Capitulo Quinze
Problemas paternos
D
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evan e
eu estávamos almoçando. Em silêncio na maior parte do tempo. Acho que não
tínhamos muito o que dizer um ao outro. Devan terminou primeiro e começou a
lavar a louça, mas eu comi rapidamente o que tinha em meu prato e o expulsei da
cozinha. Disse pra ele relaxar. Ele tinha acabado de sair do hospital e estava
de repouso. Claro que eu não falei nada sobre as recomendações do Dr. Fritz
porque eu não queria que ele sentisse que eu estava fazendo um favor ou algo do
tipo. Ele mesmo disse que estava com o ego ferido e a última coisa que eu
queria é que ele se sentisse mal.
- vou te fazer companhia enquanto você arruma tudo – falou Devan
voltando a se sentar próximo ao balcão.
- seria uma honra – falei enxaguando alguns copos que ele já tinha
começado a lavar – mas não fica ai calado. Converse comigo.
- eu converso, claro – falou ele sorrindo – quer falar sobre o que?
- qualquer coisa. Eu só não quero que você fique ai olhando pra mim com
vergonha.
- vergonha? – perguntou ele parecendo confuso ou se fazendo de desententido.
- sim. Desde que eu fiz aquele comentário no quarto você parece meio…
sabe… desculpa se eu passei dos limites – falei sem graça, mas com vontade de
rir – eu só queria te fazer esquecer de tudo.
- não, sem problema. Eu sei que você só estava brincando. Não me ofendeu
nem nada.
- que bom. Foi só um comentário bobo mesmo – falei dando os ombros – A
última coisa que eu quero é ter fama de ficar dando em cima de caras héteros –
falei olhando pra ele.
- pois é… - falou Devan respirando fundo e se remexendo na cadeira.
- o que foi? – perguntei confuso – quer uma cerveja?
- isso! Claro! – Devan apontou meio desconcertado e eu peguei uma
cerveja e entreguei a ele.
- valeu! – ele tomou um gole.
- apesar que… - voltei aos meus afazeres – espero que tenha ficado claro
que eu estava brincando ao fazer o comentário, mas o conteúdo não era
brincadeira. Eu sustento tudo o que eu disse.
- eu já entendi Erick – falou Devan com uma cara não muito boa colocando
a cerveja na boca tomando um longo gole.
- okay, vou mudar de assunto. Você está começando a ficar irritado.
- não estou irritado… - Devan foi interrompido por mensagens chegando no
meu celular. Pedi que ele olhasse para mim já que eu estava com as mãos
ocupadas e ensaboadas.
- a senha é minha data de aniversário: 311093
- okay – falou Devan liberando – você nasceu no Halloween?
- sim – falei rindo – você sabe o que dizem de quem nasce no Halloween,
né?
- não, o que? – perguntou ele curioso.
- nada – falei rindo e Devan pareceu não achar graça e franziu a testa.
- são mensagens de Hyuna.
- é a Elisa. O que ela está dizendo, homem ranzinza?
- eu não sou… esquece… – falou Devan lendo as mensagens – ela disse que
precisou viajar para o Canadá com urgência.
- sério? – perguntei surpreso – será que aconteceu alguma coisa com os
pais dela?
- ela também disse que não precisa se preocupar. Não vai poder se
comunicar por algum tempo, mas vai entrar em contato assim que possível – Devan
olhou para mim – talvez seja algum assunto de família. É melhor dar um tempo a
ela.
- você está certo – falei respirando fundo – pelo menos fico mais
tranquilo.
- eu sei que você não perguntou, mas eu faço aniversário amanhã– Devan
deixou meu celular e voltou a pegar sua cerveja.
- você tem razão – falei secando a pia – eu não te perguntei.
- okay – falou ele se levantando e tomando sua cerveja.
- foi só uma brincadeira – falei indo até ele e empurrando-o no ombro –
você vai completar 47?
- isso! – falou ele rindo.
- você vai ter a idade do meu pai – falei cruzando os braços pensativos
– você é bem mais legal do que ele, sabia? Apesar de ser ranzinza?
- eu não sou ranzinza – falou ele tentando argumentar, mas eu não
deixei.
- olha, eu não quero ouvir suas desculpas e além do mais eu terminei
tudo o que tinha pra fazer. O resto do sábado agora é nosso! – falei indo para
meu quarto. Eu tinha colocado a TV no meu quarto – você quer escolher algum
filme?
- você escolhe – falou Devan entrando no quarto e se sentando na beirada
da cama.
- não. Você escolhe e eu faço pipoca – sai do quarto e coloquei a pipoca
no micro-ondas e quando voltei para o quarto com o balde de pipoca Devan estava
sentado do lado direito da cama. Entreguei o balde de pipoca a ele e eu peguei
meu cobertor e coloquei no meio da cama separando nós dois. Para que ele não se
sentisse desconfortável – escolheu o filme na Netflix?
- sim, mas foi no Amazon Prime – falou ele apontando o controle para a
TV – ‘A Vida é Bela’. Já assistiu?
- não. Nunca – abri meu Dr. Pepper em lata e tomei um gole antes de
pegar um pouco da pipoca.
- uma comédica dramática de 1997. É muito bom.
- você já assistiu?
- sim. Acho que você vai gostar. É sobre a 2ª Guerra Mundial.
- ok – falei me inclinando e pegando um travesseiro meu que estava no
chão e colocando ele entre Devan e eu para evitar que nossas pernas se
encostassem.
Devan observou aquilo e pegou um pouco de pipoca.
- a cama não está muito cheia? Daqui a pouco um de nós cai.
- estou fazendo isso pra você ficar mais confortável – dei play no filme
e deixei toda minha atenção ser levada para a TV.
O filme tinha duração de duas horas e era italiano. Depois de quase uma
hora de filme percebi que era mais drama do que comédia. Contava a história de
Guido, filho de judeus, que foi mandado para um campo de concentração,
juntamente com seu filho, o pequeno Giosuè. Guido é um pai extremamente amoroso
e durante o filme ele faz com que o filho acredite que eles estão participando
de um jogo fazendo com que o filho não saiba a realidade do horror que está
acontecendo e que eles estão inseridos.
Devan e eu não trocamos mais do que duas palavras durante o filme já que
ele era legendado e eu não tinha costume de assistir filmes estrangeiros.
Especialmente em outras línguas. Foi difícil não ficar bolado com o final. Quer
dizer… o final é triste. As tropas aliadas estão se aproximando, os nazistas
estão abandonando o local e Guido diz ao seu filho que a ‘Tarefa Final’ do jogo
é ele se esconder em uma caixa metálica até que ele não ouça mais nenhum som.
Após o filho se esconder Guido é levado ao canto da prisão junto com outros
companheiros e metralhado pelos nazistas. A todo momento ele mantem um sorriso
no rosto e tenta manter a tranquilidade para que seu filho não se assuste ou
perceba a realidade do que está acontecendo.
Na manhã seguinte quando tudo está silencioso o pequeno Giosuè sai da
caixa de metal e vê um tanque do exército dos Estados Unidos se aproximando e
ele acha que esse é o prêmio que ele ganhou por ter ganho o ‘Grande Jogo’.
Quando ele se encontra com sua mãe após viajar em segurança com o exército americano,
o inocente Giosuè conta entusiasmado a mãe que ‘ganhou um tanque’ como o pai
havia prometido.
Quando o filme acabou eu estava chorando. Tentei me conter, mas coloquei
o travesseiro no rosto.
- você está bem? – perguntou Devan também com os olhos vermelhos.
- estou sim – falei tirando o travesseiro – é só que… eu briguei com meu
pai a última vez que o vi… sabe? Falei um monte de merdas pra ele. Olhei para
Devan e confirmei que ele também tinha se emocionado, mas não tanto quanto eu.
- eu também me emociono com esse filme – falou Devan rindo – eu já
assisti muitas vezes então eu estou meio que anestesiado.
- você lembra do seu filho? O Bernard?
- sim – falou Devan desviando o olhar – eu só queria sentir que eu fui
um bom pai e fiz de tudo por ele… igual Guido – falou ele dando os ombros – mas
eu sei que isso não é verdade.
- você não está morto Devan – falei colocando a mão no ombro dele –
nunca será tarde demais pra reaver a conexão com seu filho. Mesmo que você
tenha que esperar até ele completar 18 anos.
- ele nunca vai me perdoar por perder esses anos da vida dele… - falou
Devan rindo sem vontade – você por outro lado tem um pai que está vivo,
presente e que te ama muito. Não deixe coisas mesquinhas como brigas e mágoas do
passado ficarem entre vocês dois.
- não fala isso – falei escorando na cabeceira e colocando as duas mãos
no rosto limpando as lágrimas – eu queria tanto falar com ele agora, mas eu sei
que é só efeito do filme.
- liga pra ele! – Devan deu um pulo da cama e foi até a cozinha e trouxe
meu celular – fala com ele. Na minha frente – Devan voltou a se sentar na cama.
- tudo bem – falei procurando o nome dele e colocando pra chamar. O
celular chamou várias vezes até que foi pra caixa de mensagens – ele não está
atendendo.
- tente de novo – insistiu Devan. Mais uma vez coloquei o número do meu
pai pra chamar, mas dessa vez chamou duas vezes e foi pra caixa de mensagens.
- dessa vez chamou só duas vezes e a chamada foi recusada. Ele não quer
falar comigo.
- deixa de bobeira. Claro que quer. Talvez ele não esteja ouvindo o
celular tocar.
- vou tentar só mais uma vez! – uma terceira última vez liguei pro meu
velho, mas dessa vez o celular chamou uma vez e foi paras a caixa de mensagem.
- está vendo só? – falei colocando no viva voz – a primeira vez chamou
até ir pra caixa de mensagem. Agora ele está recusando a mensagem.
- porque você não vai até lá?
- eu não. Ele que é o pai, se ele quisesse falar comigo ele tinha
atendido – deixei o celular de lado.
- puta que pariu – falou Devan rindo – sabe qual o problema de vocês,
filhos? Acham que nós pais somos super-heróis e que não temos sentimentos. Você
já parou pra pensar que talvez ele esteja esperando que você vá atrás dele?
Pelo menos uma vez? Não que eu tenha passado por isso, mas já pensou como seria
ter um filho tão insuportável quanto você? Ele tenta se aproximar e todas as
vezes você o evita e mesmo assim ele continua tentando. Você tenta uma vez e
desiste?
- eu não sou insuportável – falei me levantando e pegando o balde de
pipoca que estava com ele.
- porque você não vai até lá e passa um tempo com ele? – perguntou Devan
se levantando.
- porque não vou deixar você sozinho.
- eu prometo que não vou fazer nada contra mim ou qualquer outra pessoa
– falou ele levantando a mão esquerda.
- você precisa levantar a mão direita pra fazer um juramento e não a…
esquece – falei saindo do quarto e Devan me seguiu.
- Vou me sentir péssimo se você não for.
- você promete que não vai fazer nada de idiota?
- sim. Eu prometo! – Devan apertou os lábios e levantou a sobrancelha –
o que foi? Não acredita em mim.
- é difícil acreditar depois do que você fez – falei fechando os olhos e
colocando a mão no rosto pensativo – seria irresponsabilidade minha deixar você
aqui sozinho.
- Erick eu prometo – Devan segurou em meus braços e retirou minhas mãos
do rosto revelando meus olhos. Fica tranquilo.
- tudo bem, mas você precisa me enviar mensagens no Whatsapp a cada 5
minutos. Se você por acaso não enviar eu vou ligar pra emergência.
- pode ir tranquilo. Vou estar aqui quando você voltar –Devan sorriu e
segurou em meus ombros me dando o maior apoio – vá lá conversar com seu pai e
resolva as coisas.
- prometo que não vou demorar – falei animado pegando o celular e minha
carteira. Calcei meu par de tênis surrado e eu estava pronto para ir – vê se
não faça esforço. Fica no meu quarto descansando – Devan estava na cozinha
pegando outra cerveja – a proósito: você vai dormir no meu quarto a partir de
hoje. Eu durmo no sofá.
- eu não posso deixar você fazer isso – falou Devan abrindo a cerveja.
- sem discussão! – falei confirmando o Uber – meu carro chegou…
- tudo bem – falou Devan tomando um gole de sua cerveja.
- a propósito – falei abrindo a porta – a última vez que eu conversei
com a Elisa ela disse que tinha uma coisa pra me contar sobre você.
- sobre mim? – Devan pareceu surpreso.
- na verdade uma coisa que você disse a ela sobre mim.
- e-eu?!
- Sim. Lembra naquela sexta feira que vocês ficaram doidões aqui no meu
apartamento enquanto eu fui me encontrar com aquele sujeito… o Ian?
- Haaaaaa sim… eu me lembro – falou Devan tendo uma epifania.
- pois é. Elisa disse que ia me contar hoje o que você disse sobre mim –
eu franzi a testa e tentei me lembrar – Na verdade não lembro se é algo que
‘você disse’ ou se é algo que você ‘queria me dizer’…
- na verdade acho que poderíamos deixar pra lá… - Devan coçou a cabeça
parecendo nervoso.
- espere eu voltar – falei interrompendo Devan – quando eu voltar você
me conta – me despedi de Devan e fui ao encontro do meu pai deixando-o pra
trás.
No caminho até a casa de meu pai enviei uma mensagem avisando que estava
a caminho. Talvez ele visse a mensagem. Quando cheguei á sua casa percebi que
haviam alguns carros estacionados em frente á sua casa. O carro estava na
garagem. Ele estava em casa no final das contas. Já fui entrando e percebi que
havia uma música tocando. Era ‘I Like It’ da Cardi B.
- tem alguém em casa? – percebi que estavam todos lá fora. Era uma
festa.
- Erick meu querido! – falou Bettina aparecendo com trajes de banho vestindo
uma saída de banho vermelha por cima – estamos tendo uma festa.
- eu percebi – falei olhando em volta – onde está meu pai?
- encontrando alguns amigos… figurões da rede! – falou Bettina entrando
na minha frente.
- que bom, será que eu posso falar com ele?
- eu não sei se agora é um bom momento – falou Bettina juntando as mãos
tentando ser maternal – você entende o que quero dizer, não é? Seu pai fez
novos amigos desde que foi promovido a âncora…
- ele não quer me ver? Foi por isso que ele não atendeu o telefone?
- olha eu não…
- Erick? – meu pai apareceu na cozinha sem camisa, apenas com calção de
banho e uma cerveja na mão.
- não é nada, eu já vou embora. Não quero atrapalhar sua festa – falei
dando um passo para trás, mas meu pai veio até mim.
- não! Fique! – falou ele rapidamente.
- era o que eu estava dizendo a ele! – falou Bettina – vá ver seu pai!
Ele sente sua falta.
- o que te trouxe? Aconteceu alguma coisa?
- me perdoa – falei abraçando-o – eu não queria ter dito aquelas coisas.
- eu que peço perdão – meu pai me abraçou e Bettina pegou a cerveja da
mão dele. Meu pai fez um gesto com a mão para que Bettina fosse embora e nos
deixasse a nós. Ele pensou que eu não vi, mas eu vi e eu a vi sair não gostando
nada daquilo – você sabe que eu nunca quis dizer aquelas coisas.
- esquece pai… vamos só… - falei soltando-o e limpando o rosto – vamos
só esquecer o passado e começar do zero.
- porque está chorando.
- fiquei com saudades suas e eu tentei te ligar, mas você não atendeu.
- meu celular caiu na piscina – falou meu pai segurando no meu braço me
puxando me levando até a cozinha. Ele me mostrou o celular em cima do balcão –
eu não sei o que aconteceu. Ele deve ter caído na água – ele pegou o celular –
o mais engraçado é que essa porcaria deveria ser a prova d’água, mas quando
Bettina o encontrou ele já deveria estar a muito tempo na piscina.
- foi a Bettina que o encontrou?
- sim. Porque?
- nada – falei respirando fundo.
- venha, eu vou te apresentar aos meus…
- não pai. Por favor. Não me faça pagar esse mico – falei rindo sem
graça – eu só vim aqui pra ver o senhor.
- tudo bem – falou ele apontando para uma cadeira – sente-se, quer beber
algo?
- o que o senhor tiver que não seja alcóolico – falei me sentando e
apoiando os braços no balcão.
- Dr. Pepper ainda é seu favorito? – perguntou ele pegando um na
geladeira.
- o senhor se lembra?
- como poderia esquecer – ele me entregou e eu abri tomando um gole. Meu
pai ficou olhando para mim e apertou os lábios em um sorriso. Ele parecia
pensativo.
- o senhor ficou bem de barba – falei tentando quebrar o silêncio. Ele
começava a deixar a barba a crescer. Estava bem ralinha.
- vejo que você não está mais usando… - falou meu pai apontando para o
próprio olho – a lente de contato para esconder o seu olho vermelho.
- pois é – falei dando os ombros – decidi tentar parar de esconder
afinal quantas pessoas no mundo tem um olho castanho e o outro vermelho?
- pouco menos de 0,000002% da população mundial.
- pois é – falei tomando outro gole do meu refrigerante – eu não deveria
ter vergonha de uma coisa tão boba. Especialmente se é algo tão raro.
- você é raro meu Pequeno Príncipe – falou ele me fazendo lembrar de
minha mãe.
- o senhor nunca me chamou assim. Só minha mãe – falei triste.
- claro que chamei – falou ele argumentando movimentando as mãos – talvez
você não se lembre, mas eu sempre te chamei assim. O tempo todo.
- o senhor nunca gostou pai. Lembro que dizia que eu ia crescer mimado e
eu precisava saber que eu não era um príncipe e o mundo não era meu reino, mas
que era bom eu saber que eu era ‘pequeno’ porque era assim que as pessoas me
veriam: como insignificante.
- okay, okay – falou ele se rendendo e parecendo triste por eu lembra-lo
das coisas que ele já tinha dito e que claramente ele se arrependia.
- desculpa pai, eu só… pode me chamar do que quiser.
Claramente haviam muito atritos entre meu pai e eu. Na verdade se minha
mãe estivesse viva haveriam muitos atritos entre todos nós. Na equação eu acabo
sendo sempre o problema.
- e então? Como foi sua semana? – perguntou meu pai mudando de assunto.
- foi normal pra dizer a verdade – tomei outro gole – quer dizer… eu
estou dividindo meu apartamento com um cara e ele acabou tendo uma overdose…
- o que? Que ‘cara’? – ele pareceu preocupado.
- digamos que é só uma pessoa tão perturbada quanto eu. Ele era meu
vizinho e está passando por dificuldades financeiras e ele acabou tentando
cometer suicídio – cocei minha cicatriz no rosto – a sorte foi que conseguiram
salvar a vida dele.
- Erick eu preciso dizer – falou meu pai preocupado – eu detesto que
você tenha que morar naquele ‘muquifo’. Aquele prédio está caindo aos pedaços,
a vizinhança é perigosa e agora você está me falando sobre esse… ‘cara’ ou seja
lá quem for…
- não se preocupa pai. Eu sei que pode parecer feio e bagunçado por
fora, mas por dentro ele só quer uma chance.
- ok, eu entendi a indireta – falou ele respirando fundo e rindo – eu só
estou feliz que você veio e não queria que fosse embora nunca.
- queria que todos nessa casa pensassem assim…
- o que disse? – meu pai estava distraído pegando outra cerveja na
geladeira.
- nada, nada – falei apertando os lábios em um sorriso.
- e o seu amigo ou… vocês são mesmo só ‘amigos’? esqueci de perguntar.
- sim pai. Só amigos. Na verdade ele me convenceu em vir aqui te ver.
- minha opinião começa a mudar sobre ele – falou ele voltando a se
sentar – então quer dizer que ele já saiu do hospital?
- sim. Na verdade ele acabou deixando uma dívida enorme pra trás e…
- o que meus dois homens estão conversando? – perguntou Bettina sendo
falsa pra caralho.
- nada – falei interrompendo o assunto. Eu sabia o que pareceria se ela
houvesse aquilo.
- calma… – falou meu pai interessado – você estava falando sobre uma
dívida hospitalar?
- sim – falei olhando para Bettina e depois para meu pai.
- e qual o valor dessa dívida?
- uns 7 mil.
- e como ele pagou?
- não pagou. Eu pretendia pagar, mas não imaginei que fosse ficar tão
caro.
- eu vou fazer um cheque! – falou meu pai se levantando.
- não precisa pai! Eu não vim aqui pra isso.
- a gente sabe – falou Bettina sorrindo para mim.
Meu pai se foi da cozinha e minha irmã Kimberly apareceu.
- Erick! – falou ela me abraçando por trás e dando um beijo na minha
bochecha – como você está?
- estou bem Kim. Achei que você estivesse dormindo na sua fraternidade.
- sim. Eu estou, mas essa é a Semana Infernal e eu tive que ceder o meu
quarto para uma das candidatas limpar então eu tive que bagunça-lo o máximo que
pude.
- e o Hunter?
- Está com os escoteiros essa semana – Kim continuou com o braço passado
em mim e bagunçou meus cabelos – é bom te ver por aqui.
Meu pai voltou com o talão de cheques e começou a preencher. Eu respirei
fundo e eu estava um pouco constrangido com tudo aquilo. A última coisa que eu
queria era dar motivo para Bettina falar pelas minhas costas. Eu vi que ela
ficou olhando pelo canto do olho o valor que ele estava colocando e ela tentou
disfarçar, mas ela arregalou o olho e por alguns instantes eu pude ver que ela
não acreditou.
- você acha que isso resolve? – ele arrancou o cheque e me entregou.
- pai eu não posso aceitar tudo isso.
- eu posso – falou Kim pegando o cheque.
- Esse dinheiro é do Erick – meu pai tirou da Kim e me entregou
novamente.
- é muito mais do que a conta do hospital.
- use-o para comprar moveis novos
para o seu apartamento. Não que eu esteja desdenhando as coisas que você
conquistou nesses últimos anos, mas se você sente que esse lugar é seu lar, use
esse dinheiro para ser um lar mais confortável. O restante você guarda para
usar em emergências.
- tem certeza pai? Não vai fazer falta?
- Erick tem razão amor – falou Bettina colocando as mãos o ombro dele –
são 200 mil dólares. Acha que está no momento certo para dar esse dinheiro?
- sim. O momento não poderia ser melhor – falou ele tocando a mão da
futura esposa – com essa promoção, o novo emprego… - falou ele orgulhoso de si
mesmo – eu finalmente posso dar aos meus filhos tudo o que eu nunca tive.
- tudo bem. Se não vai fazer falta – eu dobrei o cheque e me levantei colocando-o
no bolso. Meu pai se levantou e eu o abracei de novo agradecendo o dinheiro –
eu não vim aqui por isso pai, eu juro – falei ainda abraçado com ele.
- eu sei Erick – falou ele dando uns tapas de leve no meu rosto – estou
feliz por você ter vindo meu filho.
- amor os convidados estão começando a sentir sua falta – falou Bettina
olhando lá para fora.
- não se preocupem, eu já vou embora.
- fica mais filho.
- não pai. Não quero atrapalhar os planos do senhor, eu só queria matar
a saudade…
- não some filho – meu pai me acompanhou até a porta e eu me despedi.
Kimberly esperou comigo enquanto meu Uber não chegava e Bettina arrastou meu
pai pra dentro para ele ficar com as visitas.
- que bom que você veio – falou Kim.
- o que você acha da Bettina?
- o que? – perguntou Kim surpresa – da Bettina?
- sim. Como ela trata você e o Hunter? Quer dizer… eu sou o irmão mais
velho então eu me preocupo com essas coisas.
- ela é legal. Não é como a maioria das madrastas que a gente vê na TV.
Ela não fica pegando no nosso pé, não se intromete na nossas vidas, sempre pede
pizza… porque a pergunta?
- não é nada. Só curiosidade.
- é bom saber que tenho meu irmão de volta – falou Kim me abraçando
quando o carro chegou. Nós nos despedimos e eu entrei no carro indo para casa.
Ao entrar no carro eu me lembrei que tinha pedido para Devan me enviar
uma mensagem a cada 5 minutos para eu saber que ele estava bem e eu tinha me
esquecido completamente. Assim que peguei o celular vi que ele não tinha me
enviado nenhuma mensagem. Na hora o meu coração já bateu forte imaginando o
pior. Decidi manter a calma e enviei algumas mensagens na esperança dele pelo
menos visualizar e eu saber que ele está bem.
Devan?! Está tudo bem? Você não me enviou as mensagens — ERICK
Eu vou ligar para a emergência em… — ERICK
3 — ERICK
2 — ERICK
1 — ERICK
… — ERICK
Não surte! Estou aqui!!! — DEVAN
Quando ele respondeu eu senti um grande alivio. Por outro lado estava
curioso para saber o porque dele não ter feito o que me prometeu.
Porque não me enviou as mensagens como combinamos? — ERICK
Me desculpe, é que logo depois
que você saiu chegou uma visita e eu acabei tendo que dar atenção. — DEVAN
Alguém foi te visitor? — ERICK
Negativo. A visita é pra você
— DEVAN
Pouco depois de Devan enviar essa última mensagem o carro estacionou em
frente ao meu prédio. Fiquei curioso para saber quem era a visita. Minha cabeça
estava me dizendo quem era, eu não queria acreditar, não queria que fosse e por
isso eu decidi nem perguntar.
Estou de volta pessoas. Vou tentar postar com a maior frequência que puder. Fiquem ligados.
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