MINHA SEGUNDA CHANCE capítulo vinte
O
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filme estava
chato como sempre. Era assim que eles queriam nos entreter? Estávamos lá contra
nossa vontade. Pelo menos a maioria. E eles colocavam o filme mais censurado do
planeta. Estava morto de cansado. A sala começava a ficar vazia. Os enfermeiros
e ajudantes já nem ligavam mais se ficávamos ou não assistindo porque até eles
sabiam que era uma perda de tempo assistir a tal coisa.
Estava cochilando e quase cai da
cadeira quando me recompus. Notei que o tal Richard que havia encontrado hoje
de manhã no pátio me olhava. Seu olhar meio assustador, ele era um monstro de
homem, seus braços eram enormes de fortes e tinha medo de que ele me fizesse
algo afinal ele havia meio que me ameaçado.
De repente as luzes se apagaram.
Por alguns segundos a escuridão prevaleceu, mas em seguida a força voltou.
Que decepção. Bem que ela podia
não voltar. Decidi que não ficaria lá contra minha vontade. Me levantei e sai
da sala enquanto o filme era colocado novamente. Já estava preso lá, não
precisava fazer o que não queria.
Sai da sala e segui pelo corredor
até o meu dormitório. Graças a deus ficávamos todos em quartos separados. Não
gostaria de dividir com ninguém. No meio do caminho as luzes piscaram e mais
uma vez a força acabou.
- que merda – falei parando de
andar. Esperei alguns segundos e novamente as luzes voltaram. Levei um susto
porque Richard caminhava em minha direção.
- você está bem? – perguntou ele
ao longe.
- sim – falei dando dois passos.
- me espera – falou ele vindo até
mim.
- OK – falei parando e olhando para
os lados.
Ele andou rapidamente em minha
direção e ao se aproximar de mim tentei puxar conversa.
- que loucura essa noite né?
Ao invés de me responder ele me
empurrou na parede.
- você abriu a boca né?
- o que?
- como eles sabiam que eu tinha
drogas?
- drogas? Não sei do que está
falando
- é… - falou ele parando e
pensando. Notei que sua mão tremia. Ele estava na abstinência.
- vai com calma amigão – falei
tentando ser amigável.
- não interessa o que eram –
falou ele me dando um soco. Por sorte fui mais rápido e me abaixei. Ele
esmurrou a parede. Aproveitei enquanto ele se recuperava da dor e me levantei
correndo. Para minha sorte encontrei um alarme para incêndio.
-
droga, droga, droga – falei olhando para trás. Ele corria atrás de mim.
Antes que ele pudesse chegar até
mim dei um murro no vidro e apesar da dor apertei o botão. O alarme soou e
nesse momento os corredores se encheram de internos e funcionários. Com a mão
sangrando eu andei no meio da multidão que se direcionava até lá fora. Era a
primeira vez que iria até a rua em pouco mais de um mês.
Mais alguns passos e eu estaria
na rua com todos. Depois de virar outro corredor sai pela enorme porta que viva
trancada. Todos atravessamos o pátio e saímos até as ruas. As ruas estavam
molhadas da chuva e o clima estava frio. As luzes do carro do corpo de
bombeiros brilharam ao longe.
Minha mão doía um pouco, mas era
melhor assim. Não sei se aguentaria lutar com o brutamontes. Os carros pararam
em frente e a policia nos cercou. Eles pediram que nos afastássemos para que os
bombeiros fizessem seu trabalho.
- você está sangrando – falou um
dos bombeiros saindo do carro.
- estou bem – falei mostrando a
mão.
- cuidem dele – falou o bombeiro
chamando por um paramédico. A minha mão sangrava bastante. Precisaria de alguns
pontos.
Fui levado até uma das ambulâncias
onde um homem cuidou de mim. Não demorou
para que os bombeiros saíssem de dentro anunciando que estava tudo bem. Não
havia fogo. Eles vieram até mim, acompanhados do diretor.
- puta merda – falei sentindo a
dor de verdade – eu posso explicar – falei me levantando.
- sente-se por favor – falou o
paramédico terminando de dar os pontos.
- sabia que era um erro te
aceitar nessa instituição.
- senhor diretor, eu te respeito
e sei que… - antes que dissesse a próxima palavra, as coisas se explicariam por
si só. Houve uma certa gritaria e assim que o diretor olhou para trás viu
Richard se debatendo. Dois policiais tentavam segurá-lo.
- eu vou te matar! – gritou ele
tentando vir para cima de mim – desgraçado.
- por isso ativei o alarme. Se
não tivesse feito eu nem sei o que teria acontecido comigo.
O diretor deu uma última olhada e
mim e foi até os policiais. Havia me livrado dessa. O diretor conversou com os
policias e ele o levaram de volta para dentro da instituição. Respirei fundo e
tremi as pernas. Seria difícil aguentar os próximos três meses vivendo sob o
mesmo teto que esse louco.
Não bastou três segundos para que
tivesse uma ideia.
- será que você podia me
emprestar o celular? Gostaria de ligar para um amigo e dizer o que aconteceu.
- claro – falou o paramédico me
entregando o celular – disquei o número de Roman. Era minha chance de sair
daquele lugar.
Levou uma horas para que ele
chegasse até a clínica. Estávamos todos de fora aguardando a liberação. Levaria
pelo menos mais trinta minutos até que finalmente pudéssemos entrar. Não sei
porque tanta burocracia.
- boa noite – falou Roman
cumprimentando o policial que estava de olho em mim. Estava enrolado em um
cobertor que os bombeiros me deram. Estava realmente frio.
- como você está? – perguntou
Roman se sentando ao meu lado.
- estou bem.
- ele te machucou?
- ainda bem que não. Graças a
mim.
- o que você quer? você não quis
falar na ligação.
- tem pelo menos vinte
testemunhas que viram um dos internados na clinica me ameaçar de morte. Eu
tenho uma mão cortada e um corpo de bombeiros que foi ativado por minha causa.
Será que não tem como se aproveitar disso?
- você quer sair daqui?
- posso estudar essa
possibilidade. Devido a sua atitude, mostra que você está mais do que ciente de
suas ações. Você fez a coisa certa.
- e então? Será que existe a
chance de sair daqui?
- existe sim uma grande chance,
mas vou precisar fazer algumas ligações primeiro.
- obrigado Roman – falei
abraçando-o.
- por nada – falou ele rindo –
você está mesmo agradecido hein? – falou ele afagando minhas costas.
- é que estou aqui a pouco mais
de um mês.
- parece que você se curou do seu
vicio em sexo.
- esse foi fácil – falei rindo e
soltando-o – desculpe.
- não tem problema – falou ele.
Ficamos em silêncio por alguns
segundos.
- sabe Mike. Eu nunca pedi
desculpas por ter sido um babaca com você. Não devia ter pedido o colar de
volta.
- esquece isso. Águas passadas Eu
te perdoei quando descobri que você era meu pai. Você foi meu pai por alguns
meses lembra?
- e se lembro. Fiquei perturbado
por um tempo. Imaginar que você fosse meu filho. Todas as coisas que fizemos…
- eu realmente não quero falar
sobre isso – falei rindo. Já estava muito afim para lembrar das coisas que
fazíamos.
- desculpa – falou ele se
levantando.
- fique aqui comigo.
- é que… - falou ele querendo
dizer algo, mas em seguida ele desistiu. – tudo bem – falou ele se sentando de
novo.
- meu deus, eu te atrapalhei?
Você estava em um encontro ou algo do tipo? Não devia ter te ligado a essa
hora.
- não se preocupe, está tudo bem.
- OK – falei ficando sem graça.
- só pra constar, eu não estava
em um encontro, mas eu estou me relacionando com alguém a pouco mais de um ano.
- não precisa explicar. Você é um
homem solteiro.
- OK – respondeu ele ficando em
silêncio em seguida.
Apenas o barulho dos carros, e
dos familiares conversando com seus amigos, pais e filhos é que predominou por
alguns minutos.
- estrava com um amigo.
- tudo bem Roman. Não me importo
que namore, afinal não temos nenhuma relação. Somos apenas advogados e cliente,
no mais somos apenas bons amigos que quase não se falam.
- quando você me ligou e disse
que não era seu pai foi a melhor ligação da minha vida.
- confesso que fiquei aliviado
quando o soube.
- você tem se dado bem com sua
família biológica?
- sim. Ele me visitam de vez em
quando. É bom se relacionar com eles. Só fico curioso para saber quem seria
capaz de me sequestrar e me deixar na porta de um orfanato.
- talvez seja melhor não saber,
sabe?
- verdade.
- saiba que se você não estivesse
preso aqui eu com certeza ficaria honrado em acabar com sua abstinência.
- você diz…
- sim. Sem querer ser intrometido
nem nada. Só quero mostrar o quanto significa pra mim.
- fico lisonjeado. Eu aceitaria
com certeza, mas acho que devido as circunstancias, mesmo se estivesse livre eu
não me deitaria com você. Nem com ninguém.
- porque não?
- recomendações do meu psicólogo.
Ele me disse que a melhor coisa que me aconteceu foi ficar sem sexo. Ele disse
que só é para me relacionar intimamente com uma pessoa quando estiver realmente
apaixonado. Se eu tranzar só por tranzar o vicio pode voltar.
- você não pode nem…
- não. Nem masturbação. Tento
ocupar minha mente com outras coisas e cá entre nós, é bem difícil se manter
ocupado com outras coisas dentro desse lugar.
- provavelmente foi por isso que
tranzou com Scott aquela noite.
- você ainda se lembra do nome
dele?
- claro. Você me traiu com ele.
Não que esteja te acusando. O que estou dizendo é: Se soubesse que você tinha
esse vicio eu não teria terminado com você.
- tudo bem. Observação anotada.
- é bom estarmos conversando
sobre isso. Sinto que não tivemos a chance e nem tivemos o desfecho adequado.
- fico feliz de podermos ser
amigos esmo depois de tudo isso.
- você ainda ama Adam?
- o que?
- desculpa.
- sem problemas. Eu respondo.
- não precisa.
- não. Não amo Adam. Ele também
não me ama mais. Eu sei que ele pensa que sim, mas a verdade é que nos
conformamos. Adam é um canalha e galinha, mas ele é um bom homem. Mesmo não
estando mais untos, mesmo eu quase tendo mata-lo ele continua insistindo em vir
aqui. Acho que ele pensa que tem responsabilidade sobre mim por toda a vida.
Ele pode não me amar, mas que ele gosta de mim, isso é fato.
- espero que encontre alguém que
goste realmente de você. Espero que se apaixone.
- também espero.
- sabe, a noite quando chego do
trabalho cansado, tomo uma bebida, acendo um charuto e me sento na mesma
poltrona em que costumávamos dar uns amasso e me lembro de nós dois.
- nossa época junto foi boa.
- muito – falou ele rindo.
- vocês já terminaram de
conversar? – perguntou o policial – eles já liberaram a entrada.
- sim – falei me levantando e
jogando o cobertor na ambulância.
- Gostei da nossa conversa –
falou Roman colocando a mão no meu ombro.
- também – falei respirando fundo
e sentido a brisa gelada passar por nós fazendo com que nós nos arrepiássemos.
- eu vou pesquisar sobre o
assunto e fazer algumas ligações, acho que amanha já te dou uma resposta do que
podemos fazer em relação a você sair daqui.
- obrigado – falei abraçando-o.
- por nada – falou ele mantendo o
abraço. Ao me soltar ele deu um beijo no meu rosto e um selinho na minha boca –
se cuida.
- você também – falei retribuindo
o beijo.
- esse beijo nunca aconteceu –
falou ele rindo e me dando outro selinho – já fomos namorados, isso é só a
despedida.
- copiado – falei soltando-o e
acenando enquanto ele se afastava. Roman era um homem bom, mas nunca me
relacionaria com ele, nem em um milhão de anos.
Não acredito que ele me pediu o
maldito colar de volta. Acho que algumas feridas nunca fecham e essa não vai se
fechar tão cedo, mas era bom finalmente termos falado sobre isso, mas nunca vou
perdoá-lo por ter pedido a merda do colar. Se o colar estivesse ali eu o teria
enfiado goela abaixo de Roman.
Estou rodeado de homens canalhas.
Será que não existe nenhum homem que seja realmente um homem? Meu futuro
depende dessa resposta.
O policial me levou de volta para
dentro. Tudo o que queria era sair daquele lugar. Minha vida estava parada
enquanto definhava naquele lugar.
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