APENAS HUMANO capítulo treze
G
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ray
cumpriu tudo o que prometeu a mim mesmo eu não tendo pedido em nenhum momento.
Nós comemos, tomamos banho e estávamos na minha cama assistindo a televisão á
algumas horas. Gray estava sem camisa vestindo apenas uma calça jeans. Cada um
de nós estava deitando em um travesseiro a uma distância considerável um do
outro. Os braços de Gray estavam para trás debaixo de sua cabeça. Lá fora já
estava escuro e o relógio marcava quase nove horas da noite.
Ao contrário de Gray eu estava vestido da cabeça aos pés. Estava com uma
bermuda confortável e uma camiseta bem folgada. Eu estava confortável dessa
forma, mas não podia dizer o mesmo dessa situação. Aquilo tudo era como um
filme da minha própria vida passando diante dos meus olhos. Eu não entendia
muito bem como chegamos naquele ponto, mas Gray já se referia a nós dois como
um relacionamento. Estava tudo indo rápido e eu nem entendia os motivos.
Gosto de Gray. Acho que gosto. Não sei bem como é gostar de uma pessoa
afinal não me lembro da última vez que gostei de alguém que não me decepcionou.
Meu pai que costumava ser uma das pessoas que mais amei no mundo e ele me
decepcionou de tal forma que nunca mais pude confiar em alguém de novo.
Gray olhava para a televisão, mas eu olhava para ele. Estava perdido em
meus pensamentos olhando para ele. Era engraçado vê-lo sem camisa. Seus braços fortes
rígidos pela posição. Seu peito também era forte e robusto tinha alguns poucos
cabelos negros e bem curtinhos. As luzes do quarto estavam apagadas e apenas as
luzes coloridas as TV iluminavam o ambiente.
- o que está olhando? – perguntou Gay ainda olhando para a televisão.
Ele de me deu um susto porque eu achei que ele não tinha percebi que eu olhava
tão fixamente para ele.
- não é nada – falei olhando para a televisão.
- o que foi? – perguntou Gray.
- não é nada… - falei pausando pensando se devia continuar – eu quero te
perguntar uma coisa e se fosse antes eu nunca perguntaria, mas eu acho que
agora eu posso te perguntar. Eu posso te fazer a pergunta?
- pode – falou Gray olhando para mim.
- porque você traiu a Morgan com a Eve?
Gray fez cara de surpresa ao me ver fazer aquela pergunta. Talvez ele
estivesse surpreso com a minha audácia em perguntar algo que claramente não era
da minha conta.
- você sabe disso? – perguntou Gray surpreso.
- então esse é o verdadeiro motivo da surpresa?
- sim – falou Gray pensativo – eu não achei que você soubesse que era a
Eve.
- sim eu sei que foi a Eve, Por quê? – falei virando meu corpo de lado
para olhar para ele.
- eu estive onze anos em um casamento. Morgan foi a primeira namorada
séria que eu tive e eu me apaixonei por ela. Ela era uma pessoa incrível… ela
ainda é uma pessoa incrível é uma mãe maravilhosa para os nossos filhos. Foram
onze anos de casamentos bons, mas não foram ótimos.
- você estava confuso? – perguntei curioso.
- muito – falou Gray – Eu não sou do tipo galinha sabe que saia com
muitas mulheres… eu me casei com a primeira pessoa que eu me apaixonei e eu não
me arrependo disso, mas eu estou chegando a uma certa idade. Esse ano eu
completo quarenta e eu senti que não podia mais ser quem eu não era.
- então eu sou uma crise de meia idade? – perguntei para Gray.
- não. Você não é resultado de uma crise de meia idade – falou Gray –
Eve foi uma crise de meia idade. Quando eu olhava para Morgan eu já não sentia
a mesma coisa. Eu não abandonei ela de uma hora para outra. Eu continuei com
ela dois anos mesmo sem amá-la então uma noite Eve apareceu na nossa casa e eu
pensei: Talvez o problema seja Morgan. Então eu fui para a cama com a melhor
amiga dela e mesmo assim nada mudou dentro de mim. Foi sexo sem sentido.
- então você percebeu que é gay?
- eu não sou gay – falou olhando para mim – o problema não era ser
mulher ou homem. O problema é que eu realmente não amavam ais Morgan. Dizem que
o amor nunca acaba. Ou isso é mentira ou o que
eu senti por Morgan nunca foi amor de verdade. Quando Morgan chegou em
casa me pegou na cama com Eve foi meio que libertador. Eu não queria dizer
isso, mas eu me senti aliviado pro ela ter nos flagrado. Acho que eu não tinha coragem
de pedir o divórcio. Como dizer a mulher com quem foi casado onze anos e tenho
dois filhos que eu queria o divórcio porque não sentia mais nada por ela?
- se você não é gay é o que?
- enfim – falou Gray revezando entre olhar para mim e olhar para a
televisão – eu estava livre. Eu
conseguia respirar de novo. Pela primeira vez em onze anos eu não devia
explicações a ninguém. Era só eu e meu apartamento de solteiro. Eu tenho os meus
filhos pelo fim de semana e Morgan me deixa vê-los sempre que eu quero… isso
era o mais perto da felicidade que eu tinha alcançado.
- o que mudou?
- você – falou Gray – eu já tinha me acostumado a minha vida de solteiro
quando você chegou. Quando Morgan te contratou e eu senti tanta raiva – falou
Gray.
- porque?
- porque Morgan estava provocando a mim e a Eve. Ninguém deve ser
contratado sem a permissão dos outros dois. Na Pegasus nós tomamos as decisões.
Tem de ser unanime, mas Morgan era a esposa traída e estava se fodendo para as
regras e foi quando ela te contratou. Só para nos provocar.
- é por isso que você tem tanta raiva de mim?
- “tinha” – falou Gray deixando claro – e não. Não era por isso. Comecei
a ter raiva de você quando eu percebi que eu te via mais do que um novo
funcionário que Morgan contratou. Desde a primeira vez que eu te vi eu senti
uma coisa diferente. Você é tão jovem e decidido. Você é trabalhador,
batalhador e inteligente. Eu fiquei admirado por você. Eu nunca tinha conhecido
alguém da sua idade que tivesse tanta certeza do que queria da vida e foi então
que a admiração se transformou em apego e depois em paixão. Quando eu percebi
eu estava apaixonado por você e eu fiquei com tanta raiva porque eu já estava
me acostumando a vida de solteiro e eu me apaixonei por você e estar apaixonado
por você doía tanto.
- foi então que você descobriu que é gay? – perguntei novamente.
- não – falou Gray olhando para mim e rindo por eu insistir nessa
pergunta – foi então que eu percebi que eu gostava de homens do mesmo jeito que
eu gosto de mulheres.
- então você é bi?
- acho que sim – falou Gray – durante a minha vida eu nunca senti isso
por outro homem então eu acho que sempre isso esteve comigo só que eu nunca
tinha encontrado alguém que me fizesse sentir… sabe… – falou ele pausando
– da forma que eu me sinto por você.
- você não se sentiu mal por gostar de mim? Acho que alguns homens
surtariam se descobrissem esse tipo de sentimento especialmente na sua idade.
- Não. Quer dizer, foi estranho descobrir esse outro lado meu, mas eu
não me senti mal e nem com vergonha eu só me senti como eu mesmo. Sou médico
Griffin e sei como o corpo humano funciona. Você não escolhe quem ama. Se
escolhêssemos quem amamos seriam mais fácil, mas menos mágico.
- é verdade – falei respirando fundo – eu não vejo como isso pode dar
certo. Eu me sinto tão mal.
- pelo o que?
- Pela Morgan. Como acha que ela vai se sentir quando descobrir?
- ela não tem direito de sentir.
- claro que tem. Você é pai dos filhos dela. Seu relacionamento com ela
virá acima de qualquer relacionamento que você tiver com qualquer outra pessoa.
- ela vai ter que aceitar.
- se fosse ao contrário? E se você descobrisse que Morgan estava
namorando outra mulher?
- isso faz diferença? – perguntou Gray – Você acha que se eu começasse a
namorar a Holly por exemplo, você acha que seria mais fácil para Morgan aceitar
só porque ela é mulher? Não. Seria difícil da mesma forma porque elas são
amigas e trabalham juntas. Não vou deixar e amar você só porque pode magoá-la.
- e eu? Eu não posso mentir e esconder isso de Morgan.
- na verdade você pode – falou Gray puxando minha mão e levando até o
peito dele onde ele manteve fazendo carinho – você pode mentir para Morgan, mas
é escolha sua. Não estou pedindo que minta e não estou pedindo que esconda, mas
eu não posso pedir que conte. Pra mim tanto faz porque eu não devo nada a Morgan.
Ela é só minha ex esposa e mãe dos minhas filhos e tudo o que não for
relacionado a isso não é da conta dela. Você tem duas escolhas. Você pode
esconder ou você pode contar. Seja lá o que você decidir eu vou estar ao seu
lado de qualquer jeito.
- é isso? – perguntei rindo – a vida é tão fácil assim pra você?
- a vida é o que você faz dela. Quando eu te beijei naquele aeroporto eu
escolhi fazer da minha vida fácil. O que você vai fazer da sua?
- eu ainda não sei pra mim os dois caminhos são difíceis e nenhum é
fácil. Eu conto para Morgan que estou apaixonado pelo ex marido dela ou eu
escondo e me sinto um traidor?
- pergunta pra Eve – falou Gray rindo.
- não tem graça – falei sentindo ele dar um beijo na minha mão – É
difícil pra mim dizer a verdade porque na minha experiência de vida a verdade
só me trouxe problemas. Problemas reais.
- você precisa se decidir porque eu não tenho intenção de esconder por
muito tempo. Eu vou querer sair com você, te levar a vários lugares que você
ainda não conhece e vou querer te beijar
em publico.
Quando Gray terminou de dizer essas palavras o telefone celular dele
tocou. Ela soltou minha mão e pegou o celular. Eu me sentei na cama pensativo e
levei um susto quando ele atendou o telefone.
- oi – falou Gray atendendo o telefone e esperando que a outra pessoa da
linha dissesse algo e foi quando ele colocou o celular no viva voz – o que foi
Morgan? – falou Gray. Nesse momento eu olhei para Gray assustado e imaginei o
que ele diria.
- eu só estou ligando para te lembrar que amanhã é a apresentação de
balé da Stephanie.
- eu sei Morgan. Diga pra ela que eu vou estar lá na primeira fileira
com uma câmera para filmar toda a apresentação para podermos rever sempre que
ela quiser.
Stephanie é a filha mais velha de Gray e Morgan. Ela tem dez anos. O
filho mais novo tem três anos e se chama Vincent.
- eu vou dizer – falou Morgan pausando – você está onde? – perguntou
Morgan.
Antes de responder Gray olhou para mim. Ele queria saber o que diria. A
verdade ou a mentira?
- o que você quer que eu diga? – perguntou ele se aproximando e
cochichando – você precisa escolher. Posso dizer que estou aqui?
- não – falei tomando minha decisão.
- estou em casa – falou ele respondo Morgan.
- estou saindo agora do trabalho e acho que vou passar no apartamento do
Griffin para saber como ele está.
- não acho que seja uma boa ideia – falou Gray – hoje a tarde eu fui até
o apartamento dele para ver se ele estava bem e ele pareceu um pouco chateado
com tudo o que aconteceu. Ele parecia cansado e disse que queria ficar sozinho,
mas você que sabe.
- eu vou ligar e ver se ele está acordado.
- tudo bem – falou Gray – vou desligar porque estou ocupado agora, mas
avise a Stephanie que estarei lá.
- OK, boa noite Gray.
- boa noite – falou Gray desligando o celular.
Alguns segundos se passaram e o meu celular começou a tocar.
- é Morgan – falei mostrando o celular para Gray.
- o que você acha de eu atender? – perguntou Gray.
- tá doido – falei escondendo o celular.
Gray começou a rir.
- você é muito tenso. Relaxa. A vida não é pra ser levada tão a sério.
- o que eu faço? Eu atendo?
- se você não atender ela vai achar que está dormindo e não virá ou você
pode atender e dizer que não precisa de companhia e que quer ficar sozinho.
- Eu não posso mentir pra ela. Pelo menos não hoje – falei colocando o
celular em cima do criado mudo. O telefone chamou mais alguns segundos e em
seguida parou.
- então você fez sua escolha?
- sim – falei me dentando novamente na cama – eu vou manter isso em
segredo.
- por quando tempo? – perguntou Gray se aproximando de mim e dando um
beijo no canto da minha boca.
- sinceramente? não sei – falei com a dúvida na mente. Será que tinha
feito a escolha certa – você vai precisar saber de uma coisa se vamos namorar.
- o que? – perguntou Gray.
- nada de sexo.
- Uou… - falou Gray parecendo sem graça por eu ter tocado no assunto tão
bruscamente.
- eu não estava pensando nisso – falou Gray – desculpa se eu dei a
entender que queria dormir aqui só pra fazer sexo com você.
- eu sei que não.
- então o que? – perguntou Gray – ainda está com vergonha por eu ter
feito o exame em você? Não se preocupe. Eu sou médico. Estou acostumado a ver
todo ti pode coisa e eu sei separar a vida profissional e pessoal.
- não é isso é que eu não sou o tipo de pessoa que… eu sou virgem, OK? –
falei de uma vez – eu nunca fiz sexo antes da minha vida. Eu quase fiz com Hugo
noite passada, mas nada aconteceu e eu me arrependi de quase ter feito.
- OK – falo Gray pensativo – se Hugo tivesse feito alguma coisa com você
eu iria atrás dele e eu o mataria com as minhas próprias mãos.
- isso é tudo o que você tem a dizer sobre o que acabe ide te contar?
- sim – falou Gray olhando pra mim – eu entendo que seja virgem e eu
respeito isso. Eu sou meio que virgem também porque eu nunca fiquei com homem
antes – falou Gray rindo.
- você leva tudo na brincadeira né? – falei rindo com ele.
- não. Estou só tentando quebrar a tensão que você criou ao dizer que
nunca faremos sexo.
- Não disse que nunca faremos. Disse que não faremos sexo hoje… nem
amanhã…
- você nunca namorou antes? – perguntou Gray.
- já. Duas vezes e geralmente meus namoros só duravam até eu dizer que
era virgem e queria esperar. Então eu desisti. Percebi que eu não valia a pena
já que ninguém queria esperar até que eu estivesse pronto.
- eu posso lidar com isso – falou Gray compreensivo – Eu definitivamente
quero fazer sexo com você, mas eu quero esperar até que esteja pronto. Não vou
te pressionar a fazer algo que não está pronto pra fazer.
- OK – falei sentindo meu coração bater forte. Aquilo era novidade para
mim. ninguém nunca quis esperar por mim. Aquilo me fez perceber que talvez Gray
seja diferente dos outros. Ninguém nunca fez eu me sentir mais do que normal e
Gray fazia eu me sentir assim. Ele fazia eu me sentir como um humano e não como
um pedaço de carne. Sem querer eu dei um sorriso largo para Gray.
- porque esse sorriso? – perguntou Gray levando a mão até meu rosto.
- nada – falei tímido querendo esconder o sorriso – não é nada.
- não tente esconder. Você têm um sorriso bonito. Devia sorrir mais
vezes – falou ele dando um selinho na minha boca – é a primeira vez que eu vejo
você sorrir depois do que aconteceu.
- você me faz querer sorrir sem motivo aparente.
- pra mim parece que eu sou o seu motivo – falou Gray fechando os olhos
e beijando minha boca. Ele acariciou meu braço enquanto me beijava. Me
aproximei um pouco mais dele e repousei minha mão em seu peito sentindo seu
coração batendo em minha mão. Seu peito era forte e quente – eu estou com fome –
falou Gray beijos – o que você acha de sairmos para comer algo? – Gray perguntou
isso descendo a mão pela minha cintura. Quando ele tocou minha cintura próximo da
minha bermuda eu parei de beijá-lo assustado – o que foi? – perguntou Gray – eu
não vou tirar sua roupa eu só estou…
- não é isso… - falei me ajoelhando na cama e tirando minha camisa.
Gray ficou surpreso ao ver as minhas cicatrizes. Ele ficou intrigado e
rapidamente acendeu a luz do quarto.
- eu posso tocar? – perguntou Gray.
- pode – falei levantando da cama. Gray se sentou na beirada da cama e
eu me aproximei dele entre suas pernas.
- seu pai fez isso em você? – perguntou Gray analisando as cicatrizes. Ele
tinha o olhar de um médico.
- não – falei sentindo ele tocar com os dedos – fui eu mesmo.
- como? – perguntou Gray.
- Como você sabe eu vivi um momento na minha vida em que eu estava
sofrendo tanto que queria tirar isso de mim. Meu irmão morreu pela mãos do
nosso pai e eu me culpava por isso. Na verdade eu queria cortar meu pulsos, mas
eu não queria me matar porque eu não queria morrer. Sei que tenho sorte de
estar na Terra quando meu irmão está embaixo dela – falei respirando fundo – Então
eu invés de cortar os pulsos eu fiz isso para que a dor física domasse a dor
que me comia por dentro – falei me lembrando de todas as vezes em que peguei
uma faca e passei na cintura. Era cortes que não passavam de dez centímetros cada.
Deviam ser uns trinta de cada lado. Alguns eu cortava por cima então não sei o número
exato de vezes que eu fiz – É mais fácil fazer quando você não vê a faca
cortando a pele e também era um dos poucos lugares onde eu podia me cortar e estava
sempre coberto.
- isso é horrível – falou Gray colocando as duas mãos na minha cintura
cobrindo boa parte das cicatrizes e olhando nos meus olhos – você ainda faz
isso?
- não mais.
- eu tenho um amigo que é cirurgião plástico. Ele pode fazer uma
cirurgia de correção de cicatriz. Não fará elas desaparecerem, mas elas ficarão
praticamente invisíveis.
- obrigado, mas eu gosto delas. Elas me fazem lembrar o porque de estar
aqui hoje e me lembram da pessoa que eu nunca mais quero voltar a ser.
Gray então me puxou e me fez sentar no seu colo. Sentei em sua perna
direita e aproximei o rosto do dele para um beijo. Levei minha mão direita até
seu rosto e beijei sua boca. Os beijos de Gray tinha um gosto maravilhoso e sua
língua uma textura macia. Sua barba cerrada espetava minha mão fazendo cócegas.
- Se você um dia sentir vontade novamente de se machucar promete que vai
conversar comigo?
- prometo.
- é sério – falou Gray – me prometa.
- eu prometo.
- ótimo – falou Gray beijando meu rosto – você quer sair para comer
alguma coisa?
- você sabe cozinhar?
- o que você quiser – falou Gray com um sorriso.
- perfeito – falei dando um selinho na boca dele e me levantando.
- você vai adorar minha comida – falou Gray saindo do quarto e eu o
segui – eu não estou dizendo que sou um ótimo cozinheiro, mas eu me garanto –
eu posso fazer o que eu quiser? – perguntou Gray chegando a cozinha.
- sim – falei me sentando próximo ao balcão da cozinha – qualquer coisa
menos peixe – falei rapidamente assustando Gray.
- então você não é fã de peixe? – perguntou ele colocando algumas coisas
em cima do balcão.
- eu odeio – falei sendo direto – você tem preferência por alguma carne?
- eu não como carne – falou Gray pegando uma das cervejas que ele tinha
trazido com ele naquela tarde. Ele abriu a lata e tomou um gole.
- Perfeito, faça alguma comida vegetariana então.
- combinado – falou Gray se preparando para cozinhar.
Nós mal tínhamos chegado a cozinha e o interfone do meu apartamento tocou.
Eu o atendi e era o porteiro do meu prédio.
- olá – falei atendendo.
- Boa noite Sr. Blake quem fala é o Gary – falou o porteiro pausando
como se verificasse alguma coisa.
- olá Gary. Já voltou? Como foi a cirurgia? Se recuperou bem?
- Sim! Estou de volta firme e forte. Obrigado por perguntar.
- que bom. Fico feliz.
- Então Sr. Blake eu percebi porque o porteiro que me substituiu nesses últimos
três meses não esteve fazendo todas as funções que eu faço.
- o que foi Gary?
- Parece que o porteiro que me substituiu não estava entregando correspondências
a menos que os residentes viessem verificar e aqui tem três meses de correspondências
acumuladas para você.
- eu posso ir ai buscar.
- na verdade não precisa – falou Gary – o seu vizinho Oliver Gifford está
aqui agora pegando as correspondências
dele eu vou pedir que leve as suas.
- se não for incomodar eu agradeço muito.
- vou pedir para ele levar.
- obrigado Gary – falei desligando o telefone.
- quem era? – perguntou Gray.
- era o porteiro avisando que tem correspondências pra mim.
- você vai lá buscar?
- não. O vizinho vai trazer pra mim – falei vestindo minha camisa e indo
até a porta. Abri e fiquei esperando Oliver chegar. Quando a porta do elevador
se abriu eu vi Oliver vir até mim com um sorriso.
- olá Griffin. Está melhor? – perguntou Oliver me entregando as correspondências.
- estou ótimo – falei pegando as correspondências. Devia ter umas vinte
cartas.
- está entregue – falou ele sorrindo.
- obrigado – falei sorrindo ode volta – obrigado também pelo o que fez
hoje de manhã. Se não fosse você e sua esposa eu não sei o que faria.
- sem problemas – falou Oliver já na porta do apartamento dele – é pra
isso que servem os vizinhos.
- mesmo assim obrigado – falei fechando a porta.
Olhei as correspondências me minha mão e desatei o nó que as unia. Olhei
por cima e vi algumas cartas do banco e depois de passar algumas eu vi uma carta
carimbada com o carimbo da Penitenciária do Estado de Nebraska. Era a penitenciária em que
meu pai cumpria pena perpétua. Aquilo fez meu coração disparar, mas eu não
pensei duas vezes e rasguei a carta em pedaços e joguei na lixeira.
Peguei novamente as cartas e comecei a passar. Então eu vi outra carta,
depois outra e depois outra. No final encontrei mais sete cartas com o mesmo
carimbo. Antes que eu pudesse jogá-las no lixo Gray veio da cozinha.
- está tudo bem Griffin?
- está – falei abrindo a gaveta do criado mudo e jogando todas as cartas
lá com muita pressa. Quando Gray chegou a sala eu estava fechando a gaveta – já
estou indo. Deixei as cartas para trás e voltei até a cozinha mel esperando a
hora em que eu pudesse jogar todas na lixeira em mil pedaços.
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