TRABALHO
capítulo dezenove
E
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stava deitado na minha cama no escuro. Sabe aquele
momento onde você se sente sozinho e que tira um tempo para pensar na vida, no
passado no presente e no futuro? E de repente você sente uma dor e uma sensação
estranha no peito que te faz querer estar morto? Era isso o que eu sentia
naquele momento deitado no escuro. A vida mudou tanto todo esse tempo. Pessoas
vieram e pessoas se foram, mas essa é a vida. A maioria das pessoa não
aguentariam tudo que sofri e por tudo o que passei nessa vida. A maioria delas
teria se matado, surtado e algumas até teriam congelado seus corações e se
tornado pessoas frias. Não eu. Não sou assim tão fraco.
O que entendo agora é que não tem
como manter todos os que amamos por perto para sempre. Daria tudo para voltar
para aquele dia comum em que eu corria na chuva para não chegar atrasado no
trabalho. Steve jogava lama em mim e Adam me chamava em sua sala para me dar ordens. Eu era feliz aquele tempo e
não sabia.
Estava
no clima de comer um pote de sorvete e me afogar na bebida. Estava em uma
situação de merda. Acabei de terminar. Estava no
clima por isso me levantei no escuro mesmo e desci as escadas para ir a
cozinha. Para minha sorte meu tio não tinha chegado ainda e o relógio marcava
quase meia noite.
Abri o congelador e não havia
sorvete e olha que é uma enorme geladeira. Olhei em todos os cantos, mas
realmente não tinha.
Fechei
o congelador e abri a geladeira. Foi lá que encontrei minha tentação. Várias
latas de cerveja. Peguei uma delas e abri. Dei um gole e engoli mesmo com frio
eu decidi beber toda. Bebi toda de uma vez e peguei outra lata na geladeira.
Decidi beber até que me sentisse melhor ou não sentisse nada.
Bebia
segunda lata como se fosse água e deixei ela em cima do balcão com a outra.
Abri a geladeira, peguei a terceira e novamente bebi de uma vez. Parei,
respirei fundo e peguei a quarta latinha e fiz a mesma coisa. Bebi de uma vez e
em seguida arrotei, meus olhos lacrimejaram porque estava muito gelado e eu
comecei a suar.
Joguei a latinha em cima do balcão
junto com as outras e fui para a geladeira novamente. Peguei mais três latinhas
dessa vez e me virei fechando a porta da geladeira com a perna. Fui em direção
ao balcão e coloquei as latas de cerveja em cima. Abri a quinta latinha e bebi
ela de uma vez, quando abri a sexta eu olhei para a porta e levei um susto. Meu
tio estava parado me observando. Ele tinha acabado de chegar, mas as latinhas
vazias contavam tudo o que ele precisava saber.
- o que diabos está fazendo? –
perguntou meu tio se aproximando do balcão lentamente e jogando a chave em cima
da mesa.
- nada – falei olhando para ele –
só estou me divertindo agora que estou solteiro. Estou triste pelas merdas que
aconteceram em minha vida e não e por isso que as pessoas bebem? Para esquecer
as merdas e fazer mais merdas quando estão bêbadas?
- porque? O que aconteceu?
- Jerry terminou comigo e foi
embora e…
- O que? – perguntou meu tio
surpreso – é por isso que parecia haver um clima estranho no jantar?
- justamente.
- o que aconteceu?
- não quero falar sobre isso, me
deixa beber.
- coitadinho de você. Pobre o
garotinho que quer beber pra esquecer os problemas da vida.
- me deixa – falei pegando as
duas latinhas.
- boa sorte – falou meu tio
pegando uma das latinhas brancas com detalhes dourados e me mostrando – essas
cervejas são sem álcool. As cinco que você bebeu não tem nem 10% do álcool de
uma latinha das que ficam aqui em baixo – falou ele abrindo a geladeira e
pegando latinhas pretas com detalhes brancos e dourados. Ele foi pegando e
colocando em cima do balcão. Ele pegou dez latinhas e deixou lá em cima.
- o que está fazendo?
- Você não tem problemas? você não
quer beber? Beba. Eu não vou te impedir – falou ele fechando a geladeira – não
faz meu estilo proibir. Beba até cair, tenha uma noite de ressaca amanhã e
volte a se sentir um merda depois disso. Amanhã se você quiser eu compro mais
vinte e você pode beber de novo, vomitar, ter ressaca e voltar a se sentir um
bosta. Você pode fazer isso quantas vezes quiser, mas eu te garanto que não vai
deixar de sentir o que está sentindo agora bebendo feito um otário. Eu sei que
não porque não funcionou pra mim. Eu não
consegue parar de sentir só porque bebi. Você tem problemas? Coitado de você.
Todos temos problemas – falou meu tio saindo da cozinha e subindo as escadas.
Não demorou para que ouvisse a
porta se batendo no quarto dele.
Eu peguei uma das latinhas e
olhei pra ela e pensei no meu tio.
- que droga – falei me sentindo
mal – eu bebi cinco latinhas de uma vez e agora minha bexiga está estourando.
Eu não quero beber.
Subi as escadas e fui até o
quarto do meu tio. Tentei abrir, mas estava trancada. Bati algumas vezes, mas
ele não respondeu.
- eu decidi não ir embora essa
semana. Pensei em ficar um mês. Não sei se vou ficar porque não sei o que posso
fazer aqui todo esse tempo e além do mais não parece que o senhor vai me
perdoar então…
- você pode trabalhar pra mim
como da outra vez – falou meu tio do outro lado da porta.
- Ótima idéia – falei esperando a
resposta, mas ele não falou mais nada – eu não vou atrapalhar se ficar
hospedado aqui todo esse tempo?
- não.
- tudo bem – falei saindo de
perto da porta e descendo as escadas – quer saber? – falei para mim mesmo
chegando na cozinha, abrindo a geladeira e tirando uma latinha de lá de dentro
– Uma latinha não vai fazer mal.
Assim que eu a abri eu tomei um
gole e fui até o quarto do meu tio e bati na porta. Ele não precisava dizer
nada, só eu queria dizer.
- eu não sei se está me ouvindo,
mas vou falar do mesmo jeito – falei tomando outro gole da cerveja – amanhã e
sexta e eu não queria ficar em casa. Tem algum lugar por aqui onde eu possa
arranjar algum tipo de diversão?
- você pode ir no bar que foi da
outra vez, com dança e tudo o mais.
- droga, eu tenho péssimas
lembranças desse lugar.
- amanhã você pode perguntar para
a Gwen.
- tudo bem. me perdoa e boa
noite.
Fui para meu quarto e bebi toda a
cerveja. Antes de dormir tomei um banho e fui para a cama. Fechei os olhos e
fiquei pensando nos dias que se seguissem. Admito que estar no campo era bom.
Ser amado e estar perto da família era sempre bom.
Sabe quando você dorme e parece
que apenas piscou o olho? Foi o que aconteceu comigo. Abri os olhos e era como
se todo o cansaço tivesse desaparecido do meu corpo. Olhei pela janela e o sol
começava a nascer. Fechei os olhos para voltar a dormir e pensei: que diabos.
Eu durmo todos os dias até tarde.
Pulei da cama e olhei no celular
que marcava minutos antes das cinco da manhã. Esfreguei os olhos e fui ao
banheiro, escovei os dentes, vesti minha roupa e ao sair do quarto percebi que
pela segunda vez na vida eu tinha acordado primeiro que meu tio, mas dessa vez
valia mais porque estávamos no território dele e não no meu.
Desci e olhei pela janela da
cozinha a mais bela visão que já tinha visto no mundo. O sol nascendo sob a
visão mais linda da floresta. Os animais faziam seus sons costumeiros e eu
respirei fundo sentindo o ar mais limpo que já tinha respirado na vida.
Olhando pela janela eu pensei ter
visto alguém do lado de fora. Meio sem jeito abri a porta da cozinha e logo a
minha frente estava meu tio de costas.
- eu pensei que tinha acordado
primeiro que o senhor – falei saindo e chegando perto dele.
Antes que chegasse ao lado dele
meu tio se virou e eu vi que não era meu tio. Era outro homem.
- falou comigo?
- me desculpa. Pensei que fosse
meu tio.
- Roger é seu tio?
- é sim. Você é o que?
- Trabalho para o seu tio. Tirei
uns dias de folga, mas estou de volta.
- tudo bem. Quer entrar?
- claro.
- meu tio ainda não acordou.
- você está errado – falou meu
tio chegando a cozinha – você acordou primeiro do que eu? – falou meu tio – que
vergonha pra mim.
- viu só? Não sou só um rato da
cidade grande – falei tentando ser amigável. Queria que tudo o que aconteceu na
noite passada fosse esquecido.
- Vejo que já conheceu você já
conheceu meu peão preferido – falou meu tio apertando a mão dele.
- pois é.
- já conheceu meu sobrinho?
- mais ou menos ainda não sei o
nome desse “rato da cidade grande”.
- viu só o que faz tio? Agora o
apelido vai pegar.
- deixa de bobeira – falou meu
tio – Arthur, esse aqui é Mike.
- Mickey – falei apertando a mão
dele – É daí que vem a piadinha “rato”.
- eu sou Arthur.
- muito prazer.
- eu vou conversar com o Arthur e
você coma algo porque você vai ajuda-lo hoje – falou meu tio – não precisa
pegar leve só porque ele é meu sobrinho, pode colocar ele pra trabalhar.
- combinado – falou Arthur.
Os dois saíram pela porta e eu
abri a geladeira para comer algo. Como meu tio disse eu teria um longo dia de
trabalho braçal.
Arthur realmente pegou pesado
comigo. Ele levou as instruções do meu tio realmente á sério. Meus braços e meu
rosto estava suado e não eram nem nove da manhã. Enquanto Arthur montava e
acariciava os cavalos eu fiquei encarregado de limpar o celeiro. Tinha tantas
coisas pesadas e o cheiro não era nada agradável. Sem contar que os animais
eram muito barulhentos. Especialmente as galinhas.
Resolvi não reclamar e guardar
todos esse pontos de vistas para mim mesmo. Não sou conhecido por desistir de
algo por ser difícil eu encaro a dificuldade seja ela qual for. Sem essa visão
talvez não estivesse aqui hoje porque ser assistente de Adam não era a coisa
mais fácil do mundo.
-
já está acabando Michael? – falou Arthur chegando ao celeiro.
- estou sim – falei parando e
limpando a testa – é Mickey, Mike. Não Michael.
- OK, sinto muito – falou ele me ajudando
a levantar uma caixa pesada e a mudando de lugar.
- obrigado – falei respirando
cansado.
- você não costuma fazer esse
tipo de trabalho, certo?
- certo. Eu estou acostumado a
ficar sentado atrás de uma mesa digitando coisas em um computador.
- é bom você sair da sua zona de
conforto de vez em quando.
- pois é. Eu gosto de fazer esse
tipo de trabalho sempre que venho visitar meu tio.
- você vai ficar quanto tempo?
- um mês.
- que bom. Você vai aprender
muito comigo enquanto estiver aqui.
- espero que sim – falei vendo de
fora do celeiro Gwen chegando.
- aquela é a Gwen? – perguntou
Arthur.
- é sim.
- com todo o respeito, mas seu
tio é um cara sortudo.
- você acha?
- é sim. Ela é muito bonita.
- também acho – falei olhando
para Arthur – posso te perguntar uma coisa?
- pode.
- você por acaso conhece algum
lugar por essas redondezas onde se pode conseguir um pouco de diversão?
- diversão no estilo Gwen? –
perguntou Arthur com meio sorriso.
- exato – falei mentindo. Arthur
pensava que eu era hétero como ele. Não me importei porque eu procurava
diversão e pelo menos uma vez eu não queria ser o gay deslocado procurando o
que não encontra. Eu era só Mike o ‘hétero’.
- tem um bar a umas duas horas
daqui que eu vou as vezes para beber e passar o tempo.
- á duas horas? É meio longe pra
mim – falei apertando os olhos porque o sol veio em direção a eles quando
Arthur se moveu um pouco
- nós podemos ir hoje. Eu te pego
e te deixo aqui. Pode ser?
- beleza. Vai ser bom beber
depois de um dia de trabalho.
- não á nada melhor no fim do dia
– falou Arthur.
- Mike! – gritou meu tio ao longe
– vem aqui.
- tudo bem – falei gritando e
olhando para Arthur – daqui a pouco volto e termino o trabalho.
- pode ir. Tira um descanso de
quinze minutos e eu termino aqui pra você.
- beleza.
Fui até meu tio que estava na
cozinha com Gwen.
- bom dia Mike – falou Gwen – que
bom que decidiu ficar um pouco mais.
- pois é. Também estou feliz.
Nesse momento meu tio saiu da
cozinha para fazer algo em outro cômodo e foi nesse momento que decidi jogar
verde para saber se a história do meu tiop era verdadeira.
- eu sei sobre vocês – falei para
Gwen.
- Roger te contou?
- Contou sim.
- sério? Ele parecia tão
envergonhado.
- Eu conversei com ele ontem a
noite e fiz ele se sentir tranquilo quanto a isso. Idade é só um número.
- Fico feliz por finalmente saber
– falou Gwen rindo – não quero ficar na casa dos meus pais para sempre.
- você ainda vive com seus pais?
- tive que ir pra lá já que Roger
praticamente me expulsou da casa dele quando soube que você viria.
- É só meu tio mesmo – falei
rindo.
Nesse momento meu tio voltou a
cozinha.
- você não queria perguntar algo
para Gwen? – falou meu tio – algo sobre um lugar para se divertir? Você falou
comigo ontem a noite. Lembra?
- na verdade não precisa mais. Eu
vou sair com o Arthur.
- o que? Com o Arthur? Já pescou
aquele tubarão?
- não tio. Ele não é gay.
- ele sabe que você é?
- não. Essa é a parte boa. Não
preciso ir pra paquerar. Só me divertir e beber.
- você não vai contar pra ele?
- porque eu deveria? Nós só vamos
sair, beber e quem sabe pegar umas garotas – falei rindo.
- tem certeza? – perguntou meu
tio.
- Sim. Foi ele que me convidou. E
por favor não comente nada sobre minha vida ou o fato de eu ser gay.
- fica tranquilo eu não vou
contar.
- eu também não – falou Gwen – eu
só vim me despedir – falou Gwen – mas como você vai ficar eu já vou embora.
- até mais – falei me despedindo
dela – Agora me deixa voltar ao trabalho.
- vai lá – falou meu tio.
Voltei a trabalhar e ralei o dia
todo. Por volta dás cinco horas Arthur anunciou que havia chegado o fim do
horário de trabalho dele.
- Mike, já estou indo embora –
falou ele me vendo finalmente acabar com o celeiro.
- tudo bem, significa que meu
horário de trabalho também acabou?
- claro. Vá tomar um banho porque
daqui trinta minutos eu venho te pegar.
- mas já?
- é como eu disse. São duas horas
mais ou menos daqui.
- tudo bem então.
- eu vou na cidade e depois que
estiver pronto eu venho, beleza? – falou ele me dando um toca aqui.
- beleza.
Arthur se foi e eu guardei as
ferramentas que usei durante o dia e voltei para a casa principal.
- e ai? Como foi seu dia? –
perguntou meu tio quando eu ia entrando.
- estou tão cansado. Meu corpo
todo dói.
- você não precisa pegar tão
pesado.
- preciso sim. eu não queria
fazer feio pro Arthur.
- você vai mesmo sair com ele?
- vou sim senhor.
- Agora que você sabe sobre a
Gwen ela vai voltar a dormir aqui a partir de hoje.
- fico feliz pelo senhor tio. De
verdade.
- fico feliz que esteja feliz por
mim.
Depois que tomei meu banho, vesti
minha roupa. Camisa de botões na cor vermelho vinho e uma calça jeans azul
escuro. Coloquei uma bota e estava pronto para sair.
Desci as escadas e meu tio estava
na cozinha preparando o jantar.
- o senhor vai ter uma noite
romântica com Gwen? – perguntei para ver se ele mentiria.
- sim. ela vai vir. – falou meu
tio. Estava mais do que claro que o jantar que ele fazia era para apenas uma
pessoa.
- espero que divirtam-se. Eu sei
que vou me divertir – falei para meu tio.
- OK – falou ele me olhando pelo
canto do olho.
Nesse momento alguém buzinou.
Provavelmente Arthur.
- ele chegou, estou indo.
- o que vai fazer se por acaso…
Arthur quiser arranjar uma garota e quiser que você arranje uma?
- eu vou ter que fazer de tudo
para manter o disfarce.
- você já ficou com uma mulher?
- não. Sou virgem.
- OK – falou meu tio rindo –
divirta-se.
Sai pela porta da frente e entre
no carro de Arthur.
- desculpa a demora – falou
Arthur. Já era quase seis da tarde.
- sem problema – falei colocando
o cinto.
- vamos indo, temos muito chão
pela frente – falou Arthur ligando o carro.
- essa bar fica na cidade grande?
- sim. você vai se familiarizar
por lá.
- você sempre viveu aqui em
Shelbyville?
- desde que nasci.
- você tem família?
- minha mãe morreu a poucos anos
e meu pai eu nunca conheci.
- sinto muito.
- Não sinta – falou Arthur
sorrindo.
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