Capítulo Oito
MANIPULADO
“
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Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje.” Essa
Frase é muito conhecida e as pessoas as vezes a seguem a risca, mas eu não
concordo com ela. As vezes a melhor coisa é esperar. É você ter certeza do que
quer. Você precisa tomar a decisão certa para não se arrepender depois.
O pior medo de todos é o medo de
arriscar. Quando você não arrisca, quando você não tenta é como se você não
tivesse a essência da vida, afinal o ser humano está na terra para arriscar,
para viver e ter experiências. O que é a experiência? A experiência é o nome
que damos aos nossos erros. Qual a graça da vida se nós não pudermos errar de
vez em quando?
Meu pai errou e muito e o meu
medo não é o que ele podem e fazer no futuro, mas o que ele pode estar fazendo
a minha mãe e a meu irmão nesse momento. Tenho medo por eles, mas por uma noite
eu esqueci todos os meus problemas, eu me arrisquei e gostei. Mais um Ponto
para mim.
Era Estranho acordar com uma
pessoa ao seu lado. Eu pelo menos achei muito estranho. No começo não
acreditei, mas logo percebi que Frank havia mesmo passado a noite comigo.
Quando me dei conta de como estava me afastei de Frank e tirei minha mão de seu
peito e meu rosto de seu braço. Eu levei sua mão para junto de seu corpo de
deitei em meu próprio travesseiro.
De inicio me odiei por ter
dormido com outro homem. Era estranho. Quando o mundo a minha volta parecia
mudar alguma coisa dentro de mim despertava esse ódio de mim mesmo. Era difícil
lidar com isso. Meu pai invadia meu pensamento e eu me sentia responsável por
meus atos mundanos, mas então eu tinha um lapso momentâneo e por alguns minutos
o que tinha acabado de acontecer era normal.
Aproveitei que Frank ainda estava
dormindo e me levantei sem que ele me visse. Com as muletas tentei fazer o
menos possível de barulho. Decidi ir ao banheiro, mas não iria no quarto, iria
no do corredor para que Frank não acordasse.
Andei até o banheiro e ao chegar
lá tirei uma água do joelho e lavei o rosto. Meu coração estava acelerado. Não
porque dormi com Frank, mas toda a situação era tão estranha.
Na volta, quando passava em
frente ao quarto de Tobias e Harold percebi que eles estavam acordados e
conversando.
- eu não quero ele por aqui –
falou Harold. Eu reconheci a voz.
Estaria ele falando de mim? Sei
que não devia ouvir a conversa, mas se eu estivesse atrapalhando eu queria
saber.
- porque? – perguntou Tobias
- é só intuição. Não quero ele
por aqui.
- ele pode ser uma ótima
companhia para Oliver.
Eles falavam de Frank. Por algum
motivo Harold não queria Frank na casa dele perto de mim.
- eu sei que pode ser uma boa
influência e uma boa companhia levando em consideração tudo o que Oliver
passou, mas eu nunca gostei de Frank. Você sabe disso. Não quero ele dentro da
minha casa.
- Harold você sabe que te amo,
mas vou fazer o que for melhor para Oliver. Se ele quiser Frank por aqui, Frank
estará aqui.
- esquece – falou Harold dando
passos pesados até a porta.
Me afastei o máximo que pude e
assim que ele saiu do quarto eu estava na porta do meu.
- bom dia Oliver – falou Harold.
- bom dia – respondi sem
demonstrar qualquer reação. Eles não poderiam desconfiar que eu tinha invadido
a privacidade deles.
- já está de pé Ollie? –
perguntou Tobias saindo do quarto. Os dois estavam prontos para irem ao
trabalho.
- estou sim. Sei que é cedo, mas
eu estou acostumado a madrugar.
- que bom – falou Tobias.
- Tobias será que o senhor
poderia me dar uma carona e me deixar no mercado?
- no mercado? Por que?
- minha mãe faz compras lá, eu
queria vê-la e saber se está tudo bem com ela.
- OK, eu te levo.
- obrigado.
- como foi a noite? boa?
- mais ou menos – falei dizendo a
verdade – quer dizer, eu dormi a noite toda, mas não estou me sentindo bem. Não
gosto do que aconteceu.
- está tudo bem?
- sim é só que… é o jeito que fui
criado. Dormir com outro homem me pareceu errado. Mesmo que tenha sido só
dormir.
- pelo menos você deu seu
primeiro beijo – falou Tobias.
- Harold deu um sorriso e acenou
descendo as escadas. Ele não estava gostando muito do assunto.
- sim. Foi incrível – falei
sentindo uma pontada de alegria dentro de mim – dessa parte eu não me
arrependo, se soubesse que seria tão bom eu teria tido coragem de beijar antes.
- você está passando por grandes
mudanças Oliver é claro que vai tomar algumas decisões ruins e tem manhãs que
vai pensar estar no inferno. Você pode dar passos pequenos de bebê ou de
formigas. O importante é você dar alguns passos.
- prometo que não vou desistir.
- que bom falou ele sorrindo e dando uns tapinhas no
meu ombro – você vai se deitar ou quer tomar café da manhã?
- acho que vou me deitar – falei
tentando me livrar dele.
- isso mesmo. Aproveite – falou
ele sorrindo – você consegue descer as escadas sozinho?
- acho que sim.
- se não quiser se arriscar eu
posso te descer antes de sair, mas Frank está aqui de qualquer forma, quando
ele se for peça para ele te ajudar.
- OK – respondi entrando no
quarto.
A verdade é que eu queria tomar o
café da manhã, mas havia tomado uma decisão. Se Harold não gostava de Frank eu
não iria cultivar aquela amizade.
Me sentei na cama e esperei até
que Frank acordasse. Não demorou muito. Frank mexeu na cama esticou os braços e
olhou para mim com os olhos apertados tentando evitar a luz.
- bom dia – falou ele sorrindo.
- bom dia.
- Você dormiu tão bem quanto eu
dormi.
- sim.
Ele olhou no relógio e se sentou
apressado na cama.
- hoje vou me atrasar para o
trabalho – falou ele se esticando e tentando beijar meu rosto. Eu me afastei.
- o que foi? Aconteceu alguma
coisa? Eu te disse alguma coisa que te magoou?
- não. É que. Você não vai querer
se envolver com um cara como eu. Tenho problemas demais. Não sei o que você
pretende ter, mas eu não sou o cara certo para ter amizade ou outra coisa.
- você não decide isso por mim.
Eu é que devo decidir quem devem ser as pessoas próximas a mim – falou ele
rindo.
Respirei fundo e mordi os lábios.
Tinha essas mesma mania de meu pai.
- Frank, eu peço por gentileza
que me deixe em paz. Eu não quero nada com você. Ter dormido com você foi
errado. Não me sinto bem pelo o que fizemos.
- mas você gostou dos meus
beijos.
- eu não gostei. Se pudesse
voltar atrás eu não deixaria você me beijar – eu havia herdado isso de meu pai.
O meu tom de voz podia destruir uma pessoa.
Frank apenas sinalizou com a
cabeça e saiu do quarto. Estava triste por ter que fazer aquilo, mas eu não
queria ver Tobias e Harold brigando por minha causa. Frank foi legal comigo,
mas não dependia só de mim.
Esperei alguns minutos até que
Tobias subiu as escadas e veio até meu quarto.
- você quer descer? Pensei que
Frank ficaria com você.
- pois é. Ele estava atrasado
para o trabalho.
- ele saiu meio chateado daqui.
- eu só disse a verdade á ele. Eu
não quero nada com ele então eu abri o jogo. Fui sincero.
- você ouviu a minha conversa com
Harold não ouviu?
- ouvi – falei de uma vez – mas
não tem nada a ver com isso.
- tem certeza? Frank pode ser uma
boa companhia pra você.
- sim. Talvez, mas a verdade é
que não estou interessado em companhias. Só quero viver minha vida e tentar
sobreviver mais um dia. Quem sabe no futuro eu não tenha vontade de conhecer
alguém.
- passos de formiga? – perguntou
Tobias.
- de formiga – respondi
respirando fundo.
- OK. Respeito sua decisão –
falou Tobias me ajudando a levantar – mas ele saiu mesmo chateado daqui.
- eu não tenho culpa de ser
assim. Eu digo a verdade doa a quem doer. Eu nunca tive motivos para não dizer
o que queria. A não ser em casa é claro. Eu sou sincero e as pessoas dizem que
eu sou arrogante. Eu só digo a verdade.
Nós saímos do quarto e descemos
as escadas. Harold já havia ido trabalhar.
- não se preocupe com isso. As
pessoas se acostumam. É que a maioria gosta de ter uma resposta mais leve e bem
floreada. A verdade não serve para todo mundo.
- eu percebi – falei me sentando
e começando a comer as panquecas que Tobias havia feito.
- vamos indo?
- acho que não vai dar certo hoje
– falei olhando para Tobias – acabei de me lembra que minha mãe só vai ao
mercado na segunda e na quinta.
- eu te levo na quinta-feira então.
Pode ser?
- pode.
- eu preciso ir – falou Tobias
olhando no relógio – você tem certeza que vai ficar bem?
- tenho. Pode ir. Mande um abraço
a Amy.
- mando sim – falou ele pegando
as chaves do carro e parando por alguns segundos – posso te pedir um favor
sincero?
- pode.
- qualquer coisa?
- sim, afinal você me acolheu em
sua casa.
- denuncie seu pai.
Respirei fundo. Aquele não era um
assunto ao qual eu gostaria de conversar.
- do que adianta? Mesmo que eu o
denuncie ninguém vai fazer nada. O detetive nem quis ouvir minha história.
- se eu conseguir que alguém se
interesse você me promete que denuncia?
- prometo.
- é isso o que eu queria ouvir –
falou ele acenando e saindo pela porta – até mais tarde.
- até – falei continuando a
comer.
Depois que tomei o café da manhã
eu consegui subir as escadas. Fui até o meu quarto, escovei os dentes e me
sentei na cama para assistir a mais um pouco de televisão.
- como consegui ficar tanto tempo
sem você? – falei ligando-a.
Enquanto assistia a um
documentário sobre tubarões, ouvi um certo barulho no andar de baixo. Coloquei
a televisão no mudo e fiquei ouvindo por alguns segundos. Não ouvi mais o
barulho e coloquei o som novamente. Assisti mais alguns segundos e dessa vez
ouvi realmente um certo alvoroço. Fiquei até assustado porque parecia vir de
dentro de casa. Desliguei a televisão e fui até a ponta da escada e ouvi duas
vozes masculinas conversando.
- até quando você vai ficar me
ignorando?
- o que você pensa que está
fazendo? Vindo até aqui? Eu disse que não podemos mais fazer isso.
- passei a noite aqui ontem,
esperando que você viesse até o quarto, mas você não veio.
Fiquei curioso com a conversa e
pelo reflexo do espelho que tinha no fim da escada vi Harold e Frank
conversando.
- foi bom enquanto durou – falou
Harold para Frank.
- eu tenho a chance perfeita de
me infiltrar dentro de sua casa. Posso usar a desculpa do bastardo lá em cima.
Eu digo que vou passar um tempo com ele e nós podemos ficar juntos.
- você disse que ele te
dispensou.
- bobeira. O garoto é carente, só
precisa de um beijo e um sorriso e ele vai se derreter por mim.
Senti uma coisa que nunca tinha
sentido antes. Raiva. Tinha sido manipulado. Ele tinha brincado com meus
sentimentos e roubado meu primeiro beijo. Agora sim eu senti vontade de
vomitar. A única pessoa que me manipulou toda minha vida foi meu pai e eu sofri
muito. Quando sai de sua casa prometi a mim mesmo que nunca mais seria
manipulado e veja o que aconteceu? Bastou um babaca de fala mansa para me
iludir e agora me chamava de bastardo pelas costas, mas ele pode ter certeza
que esse bastardo não
- não podemos – falou Harold.
- eu sei que você quer – falou
Frank empurrando Harold na parede e o beijando na boca. Levei um susto, mas
pelo menos não vomitei.
Voltei rápido para o quarto e me
tranquei lá. Ficaria bem quieto. Eles não podiam saber que eu estava lá.
Eu tinha me arriscado ao sair da
casa do meu pai e o que eu ganhei com isso? Um problema. Eu tinha uma escolha
nas mãos, mas afinal o silêncio é um amigo que nunca trai.
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