EU BEIJEI UM GAROTO capítulo dezoito
G
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wen e meu
tio Roger estavam em um relacionamento. Nunca ia imaginar que isso
aconteceria, mas agora que ele me contou eles formavam um belo casal. Pode
parecer bobeira para quem está de fora e está acostumado com isso, mas meu tio
tinha vergonha de sofrer preconceito quanto ao amor e isso pra mim é inaceitável.
Fico realmente feliz que ele tenha tido coragem o suficiente para me contar
porque ele podia simplesmente ter inventado outra mentira e continuar
escondendo de mim a felicidade dele. Fico feliz que ele se sinta livre e
confortável por me contar o que realmente sente.
-
você quer me fazer um pedido?
- quero, mas antes… posso
perguntar uma coisa tio?
- pode.
- sabe a pergunta que eu fiz hoje
mais cedo?
- qual delas?
- se o senhor amou alguém depois
que a minha tia faleceu?
- sei.
- agora que eu sei sobre a Gwen o
senhor me daria uma resposta diferente?
- qual a resposta que eu dei?
- nada. O senhor apenas suspirou
e dai eu tirei minha resposta de que o senhor não amou ninguém depois de sua
esposa. O que o senhor me responderia agora? O senhor acha que podemos amar
outra pessoa depois de perder o amor da nossa vida?
- sabe o que eu acho? Acho que o
mundo seria um lugar cruel se tivéssemos apenas uma alma gêmea. Acho que cada
panela no mundo tem pelo menos umas quatro ou cinco tampas.
- o senhor ama Gwen?
- sinceramente? Não, mas eu acho
que você deve dizer “eu te amo” para Jerry mesmo que não sinta.
- acha mesmo que devo dizer eu te
amo para Jerry?
- você disse que Jerry te ama e
que ele te faz feliz. Acho que você deve fazer qualquer coisa para segurá-lo e
manter ele ao seu lado. Minta pra ele. Diga que o ama. Não fique preocupado
demais pensando se vai amá-lo ou não. Apenas diga ‘eu te amo’ todos os dias e
eu te garanto que um dia você vai amá-lo.
- porque fazer isso se não é a
verdade? Porque continua se não o amo? Porque o senhor continua dizendo a Gwen
se você não á ama?
- porque eu posso amá-la uma dia.
Se eu tentar e ficar com ela mesmo sem amá-la talvez um dia aconteça.
- talvez? isso é meio deprimente.
- não é. Eu aprendi que o amor é
assim. Foi assim que seu avô criou a mim e a Larry. Se você forçar ele pode
acontecer.
- que deus o tenha, mas de onde
meu avô tirou isso?
- ele foi casado com sua avó por
anos. Ele gostava dela, mas acho que não á amou no começo, mas acabou
acontecendo. Se funcionava no passado, pode funcionar agora também.
- você sabe que a maioria dos
casamentos no passado eram arranjados, certo? Seria um desrespeito se o noivo
ou a noive desistissem então a maioria se casava para honrar o desejo do pai e
da mãe. Isso não funciona hoje em dia tio.
- você está me dando uma lição de
moral – Falou meu tio sem graça.
- Me perdoa, não quero
desrespeitá-lo. Só estou dizendo que o amor acontece. Um dia você é só um
garoto qualquer nessa imensidão. De repente você não acha que possa existir no
mundo a menos que tenha essa pessoa ao seu lado abraçado a você.
Enquanto disse isso meu tio
pareceu pensativo.
- Obrigado por conversar comigo –
falou meu tio satisfeito com a conversa.
Depois dessa conversa sai do
quarto e meu tio ficou lá pensativo. Ao chegar na cozinha vi Jerry sentado a
mesa pensando em algo. Olhei para ele, mas não soube o que dizer.
- você está bem? – perguntou
Jerry.
- estou sim – falei sorrindo.
Jerry não deu mais atenção a mim e voltou a fazer o que ele fazia. Pensativo e
meio desanimado.
- está pensando em que? –
perguntei para Jerry que estava pensativo.
- não é nada – falou olhando pra
mim – só estou com dor de cabeça.
- ainda não passou? Você está
mesmo bem?
- a dor ainda não passou, mas não
precisa se preocupar eu estou bem. de verdade.
- ok – falei institivamente me
aproximando para dar um selo, mas Jerry não fez o mesmo e eu dei dois beijos no
rosto dele.
- se você diz que está bem eu
acredito – falei tentando parecer carinhoso.
Nesse momento meu tio entrou na
cozinha. Olhei para ele e ele me olhou ainda feliz pela conversa que nós
tivemos.
Depois de alguns segundos ouvi o
barulho de uma buzina.
- deve ser o Leo – falou meu tio
sem graça.
Nós nos levantamos para receber
os convidados. Ao abrir a porta vi de longe Leo e Katy saírem de sua
caminhonete. Nos braços de Katy estava o pequeno Cory. Meu
sobrinho-primo-sei-lá-o-que.
- boa noite – falou Leo apertando
a mão de seu pai e dando um braço nele. Em seguida ele veio até mim.
- Mike, nem parece você – falou
ele me abraçando – senti sua falta.
- eu também senti a sua primo.
Assim que me soltou apresentei
meu namorado.
- esse é Jerry, meu namorado.
- muito prazer – falou Leo
apertando a mão dele.
- olá Mike – falou Katy se
aproximando e nós nos abraçamos. Em seguida dei um beijo no rosto dela.
- Katy esse é Jerry.
- muito prazer Jerry.
- e quem é esse garotão? –
perguntou Jerry pegando na mão do Cory.
- esse é Cory. Diga oi Cory.
- oi – falou Cory.
- meu deus, ele já fala?
- e anda – falou Katy colocando
ele no chão. Cory deu alguns passos.
- ele cresceu tão rápido.
- você é que desapareceu e nunca
mais voltou.
- nós temos muito o que
conversar?
- agora tem – falou Gwen entrando
pela porta da frente.
- você veio – falei abraçando
Gwen.
- mas é claro. Ou você acha que
eu sou de dar bolo?
- eu não disse isso.
- mas você já deu bolo várias
vezes – falou Katy.
- parede falar disso Katy – falou
Gwen rindo – até no meu funeral você vai falar sobre a vez que não apareci para
o aniversário do Cory. Eu disse que ‘talvez’ iria. Você sabe que é aniversário
do meu pai, Paul, no mesmo dia.
- tudo bem, eu prometo esquecer.
Por essa noite – falou Katy rindo.
- o jantar está pronto – falou
meu tio.
Todos nós nos direcionamos para a
mesa do jantar e ficamos conversando. Jerry continuava meio abatido e meu tio
olhava para mim. O estranho é que agora que vi meu tio e Gwen juntos eles não
pareciam um casal. Mesmo que ninguém saiba nós podemos notar de longe quando
existe química entre duas pessoas.
Estava confuso e meio usado nessa
noite. Eu queria muito saber o que se passava em sua mente. Por hora eu deixei
de lado afinal tinha que colocar a conversa em dia com Katy, Leo e Gwen.
O jantar foi bastante divertido e
movimentado. A maioria conversava uns com os outros, mas a verdadeira tensão
.basicamente silencioso. Estávamos sentados á mesa. Jerry ao meu lado do lado
esquerdo e meu tio na ponta do direito da mesa.
Além
da conversa que não era muito alta e reservada apenas a Jerry, Gwen, Katy e
Leo. Meu tio e eu éramos os únicos a não falar com ninguém. O barulho dos
talheres batendo no prato estavam altos em minha mente. Meu tio olhava para mim
praticamente o tempo todo apenas desviando o olhar quando eu olhava pra ele.
Ela estava envergonhado pela Gwen.
-
você está tão calado – falou Katy.
- não é nada – falei forçando um
sorriso.
- você vai ficar aqui por muito
tempo? – perguntou Leo.
- não sei. Mais um dia ou dois no
máximo. Jerry e eu precisamos voltar. Ele tem o trabalho e eu estou pensando em
ter aulas de direção. Já está na hora de aprender a dirigir.
- é uma ótima idéia – falou meu
tio.
- tanto faz – falei forçando um
sorriso e voltando a comer.
O jantar continuou. Com esse
clima que você viu. A tensão crescia entre Jerry que mal olhava pra mim e meu
tio que olhava demais louco para dizer algo sobre Gwen, mas ele estava
envergonhado.
O jantar tinha sido maravilhoso.
Tínhamos conversado sobre várias coisas. Contei minha vida depois da morte de
Adam para todos e em como eu sofri com a falta dele, mas em como Jerry estava
me ajudando nessa transição. Leo e Katy falavam basicamente sobre Cory, o filho
deles. Gwen contou sobre os pais dela e Jerry contou um pouco sobre a profissão
dele e em como tinha me conhecido e em como ele me chamou dezenas de vezes para
sair, mas eu nunca aceitava. Meu pai era um assunto ao qual eu proibi a todos
de falarem. Literalmente. Eu disse: “Gostaria que não perguntassem sobre
Larry”. Todos concordaram e continuaram com a conversa.
Jerry
não parecia muito a vontade. Não sei porque, mas comecei a achar que ele estava
passando mal, mas não queria me contar.
- você está bem? – perguntei em particular
para Jerry.
- estou sim. não se preocupe
comigo eu já disse que estou bem.
- eu sinto que você está passando
mal, mas não quer me contar. Você está escondendo alguma coisa.
- sério? – falou Jerry olhando
para mim – EU estou escondendo alguma coisa?
- o que isso quer dizer?
- nada. Eu estou bem Mike. Pare
de perguntar.
- OK.
Leo estava bebendo e Katy também.
Foi nesse momento que eu decidi ser chato.
- me desculpa por ser chato, mas
quem de vocês vai dirigir, os dois estão bebendo e você tem um filho.
- meu pai vai me levar né pai? –
falou Leo.
- se você quiser eu levo.
- é isso mesmo. Vocês não vão
quer sofrer um acidente e deixar esse pequenino sem família.
- você quer pegá-lo? – perguntou
Katy com o bebê nos braços.
- quero – falei me levantando e
pegando o grandão no colo – você é um bebê grandão é?
Ele começou a chorar e pedir pela
mãe.
- não chora. É o tio Mike que
está aqui. Você está bem.
- mamãe está aqui – falou Leo
apontando para Katy – papai está aqui também.
- Mike o que aconteceu com o bebê
que era do seu falecido?
- na verdade Adam nunca foi pai
para a criança ele foi mais como um doador de esperma. Ele ficou com Nathan, o
pai.
- a tal de Marisol se foi?
- pelo bem dela. Ela mentiu sobre
algo que não deve ser mentido. Ela disse que foi estuprada pelo Adam, que era
idiota o suficiente para assumir a culpa de algo que não fez.
- que barra. Você já viveu tanto
– falou Gwen.
- tudo de bom e de ruim, mas
vivi. É isso que importa né? Estar vivo.
- eu tenho que concordar – falou
Jerry.
- porque você não vem viver aqui
no campo? É tão revigorante e calmo. Talvez aqui você finalmente encontre a paz
– falou Gwen.
- a verdade é que eu gosto da
cidade grande. Gosto do campo para passar as férias e ficar um mês ou dois, mas
eu sinto falta da movimentação e de tudo o mais. Eu já pensei nisso antes, mas
eu realmente ficaria mais triste aqui do que lá.
- algumas pessoas foram feitas
mesmo para a cidade grande. Por isso o apelido do Mike é “rato da cidade
grande” – falou meu tio.
Todos deram risada e eu tentei
não continuar com esse assunto.
- ninguém nunca me chamou disso –
falei tentando parecer bem.
- eu te chamo quando não está por
perto – falou meu tio e Leo confirmou com a cabeça. Meu tio olhou fixo para mim
e eu olhei fixo antes de respirar fundo e olhar para qualquer outro lugar.
Nós conversamos por um bom tempo.
Quando foi ficando tarde, o clima esfriou bastante. Eu já estava de braços
cruzados de tanto frio.
- nós precisamos ir – falou Leo
se levantando já é quase onze horas.
- onde vocês moram? É longe
daqui?
- nossa fazenda fica a uns trinta
minutos daqui
- eu vou leva-los, você quer ir?
– perguntou meu tio.
- não – respondi rapidamente.
- vamos, você vai gostar de
conhecer a casa deles – falou meu tio insistindo. Ele sabia que na volta
ficaria sozinho comigo. Ele queria conversar, mas eu não queria.
- Hoje não, mas amanhã eu prometo
ir.
- Amanhã quando eu vier buscar
meu carro eu te levo e você fica lá e janta lá, pode ser? – perguntou Leo.
- mas é claro. Fica mais do que
combinado e o Jerry vai também.
- combinado – falou Leo se
despedindo de mim, Gwen e Jerry.
Gwen foi embora ao mesmo tempo
que meu tio foi levar eles para casa. Jerry e eu ficamos sozinhos. Não dizíamos
nada um para o outro. O silêncio do campo preencheu o vazio que a solidão
deixou assim que todos se foram. Decidimos ir para o quarto para dormir.
Escovei meus dentes junto com
Jerry. Terminei primeiro e fui para a cama. Claro que antes liguei o aquecedor.
Tirei minha camisa e fiquei
sentado na cama.
- você está melhor?
- estou sim falou ele terminando de escovar os dentes.
Ele veio até mim e se sentou ao
meu lado.
- você está cansado?
- um pouco – falou ele coçando a
nuca.
Me aproximei dele e beijei seu
braço, seu ombro.
Jerry não correspondia os beijos.
- você ouviu a conversa com meu
tio não ouviu?
- ouvi – falou Jerry.
- OK – falei respirando fundo –
sinto muito mesmo Jerry.
- sabe porque eu fico triste? Por
você ter decidido que não em ama e que nunca vai me amar. Como você pode
desistir tão fácil?
- eu não posso fazer isso com
você Jerry. Eu gosto muito de você, mas não será o suficiente porque você quer
meu amor e eu não acredito que estou pronto para dá-lo. Eu só não disse nada
até agora porque não sabia como dizer isso sem te magoar.
- fico feliz por você estar sendo
sincero.
- eu gosto muito de você. Você é
um homem especial que entrou em minha vida e que me fez feliz, mas eu não posso
forçar o amor. Eu tentei .tentei e tentei, mas não consigo te amar e não acho
justo te segurar e dizer “eu te amo” quando eu realmente não sinto isso.
- fico feliz por estar sendo
sincero. Eu admito que vou sentir sua falta.
- eu também vou sentir a sua.
- sabe, eu não acho que seja
legal nós sermos amigos por agora afinal eu ainda tenho sentimentos por você.
Depois de alguns meses quem sabe nós não possamos sair como amigos.
- você me promete?
- prometo. Nós podemos ser
amigos. Você foi sincero comigo e não tem razão para ficarmos com raiva um do
outro e nunca mais nos falarmos.
- quando você estiver pronto e
sentir que pode ficar próximo a mim e não se sentir triste por eu não conseguir
amá-lo você sabe onde eu moro.
- ótimo – falou ele com um
sorriso meio triste – posso ter um beijo de despedida.
- claro – falei me aproximando
dele e beijando sua boca. um beijo calmo e demorado.
- só me responde uma coisa.
- o que? – perguntei entre dois
selinhos.
- é algo comigo? Foi pelas coisas
que fiz você fazer na minha frente com outro homem?
- não. Claro que não. Essa foi
uma experiência nova pra mim. Eu admito que comecei a gostar. Ser visto pro
você enquanto tranzo foi uma coisa diferente, mas excitante.
- eu vou embora.
- agora?
- sim, nós terminamos.
- eu sei, mas você poderia
esperar até amanhã.
- acho que não. Me machucaria
mais passar a noite com você sabendo que será a última. Será melhor para mim
simplesmente ir para um hotel e amanhã eu volto para San Diego.
- OK.
Jerry começou a arrumar sua mala
enquanto eu estava sentado na cama observando-o. Estávamos ambos silenciosos.
- posso te dar um conselho? –
falou Jerry fechando a mala e finalmente terminando.
- pode.
- Fique aqui na fazenda com seu
tio. Não vá embora amanhã ou depois. Fique aqui pelo menos um mês e descubra
quem você é realmente. Descubra o que você sente por sí mesmo e pelas pessoas
ao seu redor.
- você acha que devo mesmo ficar
aqui?
- sim.
- tudo bem então – falei me
levantando – eu te levo até a porta.
- não precisa. Eu vou sozinho.
- tudo bem.
- eu não estou com raiva de você,
não quero que fique com raiva de mim.
- eu não estou. Estou triste por
não ter dado certo, mas fazer o que?
- vou sentir muito sua falta
Jerry.
- e eu vou sentir muito a sua.
Ele abriu a porta do quarto e
ficou olhando pra mim antes de finalmente ir embora.
Agora eu oficialmente fazia parte
do “clube dos corações solitários” outra vez. Por mais que eu esteja em uma multidão
eu me sinto sozinho. Estava literalmente sozinho naquela casa. Olhei pela
janela do meu quarto e vi um taxi parar na porta depois de uns vinte minutos
depois dele ter saído do quarto. Jerry entrou nele e se foi.
Faz tempo que não doía tanto
terminar com um namorado. Ele é uma pessoa boa, mas fiz a coisa certa ao dizer
a verdade. Me deitei na cama de braços abertos e olhei para o teto pensando que
diabos faria naquela casa sozinho com meu tio durante um mês. Talvez seja
melhor ir embora e passar um mês em outro lugar. Essa é a parte em que digo que
não te quero mais. É a parte em que eu digo que sou mais forte do que era
antes. Essa deveria ser a parte em que me liberto afinal fui eu quem terminei.
Apesar disso não consigo deixar de me sentir triste. Triste sim, mas não
arrependido.
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