Capítulo 29: Entre Dois Pulmões | Conto: Paixão Secreta | Temporada: 6ª | Final de Temporada

ENTRE DOIS PULMÕES capítulo vinte e nove

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entia como se aquele momento estivesse sendo estendido por uma força sobrenatural. Que nunca fosse acabar. Tiveram que atrasar já que Adam demorou a ser liberado do hospital. Ele prometeu os cuidados necessários, fazer curativos e tomar todos os remédios. Quando chegamos me San Diego encontramos a esposa de Adam – Megan – e seus filhos: Christian e Jullie White. Os dois deram um largo sorriso ao ver o pai. Eles pareciam magros e tinham algumas manchas no rosto devido ao mal trato. Megan agradeceu por tudo o que tinha feito. Ela ficou sabendo devido ao meu depoimento que eu fui responsável por libertar ela e os filhos.

Adam estava com uma tipoia no braço esquerdo e um curativo no lado direito do abdome. Para a sorte dele não tinha sido profundo. Não sei  oque foi feito de Oliver. Ele deu depoimento á policia e foi liberado depois de pagar uma fiança. Ninguém mais o viu. Saindo do aeroporto fomos direto para o Cemitério Nacional Forte Rosecrans que fica aqui mesmo em San Diego. Ao chegarmos abracei Vanessa consolando ela. Rachel não entendia direito o que estava acontecendo e estava o tempo todo perguntando pelo ‘Papai Larry’. Vê-la fez meu coração quebrar de novo. Foi inevitável conter as lágrimas enquanto eu a abraçava. É incrível como esse órgão que fica entre dois pulmões controla as nossas emoções. Seja bom ou ruim é nele que eu sinto a dor antes que ela se espalhe para o restante do corpo.

Dei um abraço em Zoey, Joe, Xavier e então eu vi os dois. Tio Roger e meu primo Leo. Era a primeira vez que eu os via em anos. Tio Roger me deu um abraço forte. As lágrimas escorreram pelo seu rosto enquanto nos abraçávamos. Leo me deu um abraço em seguida. Pude sentir sua respiração ofegante. Vi também que o Vice Presidente Stephen estava lá. Era um dos pais que ainda sobravam. ‘Trump mandou suas condolências’ – falou Stephen. Agradeci por ele ter vindo e pelo recado. Caminhei mais um pouco e vi Ray e Abby Maxfield. Meus pais biológicos. Dei um abraço em Ray e minha mãe Abby se aproximou me abraçando por trás. Eles sabiam a dor que eu estava sentindo.

- como você está Mike? – perguntou tio Roger.

- estou bem – falei chorando.

- é bom te ver – falou ele limpando o rosto – mas eu queria que fosse a ocasião fosse diferente.

- eu também – falei lambendo as lágrimas.

O chão estava molhado. Os pés daqueles homens que carregavam os dois caixões afundavam na grama do cemitério e saiam espirrando água antes de pisar novamente. Todos estavam de preto. Inclusive eu. Meu rosto estava pálido e eu já não chorava. Não havia mais lágrimas para derramar. A decisão de enterrá-los juntos foi minha. Ao lado do corpo de minha mãe. Os dois eram importantes para mim e significava muito saber que toda minha família estava reunida. Sei que é um pensamento mórbido, mas as vezes gosto de pensar que fantasmas existem. Imaginar que talvez um dia eu sinta sua respiração em mim. Que eu sinta um  calafrio quando ele passar por mim.

Craig foi um homem maravilhoso em todos os aspectos e com ele tive novas experiências. Ele era um grande homem e a verdade é que eu nunca estive a sua altura. Jason estava destruído. Perdeu a mãe e o pai, assim como eu. Me identifiquei com ele. Aquela sensação de estar sozinho no mundo quando as pessoas mais importantes de nossas vidas se vão. É quando realmente crescemos. Queria que Adam estivesse aqui. Ele foi para a casa de Gray pegar um terno emprestado e se aprontar para o enterro.

Sei que todos esperavam que eu dissesse algumas palavras, mas eu me recusei. Eu mal podia acreditar que aquilo realmente tinha acontecido. Não podia deixar de pensar que aquilo tudo era culpa minha. Era o único sentimento que eu tinha no momento. Talvez eu devesse ter conversado mais com meu pai. Devia ter ouvido o que Adam disse sobre fugir. Sinto tanto a falta de sua voz. Olhei para o meu lado e senti Roger passar o braço por mim me deixando junto a ele. Ele quase não disse nada. Ele já tinha passado pela morte da esposa então ele conhece essa dor.

Meu pai é descendente de Judeus então achei que o certo seria seguir a tradição. Nós ficamos nas primeiras fileiras das cadeiras brancas. O rabino começou a dizer algumas palavras e pouco tempo depois ouvi passos de alguém se aproximando. Olhei para trás e vi Adam usando um terno preto. A expressão dele era triste. Ele estava com a tipoia e andava com cuidado. Acho que tinha medo de escorregar na grama molhada.

- você veio! – falei olhando para ele – achei que não chegaria nunca.

- me perdoe pelo atraso – Adam se aproximou e me deu um abraço. Fiquei ali abraçado com ele por um bom tempo. Conseguia encontrar um pouco de conforto em seus braços. Aquela sensação de estar sozinho no mundo desaparecia.

- Mike? – falou Zoey chamando minha atenção.

- Sr. Fabray, quer dizer algumas palavras, meu rapaz? – perguntou o rabino.

Todos ficaram em silêncio. Todos esperavam algo de mim. Não tem sentido dizer a meia dúzias de desconhecidos, parentes  e amigos o que eu sentia pelo meu pai. Devia ter dito a ele enquanto estava vivo. Não adianta mais. Pra mim é uma perda de tempo

- Não senhor. Não quero.

- e você Sr. McCormick. Quer dizer algo?

Jason olhou para o rabino e balançou a cabeça negativamente. Me afastei de Adam e peguei um pouco de terra e joguei em cima do seu caixão. Me abaixei e peguei outra mão de terra e joguei em cima do segundo caixão.

Me virei e comecei a caminhar. Acho que todos acharam estranho, mas é que eu não queria ver a terra cobri-los. Tinha certeza de que eles estavam lá. Tinha certeza também que estava tudo acabado. Eu sei que essa é uma dor que nunca vai passar. Até hoje dói pensar em minha mãe. Não nos momentos que tivemos, mas nos momentos que perdemos. Atravessei o gramado e sai do cemitério indo direto até seu carro. Abri a porta e me sentei aguardando o meu futuro marido. Depois de quinze minutos vi que todos saíram do cemitério e entre essas pessoas estavam Adam. Ele estava conversando com Jason. Confortando-o. Eu tinha pena dele. Jason deu um abraço em Adam e acenou para mim. Eu acenei de volta.

Drake, Phil, Molly, Andrea e Arthur se aproximaram do carro. Eu sai para poder abraça-los e me despedir deles. Era bom saber que uma coisa boa saiu de tudo isso: fiz novos amigos. Todos eles vieram e eu não achei que eles apareceriam.

- então… você vai voltar? – perguntou Andrea – você tem o seu emprego e com certeza terá um novo professor.

- eu não sei – falei vendo Adam se aproximar e ficar ao meu lado – acho que é muita coisa pra minha cabeça, sabe.

- você precisa descansar – falou Adam passando o braço por trás de mim e dando um beijo no meu rosto – não se preocupe com isso.

- volte quando você estiver bem – falou Drake – na verdade não sabemos o que vai acontecer com a empresa a partir de agora.

- eu não sei se vou conseguir voltar para Greenville. Acho que vou ter que encontrar outro lugar para viver.

- outra vez? – perguntou Adam – você deixou San Diego e foi para a Carolina do Norte e agora quer se mudar de novo?

- Se continuar assim vai chegar um momento que  não terão mais estados para você fugir – falou Phil.

- essa é última vez. Tenho certeza de que tudo será diferente – falei passando o braço na cintura de Adam.

- Ai ai ai! – falou Adam reclamando.

- me desculpa – falei tirando o braço.

- e para onde você pensa em ir dessa vez? – perguntou Arthur.

- eu sempre gostei de chuva e lugares com o clima frio. Ainda não sei bem.

- talvez Seattle – falou Molly – eu nasci e cresci lá. O Clima é perfeito para você.

- boa ideia – falei olhando para Adam – acho que você vai ter que deixar a sua nova empresa se quiser mesmo se casar comigo.

- vocês vão se casar? – perguntou Arthur surpreso.

- sim. de novo – falei respirando fundo – sempre esteve escrito. Desde que conheci Adam eu estive fragmentado. Em pedaços me quebrando ao longo do caminho e ele sempre esteve recolhendo esses pedaços tentando coloca-los juntos. Tentando me dar aquele empurrão dizendo que sou o melhor.

- você me deixa sem jeito – falou Adam rindo sem graça envergonhado.

- não fica vermelho. Eles te quem saber que você é um homem maravilhoso. Eu é que sou um idiota irracional que toma decisões idiotas todo  o tempo. Eu decidi te deixar pra ficar com Roman, fugi pra fazenda, quando nos casamos eu te trai e quando você morreu e depois reapareceu foi eu quem fugiu sem olhar para trás. Não importa onde eu esteja e o quanto eu rode esse país eu sempre acabo me deparando com você atrás de mim. Até mesmo quando não sabe onde estou o universo faz você vir até mim.

- você salvou a vida dos meus filhos – falou ele com um sorriso – acho que não preciso dizer mais nada – ele deu risada e todos também riram.

- Seattle será bom – falei olhando para os sócios a minha frente.

- eu também vou! – falou Zoey chegando junto com Joe.

- para onde? – perguntei olhando para ela.

- não sei. Vocês estão falando sobre viagem e eu quero ir junto.

- estou falando sobre me mudar da Carolina do Norte para Seattle em Washington.

- não! – falou Zoey com raiva – nem pensa em me deixar.

- existem universidades em Seattle – falou Joe – nada nos impede de ir para lá.

- minha mãe nunca deixaria – falou Zoey.

- Não fale da sua mãe! – falou Stephen se aproximando de nós e cumprimentando a todos.

- me deixe em paz – falou Zoey.

- isso não é maneira de falar com seu padrasto.

- o que? – perguntou Zoey assustada – você está de brincadeira, né?

- não – falou ele sério – e se tem uma coisa que me irrita muito é essa briga entre você e sua mãe. E para colocar um ponto final nisso eu tenho uma pequena surpresa – falou ele apontando para o carro que o trouxe do aeroporto. Ariana Carlson – a mãe de Zoey – estava parada próxima de fora do carro. Ela parecia ter lágrimas nos olhos. Arrependida de coisas que havia feito e dito. Ela acenou para Zoey e olhou para mim.

- aproveite enquanto ela está viva – falei apertando os lábios – você não vai querer que ela morra sem ouvir o que você tem a dizer. Zoey olhou para a mãe dela e acenou. Ela segurou na mão de Joe e os dois foram até sua mãe junto de Stephen.

- Para onde nós vamos? – perguntou Adam para mim.

- eu não sei… acho… acho que para um hotel.

- nem pensar – falou Gray se aproximando – vocês vão ficar em minha casa. Ao lado dele havia um homem – esse daqui é Blake Matthews, meu marido – falou Gray.

- prazer – falou Blake apertando a mão de todos – e Gray está certo. Vocês vão ficar hospedado conosco pelo o tempo que quiserem.

- obrigado – falou Adam apertando a mão dele.

Adam e eu fomos para a casa de Gray e seu marido Blake. Era uma enorme casa. Uma verdadeira mansão. Gray havia fundado a sua própria advocacia e Blake era investidor da bolsa de valores além de ser dono de um cassino em Las Vegas.  Os dois tinha uma ótima vida – financeiramente falando. Adam e eu ficamos hospedado por mais de uma semana. Os planos eram voltar para a Carolina do Norte, mas Gray faria uma grande festa de Natal e Hanucá para todos os amigos e parentes e decidimos ficar até depois do ano novo. Seria até bom não ficar viajando muito e Adam poderia passar muito tempo com seus filhos.

Na véspera do natal Vanessa estava bem melhor quando se tratava da morte do meu pai. Ela chegou bem cedo para ajudar a preparar a o jantar. Ela estava ajudando Megan, Molly, Steve e Phil. Drake, Arthur, tio Roger e Xavier estavam do lado de fora preparando a carne e acedendo a churrasqueira para a festa. Havia bastante gemada e bebidas nas geladeiras. Adam e eu decidimos dormir em quartos separados. Sem sexo. Decidimos fazer dessa forma até arrumarmos a nossa vida. Uma forma de mostrar para nós mesmos que nosso relacionamento não se baseava apenas em sexo e tesão. Nós dois andamos olhando casas a venda em Seattle. Eram caras e Adam teria que vender sua parte na empresa para compra-la. Teríamos que começar do zero.

- que merda! – falei descendo as escadas. Era quase seis horas da noite. Eu vesti uma calça verde e uma camiseta vermelha com algumas renas que Zoey trouxe de presente para mim. Zoey, Joe, sua mãe Ariana e Stephen também foram convidados e ela trouxe esse presente da capital para mim. Ela deu risada quando ela me viu pela primeira vez.

- porque está xingando? – perguntou Zoey ao me ver olhar para o celular.

- uma droga de número desconhecido que fica me ligando – falei chegando a cozinha. Adam estava com uma lata de cerveja na mão. A outra mão estava se recuperando rápido e ele estava fazendo fisioterapia todos os dias da semana. O corte no abdome era apenas uma cicatriz.

- o que foi meu amor? – Adam deu um beijo no meu rosto.

- um número desconhecido tem me ligado a umas duas semanas e sempre que eu bloqueio um número ele me liga de outro.

- atende, talvez seja algo importante.

- eu não atendo número desconhecido. Toda vez que faço isso me meto em uma confusão maluca onde todo mundo que eu conheço morre ou quase morre. Além do mais esse número é recente. Todos que importam estão na minha agenda. Além do mais desde que apareci na televisão falando sobre Patrick e Roman eu tenho recebido mensagens de fãs e admirados e alguns ‘haters’. Tenho medo de que algum deles tenha conseguido meu número.

- tudo bem – falou ele tomando um gole.

- relaxa Mike – falou Steve – deve ser Roman te ligando do além.

- nem brinque com isso – falei me lembrando o  meu sonho que vi o fantasma de Roman. A parte boa desse sonho foi ver Felix. As coisas que ele disse ainda estavam comigo.

A casa estava toda enfeitada. Valerie, minha mãe Abby, Rachel, Jullie e Christian tinha montado a árvore e decorado todo o ambiente criando um lindo painel com as duas festas: Natal e Hanucá. As horas foram passando e o cheiro da refeição tomou conta do lugar. No almoço comemos apenas o churrasco com uma salada tropical que meu pai Ray havia feito.

Estávamos sentados próximo ao balcão da cozinha bebendo e conversando. Eu tomava refrigerante e ao meu lado estava Adam e Zoey. De frente havia Gray, Phil, Drake, Vanessa e Rachel. Falávamos sobre os velhos tempos. Lembrávamos daqueles que se foram. Eu contei algumas historias malucas sobre Ally.

- olha só! – falou Adam virando o notebook que ele estava usando para mim – essa casa é bonita, não acha?

- sim – adam passou foto pro foto. Era uma casa grande, com piscina e com decoração moderna – mas é cara – falei olhando o preço – nós vamos começar do zero. Você não pode usar todo o dinheiro para comprar uma casa. Podemos morar em qualquer lugar.

- não. Precisa ser uma casa grande. Perfeita. Para quando meus filhos foram passar os fins de semana poderem brincar e correr com os nosso filhos – falou ele rindo.

- filhos? – falei rindo – você quer ter mais filhos?

- claro.

- mas você já tem dois.

- sim, mas você não tem nenhum. Eu sou um paizão. Me vesti de Batman para Christian no ano passado. Tenho um coração grande e cabe mais um filho especialmente se for com você.

- eu adoraria que você fosse o outro pai dos meus filhos – falei me aproximando e dando um beijo em seus lábios – mas eu aviso logo que eu quero mais dois. Um casal.

- olha só quem chegou – falou Megan vindo na frente. Adam e eu olhamos para trás é nós vimos Rebecca. A outra filha de Adam. A mais velha.

- Rebecca? – falei surpreso me levantando e abraçando ela – a quanto tempo não te vejo.

- eu liguei para ela – falou Adam se levantando e dando um abraço e um beijo nela – eu queria todos os meus filhos reunidos.

- estava com saudades de você! – falou Rebecca – você nunca mais ligou.

- na verdade eu não liguei para ninguém.

- então você está perdoado – falou ela rindo e abraçando algumas outras pessoas.

Meu celular vibrou em cima do balcão e eu vi que era o número desconhecido novamente..

- mas que merda! – falei levantando a mão para jogar o celular longe, mas antes que pudesse jogar Adam veio por trás e pegou o celular da minha mão.

- tá maluco Mike? – falou ele atendendo a ligação e colocando na orelha – alô?

- quem é? – perguntei furioso – quem fica ligando e perturbando na véspera de natal?

- seu celular está sem bateria – falou ele me mostrando – desligou antes que alguém respondesse.

- vou coloca-lo para carregar.

Subi as escadas indo até meu quarto e no caminho passei em frente ao quarto de Adam e ele estava com a porta aberta. Vi pelo canto do olho Vanessa olhando para o espelho e rindo. Ao seu lado estava Phillip Wheeler. O meu antigo chefe. Ele estava rindo e os dois pareciam em uma conversa casual. Era a primeira vez que via Vanessa sorrir desde que meu pai havia morrido.

Olhei para o corredor a minha frente até o meu quarto e ele se tornou longo. Caminhei lentamente olhando para as paredes e todas essas molduras que lá estavam. As fotos não eram de Gray e seu marido. Eram fotos da minha vida. Todos os momentos que vivi. Todos os nomes que elas mostram eram os nomes de todas as pessoas que passaram por minha vida. Esse corredor eu andei mil vezes. Minha vida foi longa e agitada. Mágoas e namorados, meus amigos e inimigos. Parei em uma foto que me chamou a atenção. O casamento de meu pai e Vanessa. Rachel era pequenininha e eu estava lá com um sorriso bobo no rosto. Hoje em dia olho para tudo que eu era e tudo o que eu já amei e eu posso ver o quanto eu cresci.

Já não tenho medo de seguir em frente e deixar isso para trás. Meu pai fazia tanta falta. É muito difícil dizer adeus para o que eu conheço. Essas velhos sentimentos e velhos hábitos. Continuei caminhando e passei pelos corredores da empresa onde conheci Adam, passei por um quarto e vi o chão onde fui violentado. Esse lugar é um velho conhecido. Tudo aquilo: cada quarto, cada rosto era outra parte de mim. O jogo era diferente no passado, me chamaram de nomes, me jogaram pedras e terra nos olhos. Penso em todas as coisas que eu fiz e vejo o tanto que eu fui longe e o que eu consegui. Uma coisa eu tenho certeza: De todas as batalhas que eu perdi ou que podia ter ganhado eu nunca parei de acreditar em mim.

- Mike? – falou Adam atrás de mim – você está bem?

- sim, estou – falei olhando para ele.

- você está parado ai olhando essa foto do Gray e Blake a quase dez minutos.

- não é anda – falei limpando o rosto e indo para o meu quarto e colocando o celular no carregador.

- está tudo bem com você? – Adam veio atrás de mim.

- estou, só sinto faltado meu pai – falei me sentando na cama e olhando para ele.

- vai ficar tudo bem – falou ele se sentando ao meu lado.

- você não sente essa sensação de… sei lá… nostalgia? Ter todos reunidos. Todas as pessoas que fizeram parte de nossas vidas?

- claro. Lembro dos velhos tempo – falou Adam respirando fundo com um sorriso – as vezes eu tenho saudade, mas ao pensar no presente eu prefiro estar aqui. Eu não conseguiria passar por tudo o que passei outra vez.

- eu sim, se estivéssemos aqui um do lado do outro.

- não vale – falou ele rindo.

- sabe… essa história que estamos vivendo, o agora, quase não existiu Adam. Eu pensei e muito antes de continuar. Foram dois anos imaginando se valeria a pena. Imaginando se teria pessoas ao meu lado com quem compartilhar cada capítulo da minha vida. É bom saber que ainda tenho alguns amigos de verdade.

- sei o que quer dizer – falou ele passando o braço por mim e dando um beijo no meu rosto – eu também fraquejei algumas vezes na vida. Especialmente nesses últimos meses em que meus filhos foram sequestrados. Te encontrar no casamento de Roman foi minha válvula de escape. Poder te beijar, te tocar e ouvir o quanto você me queria foi como uma luz do fim do túnel.

- hey vocês! – falou Phil ao lado de Vanessa aparecendo na porta – o jantar está pronto.

- estamos indo – falei me levantando e segurando na mão de Adam.

O relógio marcava pouco mais das dez da noite. Nós descemos as escadas e encontramos a mesa do jantar pronta. Gray e Blake disseram algumas palavras agradecendo a presença de todos. Ele se sentia feliz e grato pro ter tantos amigos. Para ele o Natal estava sendo a Ação de Graças 2.0. Ele estava dividindo novamente o que tinha com seus amigos. Compartilhar esse momento conosco. O cardápio era variado e havia muito o que comer. Em certo momento enquanto comíamos ouvimos um coral cantando. Drake foi até a janela e viu que havia um coral do lado de fora cantando. Todos nós levantamos da mesa e fomos para o lado de fora assistir enquanto as trinta ou quarenta vozes entoavam cantigas de natal. Eles estavam arrecadando dinheiro para comprar presentes para as crianças carentes. Estavam todos de verde e vermelho. Eles cantaram quatro canções enquanto estavam lá: ‘Welcome Christmas’, ‘We Need A Little Christmas’, ‘Christmas Wrapping’ e ‘Away In A Manger’.

Durante a segunda canção Adam ficou junto a mim e me abraçou. Eu passei  abraço por ele e deitei minha cabeça em seu ombro. Todos doaram alguma coisa. Era bom saber que em um mundo podre onde alguns matam por poder e dinheiro existiam uma dúzia de pessoas que deixavam suas famílias em casa para poder cantar em prol das crianças carentes. Não entedia muito o feriado de natal onde muitos diziam ser apenas para impulsionar o consumismo, o que é verdade, mas não podemos esquecer do lado bom do feriado: esse espirito natalino que nos deixa um pouco mais otimistas quando tudo parece sem saída.

- vocês vão doar alguma coisa? – falou uma garota de cabelos loiros se aproximando. Ela pareceu arrogante ao dizer aquilo, mas foi de uma certa maneira engraçado. Todos riram. Ela tem Síndrome de Down assim como minha pequena irmã Rachel. Ela usava uma tiara com galhos da rena e um nariz vermelho. Ela parecia ter quinze ou dezesseis anos.

- claro que sim – falou Adam pegando a carteira.

- não seja malvada Lauren – falou a mulher que parecia fazer parte do coral.

- não tem problema – falei rindo.

- prontinho – falou Adam jogando o dinheiro na sesta.

- você é mãe dela?

- não. Na verdade Lauren é voluntária no nosso Lar Adotivo ajudando a arrecadar dinheiro para comprar presentes.

- Lar Adotivo? – perguntou Adam.

- sim – falou a mulher tirando um cartão de visita – se vocês estiverem pensando em adotar é só dar uma passada lá. Tem várias crianças precisando de um lar.

- okay – peguei o cartão que ela nos entregou e li o nome: ‘Lar Adotivo Amazing Grace’.

- agradeça a eles Lauren – falou a mulher.

- não precisa me falar, eu sei o que fazer – falou a garota apertando a mão de Adam e depois a minha – obrigado – falou ela com um sorriso se virando.

- você tem certeza? – falei entregando cartão para Adam.

- claro – falou ele com um sorriso.

Voltamos para a casa e terminamos o jantar. Decidi ajudar a arrumarem a cozinha como forma de agradecimento. Adam foi para o lado de fora beber um pouco com os outros caras e alguns foram para a piscina aquecida. Enquanto lavava a louça vi pela janela Vanessa conversando com Phil. Eles estavam dividindo uma cerveja e eles pareciam bem íntimos. Olhei para trás e vi Zoey e Joe sentados próximo a Stephen e Ariana e eles estavam se dando bem. Megan – a ex-esposa de Adam – estava ao meu lado secando a louça. Parece que o natal fez alguns milagres.

Meu primo Leo estava conversando com Rebecca enquanto meu tio Roger trocava olhares com Andrea que por sua vez estava conversando com Steve e Valerie. Esses dois pareciam bem íntimos. Acho que Adam está prestes a ganhar um novo cunhado.

 - é meia noite! – gritou Gray.

Todos começaram a se abraçar enquanto ouvisse lá fora fogos de artificio estourando no alto. Abracei primeiramente Megan. Ela me agradeceu por tudo o que fiz por ela e pelos filhos. Desejava que eu e Adam fossemos muito felizes. Abracei Vanessa, Arthur, Blake, Molly, Zoey, Stephen, Ariana e finalmente consegui chegar lá fora e abraçar Adam.

- Feliz Natal em amor – Adam me abraçou forte e eu fechei os olhos sentindo seus braços em mim.

- Feliz Natal! – respondi dando um selo em sua boca. Depois outro e então mais um para finalizar. Nós dois demos risada – te amo Adam – falei com um sorriso no rosto.

- esse é o primeiro de muitos natais que passaremos juntos – ele tocou minha cintura e subiu a mão aproximando-se novamente e dando outro beijo em meus lábios.

- espero que sim – falei rindo e olhando para a mesa. Havia um cinzeiro com um cigarro. Adam pegou o cigarro e levou até a boca.

- você não parou de fumar?

- não – falou ele assoprado a fumaça – me desculpa. Vai ser minha promessa de ano novo.

- não tem problema – falei tocando o peito dele – não se sinta pressionado a parar por minha causa.

- tudo bem – falou ele dando um último selo em meus lábios.

- De quem é esse celular? – gritou Blake chegando a cozinha.

- é meu! – falei caminhando até ele.

- eu fui até o banheiro e ouvi seu celular tocando sem parar.

- obrigado – falei vendo oito chamadas perdidas de um número desconhecido. Enquanto ia até a agenda o celular vibrou e começou a tocar. Eu decidi atender – quem está falando?

- eu falo com o Sr. Mickey Fox Fabray?

- sim. ele mesmo.

- Primeiramente eu quero te desejar boas festas e pedir perdão por estar te ligando a essa hora.

- não tem problema – falei respirando fundo e indo até a sala. Conseguia ver Adam lá fora.

- eu sou o Dr. Cody Lennox e trabalho no Hospital Mercy Heal. Você foi nosso paciente a algumas semanas, sofreu um desmaio aqui mesmo no hospital.

- sim eu me lembro – era o hospital onde Adam foi atendido.

- o médico que fez seus exames entrou de férias e me passou o seu caso.

- aconteceu alguma coisa?

- Sr. Fabray primeiramente gostaria de pedir perdão em nome do hospital pelo atendimento. Nós sofremos cortes nos últimos meses e houve uma redução no quadro de funcionários e isso impediu que nós ligássemos antes.

- sim o outro médico havia me dito que houve um corte de pessoal.

- eu não deveria estar te dando essa noticia por telefone e eu estou correndo o risco de ser punido e até perder a minha licença.

- você está me assustando, o que aconteceu?

- o seu exame de raio-x acabou se perdendo devido a demissão do rapaz que trabalhava naquela área e foi encontrado recentemente pelo novo funcionário. Eles mostram o que parece ser uma massa em seu pulmão. Não posso dizer nada sem antes fazer uma biopsia, mas parece ser um tumor.

Senti uma pontada no peito. Ironicamente.

- no pulmão? – engoli em seco – Eu tenho câncer no pulmão?

- sinto muito Sr. Fabray.

- está muito avançado?

- não posso responder sem antes fazer mais exames e uma biópsia.

- mas isso é impossível. Eu nunca fumei um cigarro na vida! – falei colocando a mão na cabeça.

- O cigarro é causador de uma grande porcentagem de câncer no pulmão, mas devido a sua idade e seu histórico hospitalar acredito que o seu caso seja genético. Você tem algum familiar que tenha sido diagnosticado com câncer?

- sim – falei respirando fundo me lembrando – na verdade o meu avô por parte de pai morreu com câncer no pulmão – meu pai Ray me contou quando eu o conheci. Aquilo nem me ocorreu.

- sinto muito Sr. Fabray.

- obrigado por ter ligado Dr. Lennox.

Desliguei o celular e caminhei atravessando a cozinha e chegando perto de Adam. Ele tinha um cigarro na boca e a tirou assoprando a fumaça. Ele olhou para mim e sorriu.

- quem era?

- era engano – falei me sentando ao lado dele e sorrindo. Ele se aproximou e deu um beijo no meu rosto. Me inclinei e peguei a cerveja que ele bebia e tomei um gole.

- te amo Mike – falou Adam apagando o cigarro no cinzeiro – e eu prometo que esse maço de cigarros é o último.

- eu também te amo! – abracei Adam e dei um beijo em seus lábios – eu acredito em você – falei respirando fundo me lembrando das palavras que Felix disse no meu sonho quando Adam estava no hospital.

‘Você precisa prestar atenção no seu corpo Mike. Você não anda dando muito valor a ele.’

Mesmo morto ele veio me avisar. É engraçado quando a maldade vem de fora. É fácil você combater um inimigo. Você o tranca e bota fogo, mas é complicado quando esse inimigo está dentro de mim. Mais uma vez estou em pedaços; Fragmentado.

FIM DA SEXTA TEMPORADA.

Essa temporada não seria escrita se não fosse os inúmeros pedidos que recebi ao longo de dois anos. Vocês conseguiram me inspirar a continuar e uma sétima temporada será escrita futuramente. Estarei focando agora em 'Homem Proibido' e em outras obras que estarei escrevendo. Ela foi feita para vocês pra vocês e por vocês. Sei que tem alguns errinhos, mas é porque não tenho tempo de corrigir. Gostaria de agradecer a vocês que votaram e comentaram e estiveram sempre aqui comigo e que acompanham Paixão Secreta desde o primeiro capítulos.Mais uma temporada completa mais um obstaculo vencido por Mike. O título desse capítulo veio da canção 'Between Two Lungs' da Florence + the Machine. Um grande abraço para vocês e até a próxima.