NOITE DO TÊNIS capítulo dezesseis
RAY
Não podia deixar de Olhava para o telefone sem
piscar. A cada segundo meu coração batia mais forte esperando pela ligação.
Minhas pernas tremiam e eu não conseguia conter a ansiedade. Apenas disso não
conseguia nem levantar para fumar um cigarro.
- você está bem Ray? – perguntou
um dos namorados do meu filho.
- estou – respondi secamente. Não
podia evitar de pensar que a culpa fosse dele. Se ele não tivesse ido dormir
talvez Mike estivesse aqui e agora. Meu filho fez algo nobre. Os filhos de Adam
estavam sãos e salvos enquanto o meu estava desaparecido a quatro dias. Tudo o
que recebemos foi uma ligação mandando não envolver a polícia.
É claro que todos queriam, mas o
filho é meu e não vou correr riscos com ele. Estava hospedado na casa de Larry
assim como minha esposa. Meu sogro e meu irmão ficaram em Nova Orleans cuidando
dos negócios.
- eles vão ligar outras vez –
falou Larry.
- espero que estejam machucando-o
– falou Abby com os olhos vermelhos. Todos estavam cansados de tudo isso.
Esperamos o dia todo por uma
ligação, mas a ligação não aconteceu. Foi ficando cada vez mais tarde e Adam
começou a insistir para que envolvêssemos a policia.
- tem certeza que vocês não
querem envolver a policia?
- claro que temos – falou Larry e
eu concordei sem dizer uma palavra.
- eu sei que o certo é dizer o
que está acontecendo, mas também não quero que eles façam algo de mal com Mike
– falou Cooper.
- tudo bem – concordou Adam.
Por volta dás cinco da tarde o
carteiro trouxe uma encomenda para Mike. Adam estava lá fora e recebeu
trazendo-a.
- o que é isso? – perguntei me
levantando.
- chegou uma encomenda para o
Mike – falou Adam jogando em cima do sofá.
Eu voltei a me sentar e ia até a
cozinha tomar água quando Larry disse.
- porque uma encomenda para Mike
viria para cá? – perguntou Larry.
Voltei imediatamente e antes que
pegasse a encomenda vi o sofá manchado de vermelho.
- está saindo sangue – falei
pegando a encomenda em cima do sofá e colocando em cima da mesa.
Larry foi até a cozinha e pegou
uma faca e assim que abrimos quase não acreditamos.
- meu deus – falou Adam vomitando
no chão.
Abby abraçou Vanessa e as duas
começaram a chorar.
- isso são… - falou Cooper se
aproximando.
- dedos – falei pegando um pano e
tirando-os de dentro da caixa. Estava acostumado a ver sangue devido ao açougue
e acabei perdendo a sensibilidade quanto a isso.
- eu não quero mais saber, vou
ligar agora paras a policia – falou Adam limpando a boca.
- claro que não – falei nervoso –
eles arrancaram um dedo do meu filho, o que vocês acham que eles vão fazer se
descobrirem que fomos a policia?
- vamos ficar calmos – falou Cooper
tentando acalmar a todos – Agora que eles enviaram uma parte de Mike para nos
amedrontar podemos esperar a ligação com o valor.
- tudo bem – falou Abby
respirando fundo – Cooper está certo.
- só fico imaginando a dor que
ele deve ter sentido ao arrancarem o dedo.
Enquanto todos conversavam peguei
os dedos, coloquei em um saco plástico e coloquei no congelador. Talvez ainda
pudessem recolocar. Foi voltando á sala que percebi que havia uma carta junto a
encomenda.
“DEDOS AMPUTADOS PODEM SER RELIGADOS CIRURGICAMENTE
EM ATÉ 12 HORAS. VOCÊ TEM SEIS HORAS PARA CONSEGUIR 10 MILHÕES. SE O DINHEIRO
NÃO FOR DEIXADO NO LOCAL A PRÓXIMA VEZ QUE RECEBER UMA ENCOMENDA SERÁ UMA
CABEÇA.”
Virei a folha e havia mais.
“O DINHEIRO DEVE SER DEIXADO A MEIA NOITE DE HOJE
NO ESTACIONAMENTO DO PRÉDIO EM CONSTRUÇÃO NA AVENIDA BROADWAY DENTRO DE UM
LATÃO PRETO. MIKE SERÁ DEIXADO LÁ EM SEGUIDA.”
Corri para a sala imediatamente.
- eles não vão ligar.
- como você sabe? – perguntou
Larry.
- eles enviaram uma carta junto
com os dedos. Dizem que temos seis horas para conseguir 8 milhões ou então da
próxima vez vão enviar a cabeça.
- meu deus – falou Abby voltando
a chorar.
- onde vamos arranjar dez milhões?
– falou Larry aflito começando a chorar.
- não sei. Eles disseram que o
dinheiro deve ser deixado a meia noite no estacionamento do prédio em
construção na avenida Broadway.
- vamos ter que pedir a todos que
conhecem Mike – falou Adam. Eles sabe quem Mike tem contatos e esperam que
peçamos.
- pra quem podemos pedir? –
perguntei.
- podemos juntar tudo o que temos
e eu cuido disso. Tem alguns amigos que podem ajudar.
- tudo bem então – falei ficando
mais calmo – talvez não esteja tudo fudido. Podemos conseguir o dinheiro.
- vou ligar para meu amigo e
ex-sócio Freddy e ver se consigo alguma quantia com ele.
STEPHEN
Era uma tarde refrescante de
sábado. Estava deitado tranquilamente na cama lendo um livro quando meu
telefone celular tocou. Um número desconhecido.
- pois não?
- Stephen? É o Adam.
- Adam? A que devo a honra?
Pensei que me odiasse.
- está acontecendo algo com Mike.
- ele está bem? – perguntei
preocupado.
- Essa linha é segura?
- Claro. Fique tranquilo.
- Mike foi sequestrado.
- Se-sequestrado? – perguntei
levantando da cama em um pulo. Meu coração palpitou – como assim? Que dia?
Como?
- acabamos de receber pelos
correios dois dedos do Mike. Eles cortaram e nos enviaram com um bilhete. Eles
querem o dinheiro hoje ou então a próxima coisa que vão enviar é a cabeça.
- nem sei o que dizer – falei
sentindo um aperto no coração.
- eu não sei o que fazer. Estou
desesperado. Todo mundo vai tentar conseguir um pouco e ver se conseguimos todo
o dinheiro eu sei que não devia ter te ligado afinal…
- não diga mais nada – falei abrindo
o guarda-roupas e procurando uma calça jeans e uma camisa – podem ficar
tranquilos, eu consigo os dez milhões em três horas.
- sério? – perguntou Adam.
- sim – falei respirando fundo.
- tem certeza?
- tenho.
- nem sei o que dizer Stephen.
- não diga. Vou desligar, pegar o
dinheiro e encontro vocês em San Diego em três horas.
- muito obrigado Stephen. Seremos
todos eternamente gratos.
Desliguei o telefone e encarei o
guarda-roupas. Eu tinha duas escolhas: Deixar Mike morrer ou pegar dez milhões
que foram investidos na minha campanha e salvá-lo. Com isso eu teria que
desistir da candidatura. Não pensei muito afinal devia uma a ele desde que havia
enganado ele. Era o certo a fazer e eu não tinha dúvidas do que ia fazer. Vesti
minha roupa e sai em direção ao banco. Teria uma longa conversa com meu chefe
de campanha no caminho.
ADAM
Desliguei o telefone e corri de
volta para a sala.
- Pessoal não precisamos mais nos
preocupar.
- porque? – perguntou Ray vindo
lá de fora.
- conversei com Stephen e ele
disse que consegue os dez milhões.
- sério? – perguntou Ray vindo em
direção a mim e me dando um abraço. Eu o abracei forte.
- graças a deus – falou Vanessa.
- ainda bem – falou Abby
abraçando Ray.
Cooper veio em minha direção e me
deu um selinho e um abraço.
- eu te amo sabia? – falou Cooper.
Era a primeira vez que ele me dizia isso. Nunca tínhamos tido intimidade com
Mike longe de nós.
- também te amo cara – falei
abraçando ele outra vez.
- em breve Mike vai estar aqui
conosco – falou Cooper com um enorme sorriso.
- você falou com seu amigo?
- sim, mas não adiantou muito.
Freddy disse que depois que teve que comprar minha parte ficou no vermelho.
- ainda bem que Stephen tem o
dinheiro. Eu venderia tudo o que tenho para conseguir – falei me sentando no
sofá – amo demais Mike e não estou pronto para perde-lo.
- não vamos perde-lo – falou Cooper
se sentando ao meu lado.
- sei que não – falou Adam.
- vou dar uma volta – falou Cooper–
tentar refrescar a cabeça.
- vou até meu apartamento, talvez
passar na empresa – falou Adam se levantando.
- onde está Keith? – perguntou
Abby para Ray.
- não sei. Ele não disse onde ia,
só disse que ia esfriar um pouco a cabeça – falou Ray – ele está desaparecido a
horas.
- espero que ele volte.
- vou procura-lo – falou Ray
dando um beijo em Abby. Ele olhou no relógio e o mesmo marcava quase seis da
tarde.
Abby olhou para meus pés e depois
olhou para mim.
- Adam seu tênis é igual ao de
Ray.
- é verdade – falei reparando nos
pés dele – Cooper também tem um igual. Lá em casa sempre confundimos.
- deve estar na moda – falou Ray
– meu filho Keith comprou um igual semana passada.
- então é isso – falou Larry –
vamos todos relaxar um pouco, apesar de ser difícil. Vou contar os minutos até
meia noite. Vamos pensar positivo e aguardar por Stephen.
- pelo que disse vai chegar aqui
em San Diego por volta dás nove horas.
Então Cooper foi dar uma volta,
Ray foi procurar o outro filho e eu fui até o meu apartamento, mas ia passar em
um lugar primeiro.
MIKE
E
|
stava deitado no chão de uma sala empoeirada. Um
pano estava enrolado em minha mão e estava sujo de sangue e poeira. Já nem
sentia mais a dor. Teddy havia me dado o dobro de analgésicos e sempre que os
amigos saiam ele ficava comigo e cuidava de mim. Por mais que eu perguntasse
ele não conversava comigo. Ele não em respondia. Ele também não tirava a
máscara apesar de nós dois sabermos que eu já sabia que mele era.
Dormi um pouco deitado em um
colchonete no chão. Estava chegando a hora da troca. Não sabia exatamente
quantas horas eram, mas sabia que a hora estava chegando porque o chão estava
frio e lá de fora estava escuro.
Ouvi uma conversa do lado de
fora. Geralmente todos ficavam conversando conversa fora, assistindo uma
pequena TV. Eles jogavam, bebiam e fumavam enquanto eu estava na pior, mas
dessa vez algo me chamou a atenção.
Me arrastei para perto da porta e
olhei por baixo. Não havia mais oito pernas e sim dez. Havia outro homem. O seu
tênis me chamou a atenção. Eu já o tinha visto em algum lugar.
- já são quase dez – falou a voz.
Eles estavam um pouco longe e falavam baixo então não reconheci.
Levei um susto quando os passos
vieram em direção a porta. Eu rastejei de volta para o colchão. A porta de
ferro se abriu e a fraca luz foi acesa.
O homem com o tênis conhecido
entrou com um capuz preto com buraco nos olhos e boca entrou. Ele não disse
nada e apenas se ajoelhou ao meu lado.
- não me machuque.
Ele não disse nada e simplesmente
tirou a mascara. Fechei meus olhos antes que pudesse vê-lo. Eu já tinha
assistido a filmes de sequestro. Quando o sequestrador mostra sua cara
significa que você vai morrer, independentemente se o resgate for pago ou não.
- abre os olhos – disse ele.
Reconheci a voz e abri na hora.
Tremi meu corpo de raiva. Ele era o mandante, Teddy era um mero capanga. Eu
precisava de um plano porque a meia noite quando o dinheiro fosse entregue eu
seria morto, agora que sabia quem era o verdadeiro sequestrador. Cuspi na cara
dele e ele pegou na minha mão com os dedos cortados e apertou. Ele se levantou
sem dizer nada e chutou meu rosto me fazendo cair deitado. Como se não bastasse ele ainda pisou em cima
da minha mão com os dedos cortados. Eu chorei e comecei a implorar para que ele
tirasse a pé.
- por favor por favor… – falei
sentindo minhas pernas tremerem. A dor era tanta que eu acabei mijando na roupa
que já não estava tão limpa.
Ele olhou para minhas calças e
tirou o pé. Eu puxei meu braço e usei para me abraçar. Estava doendo muito e as
lágrimas corriam por meu rosto. Era um choro silencioso.
Quando pensei que ele ia embora
ele desabotoou a calça e mijou em mim. tentei desviar, mas tudo o que pude fazer
foi me virar para a parede sentindo a água quente nas minhas costas e no meu
rosto.
Ouvi a porta de ferro se fechando
atrás de mim. Estava chegando minha hora. Fechei os olhos e comecei a rezar.
Pedi perdão a deus por tudo o que tinha feito de errado em minha vida, pedi
perdão pelas vezes que fui mesquinho e machuquei as pessoas com minhas
palavras. Pedi perdão pelas vezes que fiquei com raiva por pequenas coisas e
perdi o controle por bobeira e principalmente: Pedi que ele cuidasse das
pessoas que ficariam. O que eu não daria para estar com as pessoas que e amo.
Porque não mudei? Porque não fui para a África quando tive a chance? Agora esta
ali deitado naquele chão frio sofrendo como um cachorro abandonado.
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