde ir? Posso te dar
algumas dicas – falou ele pegando um caderno – onde quer ir? academia?
lanchonete?
- Não é isso – falei me
aproximando dele… - eu hesitei um pouco antes de dizer – Bart…
- sim senhor.
- você pode guardar um segredo?
- nada do que acontece enquanto
estou no horário de trabalho sai dessa pequena sala onde estou.
- ok – falei me aproximando.
- o que foi? – perguntou ele
curioso – vai comprar um presente para retribuir a gentileza do Sr. White? –
falou Bart. Não tinha percebido antes, mas Bart é claramente gay. Você pode se
surpreender com o que pode descobrir quando se tira um instante do seu dia para
dar atenção aquela pessoa que você não conversa muito.
- Bart, posso ser sincero com
você?
- pode – falou ele sorrindo.
- aquela encomenda não era pra
mim.
- como assim? – perguntou ele
sorrindo.
Eu não respondo, mas eu vi que o
sorriso dele foi desaparecendo.
- oh meu deus! – falou Bart – eu
não devia ter deixado ele subir – falou ele parecendo realmente preocupado –
sinto muito Sr. Fabray não queria destruir seu casamento.
- se acalme Bart, você não
destruiu. Nós já estamos quebrados a muito tempo.
- sinto muito por você – falou
Bart solidário.
- não sinta Bart.
- tem certeza que está bem?
- estou. Eu só precisava contar
isso para alguém.
- esper4o não ser demitido.
- não vai! Porque seria?
- quando o Sr. White descobrir
que eu deixei o entregador subir sem te ligar ele vai ficar uma fera. A corda
sempre arrebenta do lado mais fraco. Ele vai colocar a culpa em mim.
- não se preocupe com isso Bart,
eu não vou deixar nada acontecer com você ok?
- ok – falou ele respirando
fundo.
- você tem namorado Bart? Estou
supondo que você é gay…
- Tenho. Estamos juntos a três
anos.
- vocês são felizes juntos?
- com certeza.
- posso te dar um conselho? Não
se case! O casamento é o caminho mais curto e doloroso para separar quem se
ama. Acredite em mim: Eu sei.
- nossa Sr. Fabray.
- me chame de Mike.
- Mike, não sabia que vocês eram
tão infelizes. Vocês parecem outra coisa. Me atrevo a dizer que vocês dois eram
minha inspiração. Meu sonho era que um dia eu e meu namorado pudéssemos nos casar
e ser que nem vocês dois.
- agora que descobriu é melhor
desfazer esse desejo.
- mesmo assim eu continuo
torcendo por vocês.
- obrigado – falei me afastando –
tenho que ir agora.
Já descobriu onde vai?
- sim. Comprar um novo urso Teddy
– falei colocando meus óculos escuros e seguindo meu caminho. Sai andando até a
praia. A uma hora dessas ela deve estar lotada. No caminho peguei um jornal em
cima do banco na praça e comecei a ler a caminho da praia. Havia várias
noticias, mas uma que me chamou a atenção foi o assassinato de várias mulheres.
Alguns casos parecidos ocorriam em todo o pais. A policia desconfiava de um
assassino em série.
Eu estava lendo a noticia e não
percebi que estava quase no meio da rua. Um carro buzinou me assustando e eu
levei um grande susto. Como reflexo larguei o jornal e peguei uma pedra no chão
e atirei na direção do carro. Pegou em cheio no vidro traseiro que quebrou em
um enorme estrondo.
- o que eu fiz? – falei me
arrependendo de jogar a pedra no momento em que ao a joguei.
O carro deu uma freada brusca na
hora. Me preparei para correr, mas desisti.
- que droga – falei alto. Quando
se está tendo um dia ruim tudo acontece contra você.
O homem no carro não deu ré, mas
desceu do carro.
- seu filho de uma… você quebrou
a janela do meu carro – falou ele se aproximando.
- sinto muito, eu não queria…
- você está ficando louco? E se
tivesse alguém no banco de trás? – falou o homem chegando bem perto. As pessoas
correram na nossa direção com medo de uma briga acontecer.
- sinto muito, eu pago por tudo.
Quando disse isso senti que o
homem se tranquilizou um pouco.
- vai mesmo – falou ele.
- sinto muito mesmo, não sei o
que estava pensando.
- eu tirar o meu carro do meio da
rua, não se mova – falou ele.
- vou ficar aqui.
O homem foi até o carro e deu rá
estacionando ele próximo de onde estávamos. Como as pessoas perceberam que nada
de mais aconteceria elas logo se dispersaram.
Ele saiu do carro e eu me
aproximei dele em cima da calçada.
- e então? Como pretende pagar
pelo prejuízo?
- não se preocupe com isso, estou
disposto a pagar por tudo – falei pegando minha carteira – vamos agora a um
caixa eletrônico e eu te dou o dinheiro.
- mas agora? Não vai esperar eu
levar em uma oficina para avaliar os danos?
- não. Não quero mais causar
problemas – falei andando em direção a um banco.
- olha – falou o homem chamando
minha atenção – você parece ser um cara legal. Estou vendo que está disposto a
pagar pelos danos.
- vou pagar por tudo.
- me desculpa por ter te
assustado, mas você estava no meio da rua.
- está vendo só? Eu sou mais
culpado ainda.
- quer saber? Não precisa pagar.
- que isso, eu faço questão.
- não precisa. Ao meu ver o
pagamento é apenas uma punição pelo o que você fez e me parece que você está
arrependido de verdade.
- eu não posso fazer isso…
- não vamos mais falar sobre
isso.
- tem certeza?
- claro.
- se estiver tudo bem pra você.
- estou sim.
- bom… vou indo.
- qual seu nome?
- Mickey Fabray, mas pode me
chamar de Mike – falei apertando a mão dele – seu nome…
- Hugo, Hugo McDonall – falou ele
apertando minha mão mais forte – eu sinto que te conheço de algum lugar – falou
ele forçando a memória.
- acho que não – falei tentando
evitar que ele se lembrasse de mim.
- tem certeza? Lembro-me de ter
visto uma foto sua…
- bom, talvez tenha me visto na
televisão.
- bom, disso eu duvido.
- porque?
- eu não assisto TV ou em
computador.
- porque?
- eu nasci e fui criado em uma
comunidade Amish na Pensilvânia. Quando fiz dezesseis anos eu decidi sair da
comunidade.
- você não quis ficar com sua
família?
- não pude. Eu simplesmente não
servia praquele mundo.
- mas você dirige um carro.
- eu sei. Eu decidi não deixar
todos os costumes. Eu sei como é difícil viver no mundo de hoje sem tecnologia,
mas eu consigo viver sem televisão e computador.
- bom, então certamente você não
em viu.
- porque você estaria na TV? É
famoso?
- é… eu… dei uma entrevista uma
vez.
- ok – falou ele rindo.
- então… foi bom te conhecer Hugo
quer dizer… não foi bom te conhecer desse jeito.
- olha Mike, vou te dar meu
cartão – falou ele tirando um cartão de apresentação e me entregando.
HUGO MCDONALL – CORRETOR
IMOBILIÁRIO
- você é corretor?
- sim – falou ele.
- sabe… eu pretendo vender meu
apartamento e comprar um em breve, você poderia ser meu corretor.
- sério?
- sim.
- Puxa vida. Onde você mora? Não
estamos muito longe. Alguns quilômetros daqui.
- eu posso ir lá agora e dar uma
olhada.
Meu coração bateu forte
- olha, eu queria muito, mas é
que estou atrasado por um compromisso.
- não tem problema. Quando você
tiver tempo é só me ligar e eu dou uma passada no seu apartamento.
- combinado.
- Mike, foi um prazer – falou ele
apertando minha mão.
- igualmente.
Esperei ele entrar no carro e
assim que ele desapareceu no horizonte eu dei meia volta para meu apartamento.
Que loucura eu iria cometer. Acabei de me livrar de Teddy e estava indo outra
vez trair Adam. Eu não queria mais me sujar enquanto estiver casado com ele.
Após a finalização do divórcio sou um homem livre. E que os Teddys de todo
mundo me aguardem.
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