E
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QUARENTA E SEIS capítulo doze
stava
pronto para ir para a casa. O relógio do quarto marcava quase meio dia. Não
aguentava mais ficar naquele hospital e Gray me fez um grande favor me dando
alta. Médicos não podem tratar familiares e amigos porque não podiam ser
imparciais e realmente não podiam. Não sei se todos ainda estavam lá de fora me
esperando. Por algum motivo eu decidi que não queria visitas. Sei que é egoísmo
e todos tinham ido até o hospital para me ver, mas eu recusei ver qualquer um.
Até Gray se eu pudesse ter evitado eu teria. Estava envergonhado pelo exame que
ele fez.
Pedi que Morgan comprasse algumas
roupas para que eu pudesse ir embora e ela me fez esse favor mesmo eu tendo
praticamente dito que a culpa de tudo o que tinha acontecido era dela. Ela me
conhecia bem. Era minha melhor amiga e é isso que amigos fazem. Brigam quando
se ama e se amam quando brigam.
- está pronto para ir? – perguntou Gray entrando no quarto.
- estou – falei já vestido com as roupas que Morgan tinha comprado. Uma
calça jeans azul escuro e uma camiseta cinza. Calcei um par de tênis que ela
também tinha comprado.
- o protocolo do hospital insiste que você circule em uma cadeira de
rodas para a prevenção de quedas – falou Gray me mostrando a cadeira de rodas
que trouxe comigo.
- nem pense nisso – falei já te pé caminhando na direção dele – eu não
vou andar por ai como um pobre coitado.
- você não precisa ser forte – falou Gray – ninguém espera que seja
forte depois do que você passou, você é a vítima.
- se você me chamar disso outra vez eu juro que eu desapareço vocês
nunca mais vão ouvir falar de mim – falei me sentindo impotente ao ouvir aquela
palavra. Eu realmente detestava ser visto como fraco, como uma vítima. Eu nunca
precisei de ninguém na vida.
- desculpa – falou Gray colocando a cadeira de rodas de lado. Ele abriu a
porta e eu caminhei para fora chegando ao corredor. Gray caminhou ao meu lado
em silêncio.
- olha só quem está melhor? – falou Morgan se levantando junto com
Morgan.
- vocês ficaram aqui todo esse tempo? – perguntei abraçando Holly.
- claro. Queríamos ter certeza de que você ficaria bem – falou Holly
simpática.
- você está melhor? – perguntou Morgan.
- estou sim – falei forçando um sorriso para Morgan. Por mais que na
minha cabeça ela tivesse uma grande parcela de culpa pelo o que aconteceu a
culpa foi minha no final das contas. Fui eu quem deixou Hugo entrar em minha
cabeça e me iludir.
- você está de pé – falou Oliver entrando no hospital com um copo na
mão.
- você ainda está aqui? – perguntei olhando surpreso para Oliver.
- claro – falou ele sorrindo – eu não consegui ir embora sabendo que
você estava aqui. Você quase nos matou de susto.
- desculpa incomodar você e sua esposa.
- você não incomodou – falou Oliver olhando para o relógio – eu preciso
ir agora, mas fico feliz que você está bem.
- obrigado por tudo – falei entregando a sacola com as roupas e a
sandália que ele me tinha me emprestado.
- não foi nada – falou Oliver pegando a sacola e saindo do hospital.
- eu posso perguntar onde está Eve e Kiff?
- estão no seu apartamento – falou Morgan.
- o que eles estão fazendo lá? – perguntei enquanto saíamos do hospital.
- eles foram limpar seu apartamento – falou Morgan – eles vão deixar
tudo como era antes e vão tentar coletar algo que diga a polícia quem é esse
Hugo McNamara.
- OK – falei olhando para Gray.
- então é isso – falou Gray olhando para Morgan e depois para mim –
espero que você fique bem – falou Gray coçando a barba cerrada que ele tinha no rosto.
- eu vou ficar, obrigado pro tudo – falei olhando para Morgan e depois
novamente para Gray.
- o que é isso? – perguntou Morgan – eu estou perdendo alguma coisa? –
perguntou ela brincando.
- não – falou Gray – só estou desejando boa sorte a ele e desejando
melhoras.
- então vamos – falei olhando para Morgan.
- você vem Holly? – perguntou Morgan.
- não eu tenho outras coisas para faz. Podem ir.
- OK – falou Morgan.
Nós caminhamos em silêncio até o estacionamento do hospital e assim que
entramos no carro de Morgan eu coloquei os óculos escuros que deixava no carro
dela. Olhei para o alto e senti o sol no meu rosto.
- o que foi? – perguntou Morgan dirigindo o carro.
- não é nada é só…é bom estar vivo.
- o que deu em você e em Gray? – perguntou Morgan.
- o que? Porque? – falei tentando me focar na pergunta – porque está
perguntando isso?
- vocês pareciam estranhos um com o outro.
- não é nada.
- olha eu fui casado com ele onze anos, nós temos três filhos juntos e
eu conheço você tempo o suficiente para saber quando algo está errado.
- você promete não contar para ninguém? – falei criando coragem para
contar para Morgan.
- claro. Pode dizer qualquer coisa.
- eu pedi que Gray fizesse exame de corpo de delito em mim.
- porque? – perguntou Morgan sem entender.
- Coito anal deu negativo – falei respirando fundo com vergonha.
- eu sinto muito Griffin! Muito mesmo – falou Morgan se sentindo culpada
– a última coisa que eu queria era que você passasse por algo assim.
- pelo menos deu negativo – falei tentando ser otimista – a parte ruim é
que eu estou com vergonha dele.
- por favor, não precisa ter vergonha do Gray. Ele é médico e é
profissional – falou Morgan tentando me animar – Sei que ele pode ser um idiota
como ser humano e um traidor como marido, mas se tem duas coisas em que ele é bom
é ser pai e ser médico. Ele olhou para você de um jeito médico quando fez o
exame. Ele está acostumado a tudo. Não precisa se sentir estranho.
- obrigado – falei agradecendo por ela tentar fazer eu me sentir melhor
– eu queria dizer que estou louco para ir para casa, mas eu não sei nem se vou
conseguir deitar na minha cama depois do que aconteceu.
- então você vai gostar de saber que não é para seu apartamento que
estou te levando – falou Morgan estacionando em frente a Pegasus. Eu nem tinha
percebido que estávamos lá.
- o que estamos fazendo aqui? Gray disse que eu preciso ficar de repouso
pelo menos pelo resto do dia.
- nós temos um cliente – falou Morgan saindo do carro.
- o que? Eu vou trabalhar?
- você vai ficar ai no carro ou quer vir nos ajudar?
- estou indo – falei colocando os óculos de volta no carro e saindo.
Nós entramos no elevador e ao chegarmos eu vi que as pessoas do
escritório olhavam para mim. Pelo o que parece as noticias correram rápido.
- todo mundo sabe – falei caminhando ao lado de Morgan.
- deixa de bobeira, ninguém sabe – falou Morgan.
- que bom que você está melhor – falou uma das recepcionistas quando
passei ao lado dela.
- obrigado – falei olhando para Morgan.
- sinto muito eu não sei quem foi que abriu a boca – falou Morgan quando
chegamos a sala de reuniões. Eu me sentei a mesa e olhei para Morgan que
futricava em seu celular.
- eu vou procurar pelos outros – falou Morgan saindo da sala.
Era horrível ser a vítima. Saber que você está exposto para todos é a
pior sensação de toda. É como não ter privacidade e ter os seus pensamentos
transmitidos em um telão. Fiquei perdido em meus próprios pensamentos por um
longo tempo. Talvez por tempo demais. Passaram-se quase vinte minutos até que
eu vi Morgan aparecer novamente e dessa vez ela tinha Holly, Kiff, Eve e Gray
ao seu lado.
Eles entraram na sala de reuniões e fecharam a porta. Em seguida eles se
sentaram do outro lado da mesa. Todos os quatro olhando para mim em silêncio.
- onde está o cliente? – perguntei ansioso. Estava cansado de ficar
sentado lá esperando.
- é você – falou Morgan – você é o nosso novo cliente.
- o que quer dizer? – perguntei curioso.
- nós te conhecemos Griffin e você não vai descansar enquanto não
encontrar Hugo e nós decidimos que vamos fazer esse trabalho por você. Você não
estará envolvido porque é conflito de interesses.
- eu consigo fazer isso sozinho.
- sim – falou Morgan – mas você não está sozinho. Você precisa confiar
em nós. Você sabe o quanto nós somos bons – falou Morgan olhando para os outros
ao seu lado – será um trabalho difícil. Pode levar dias, semanas, meses até
anos para encontra-lo. Vigaristas que fazem o que Hugo fez são cuidadosos,
inteligentes e profissionais só que como todo profissional eles erram e quando
ele errar nós estaremos preparados. E então? Podemos cuidar do seu caso?
- podem desde que façam de graça porque eu só tenho cem dólares na
conta.
- é claro que será de graça – falou Eve se levantando com um envelope
nas mãos e colocando no quadro branco algumas fotos tiradas da câmera de
segurança da Pegasus. As imagens mostravam o momento em que eu conheci Hugo – o
que sabemos sobre o nosso Alvo? – perguntou Eve.
- bom tudo o que eu sei é que ele se chama Hugo McNamara e isso deve ser
mentira – falei tentando me lembrar – ele também disse que um amigo faleceu de
Câncer recentemente, mas eu aposto que isso também é mentira.
- ele disse que era advogado e que trabalhava na advocacia do outro lado
da rua, mas isso também é mentira – falou Morgan.
- respondendo sua pergunta Eve – nada. Não sabemos nada.
- Kiff e eu vasculhamos todo o seu apartamento. Pegamos amostras de
cabelos, digitais, pegamos amostras de todas as comidas e das bebidas na
geladeira e logo que chegamos nós encontramos isso em cima do balcão – falou
ela mostrando um papel escrito 5DWG611 – o que é isso?
- é a placa do Lexus de Hugo – falei me lembrando – eu escrevi assim que
percebi que tinha sido enganado.
- como você sabe a placa do carro? – perguntou Gray.
- eu decorei.
- você é estranho – falou Holly.
- ainda bem que ele é estranho – falou Eve – porque esse número é a
nossa única pista. Esse número pode ser tudo ou pode ser nada.
- pelo o que parece vai levar anos para encontra-lo – falei sem um pingo
de esperança.
- qual o ouro aqui? – perguntou Kiff.
Todos olharam para ele.
- é que quando um cliente nos contrata ele geralmente diz o que quer. O
que você quer Griffin? – perguntou Kiff.
- não foi só o meu carro e o meu dinheiro que ele levou. Ele pegou um
presente de formatura. Uma garrafa de The Last Drop 50 anos. Vale quase
dezessete mil então o meu ouro é: Quero o meu dinheiro, meu carro, o presente e
quero que ele seja julgado e seja preso. Pode levar o tempo que for.
- quanto ele levou? – perguntou Holly.
- que diferença faz? O dinheiro se foi.
- nós precisamos saber com o que estamos lidando. Você disse que quer o
dinheiro e nós precisamos saber quando ele roubou de você.
- quarenta e seis – falei respirando fundo.
- quarenta e seis mil? – perguntou Holly – até que não é muito.
- quarenta e seis milhões – falei completando a frase.
Eve começou a rir. Todos olharam para Eve rindo e em seguida olharam
para mim de novo. Quando percebeu que eu não estava rindo ela parou de rir e
olhou pra mim.
- é sério? – perguntou Eve – noventa e seis milhões?
- vocês é que perguntaram.
Todos se entreolharam e olharam para mim novamente. Eles ficaram em
silêncio e ninguém teve coragem de perguntar.
- de onde você tirou esse dinheiro? – perguntou Holly. Ninguém a impediu
de perguntar porque todos queria saber a resposta.
- eu já contei a vocês que meu pai matou o meu irmão – falei me
lembrando novamente do passado – meu pai não matou meu irmão na primeira surra.
Ele bateu nele antes. Bateu várias vezes no meu irmão e no começo eu denunciei.
Devo ter feito umas oito denuncias que foram ignoradas pela policia, pelo
conselho tutelar porque meu pai era bem visto na comunidade. O pobre viúvo que cuidava
de dois filhos sozinho e tinha dois empregos. Com esse currículo ninguém
acreditava no que ele fazia então quando meu irmão morreu um advogado se
sensibilizou com a minha história e me disse que eu poderia me vingar do
sistema que tinha ignorado meus pedidos de socorro. Ele então processou o
estado de Nebraska e eu ganhei o processo. O estado teve que me pagar oitenta e
nove milhões. O advogado ficou com a metade. 44, 5 milhões para cada um. Eu
nunca usei nenhum centavo desse dinheiro. Ele ficava em uma das minhas contas.
Eu me orgulho em dizer que muitas vezes eu passei fome, mas nunca usei nenhum
centavo. Desde que entrei no mercado de trabalho eu sempre guardei as minhas
economias e acabei juntando um milhão e meio. Então sim, eu tinha quarenta e
seis milhões na minha conta, mas só um milhão e meio era meu. O restante do
dinheiro era do meu irmão então quando eu digo que quero o dinheiro não é
porque eu estou triste por ser pobre outra vez é porque eu realmente preciso do
dinheiro – nesse momento eu olhei para Gray – eu quero o meu um milhão e meio,
mas eu preciso dos 44,5 milhões de volta.
- nós vamos encontra-lo – falou Morgan segurando minha mão em cima da
mesa – leve o tempo que levar.
- obrigado – falei sentindo um arrepio no corpo. Eu me sentia assim toda
vez que contava algo do meu passado para eles. Era como um desabafo – o que
mais vocês precisam saber?
- de nada. Nós temos pouco, mas temos tudo o que precisamos. Assim que
tivermos alguma coisa sobre o seu caso nós te avisamos – falou Eve.
- obrigado – falei me levantando – será que posso ir trabalhar?
- nem pensar – falou Gray se levantando – você vai para casa e vai tirar
o resto da semana de folga.
- sem chance. Não vou ficar dentro daquele apartamento durante uma
semana além do mais você disse que eu só precisava tirar o resto do dia de
folga.
- sim – falou Gray – mas eu pensei melhor e depois do que você passou eu
acho melhor você ficar uma semana de folga levando em consideração que eu tenho
comigo os resultados do seu exame de sangue – falou ele colocando o papel em
cima da mesa – Hugo te drogou com GHB. Ele misturou na bebida alcóolica o que é
muito perigoso – enfatizou Gray – o efeito geralmente passa em oito horas –
falou ele dando uma outra olhada nos papéis – os resultados também mostram que
você ingeriu uma grande quantidade de Oxicodona e você teve uma reação alérgica
então ao invés de você ficar chapado você teve aqueles sintomas. Só não entendo
porque levou tanto tempo para fazer efeito se tomou na noite anterior.
- não foi na noite anterior. Foi hoje de manhã. Eu tomei dois copos de
água da geladeira. Ele deve ter diluído na água. Ele sabia que eu beberia.
- nós pegamos amostra daquela água – falou Eve – nós mandamos para o
laboratório e devemos ter o resultado em alguns dias.
- como eu ia dizendo – falou Gray se levantando – você passou por muita
coisa e ingeriu vários tipos de drogas. Eu só te liberei do hospital porque
você praticamente implorou, mas você prometeu que ficaria de repouso.
- tudo bem, você me convenceu. Eu fico de repouso, mas só o resto da
semana. Na segunda eu volto a trabalhar.
- combinado – falou Gray.
- eu vou chamar um taxi para te levar até seu apartamento – falou Morgan
saindo da sala.
- nós trocamos as fechaduras e mudamos suas senhas – falou Kiff me
entregando novas chaves e um papel com todas as senhas escritas.
- obrigado.
Todos saíram da sala e foram para suas respectivas funções eu caminhei
até o elevador e Kiff foi comigo. Ele ficou estranhamente em silencio e quando
nós entramos no elevador e a porta se fechou Kiff olhou para mim.
- lembra do favor que você me pediu?
- lembro. Sobre Rupert Rothlo.
- sim – falou Kiff me dando outro papel – eu ouvi uma conversa dele
marcando um encontro na quinta feira a noite nesse endereço.
- ele vai encontrar amigos? – falei vendo o endereço.
- na verdade me parece um encontro sexual. Ele conheceu esse cara na
internet.
- obrigado Kiff.
- eu não tinha certeza se devia te contar isso – falou Kiff – acha uma
boa ideia ir atrás desse cara depois de tudo o que aconteceu com você?
- eu estou bem Kiff.
- se algo acontecer com você eu vou me culpar – falou Kiff quando o
elevador parou no andar dele.
- não vai acontecer nada. Eu só vou conversar com ele.
- promete? – perguntou Kiff.
- prometo.
Kiff saiu do elevador e eu finalmente cheguei no térreo. Ao sair lá de
fora eu vi que o meu taxi finalmente tinha chegado.
O taxi me deixou na porta do meu prédio. Eu não tinha dinheiro para
pagar pela corrida e foi quando o taxista me disse que ele já tinha combinado o
pagamento com Morgan.
Agradeci pela gentileza e entrei no meu prédio. Ao chegar no meu andar
eu caminhei até a porta. Peguei a chave que Kiff tinha me dado e enfiei na
porta, mas eu não consegui girar. Não sabia o que tinha de errado comigo, mas
eu não conseguia girar a chave.
Por alguns minutos eu simplesmente fiquei lá parado sem saber o que
fazer. Foi quando eu olhei para trás e vi a porta do apartamento de Rachel e
Oliver. Os vizinhos que tinha me ajudado. Tirei a chave na minha porta e fui
até a porta do apartamento vizinho e bati na porta. Alguns segundos depois
Rachel abriu a porta com um sorriso.
- Griffin? Como você está?
- estou bem – falei nervoso.
- o que está fazendo aqui? Precisa de algo?
- na verdade eu não sei. Eu só… não consegui entrar no meu apartamento e
eu vim até aqui te perturbar outra vez.
- não está perturbando. Entre e sinta-se em casa – falou Rachel – Samuel
está dormindo.
- obrigado – falei entrando e me sentando no sofá.
- como está se sentindo? – perguntou Rachel.
- com medo – falei rindo – eu estou com medo de entrar no meu próprio
apartamento e eu odeio essa sensação.
- você vai se sentir melhor com o tempo. Você está assustado agora, mas
porque o que aconteceu é recente.
- eu sei é que eu odeio ter que esperar. Eu queria me sentir melhor
agora.
- tenha paciência – falou Rachel tocando minha mão – e então… -
perguntou Rachel se levantando – quer beber alguma coisa?
- eu não acho que devo beber álcool depois do que aconteceu. Pelo menos
por um tempo.
- não tem problema eu trago um suco para você – falou Rachel indo até a
cozinha e voltando um tempo depois com um copo com suco de maracujá.
- obrigado – falei tomando um gole do suco – então onde está Oliver?
- no trabalho – falou Rachel mostrando a babá eletrônica em cima da mesa
– ele é Professor de Inglês – falou ela tomando um gole do copo dela – eu estou
de licença maternidade, mas eu volto ao trabalho em menos de um mês.
- você trabalha em que?
- Eu sou redatora da InStyle.
- bacana.
- e você? – perguntou Rachel.
- sou Contador Forense.
- parece ser um trabalho interessante.
- que nada. É um trabalho tedioso e cansativo, mas eu gosto – falei
terminando de tomar o suco.
Não sei porque me senti tão confortável conversando com aquela estranha.
Talvez porque ela me impedia de ter que ir para meu apartamento ou talvez
porque eu só precisasse desabafar com alguém que não conhecesse o meu passado.
Quando me dei conta eu já estava á pouco mais de uma hora no apartamento dela.
- posso usar seu banheiro? Acho que bebi muito suco.
- claro – falou Rachel – você sabe onde fica eu vou dar uma olhada no
Sam.
Fui até o banheiro e lavei o meu rosto e depois de tirar uma água do
joelho eu voltei até a sala e me sentei no sofá esperando por Rachel. Ela
voltou com o filho no braço.
- olha só quem acordou – falou ela sorridente brincando com o bebê.
- ele é tão fofo – falei me lembrando do meu irmão. Lembro de quando ele
era um bebê como Sam.
- eu sei. Acho que estou apaixonado por ele – falou Rachel com um
sorriso brincando com o filho
Nesse momento alguém bateu na porta do apartamento dela então Rachel
colocou o bebê deitado no berço que tinha na sala e se levantou indo até a
porta.
- boa tarde me desculpa incomodar, mas por acaso você viu o rapaz que
mora naquele apartamento? - falou uma voz conhecida que chamou minha atenção.
Quando olhei para porta eu vi Gray que me viu sentado no sofá – Griffin? o que
está fazendo aqui?
- eu vim visitar a minha amiga Rachel – falei me levantando do sofá – o
que você está fazendo aqui? – perguntei para Gray e em seguida olhei para o
relógio. Marcava quase três horas da tarde.
- Acabei o meu plantão no hospital e decidi trazer algo para você comer
– falou ele mostrando uma embalagem de um restaurante que ficava perto da
Pegasus. Eu gostava da comida de lá – eu tenho certeza de que você esqueceu de
comer.
- você acertou – falei ainda sentado no sofá.
Rachel olhou para mim e então olhou para Gray. Nós ficamos em silêncio e
então Rachel decidiu falar.
- olha eu não conheço você, mas eu sinto que preciso dizer – falou
Rachel olhando para mim – ele está com medo de entrar no apartamento. Eu não
estou reclamando. É bom ter alguém para conversar, mas ele precisa superar o
medo. É compreensível ele ter medo levando em consideração o que ele passou.
- claro que é compreensível – falou Gray olhando para mim – você quer
que eu vá primeiro? vai fazer você se sentir mais confortável?
- vai – falei respirando fundo me levantando. Eu fui até a porta e
entreguei a minha chave para Gray – eu vou em alguns minutos.
- eu vou te esperar lá – falou Gray indo até o meu apartamento e Rachel
então fechou a porta e sorriu para mim.
- o que foi? – perguntei me sentando no sofá de novo.
- aquele médico bonitão é seu namorado? – perguntou Rachel com um
sorriso no rosto.
- não! – respondi rapidamente – é só um amigo… na verdade é meu chefe.
Ele não é meu namorado – falei esclarecendo as coisas.
- então porque ele está agindo como um?
- ele só está preocupado – falei me levantando – ele é médico. É da
natureza dele se preocupar.
- se você está dizendo – falou Rachel se levantando e me acompanhando
até a porta – pra mim ele parece um homem apaixonado.
- obrigado por me receber eu prometo que não vou mais perturbar.
- por favor me perturbe quando quiser especialmente se for pra falar
sobre o seu não namorado.
- OK – falei rindo e saindo do apartamento dela. Caminhei vagarosamente
até meu apartamento e abri a porta. A primeira coisa que eu senti foi raiva ao
me lembrar do que tinha acontecido, mas logo vi que Eve e Kiff fizeram um bom
trabalho arrumando meu apartamento. Elas tinha enchido o armário de bebidas com
novas bebidas para que não parecesse só um armário vazio. O apartamento parecia
novo em folha. Estava arrumado e limpo até demais, mas eu senti uma boa
sensação ao ver que estava limpo. Era como um novo começo. Como se nada tivesse
acontecido.
Olhei para a cozinha e Gray tirava das sacolas as embalagens de comida.
Ele colocava em cima do balcão. Ignorei Gray e fui até o meu quarto. Quando
abri o guarda roupas vi que estava cheio novamente.
- Eve disse que encontrou algumas malas escondidas no estacionamento e
elas estavam cheias com as suas roupas – falou Gray chegando na porta do
quarto.
- ele só levou as roupas para que eu não pudesse sair do apartamento.
Ele estragou o meu celular para que eu não ligasse para ninguém e colocou a
droga porque sabia que tudo isso junto daria a ele a chance de fugir.
- vamos comer e esquecer esse assunto – falou Gray indo para a cozinha.
Fechei as portas do guarda roupas e fui até a cozinha. Gray estava de pé
ao lado do balcão colocando suco em dois copos e ele sorriu para mim ao me ver.
- o que você está fazendo? – perguntei me aproximando dele e parando a
menos de um metro de distância dele.
- colocando suco nesses copos – falou ele brincando.
- não é isso – falei respirando fundo. Eu me sentia aborrecido – sua
esposa é minha melhor amiga.
- ex esposa – falou Gray colocando a caixa de sucos em cima do balcão.
- você é pai. Tem três filhos com ela. Nós não devemos fazer daqueles
beijos grande coisa.
- o que está dizendo? – perguntou Gray olhando sério para mim.
- Rachel a minha vizinha achou que você era meu namorado.
- o que tem demais.
- você não é – falei respirando fundo –Agora, nesse momento, eu não sei
o que você é. Você é o que? meu médico? meu chefe? O ex marido da minha melhor
amiga que dormiu com a melhor amiga dela? Ou o pai de três crianças?
- você não tem o direito de jogar isso pra cima de mim – falou Gray –
meu me diga que ser o ex marido da sua melhor amiga se incomoda. Não diga que
ser pai te incomoda. Morgan não é minha esposa.
- vocês nem formalizaram o divorcio.
- porque é mais fácil – falou Gray irritado – Os papéis são só
formalidades e burocracia. Morgan e eu estamos separados e isso não é um
problema para nós dois – falou Gray apontando para mim e para ele – O fato de
eu ser pai não nos atrapalha também e com certeza o fato de eu ter ido para a
cama com a Eve também não influência no nosso relacionamento.
- nós não temos um relacionamento Gray.
- pare de usar desculpas – falou Gray se aproximando de mim – não fique
usando Morgan e meus filhos contra mim. Isso não é justo. Se não me quer seja
homem o suficiente para olhar nos meus olhos e dizer em voz alta.
- eu não consigo – falei respirando fundo.
- então porque está tentando me afastar?
- Eu não sei, estou tão confuso – falei me virando de costas e me
apoiando no balcão respirando fundo – tudo o que tem acontecido nas últimas
semanas tem mexido comigo e eu não sinto como se fosse eu mesmo. Sempre fui uma
pessoa reservada. Estava bem tendo apenas eu como companhia todo esse tempo.
- e o que mudou? – perguntou Gray me abraçado por trás. Senti seu corpo
tocar o meu enquanto ele envolvia os seus braços em mim. Senti sua respiração
quente na minha nuca.
- tudo – falei me virando sentindo agora sua respiração em meu rosto –
porque de todas as pessoas que existem nesse planeta eu tive que me apaixonar
por você? – falei tocando o rosto de Gray com minhas mãos.
- eu tenho me feito a mesma pergunta desde que te conheci – falou Gray
aproximando-se o suficiente para um beijo. Foi apenas um selinho inocente
envolto em seus braços. Seus beijos já não eram novidades para mim e mesmo
assim cada beijo era uma nova explosão que acontecia dentro de mim. Gray me
puxou contra seu corpo quando ele apoiou as costas no balcão – não vamos nos
preocupar com isso agora – falou Gray olhando para mim enquanto acariciava meu
rosto – Você não quer contar para ninguém? Tudo bem! Eu posso lidar com isso
por um tempo, mas só por um tempo. OK?
- OK – falei forçando um sorriso – Gray deu um beijo na minha testa e me
fez deitar a cabeça em seu ombro.
- agora nós vamos comer – falou Gray me soltando e se sentando próximo
ao balcão e abrindo as embalagens. O cheiro estava bom.
- O cheiro está bom.
- depois que comermos nós vamos tomar um banho - falou Gray olhando para
mim – Separados é claro – falou ele rindo. Eu preciso de um banho depois de
sair do hospital e você também – falou ele colocando comida na boca. Eu me
sentei na minha cadeira e também em servi – depois nós vamos assistir a dois ou
três filmes e até você dormir.
- eu não quero dormir – falei respirando fundo – eu não acho que consigo
dormir depois do que aconteceu. Não acho que vou conseguir dormir nunca.
- isso não vai ser problema porque quando estivermos assistindo um dos
filmes você vai sentir sono e então você vai deitar a cabeça bem aqui – falou
Gray tocando o peito dele – e você vai bocejar e eu vou te puxar pra mais perto
de mim e vou te fazer carinho. Acariciar seu braço, seu rosto… você arranjou um
namorado carinhoso – falou ele pausando e rindo – e em meio a tanto carinho
você eventualmente você dormir e quando finalmente você esquecer o que
aconteceu com você hoje e finalmente cair no sono você vai saber que todas as
vezes que eu fui cruel com você ou disse algo que te magoou na verdade era isso
que eu queria fazer… e agora eu vou – falou Gray sorrindo para mim.
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Estou relendo, minuciosamente, Griffin e Gray. E esse, definitivamente, é um de meus capítulos favoritos. Que estória marrlinda! Pena que está chegando ao fim. Me foram uma das melhores companhias nas últimas semanas. Parabéns por tanto talento, seu escritor!
ResponderExcluirA.
Lendo pela terceira vez essa belíssima e emocionante estória. Sempre sentindo os mesmos setimentos de quando a li pela primeira vez. Gênio, você! Que mão pra contos.
ResponderExcluirA.
P.s.: esperando você dizer que aquele 'CONTINUA' ao fim da 5ª temporada de Paixões não foi em vão.