Capítulo 28: Fantasmas Perdidos | Conto: Paixão Secreta | Temporada: 6ª

FANTASMAS PERDIDOS capítulo vinte e oito

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A

inda era de madrugada e aquele hospital era tão sombrio. O corpo de Craig já estava em San Diego e eu pedi que o corpo de meu pai fosse levado para lá. Ele ia gostar de ser enterrado junto a minha mãe a família estaria junta novamente. Esperando por mim. Jason deixou que eu levasse o corpo de seu pai para San Diego. Ele ficou arrasado desde a morte do pai. Não tinha saído de casa e tudo o que recebi foi uma mensagem de texto dizendo que ele estaria em San Diego para o enterro. Meu pai não quis velório. Ele sempre disse que a última coisa que ele queria é que as pessoas ficassem em volta de seu caixão chorando e lamentando. Ele não queria sofrimento. Acompanhando essa linha de raciocínio Jason também optou por não fazer o velório.

Devido aos últimos acontecimentos e a noticia de meu pai acabei sofrendo um desmaio. Fui obrigado a fazer um monte de exames. Na verdade Zoey e Valerie me obrigaram a ficar na enfermaria enquanto todo tipo de médico aparecia em e levava para dezenas de exames. No fim os resultados iniciais mostraram que era o estresse e eu não posso discordar deles. Os últimos dias tem sido demais. Alguns resultados iriam demorar a sair. Algumas horas na verdade. Como não era nada mais grave tentei convencê-los a me deixar ir embora, mas foi tudo em vão.

 Quando consegui escapar de deixei todos no saguão do hospital e arranjei em lugar do lado de fora escondido em meio ao o jardim da frente. Não queria que ninguém ficasse olhando para mim com pena. Fazia pouco mais de duas horas que estava lá olhando para o nada enquanto o frio me consumia e fazia com que me encolhesse cada vez mais sentado naquele duro banco de madeira. Não tinha mais lágrimas então decidi apenas pensar no futuro. O mundo tinha de alguma forma ficado pior do que já era. O mundo ficou mais frio, sem graça e intolerável sem a presença de meu pai.

Meu pai errou muitas vezes comigo e eu achei que essa ‘raiva’ e ‘ódio’ que eu tinha por ele faria com que a sua morte não me afetasse, mas é como se nada daquilo importasse. Nem me lembro das últimas palavras que disse a meu pai. O irônico é que as últimas palavras que eu disse a Craig ficam voltando em minha mente. Ele estava triste e decepcionado comigo. A última coisa que ele ouviu de mim foi o quanto eu amo Adam. Essas pensamentos tem me perturbado desde que tudo aconteceu.

- Mike? – falou uma voz masculina me procurando – Mike?

- estou aqui – falei acenando. Era Xavier. Ele parecia ansioso e agitado.

- você está bem?

- acho que não preciso responder – falei respirando fundo.

- você desapareceu e então…

– só queria ficar um pouco sozinho. É assim que me sinto por dentro. Só quero mostrar para o mundo o que sinto aqui – falei colocando a mão no coração.

- eu sinto muito Mike.

- não se preocupe, você parecia agitado. Queria me dizer alguma coisa?

- sim. Adam saiu da cirurgia a quase uma hora e os médicos disseram que ele está fora de perigo.

- ainda bem – falei colocando as duas mãos no rosto – eles disseram que além do pulso quebrado e do corte ele não sofreu outras lesões. Estará novo em folha em algumas semanas.

- Ele ainda não acordou, mas assim que o efeito da anestesia passar ele vai acordar.

- vou ficar ansioso para Vê-lo.

- ele está dormindo, mas se você quiser vê-lo, pode ir.

- sério? – falei me levantando.

- sim.

- obrigado.

- Mike, espera! – falou Xavier ficando de pé – eu recebi a mais ou menos uma hora uma ligação da Megan. Ele me contou tudo o que aconteceu. Ela foi sequestrada a meses por Roman. Disse que a policia a resgatou devido a uma denuncia anônima.

- sério? – falei tentando fingir surpresa.

- sim – falou ele coçando a barba – eu também fiquei sabendo que a capela da sua Universidade entrou em chamas devido a algumas velas que queimaram demais e entraram em contato com acelerante que estava esquecido no depósito.

- nossa, isso é… horrível.

- sim, e sabe o que é mais horrível? Haviam seis corpos lá dentro. Um deles era de Roman. Irônico, não acha?

- Sim. muita coincidência.

- você sabe algo a respeito disso?

- não – falei olhando para ele – na verdade estou surpreso com tudo isso.

- você não parece.

- não sei. Talvez sejam os últimos acontecimentos.

- Obrigado Mike.

- pelo o que?

- Justiça nenhuma nesse mundo faria eles pagarem.

- agradeço ao destino – falei entrando rapidamente no hospital. Me informei com a enfermeira e enquanto ela procurava informações de qual quarto Adam estava, Vanessa se aproximou e se despediu. Disse que Drake emprestaria o jato para leva-la para San Diego para ela organizar alguns detalhes do enterro. Ela disse que teria uma honesta conversa com Rachel. Aquilo me partiu o coração. Valerie e Steve iam com ela e encontraria Gray quando chegassem lá. Zoey e Joe também iriam com ela.

- Drake disse que o Jato volta ás seis horas da manhã para pegar você e todos que irão ao enterro – falou Vanessa me abraçando.

- eu te vejo lá – falei soltando ela sentindo um aperto no peito.

- quarto 38D no quarto andar – falou a enfermeira chamando minha atenção.

- obrigado – falei virando as costas e entrando no elevador.

Ao chegar no quarto andar percebi o quanto assustador era um hospital a noite. Caminhei por aquele sombrio corredor ouvindo o som do meu coração bater e de meu tênis deslizar pelo piso fazendo um irritando barulho. No meio do caminho arranquei os calçados e peguei indo o restante do caminho apenas com a meia.

Ao chegar em frente ao quarto 38D eu abri tentando não fazer barulho e vi que as luzes estavam apagadas. Ao acender eu vi ele deitado na cama de olhos fechados. O braço enfaixado. O pulso tinha se quebrado. Ele tinha alguns arranhões no rosto e na festa. Fechei a porta e me aproximei dele na cama. Acariciei o rosto dele e senti sua barba espetar meus dedos. Como eu pude odiar aquele rostinho bonito por todos esses meses? Ele estava sofrendo em segredo. Não consigo imaginar o que ele não estava sentindo enquanto os filhos estavam na mira de um assassino.

Percebi que talvez ele estivesse com frio então fui até o armário e peguei um cobertor e joguei sob o seu corpo cobrindo até seu peito. Puxei a cadeira bem próximo dele e me sentei acariciando seu braço. Ele tinha algumas tatuagens. Um tribal no braço esquerdo e uma outra imagem que eu não sabia bem o que era, mas parecia ter sido feita quando era um adolescente. Talvez nem ele saiba o que seja.

- você é a única pessoa que me sobrou – dei um beijo no braço dele – você está sempre tentando ajudar todo mundo e acaba se ferrando por causa disso. Fingiu a morte pro causa do irmão, teve os filhos sequestrados e ainda teve que aturar um rapaz bobo que te ignorou por dois anos. Não se atreva a morrer Adam White. É você que eu quero pare ser o pai dos meus filhos. Dos nossos filhos – falei rindo – sei que você já tem dois, mas eu quero mais dois: um casal. Para o menino eu sempre quis Luther. É um nome é forte. Tem origens militares, de homens que lutam – passei a mão em sua barriga carinhosamente. Não queria machuca-lo. Eu sempre gostei de Fredricka. Sei que é diferente, mas eu sempre imaginei que minha filha se chamaria Fredricka Fabray, mas acho quo vou chama-la de Alisson. Alison Fabray. Se ela tiver metade do otimismo e da perseverança da Ally eu fico agradecido – falei sentindo uma lágrimas cair ao me lembrar de Ally. É tão idiota ficar aqui conversando sozinho. Dizem que quando se está em coma você absorve o que é dito. Eu sei que não está em coma, mas eu quero conversar com alguém e você é o único que me entenderia.

- eu te entendo! – falou uma voz masculina vindo do outro lado do quarto. Ao olhar eu vi um homem de pé com os olhos castanhos. Seu corpo estava queimado e saia fumaça. Demorei a perceber que era Roman. Seu corpo estava desfigurado.

- Roman?

- sou eu – falou ele com um sorriso.

- você… você morreu! Eu vi você morrer.

- Sim. Eu morri – falou ele dando dois passos – então isso faz de mim um fantasmas.

- fantasmas não existem.

- diz isso pra ele – falou Roman olhando para o outro lado. Logo á minha frente estava Felix. O policial que eu me relacionei antes de conhecer Adam. Anos antes.

- Fe-Felix? – falei surpreso ao vê-lo á minha frente de pé.

- oi Mike – falou ele com um sorriso.

- eu estou ficando maluco – falei respirando fundo – isso não é possível. Vocês dois estão mortos. Você foi queimado e você levou um tiro e entrou em coma.

- sim – falou Felix – mas isso não muda o fato de que nós dois estamos aqui.

- eu morri? – falei estressado –eu morri naquele incêndio, não foi? Eu não consegui sair em tempo…

Felix mostrou na sua camiseta os buracos dos tiros que o levaram a ficar em coma.

- eu tenho essas feridas e Roman está queimado. Você tem alguma cicatriz?

- não – falei olhando pelo meu corpo – acho que não.

- então você não morreu – falou Felix olhando para Adam – esse cara tem sido um babaca pra você – falou Felix – ele nunca vai te amar da forma que eu te amei.

- sim. Ele ama – falei olhando para Felix – desculpa dizer isso.

- ai, doeu! – falou Roman – ele nunca me amou de verdade. Ele usou e abusou do meu corpo enquanto eu passei o nosso namoro fumando charutos, bebendo uísques recebendo o melhor boquete da minha vida.

- tenha um pouco de respeito – falou Felix – apesar que… você não está errado – falou ele olhando para mim com um sorriso – você é o melhor no que faz Mike.

- eu devo estar dormindo – falei sentindo meu corpo ficar gelado e minha testa suar frio – não é possível que isso esteja acontecendo.

- o que eu preciso fazer pra você acreditar que você está vivo e está bem?

Dei a volta na cama e tomei cuidado para não tocar no corpo carbonizado de Roman que fazia com que ele parecesse um monstro de algum filme de terror. Fiquei de frente para Felix e me aproximei. Senti o cheiro do perfume que ele usava. Tomei seu rosto com minha mão e senti a sua barba por fazer tocar meus dedos.

- eu consigo te tocar! – falei aproximando e sentindo seu perfume – eu consigo sentir seu cheiro.

Felix aproximou o rosto do meu e deu um beijo em minha boca. Eu senti seus lábios junto aos meus. Ele tocou minha cintura e eu o abracei da forma que eu costumava abraça-lo. Minha língua estava dentro de sua boca enquanto Felix me prendia e apertava cada vez mais o seu corpo contra o meu. Quando ele parou de me beijar ele sorriu para mim.

- eu sinto seu toque! – falei com os lábios trêmulos.

- agora você acredita em mim?

- sim – falei soltando-o – acho que fui possuído pelo demônio! – falei olhando em volta – eu estou sendo exorcizado nesse momento não estou?

- você é engraçado – falou Roman se aproximando de Adam.

- fica longe dele seu pedaço de bosta! – falei ficando entre os dois.

- você não fica com umes? – perguntou Roman para Felix.

- Não. Se ele faz o Mike feliz eu também fico feliz. Além do mais é ótimo assistir os dois tranzando do além – falou Felix brincando.

- As vezes tenho dúvidas de que ele me ama – falei olhando para Adam – ele é um canalha. Um estúpido canalha que faz meu coração bater mais rápido e minha cueca ficar melada – falei tocando a perna de Adam.

- ele te ama Mike. Você também não era assim tão acessível. No começo você era tímido e bem receoso. Não gostava de demonstrar afeto em público. Lembra quando você tinha vergonha de beijar Charley na frente do seu pai? Adam te tirou do armário e vice-versa.

- aquilo que você falou é verdade? – perguntou Roman – sobre ter dois filhos com ele?

- Sim. Claro. Não que seja da sua conta seu canalha desprezível.

- eu estou morto Mike. Doeu morrer queimado, mas não se compara a nada com o calor que eu sinto agora. Graças a você eu vou queimar para sempre – falou ele mostrando que as feridas eram recentes e que saiam fumaça de seu corpo.

- você merece! – falei para Roman – você e todos que estavam naquela capela. Espero que você queime no inferno.

- inferno não é um lugar Mike. É uma linda bagunça – falou ele rindo – o inferno é viver o seu pesadelo. Sem parar, para toda a eternidade.

- não de ouvidos a ele Mike. Olhe para mim.

- já entendi – falei rindo – você são como o anjo e o demônio no meu ombro.

- espero que eu seja o anjo – falou Felix.

- sim, você é – falei tocando o rosto dele.

- você precisa prestar atenção no seu corpo Mike – falou Felix – você não anda dando muito valor a ele.

- agora vai me dar um sermão porque dormi com dois ou três caras de uma vez? – falei me afastando de Felix – foi você que morreu, não eu… sem ofensas.

- não ofendeu – falou ele rindo.

- sabe… eu lembro de quando tudo começou. Essa paixão pelo Adam. Começou nas minhas calças e foi subindo até meu coração. O engraçado é que eu não tinha olhos ara Adam quando ele me contratou. Foi quando ele começou a agir como um ‘príncipe’, sabe. Sei que é clichê e que de ‘príncipe’ Adam não tem nada, mas ele foi um príncipe a sua maneira. Me defendendo e se importando comigo. A primeira vez que um homem me deu atenção. Aquele tipo de atenção. Nem meu namorado na época – Charley – me dava aquela atenção especial que ele me dava. Quando ele sugeriu a aposta eu levei na brincadeira mesmo querendo que fosse verdade e acabou se tornando realidade.

- e que aposta foi essa? – perguntou Roman.

- Adam fazia trabalhos voluntários sempre que podia ajudando clientes que não podiam pagar pelo seu serviço. Ele tinha um cliente em Nova York que tinha sido preso por engano. Durante uma noite de confraternização pouco antes do julgamento ele acabou ‘brincando’ dizendo que se ganhasse o caso ele iria para a cama comigo.

- e todos nós sabemos como isso terminou – falou Felix.

- alguns anos depois aqui estou eu: Em um hospital com meu antigo e atual chefe que é meu ex marido e está dopado com a anestesia enquanto falo com dois fantasmas. A minha vida está ótima.

- você se lembra exatamente do momento que começou a amá-lo? – perguntou Felix.

- acho que foi pouco a pouco – falei franzindo a testa.

- eu sei, mas tem aquele momento em que você olha pra pessoa e deseja ela tão intensamente que apenas o pensamento de imaginar ela com outra pessoa de consome e te corrói por dentro. Te faz querer gritar, faz seu estômago doer e seu pulmão não conseguir expelir o ar. Você lembra exatamente quando percebeu isso? Quando percebeu que a paixão se transformou em amor?

- sim – falei franzindo a testa – me lembro como se fosse ontem. Foi algumas semanas antes do tiroteio que aconteceu no Halloween e pouco depois de meu pai ter me estu… do incidente – falei sentindo um arrepio ao me lembrar. Adam e eu já havíamos ficado, mas se tratava de paixão e tesão.

2013

Depois do episódio em que cai na piscina da casa de Adam onde eu sangrei pelo ânus eu fiquei envergonhado de olhar na cara de todos. Na verdade era segunda feira. Não sabia o que iria fazer ao vê-los na empresa. Eles iam me perguntar o que tinha acontecido: especialmente Gray. Eu ainda tinha dificuldade para sentar e estava com um grande incomodo no ânus. Estava ardendo muito e as vezes me pegava mancando. Mais uma vez o ônibus tinha estragado, mas dessa vez não estava chovendo. Menos mal. O sol brilhava forte e quanto mais caminhava mais o meu ânus doía. Sentia que tinha algo de errado, mas não queria ir ao médico. Não queria me humilhar, além do mais não queria dar queixa.

A música ‘Blurred Lines’ tocava alta em um carro que passou por mim. Ela estava a algumas semanas como as mais tocadas nas rádios. Estava a uma quadra da empresa e tentava não demonstrar o quão dolorido eu estava. Estava com um largo sorriso para todos que passavam por mim. Eu parecia um imbecil tentando demonstrar uma falsa sensação de felicidade. Quando senti na pele o friozinho do ar condicionado me senti aliviado por estar na empresa. Estava louco para me sentar. Apesar de que não era tão confortável assim.

- bom dia! – falei pare o segurança antes de chegar ao elevador.

- bom dia Sr. Fabray – falou o segurança olhando para mim. Apertei o botão do elevador esperando     que ele chegasse e senti um vulto atrás de mim.

- O senhor está bem Sr. Fabray? – perguntou.

- estou sim, porque?

- porque o senhor está sangrando – falou ele apontando. Olhei para trás e vi que tinha sangue escorrendo pela minha perna. Minha calça de jeans azul claro estava com uma grande mancha.

- nossa! – falei assustado vendo a porta do elevador se abrir. Pulei para dentro do elevador e apertei o botão para ir até o vestiário me trocar, mas antes que a porta se fechasse ouvi passos apressados e uma mão segurar a porta.

- segura! – falou Adam com a expressão séria. Eu me ver ele abriu um sorriso – obrigado Mike.

- de nada – falei tirando a mão do botão. Eu tinha apertado o botão para a porta se fechar e não para que ela abrisse. Ainda bem que ele não percebeu.

- como foi seu fim de semana? – falou ele ficando ao meu lado. Eu fui o máximo que pude para trás tentando esconder. Sabia que estava pingando no elevador. Sentia escorrer.

- foi bom – falei forçando um sorriso.

- você está bem? – falou Adam agora preocupado – me refiro ao que aconteceu na piscina.

- sim – falei rindo – era um corte que tinha feito por acidente na perna no dia anterior, mas está tudo bem. Eu fui até a emergência do hospital o meu bairro e levei alguns pontos.

- ainda bem. Não podemos deixar essas coisas pra lá – falou Adam.

Quando a porta do elevador se abriu no nosso andar Adam saiu e olhou para mim. Ficou me encarando segurando a porta do elevador com a mão.

- você não vem?

- que droga, acabei esquecendo que preciso ir até o vestiário pegar uma coisa que esqueci.

- que coisa? – perguntou ele desconfiado.

- uma agasalho. O ar condicionado está bem frio – falei forçando um sorriso.

- não trem problema. Eu não me importo que deixe o ambiente mais quente. Deixe da forma que ficará melhor pra você.

- ta bom – falei respirando fundo e dando dois passos. Adam saiu e começou a andar em direção a sua sala e eu olhei para trás vendo a poça de sangue que ficou no elevador e o rastro que deixei ao sair.

- Mike! – gritou Adam assustado – você está bem? você está sangrando! – falou ele segurando no meu braço.

- eu… eu-eu estou bem! – falei vendo sua expressão assustada – deve ter sido um ponto que abriu.

- o sangue não está vindo da sua perna. Tem uma grande mancha da sua… está vindo por trás… - falou ele sem jeito. 

- não é nada. Eu vou trocar de roupa – falei tentando me soltar no braço dele e entrar no elevador.

- o que está acontecendo? Me conta! – falou ele aumentando o tom de voz – quer que eu liguei pra emergência.

- não. não faça isso.

- Adam? O que está acontecendo? – perguntou Steve abrindo a porta da sua sala.

- não é nada – falei olhando para ele.

- não é nada Steve – falou Adam confirmando – só estou jogando conversa fora com Mike.

Steve fechou a porta da sala e então Adam olhou para mim novamente.

- me conta! – falou ele agitado. A barba sempre arrepiava quando ele estava nervoso.

- eu me machuquei… sexta feira.

- onde? No ânus? Como?

- eu meio que estava… eu não lembro direito – falei começando a me desesperar ficando sem saída.

- pode contar! Eu guardo segredo. Não precisa ter vergonha – falou ele rindo – se você tiver abusado quando estava brincando com um vibrador.

- eu fui molestado – A expressão de Adam mudou ao me ouvir dizer aquilo.

- eu sou advogado Mike. Não usamos a palavra ‘molestar’ quando se é estuprado – falou ele segurando no meu braço – quem foi?

- não importa. Está doendo – falei segurando no braço dele – dói e muito.

- você contou para alguém? Foi até a delegacia? Ao médico?

- não.

- vamos fazer isso agora.

- você não pode fazer isso. É minha escolha. Eu escolhi não contar. Não quero que as pessoas olhem pra mim da forma que você está olhando. Por favor, não faça isso – falei vendo ele com o celular na mão.

- vem pra minha sala – falou ele segurando na minha mão enquanto caminhávamos para a sala.

Quando chegamos ele fechou e trancou a porta. Eu fiquei de pé sem saber o que fazer.

- sente-se! – falou ele pegando o celular.

- não tem como, vou sujar o sofá.

- foda-se! – falou ele me levando até o sofá me fazendo sentar – eu vou ligar para um médico.

- e não quero ir para o hospital.

- ele virá até aqui. Será totalmente sigiloso. Pode confiar – falou Adam saindo da sala e trancando a porta pelo lado de fora. Depois de mais ou menos vinte minutos ele abriu a porta com um médico ao seu lado. Ele se apresentou como Dr. Donohue e pediu que eu contasse o que tinha acontecido. Contei sobre o estupro e sobre não ter ido a nenhum médico e sobre as dores e os incômodos.

- o que você me relatou pode ter sido algum vazo que arrebentou durante o crime – falou ele pegando um par de luvas – eu vou precisar analisar a área para ter certeza do que está acontecendo.

- não – falei com vergonha. Adam estava de braços cruzados de pé próximo a porta pensativo.

- fica tranquilo Mike – falou o médico – sei que pode parecer estranho pra você, mas isso é parte da minha profissão. Retire sua roupa e deite-se aqui mesmo.

- não – falou Adam – foda-se a roupa. Apenas corte a calça e a cueca fora – falou ele entregando uma tesoura para o médico.

- okay – falou o médico – se você estiver de acordo.

- sim – falie nervoso.

- você quer que eu saia? – perguntou Adam ansioso.

- não – falei respirando fundo – pode ficar, mas não olhe.

- okay! – falou ele vindo até o sofá – farei melhor do que ficar aqui – falou ele se sentando - deite aqui no meu colo e segura a minha mão. Logo vai passar,

- Okay – falei me deitando com a cabeça na perna de Adam sentindo o médico cortar minha calça e minha cueca.

- não olha! – falei envergonhado. Aquilo era humilhante.

- vai ficar tudo bem – Adam começou a acariciar os meus cabelos.

- okay – falei sentindo o médico me deixar nu limpando minhas nádegas com a gaze. Ele começou a analisar e ardia muito enquanto tentava descobrir o que aconteceu. Procurei a mão de Adam e ele segurou forte em minha mão. Não podia medir a vergonha que sentia naquele momento. Estar em uma posição tão vulnerável e patética. Engoli o choro e algumas lágrimas caírem. Tentei disfarçar e não fazer som, mas ele percebeu.

- a culpa não foi sua – falou Adam tentando me acalmar – logo vai acabar. Fica calma.

- você com certeza foi violentado – falou o médico tirando as luvas – você deve estar sentindo uma dor excruciante – falou o médico.

- sim – falei me sentando e Adam me deu uma almofada para cobrir minha nudez – dói muito e sangra.

- você tem uma enorme fissura no ânus. Vai precisar de uma cirurgia.

- eu não posso! – falei com medo.

- é uma cirurgia simples, mas muito importante. Você não pode ficar com essa fissura. Ela pode desencadear uma infecção. Uma hemorroida está se formando. Essa dor que está sentindo não é nada comparado com o que está por vir.

- meu pai… - falei tentando dizer algo.

- não tem problema Mike – falou Adam – sue pai não precisa saber de nada. Nós dizemos a ele que você precisou viajar a trabalho comigo. Você faz a cirurgia e você fica no hospital e quando receber alta fica hospedado no hotel aqui em frente até você melhor. Quando o Halloween chegar você estará como novo.

- mas eu preciso dar entrada no meu plano de saúde.

- não se preocupe Mike. Eu pago por tudo – falou Adam – pela cirurgia, pelo hotel… não se preocupe com dinheiro. Preocupe-se em ficar bem.

- eu não sei o que dizer…

- não precisa falar nada – Adam me puxou e me abraçou me fazendo deitar em seu ombro – pode agendar a cirurgia – falou Adam para o médico.

- eu estou com medo.

- não fique. Eu estarei com você. Ao seu lado todo o processo de recuperação. Você não vai ficar sozinho.

- obrigado – falei limpando os olhos.

E foi ali. Naquele momento que o que eu sentia por ele passou de uma simples paixão secreta para amor. Foi quando comecei a amar aquele homem que não desejava apenas orgasmos ou meu corpo. Em seus braços, chorando e cheio de ar, totalmente humilhado eu percebi que queria estar com ele pelo resto da vida. Ele pode ser um canalha, mas é o meu canalha.

- é bonito – falou Felix chorando – o amor de vocês dois.

- acho patético! – falou Roman.

- você está com inveja – falou Felix – o que ele sentiu por você não foi nem dez por cento do que ele fingiu gostar em você.

- eu não tenho inveja – falou Roman deixando chamas saírem de seu olhos. Eu em assustei nesse momento. Senti algo estranho no meu corpo. Uma espécie de cócegas atrás de mim. Ao olhar para trás vi que escorria sangue da minha perna como naquela vez. Comecei a sentir um frio na espinha imaginando tudo aquilo outra vez. Senti um calor em meu rosto e ao olhar para frente vi Roman próximo a mim com uma expressão raivosa ele abriu a boca ferozmente e deu um grito que me fez tremer de medo.

Abri os olhos assustado. Engoli em seco levantando meu rosto. Eu havia deitado minha cabeça no braço de Adam e cochilado. Tudo não passou de um horrível pesadelo. Adam ainda estava dormindo e meu corpo doía por ter dormido sentado. Me levantei e fui até o banheiro e lavei meu rosto. Voltei para o quarto e peguei o copo e enchi com água.

- Mi-Mike? – falou a voz rouca daquele canalha que eu tanto amava.

- Adam? – falei olhando para trás.

- é você mesmo?

- sim, sou eu – larguei o copo para trás e fui até ele.

- eu morri?

- não – falei me inclinando e dando um beijo em seu rosto e com um sorriso dei um selo em sua boca!

- Ai! – falou ele reclamando.

- desculpa – falei me levantando.

- o que aconteceu?

- acabou! – falei rindo – eu sei de tudo. Sua esposa e seus filhos já estão em segurança. Você também está em segurança.

- sinto muito pelo Craig – falou ele respirando fundo. Ele estava recuperando s sentidos e parece que ele estava bem apesar dos machucados.

- eu também – falei lambendo os lábios – tive medo de perder você também.

- eu estou bem – ele segurou em meu braço com a mão esquerda – não vou a lugar nenhum.

- eu também não – falei rindo. Era bom sentir um pouco de algeriana quele dia fatídico.

- Vanessa me contou sobre seu pai, como ele está?

- morto – falei colocando minha mão no peito dele.

- eu sinto muito Mike eu sei o quanto você o amava.

- eu ainda amo. Estou cansado de todo mundo morrer. Minha mãe morreu, meu pai morreu… eu estou sozinho no mundo. Minha família não existe mais. Estou sozinho no mundo.

- você não está sozinho. Tem a mim – falou ele com um sorriso com a voz rouca e um tom baixo – se o problema é a família nós podemos resolver. Vamos criar uma nova – ele deslizou a mão pelo meu braço e segurou minha mão – se case comigo. Faça de mim o homem mais feliz do mundo… outra vez.

Passei a mão nos meus olhos limpando as lágrimas e balancei a cabeça positivamente. engoli o choro e me inclinei deitando a cabeça no peito de Adam que afundou os dedos em meus cabelos e me consolou como ele sempre fez. Sem perguntas e sem julgamento. Quando estava passando pelo pior momento da minha vida ele sempre estava por perto para me consolar.

Chegamos a reta final dessa temporada. Espero que tenham gostado do que leram até agora. O título do capítulo de hoje veio da música 'Misguided Ghosts' do Paramore. Um abraço a todos e até o próximo.