mundo era
preto e branco. Estava sentado em um bar antigo. Parecia ser os anos vinte.
Talvez na cidade de Charleston. O jazz tocava alto enquanto homens e mulheres
dançavam na pista de dança. Ella Fitzgerald cantava o seu maior sucesso rodeada
por músicos de Jazz com trombetas, clarinetes e sexo. Homens de terno branco se
balançando de um lado para o outro. Mulheres com penas na cabeça escondendo
largos sorrisos. Eu por outro lado estava sentado em uma das mesas, sozinho. Um
copo de uísque na minha frente e o chapéu na minha cabeça. A imagem a minha
volta era perfeitamente um filme antigo.
Por um momento me senti livre. Me
senti como se pertencesse naquele lugar. Tudo parecia em seu devido lugar. Os
homens sorriam escorados no balcão. Todos com aquele charme galanteador que só
os homens do passado tem. As mulheres coradas correndo deu m lado para o outro
rindo do nada. Uma dessas garotas passou por mim e eu senti o seu perfume.
Fechei os olhos e me senti em um transe com aquele cheiro. Ainda de olhos
fechados percebi que a música já não estava tão alta. Gradativamente ela foi se
desvanecendo. As ridas já não eram mais ouvidas o cheiro do cigarro, uísque já
não permeavam mais o meu nariz.
Quando abri os olhos vi que
estava sozinho. O lugar estava vazio. Tentei mover meus braços, mas não
consegui. Minhas mãos estavam algemadas. Assustei-me ao olhar para minhas mãos.
Não havia cirurgia. Tinha três dedos em cada mão. Olhei para frente novamente e
vi que as pessoas tinham voltado. Todas estavam paradas olhando para mim. Os
músicos, os funcionários as moças coradas os cavalheiros, Ella… foi então que
senti alguém me forçando para frente me fazendo deitar em cima da mesa. Meu
rosto estava sendo pressionado contra a mesa e as pessoas em volta de mim
começaram a gritar e bater palmas. Aquele era o show. O meu show. Eu era a
atração principal.
Minha testa escorria suor quando
abri os olhos assustados pelo pesadelo. Olhei em volta e senti minha cabeça
doendo. Minha boca estava seca e meu corpo doía um pouco. Sentei-me na cama e
tentei lembrar o que tinha acontecido na noite passada. Pouco a pouco fui me
lembrando. A boate Pulse, Quinn, Mya, a festa e minha irmã Casey. Me levantei da cama e passei pela cortina
chegando ao quarto de Mya. Ela não estava lá. Fui até a sala e vi que o sol brilhava forte pela janela. Olhei
no relógio que havia na parede e vi que era quase nove horas da manhã. Senti um
frio na barriga quando me lembrei que deveria estar no trabalho a uma hora
dessas.
- porra! – exclamei correndo para
o banheiro.
Tomei um banho rápido e sai
pelado do banheiro todo molhado porque não tinha pego a toalha. Dei uma volta
pelo apartamento e eu não a encontrava. Havia papel toalha na cozinha e foi com
eles que eu tive que me secar. Usei um rolo inteiro de papel toalha. Vesti meu
uniforme que consistia em uma camisa branca de botões branca, calça social e
uma gravata preta. Peguei minha mochila e corri pra fora de casa a c aminho do
ponto de ônibus. Meu estômago doía e minha cabeça girava. Noite passada tinha
sido muito para mim e a bebida com certeza tinha algo a ver com o meu estado
atual. Talvez seja isso que todos chamam de ressaca.
- vou levar uma bronca – respirei
fundo e olhei para fora do ônibus. Estava nervoso e ansioso balançando minha
perna imaginando a bronca que eu levaria por estar tão atrasado. Talvez seja
até mandado embora. Tentando arranjar uma desculpa eu entalecei meus dedos e
foi quando percebi que não tinha colocado minhas luvas. Respirei fundo e tentei
ignorar o fato de que também tinha esquecido o celular e a carteira em casa –
que merda – falei nervoso quando chegou o meu ponto.
Desci e caminhei o mais rápido
que pude enquanto atravessava a Praça do Lago Eola. Em minha cabeça eu
maquinava uma desculpa para dizer ao senhor Barker. Depois de atravessa a praça
dei a volta no quarteirão e cheguei a rua onde ficava a lanchonete. De longe eu
vi que havia algo diferente. Havia uma viatura parada na lanchonete. Muito
policias lanchavam lá de vez em quando, mas vi que tinha algo errado porque não
havia clientes.
Ao entrar na lanchonete vi que estava vazia.
Não havia clientes e não tinha ninguém atendente. Ela nem sequer estava
completamente aberta. Caminhei até os fundos e ao chegar vi que o Sr. Barker
estava parado próximo ao cofre que estava aberto. Ele conversava com dois
policiais. Um deles tomava notas enquanto o Sr. Barker dizia algo.
- bom dia – falei respirando
ofegante me preparando para a bronca por ter chegado atrasado.
- é ele! – falou o Sr. Barker apontando para
mim em seguida ele caminhou em minha direção – seu vagabundo! – falou Sr.
Barker irritado. Os dois policiais impediram que ele chegasse até mim. Com a
mochila nas costas dei um passo para trás assutastado1.
- tenha calma Sr. Barker – falou
um dos policiais para ele. O policial tinha uma expressão séria em seu rosto.
Depois de olhar para o Sr. Barker ele olhou para mim e ficou me encarando por
alguns segundos. A expressão séria e pensativa. Ele apertava os lábios
pensativo.
- qual o seu nome? – perguntou o
enorme policial se aproximando de mim.
- Stan… Stanley.
- seu nome completo – falou o
policial colocando a caneta no seu bloco de notas. Stanley Illtyd Echevarria –
falei nervoso engolindo em seco.
- tem certeza? – perguntou o
policial virando um pouco a cabeça. Ele sabia que meu nome não era aquele.
- não. – falei respirando fundo
assustado.
O policial lambeu os lábios
pensativo, respirou fundo e esperou pela resposta. Ele parecia irritado. Não
entendi o que estava acontecendo e nem porque Sr. Barker me xingou. O policial
tinha os cabelos penteados para o lado em um topete, usava barba no rosto. Uma
barba castanha que preenchia o rosto. Ao chegar no queixo se tornava grisalha.
Ele me encarava com aqueles olhos azuis acinzentados e eu estava assustado.
- É Anthony… - falei respirando
fundo – Não é Echevarria.
- você tem algum problema com a
policia?
O policial anotou meu nome e
fechou o bloco de notas.
- problema? Não.
- então porque você está usando
um nome falso? – ele franziu a testa e juntou as duas mãos esperando minha
resposta. Aquele homem era assustador. Ele não piscava e não desviava o olhar.
- eu só não… - olhei para o outro
policial. Um homem branco de olhos verdes e cabelos negros desgrenhados. Ao
contrário do outro ele tinha o rosto lisinho e a barba bem feita. Ele também me
encarava esperando minha resposta. Sr. Barker estava com os braços cruzados me
encarando com raiva. Sentia-me intimidado com aqueles três me encarando. Minha
boca estava seca e eu lambi os lábios.
- quantos anos você tem? –
perguntou o policial de olhos azuis e barba. No uniforme havia seu sobrenome.
Holloway. O sobrenome do policial de olhos verdes era Foster.
- vinte e quatro – a resposta
saiu um pouco tremida.
- Okay – falou ele anotando minha
idade – o que você acha de darmos uma passada na delegacia? – falou ele
colocando a mão no meu ombro – pra termos uma conversa e podermos esclarecer as
coisas.
- o que está acontecendo? O que
eu preciso esclarecer?
- você me roubou! – gritou Sr.
Barker apontando para mim.
- o que? – falei surpreso – não
te roubei.
- cheguei hoje cedo e abri o
cofre e não tinha nada. Liguei para Julie e ela disse que foi você que fechou o
caixa.
- por favor, fique calmo – falou
o policial Foster para Barker.
- calmo? Como posso ficar calmo
se ele roubou tudo!
- eu não roubei! – falei sentindo
minha respiração aumentar.
- foi você que fechou o caixa?
- sim senhor. Foi eu, mas foi a
Julie que pediu.
- não foi isso que Julie – falou
o policial Holloway – respirando fundo – o seu chefe aqui, Sr. Barker, disse
que ligou para Julie e ela disse que estava fechando o caixa enquanto você
limpava o chão. Ela disse que se retirou por alguns instantes para ir ao
banheiro e quando voltou ela disse que o dinheiro tinha desaparecido e você não
estava aqui.
- mas que porra é essa? Isso é
mentira. Ela pediu para eu fechar o caixa porque precisava ir embora para um
encontro – olhei para o Sr. Barker – eu não te roubei Sr. Barker. Quando fui
embora o senhor estava no banheiro.
- não. Eu não estava – falou ele
respirando ofegante. Dava para ver as veias da sua testa saltadas. Ele estava
suado e seus lábios tremiam de raiva – fui embora ás sete. Só você e Julie
ficaram aqui.
Me lembrei que quando estava indo
embora ia no banheiro, mas tinha alguém lá dentro. Achei que fosse o Sr.
Barker, mas agora entendo que era Julie. Ela armou tudo. Mentiu para que eu
pudesse fechar o caixa. Depois que fui embora ela roubou o dinheiro e colocou a
culpa em mim. Ela só esperou eu ir embora para poder ligar para o Sr. Barker
contando sua mentira.
- podemos ir? – perguntou o
Policial ainda com a mão no meu ombro.
- acho melhor não, vamos
conversar aqui mesmo e podemos resolver – falei engolindo em seco assustado.
- não é um pedido – falou o
policial Foster interrompendo Holloway que não pareceu contente ao ouvir o
colega dizer aquilo.
- será coisa rápida – falou
Holloway ainda com a mão em meu ombro tentando estabelecer certa confiança – Vamos,
por favor. Só para esclarecermos tudo isso e em breve você pode voltar para
casa.
- eu vou ser preso? – perguntei
esfregando minhas duas mãos. Estava suado. Nesse momento o policial Foster
lambeu os lábios e ficou encarando minha mão. O policial Holloway deu uma
olhada rápida e voltou a olhar para mim.
- não. Você não está preso. É só
para esclarecermos tudo. Vamos chamar a Julie e vamos investigar direitinho o
que aconteceu.
- tudo bem! – estava nervoso, mas
topei. Apesar de saber que não era uma escolha.
Entrei na viatura e me sentei no
banco de trás e enquanto estávamos a caminho da delegacia tudo o que eu
conseguia pensar era em como eu tinha sido burro e estúpido. Nunca em mil anos
passaria pela minha cabeça que ela faria algo assim. Por mais que não nos
descemos muito bem pensei que éramos pelo menos colegas de trabalho que se
respeitavam. Não tinha nada contra ela apesar de ela ter sido bem mal educada
quando a vi pela primeira vez. Estava com raiva também por ter mentido meu nome
para o policial, mas eu fiquei nervoso. Fui pego de surpresa.
A caminho da delegacia os dois
policiais conversavam entre si sobre algo que não entendi muito bem. Estava com
vergonha de estar ali. A verdade é que me sentia humilhado por ter que passar
por aquela situação. O policial Holloway e o policial Foster tomavam uma lata
de coca cola. Quando chegamos a delegacia Holloway estacionou o carro e assim
que os dois saíram da viatura Foster abriu a porta e eu pude sair. Acompanhei
os dois para dentro da delegacia e eles me levaram até a sala de interrogações.
Não era bem como eu tinha visto nos filmes. Era uma sala pequena com uma mesa e
duas cadeiras. Havia um vidro e algumas câmeras.
Fui deixado lá sozinho por vários
minutos. Os dois policiais desapareceram e me deixaram lá sentado. Eu balançava
minha perna de nervosismo. Estava suado como uma cachoeira. Minhas mãos suavam
muito quando ficava nervoso. Eu batia as garras na mesa impaciente. Quando a
porta se abriu eu dei um pulo na cadeira e voltei a me sentar direito.
- está confortável? – falou o
policial Foster entrando na sala.
- sim – falei respirando fundo.
- onde está o outro? – eu tentava
manter a calma. Por algum motivo o outro policial pareceu mais legal do que
esse.
- está interrogando sua amiga
Julie – disse o policial Foster puxando a cadeira se sentando de frente para
mim. Ele colocou em cima da mesa alguns papeis e uma lata de refrigerante –
trouxe para você.
- obrigado, mas não – falei
respirando fundo.
- tem certeza? – perguntou ele
empurrando a lata na minha direção.
A verdade é que eu estava com
sede, mas eu sabia exatamente o que ele queria com aquele refrigerante, mas eu
não estava disposto a dar.
- se você preferir posso trazer
água.
- seria melhor sim uma água.
- beleza – falou o policial Foster
saindo e voltando com uma garrafa de água mineral. Peguei a garrafa com a mão
da garra e abri usando os dentes. Em seguida tomei três longos goles. Minha
boca estava muito seca e minha cabeça ainda doía.
- obrigado – falei colocando a
garrafa em cima da mesa.
- então… pode me contar o que
aconteceu?
- foi como eu disse. Ontem ela
pediu para que eu fechasse o caixa para que ela saísse mais cedo. Ela se foi e
eu fechei o caixa. Antes de ir embora eu fui ao banheiro, mas tinha alguém lá
dentro. Eu achei que era o Sr. Barker então deixei de lado e fui embora.
- você já tinha fechado o caixa
antes?
- Sim. Duas vezes eu ajudei o Sr.
Barker.
- mas nunca sozinho?
- não. Foi a primeira vez.
- e isso que me intriga – falou o
policial chegando para trás se escorando – é muita coincidência. Você nunca
fechou o caixa e do nada sua colega pede pra você fazer e você faz?
- sim. Não achei que fosse nada
de mais.
- bom… vamos começar pelo inicio
– disse ele colocando duas luvas de plástico na mão – qual o seu verdadeiro
nome?
- Stanley Illtyd Anthony.
- eu disse o verdadeiro! –
exclamou o policial pegando a garrafa de água que eu tinha bebido.
- esse é o verdadeiro. Echevarria
é o sobrenome falso.
- Eu acho que todo esse nome é
falso.
- não. É o verdadeiro. Se eu
estivesse com minha carteira aqui te mostraria a identidade.
- quer dizer que você ‘esqueceu’
sua carteira em casa?
- sim. Sei que parece estranho,
mas é que ontem eu sai pra uma festa e bebi demais e acordei atrasado.
- olha se você não quer dizer
tudo bem – disse o policial se levantando com a garrafa na mão. Ele não tinha
acreditado em nenhuma palavra do que eu disse – podemos fazer isso do jeito
fácil que é você me dizendo seu verdadeiro nome ou do jeito difícil – falou ele
me mostrando a garrafa – eu vou enviar essa garrafa com suas digitais para o
laboratório e teremos o resultado em algumas horas.
- boa sorte tentando tirar
digitais – falei mostrando a mão com Ectrodactilia. Eu sou canhoto, mas eu
sabia que ele trouxe a garrafa para colher minhas digitais então fiz tudo a mão
deformada porque ela não tem digitais que possam ser reconhecidas.
O policial Foster balançou a
cabeça decepcionado consigo mesmo e voltou a se sentar com um sorriso no rosto.
Ele colocou a garrafa em cima da mesa e ficou me encarando por alguns segundos.
- eu disse que esse é meu nome
verdadeiro. Você não tem escolha – falei olhando para o policial – a minha
carteira está em casa o que significa que a menos que eu a pegue você não pode
entrar sem um mandado para pegá-la e eu duvido que qualquer juiz do mundo te de
um mandado de busca baseado nas provas que você tem contra mim. Que são: zero.
Ou seja: você tem que acreditar em mim.
O policial não disse nada e ficou
me encarando por alguns minutos. Em silêncio.
- como é seu nome? – perguntei
para ele.
- Blacke Martin Foster.
- prazer Policial Blacke. Meu
nome é Stanley Illtyd Anthony.
Blacke pareceu puto e sem dizer
nada se levantou e saiu da sala batendo a porta me deixando lá sozinho
novamente. Peguei a garrafa de água tomei vários goles e em seguida eu a limpei
com a minha camisa e a coloquei de volta na mesa. Aquilo já estava ficando
chato. Estava com um puta ódio de Julie por ela me fazer passar por toda aquela
situação estressante e humilhante. Tinha que me acalmar porque a minha vontade
era de estrangulá-la caso a visse.
O relógio no alto da porta
mostrou que eu estava lá dentro e mais de uma hora meia desde que Blacke tinha
me deixado lá. Sabia que eles faziam isso de propósito para que eu cansasse e
confessasse. Não ia funcionar comigo. Não vou confessar um crime que não
cometi. Depois de todo esse tempo a porta finalmente se abriu e novamente vi o
policial Blacke, mas dessa vez ele estava acompanhado de mais duas pessoa: o
policial Holloway e um outro homem que diferente dos policiais ele usava roupa
social apesar de estar sem o terno e sem a gravata com os dois primeiros botões
da camisa aberto. Imaginei que fosse um advogado. Blacke e Holloway se sentaram
em duas cadeiras do lado esquerdo e o homem de tenro se sentou na cadeira em
frente a minha. Ele estava fumando e ao se sentar ele colocou o cigarro no
cinzeiro.
- bom dia – falou o homem de
olhos azuis e cabelos castanhos penteados para o lado.
- bom dia – falei respirando
fundo tentando me acalmar.
- eu sou o Detetive Cory DeLarosa.
- detetive? – perguntei confuso.
- sim – falou ele com a expressão
séria.
- pensei que fosse meu advogado.
- você precisa de um advogado? –
perguntou o Detetive Cory.
- não. Não preciso.
- ótimo – falou ele pegando
alguns papeis - então… - ele fez uma pausa – o policial Adam Holloway interrogou
Julie e ela continua afirmando a história dela. Esse daqui é o testemunho dela
assinado – falou ele colocando-o na minha frente.
- exatamente – falou o policial
Adam – ela continua afirmando que foi ao banheiro e quando voltou você e o
dinheiro tinham desaparecido. Ela disse que fez a ligação para seu chefe –
Andrew Barker – e ele foi até a lanchonete e a encontrou chorando então de
certa forma ela tem uma testemunha da versão dela. Eles não tinham seu endereço
nem seu telefone então ao invés de prestar queixa ontem á noite decidiram te
confrontar hoje, mas como você não apareceu para o trabalho ele ligou pra gente
para prestar queixa.
- posso perguntar o valor que foi
roubado?
- claro – falou o Detetive Cory
folheando os papéis – cerca de nove mil dólares. Era o valor arrecadado na
semana.
- nove mil? – perguntei surpreso
– Se eu tivesse roubado nove mil dólares porque eu ia voltar ao lugar onde
assaltei sendo que eu podia simplesmente ter desaparecido com o dinheiro?
- é uma ótima pergunta – Detetive
Cory voltou a pegar o cigarro e colocar na boca. Em seguida assoprou a fumaça e
o apagou no cinzeiro.
- é isso que queremos saber – falou
o policial Blacke.
- nós já lidamos com casos
parecidos então nós sabemos que tem algo de errado aqui. Ou você está mentindo
ou Julie está mentindo. Só temos que descobrir qual dos dois – o detetive
colocou uma perna em cima da outra se aconchegando em sua cadeira.
- Foi ela. Eu estou dizendo a
verdade. A resposta é que ‘eu não roubei’. Olhem nas câmeras.
- já fizemos isso – falou o
detetive DeLarosa – seu chefe disse que as câmeras do lado de dentro não
funcionam a mais de seis meses e ele não pediu o concerto delas porque nunca
foi preciso. Só as do lado de fora funcionam.
- e a câmera da saída dos fundos?
- não tem câmera nos fundos então
não podemos ver o horário que ninguém saiu – Holloway parecia intrigado.
- você diz que é inocente – falou
Blacke se inclinando e apoiando os antebraços na mesa – então nos ajude a te
ajudar. Até agora Julie tem uma história convincente e uma testemunha.
- eu não sei o que dizer – falei
pensativo. Por alguns segundos fiquei em silêncio tentando pensar em alguma
coisa. Minhas mãos estavam em cima da mesa e nesse instante percebi que o detetive
Cory estava encarando minha mão. Ele nem piscava. Apenas olhavam para minhas
mãos enquanto as segurava juntas tentando pensar em algo – eu não sei a
combinação do cofre. Isso ajuda em algo?
- não – o detetive saiu de seu
transe voltando a olhar para mim – o cofre não estava fechado. Na versão de
Julie o cofre estava fechado quando saiu do banheiro. Ela achou estranho, pois
ela tinha deixado o dinheiro em cima do balcão então ela abriu o cofre e lá
dentro estava a bolsa vazia.
- espera… - falei franzindo a
testa – então quer dizer que na versão dela eu fui até o balcão retirei o
dinheiro – demonstrava fazendo mimica – fechei a bolsa, coloquei no cofre e o
fechei?
- sim.
- isso não faz sentido.
- não faz – Blacke concordou
comigo – por isso nós sabemos que um de vocês está mentindo.
- eu sou canhoto – falei olhando
para os dois.
- o que isso tem a ver? –
perguntou Blacke.
- posso demonstrar?
Blacke, Holloway e o detetive se
entre olharam e depois olharam para mim concordando. Fiquei de pé na mesa
fingindo que ela era o balcão.
- se a versão de Julie for
verdadeira – falei fazendo mimica de tudo o que falava – eu fui até o balcão
peguei o dinheiro com a mão esquerda, fechei a bolsa segurando-a com a mão direita.
Levei a bolsa com a mão esquerda e fechei o cofre com a mão direita.
- correto – falou o detetive. Ele
tinha uma expressão séria e estava pensativo tentando entender o que eu dizia.
- ela disse se a falsa caixa de
eletricidade estava fechada?
- não. Apenas o cofre estava
fechado – falou Holloway.
- então quer dizer que não
deveria ter minhas digitais na falsa caixa de eletricidade porque segundo a
versão dela eu não encostei nela. Só que na verdade eu encostei. Quando Julie
pediu para eu terminar de fechar o caixa a cena era exatamente a que ela
descreveu. O dinheiro estava lá e eu coloquei a bolsa no cofre só que como fui
eu que fechei o caixa eu também fechei a falsa caixa de eletricidade e a
tranquei colocando a chave dentro de um pote de barro na cozinha. Então tem
minhas digitais na falsa caixa de eletricidade e no pote. Ou seja. É só vocês
fazerem um teste. Se houver digitais na falsa caixa de eletricidade, na chave e
no pote de barro significa que a versão dela é.
Eles voltaram a se entreolhar e os
dois se levantaram me deixando sozinho. Mais uma vez nenhum dos dois disse
nada. Respirei fundo e apoiei minha cabeça na minha mão. Ficaria ali por mais
algumas horas. Seja lá o que eles foram fazer. Eu sabia que a policia podia me
deter até quarenta e oito horas sem que fosse crime então eu tinha que ficar lá
quietinho enquanto eles trabalhavam.
Minha cabeça doía tanto. Fechei
os olhos por alguns instantes e me lembrei do pesadelo que eu tive. As pessoas
olhando para mim, aplaudindo e me tratando como se eu fosse um animal. Dei um
pulo na cadeira quando a porta da sala foi aberta. Acabei cochilando esperando
pelos policiais.
Depois de quase uma hora eles
voltaram. Levei um susto quando eles entraram. Limpei os olhos e olhei para o
relógio para confirmar quantas horas eram. O policial Blacke Foster não tinha
voltado. Todos se sentaram novamente em seus respectivos lugares.
- e então? O que aconteceu?
- Julie confessou – falou o
detetive.
- confessou? Sério.
- nós a pressionamos – falou
Blacke – É uma tática de interrogação que usamos. Dissemos que a cena do crime
não condizia com a versão dela e depois usamos a sua ideia das digitais. No fim
ela acabou cedendo. Blacke está fichando ela agora nesse momento. Ela será indiciada por roubo e por prestar um
falso depoimento á policial.
- e então? Eu estou livre?
- na verdade não – falou o
detetive jogando alguns papéis em cima da mesa – nós consultamos no nosso banco
de dados o nome que você nos deu e acontece que você disse a verdade. Stanley
Illtyd Anthony é o seu verdadeiro nome.
- então porque eu não posso ir?
- porque quando pesquisamos o seu
nome descobrimos que você está sendo procurado por roubo e fraude no cartão de
crédito.
- meu deus… - falei respirando
fundo.
- o Sr. Nick Illtyd Anthony
prestou queixa a pouco mais de dois meses.
- ele é meu irmão – falei me
sentindo mal – Eu só peguei um pouco de dinheiro emprestado. Ele só prestou
queixa pra descobrir onde estou.
- isso não importa e nem muda o
fato de que você o roubou e ele prestou queixa.
- o que isso quer dizer?
Os dois se levantaram e Adam
abriu a porta e saiu deixando-a aberta. O detetive pegou um par de algemas.
- Stanley Illtyd Anthony você
está preso por roubo e fraude no cartão de crédito – falou o detetive
- isso é sério?
- sim. Levante-se.
Me levantei e coloquei as mãos
para trás e ele colocou as algemas.
- você tem o direito de ficar em
silêncio. Tudo o que disser poderá e será usado contra você no tribunal.
- mas isso não é justo. Ele é meu
irmão.
- sinto muito, mas esse é o meu
trabalho – o detetive me segurou por trás e nós saímos da sala atravessando um
corredor. Eu não estava conseguindo acreditar que aquilo estava acontecendo. O
detetive me colocou sentado em um banco de plástico com as mãos para trás e
antes de me levar para minha cela ele me fichou, colheu minhas digitais e eu
tirei algumas fotos. Os últimos passavam em minha cabeça como um filme. Além de
perder o emprego agora estava preso.
Depois de tirar as fotos para
registro um guarda me levou para a cela. Pegou todos os meus pertences, fez uma
revista e lá estava eu. Preso em uma cela com mais dois estranhos. Um cara
bêbado sentado em um banco e uma mulher que provavelmente era uma prostituta
que tinha sido flagrada em serviço. Ela estava sentada do outro lado da cela. Eu
por outro lado estava de pé próximo da grade ainda sem acreditar que estava
ali. Minha cabeça inclinada para frente e uma das mãos segurando a gelada grade
da cela. Sabia que não ficaria muito tempo naquele lugar porque meu irmão ia me
buscar. O que me preocupava era a cirurgia que eles iriam me obrigar a fazer.
Nós nos distanciamos nos últimos
anos, mas nós tínhamos uma ligação. Sinto que faríamos qualquer coisa um pelo
outro. Era estranho. Algo que não conseguia explicar. Me sentia ligado a ela de
alguma forma e tê-la encontrado naquela me fez perceber que aquilo era real.
Aquela vida era real. A nova cidade, o emprego, a noite com os amigos…
finalmente tinha as rédeas da minha própria vida. Tudo o que precisava agora
era conseguir dormir porque teria que me levantar em algumas horas.
Esperando ansioso pela continuação, aquela vadia tem que a podrecer na cadeia
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