Capítulo 02: Cruel Frustração | Conto: Cruel Sedutor

II

Cruel Frustração

---

P

or mais que estivesse feliz por ter conseguido um emprego me sentia também triste e cabisbaixo por não ter com quem compartilhar a noticia. Precisava criar raízes Já que estava disposto a morar em Orlando e o primeiro passo é ter amigos. Nesse intuito decidi comprar algumas coisas para fazer um jantar para Mya e eu. Ela estava fora o dia todo trabalhando e estudando e talvez isso nos aproximasse um pouco. Já que não tinha minha família podia pelo menos ter alguém para conversar. Tenho certeza de que Mya ficaria contente em comer algo que não estivesse enlatado ou que não tivesse que ser requentado no micro-ondas.

 Próximo do apartamento onde morava havia um mercado rápido. Ao entrar fui direto às prateleiras pegar o macarrão e o extrato. Não sei se Mya gostava de macarrão ou massas em geral, mas achei que fazer algo com peixe pudesse ofendê-la. Depois de pegar o restante dos ingredientes fui até a sessão de bebidas e peguei algo para bebermos. Algumas garrafas de Heineken para Mya e umas latas de Ginger Ale para mim. Eu não bebia cerveja.

Enquanto estava na fila do caixa comecei a prestar atenção no televisor que estava no noticiário. No começo não entendi muito bem do que se tratava, mas logo em seguida percebi que falava sobre alguns crimes que tinham acontecido. Na tela a imagem de um homem vestido de palhaço e na outra metade uma mulher de cabelos loiros.

- … a onda de palhaços vem se espalhando pelo país e começa a preocupar as autoridades. Palhaços sinistros estão sendo avistados por várias cidades do país. Na semana passada, na cidade de Bardstown no Kentucky, um homem disparou tiros para o ar depois de sua esposa ter alertado sobre a presença de “palhaços horrorosos” na rua. A maioria dessas aparições tem sido capturadas por câmeras de segurança durante a noite. O professor de psicologia de Harvard explica que tudo isso não passa de uma brincadeira que se tornou uma ‘histeria coletiva’. O que aparentemente começou como uma brincadeira inocente parece ter tomado proporções gigantescas quando um garoto de dezenove anos foi esfaqueado no ombro na noite passada por uma pessoa desconhecida vestida de palhaço no estado da Flórida.

- que loucura – o que era para ser apenas um pensamento acabou saindo de meus lábios.

- concordo – falou uma mulher que estava atrás de mim na fila. Tinha cabelos loiros lisos com uma franja. Seus olhos eram verdes. Ela carregava consigo duas latas de coca e uma embalagem com duas rosquinhas cobertas com chocolate.

- pois é… - falei olhando para a roupa que ela usava. Percebi que era uniforme policial – você é policial?

- acho que sim – falou a mulher abrindo os braços mostrando a roupa que usava.

- desculpa. Pergunta idiota.

- todos somos idiotas às vezes – falou ela rindo e em seguida voltando a expressão normal.

- sabe… a mulher no noticiário disse que o garoto esfaqueado foi na Flórida, mas ela não disse qual cidade. Você sabe onde foi?

- não. E mesmo que soubesse não poderia dizer – falou ela rindo.

- desculpa de novo – dei uma risada sem graça.

- não esquenta.

Chegou a minha vez e quando comecei a colocar minhas compras em cima da esteira ela chamou minha atenção cutucando em meu ombro com o dedo indicador que segurava as duas latinhas de coca.

- Meu parceiro está me esperando lá fora na viatura e eu só estou comprando o nosso lanche da tarde. São só essas coisas aqui. Será que posso passar na sua frente?

- claro. Sem problema

- obrigada – falou ela sorrindo – obrigada mesmo – ela parecia apreensiva e aliviada – é o meu primeiro dia e eu não quero levar uma bronca só porque demorei demais.

- legal. Então você não sabe sobre os palhaços?

- na verdade não – falou ela rindo enquanto a caixa passava as compras dela – se eu soubesse eu te diria. Você parece ser legal.

- acho melhor não porque se não você levaria uma bronca no seu primeiro dia.

- bem pensado – falou ela entregando o dinheiro trocado para a caixa agradecendo – obrigada – ela se virou para mim sorrindo e deu dois passos indo embora.

- por nada – falei voltando a colocar minhas compras na esteira.

- meu nome é Judy Rogers – falou ela colocando as latas e as rosquinhas apenas em uma mão e esticando a outra.

- Stan Echevarria.

- muito prazer Stan e obrigada de novo.

- disponha – falei sorrindo para a policial que saiu rapidamente do mercado. Através do vidro vi que o parceiro dela estava de fora da viatura esperando por ela. Quando ela finalmente chegou os dois entraram na viatura e se foram.

Assim que cheguei ao apartamento tomei um banho demorado para relaxar os músculos. Trinta minutos depois comecei a fazer o jantar. Coloquei uma música no tocador de Mya e comecei a cortar os legumes. Batata, cenoura, o cheiro verde e a cebola. O macarrão já estava fervendo em água quente quando o molho estava pronto. Estava distraído jogando o macarrão já escorrido em uma travessa quando ouvi um grito.

Com o susto eu deixei a panela cair dentro da pia. Olhei para trás e vi Mya. Ela olhava pra minha mão sem piscar. Ela parecia surpresa e assustada. Me esqueci que ela não sabia sobre aquele detalhe.

- me desculpa – falei secando minha mão e pegando a luva que estava em cima do sofá.

- não. Eu é que sinto muito – falou ela com uma expressão estranha.

- porque está com essa cara?

- porque está ouvindo música nessa altura? – perguntou ela jogando sua mochila em cima do sofá. O apartamento era como um grande galpão. Nossos ‘quartos’ eram divididos por uma cortina bege.

- eu… eu achei que não tinha problema usar seu tocador de música – falei ainda assustado tentando colocar a luva.

- não tem problema. Só não ouça tão alto ou os vizinhos vão reclamar para o Sr. Cruz. O Sr. Cruz era o senhorio.

- OK – me virei e peguei de volta a panela e terminei de colocar o macarrão – pensei em fazer o jantar. Estava cansado de comer comida com gosto de plástico e achei que você também estaria. Espero que goste de macarrão.

- eu gosto – Mya se aproximou de mim – me desculpe por gritar é que eu fiquei surpresa.

- não tem problema.

- é sério. Me desculpa.

- não tem problema Mya. Sério – falei forçando um sorriso colocando a panela com dificuldade em cima da pia. A luva me atrapalhava cozinhar.

- Ectrodactilia?

- o que? – perguntei surpreso.

- a sua mão. Ectrodactilia, certo?

- sim – Mya estava olhando para minha mão fascinada.

- licença – falou ela pegando minha mão e tirando a luva. Ela a colocou em cima do balcão e ficou passado os dedos na minha mão. Seu olhar era o mesmo que ela fez quando gritou ao ver minha mão. Olhar de fascinação e curiosidade.

Ela passava os dedos bem de leve virando minha mão de um lado para o outro. Em seguida ela pegou minha outra mão e colocou uma do lado da outra.

- você nasceu com as duas mãos assim, mas você fez cirurgia em uma delas – Mya passou os dedos pela cicatriz da cirurgia.

- sim. Como você sabe?

- lembra que eu te disse que meu pai é médico? Eu cresci com livros de medicina. Dezenas deles. Quando criança pegava os livros dele apenas para ver as figuras.

- pensei que não gostasse de medicina.

- não gosto – falou ela soltando minhas mãos – eu era criança e achava curioso ver as fotos do livro. Anomalias, deficiências… os livros de medicina eram meus livros infantis.

- OK – falei pegando a luva.

- não precisa colocar a luva. Ela atrapalha você. Eu vi quando foi deixar a panela na pia.

- você não tem nojo?

- nojo? Não. Porque teria?

- a maioria das pessoas tem. Especialmente quando eu cozinho com elas. Uma vez a namorada do meu irmão mais velho foi conhecer meus pais e eu fiz o jantar. Ela não conseguiu comer.

- que ridículo – Mya foi até o molho e colocou um pouco na mão.

- pois é – eu estava sem graça – meu irmão terminou com ela um dia depois.

- uma boa decisão – falou Mya lambendo a mão. Parecia ter gostado.

- você gosta de macarrão?

- adoro – falou ela abrindo a geladeira – eu precisava disso – Mya pegou uma das cervejas abriu e deu um longo gole – que delicia – falou ela suspirando e olhando para mim – só de você não ter feito sushi ou qualquer coisa com peixe eu fico agradecida.

Eu dei risada quando ela disse aquilo e ela também começou a rir. Ficamos os dois dando risada.

- você ri? – falou Mya ainda rindo – as pessoa olham para mim e automaticamente acham que eu adoro comer peixe. E eu D-E-T-E-S-T-O peixe ou qualquer coisa que venha do mar – ela disse isso olhando para minha mão. Foi então que eu abri e fechei os dedos como se fossem garras de lagosta.

- nossa me desculpa – falou ela dando gargalhada. Eu também comecei a rir – foi mal Stan. Parece que hoje eu acordei com o pé esquerdo – falou ela se apoiando no balcão – tive um dia infernal no trabalho, quase morri de estudar e… sabe… hoje foi exaustivo.

- sinto muito.

- não sinta. É a vida – falou ela tomando outro gole da cerveja – quer um pouco?

- não. Obrigado. Eu não bebo.

- sério? Por quê?

- por que não gosto – balancei a cabeça de um lado para o outro olhando para a long neck na mão dela.

- você já bebeu antes?

- já experimentei.

- não. Eu digo beber mesmo. De verdade – Mya disse enfatizando com as mãos.

- não. Só um gole ou dois.

- então como sabe que não gosta – falou ela pegando outra cerveja na geladeira e abrindo-a. Ela me entregou – bebe comigo.

- beleza – falei pegando a garrafa e dando um gole. Era um pouco mais amarga do que as que tinha experimentado – é forte.

- isso ai – falou ela se jogando no sofá e tomando outro gole da cerveja. Nunca tinha visto aquele lado de Mya. Nós mal tínhamos trocado algumas palavras desde que morava ali e eu só a via estudando. Não achei que ela fosse tão… divertida – e seu dia como foi?

- eu andei bastante entregando currículos, fazendo entrevistas e quando achei que ia voltar para casa com um monte de ‘não’ acabei conseguindo um emprego.

- porra, sério?

- sério – falei rindo e tomando outro gole da cerveja – assistente em uma lanchonete próximo ao Lago Eola.

- eu estudo próximo ao parque. Quem sabe nós não possamos lanchar juntos?

- pode ser – falei sentindo algo estranho. Pela primeira vez alguém estava me tratando da forma que eu me sentia por dentro. Normal.

- e então? Esse jantar vai ficar pronto ou não?

- está quase pronto! Só falta fazer o molho branco.

- vou tomar banho – Mya tomou o restante da cerveja e jogou a garrafa pra mim e eu consegui pegá-la.

Enquanto Mya tomava banho eu terminei o jantar. Macarrão, molho branco, molho vermelho, vegetais e para acompanhar filé de frango temperado. Pela voracidade com a qual Mya comeu eu devia me sentir lisonjeado. Com toda a certeza ela tinha gostado da comida. Eu mal comia direito. Me foquei em observar a vontade qual a qual ela comia.

- isso está maravilhoso – falou Mya sorrindo e colocando uma garfada na boca.

- obrigado – falei sem graça. Era a primeira vez que recebia elogios pela minha comida fora de casa – que bom que gostou.

- então… - Mya tomou um gole da cerveja – onde você aprendeu a cozinhar?

- sozinho – coloquei um pouco de macarrão na boca – sempre fiquei muito em casa e eu gostava de ajudar nos afazeres de casa. Minha mãe e meu pai me ensinaram o básico. Eu apenas observava. O resto fluiu quando comecei a procurar em livros, na internet, vídeos… enfim… dizem que é um dom.

- concordo. Um dom maravilhoso – falou ela afastando o prato. Estávamos ambos sentados próximo ao balcão na cozinha – o que você está fazendo aqui em Orlando?

- foi como eu te disse. Sou como você. Fugi da minha família.

- eles não querem que você vá fundo nessa coisa de ser chef?

- não. Na verdade eles me apoiam nisso – falei respirei fundo sentindo saudades de casa, mas não sentindo saudades da pressão que sentia – eles querem que eu faça outra cirurgia – peguei o meu prato e o dela e levei até a pia.

- você não quer fazer?

- não – voltei até o balcão e me sentei olhando para Mya – eles não querem que eu faça nada antes de completar essa cirurgia. Eu me lembro do que aconteceu da outra vez. Era muito pequeno, mas me lembro da dor. A caminhada é longa até a recuperação. Talvez leve anos. Eu já tenho vinte e quatro anos. Não quero desperdiçar mais dois ou três anos em algo que pode esperar.

- eu entendo seus pais – falou Mya tomando um longo gole da cerveja dela e me oferecendo a garrafa. Peguei a garrafa e tomei um gole – eu consigo me colocar no lugar deles. Eles têm medo das dificuldades e da dor que você vai sentir ao estar no mundo. A vida já é difícil o suficiente sem ter garras de lagosta… sem ofensas.

- não é ofensa – falei devolvendo a long neck para Mya – só que esse é o problema. O medo deles não é o meu. Eu também consigo me colocar no lugar deles, mas parece que eles não se colocaram no meu. Ninguém nunca me perguntou o que eu acho sobre nascido dessa forma. Com essas mãos. Ninguém nunca me perguntou se eu queria a cirurgia ou como me sentia com as piadas e o preconceito que sofri durante a vida. Por muito tempo eu permiti que eles controlassem minha vida e minhas escolhas, mas não mais.

- entendo o que quer dizer. Se dependesse dos meus pais eu estaria fazendo medicina em Yale ou Harvard – Mya pareceu apreensiva e alisou os cabelos curtos e ondulados que iam até o ombro – sabia que meu pai já tinha até decidido qual seria minha especialidade?

- ele decidiu?

- sim. Neurocirurgia. Assim como ele – Mya disse isso dando uma risada frustrante olhando para o nada como se ela visualizasse a cena da própria vida – Engraçado né? Minha família também nunca se importou com o que eu queria. Eles simplesmente sonharam uma vida para mim e esperaram que eu a vivesse. Mesmo que não fosse meu sonho. Mya abaixou o rosto até o balcão e se deitou pensativa.

- porque será que os pais fazem isso? – apertei os lábios pensativo. Estava silencioso. Tudo o que ouvíamos era o fraco tráfego na rua. O som de uma ambulância bem longe. Senti uma brisa gelada passar por meu corpo. Era tarde já. As luzes estavam apagadas a não ser pelo pendente acima de nossas cabeças.

- quem veio primeiro? O ovo ou a galinha? – Mya disse isso voltando o corpo na vertical balançando a long neck que estava vazia – pega outra pra gente.

Fui até a geladeira e peguei uma long neck e ginger ale para mim.

- vai me deixar bebendo sozinha?

- estou me sentindo um pouco alto com o pouco que bebi. Vou terminar a noite com refrigerante.

- você que sabe – Mya tomou um gole da cerveja e eu coloquei o refrigerante em um copo com gelo pra mim – então… diz ai… já conheceu alguém aqui em Orlando?

- além de você?

- não se faça de bobo. Estou falando de alguém especial.

- fala sobre um… namorado?

- sabia! – falou Mya rindo – você é gay, não é?

- sou sim.

- eu sabia. Se eu tivesse apostado com alguém eu teria ganho.

- o que me denunciou?

- seu olhar – Mya disse isso olhando profundamente em meus olhos – seus olhos castanhos são profundos, mas não transparecem desejo. Falta algo. Quando você olha pra mim você não me deseja, seu olhar tem algo diferente como… curiosidade ou algo assim. Seu olhar é o olhar de alguém que precisa de um amigo ou uma amiga.

- mais ou menos – falei olhando para baixo dando uma risada sem graça – nunca fui de ter amigos.

- mas e os namorados? Teve muitos?

- Nope. Nunca!

- você está de brincadeira?! – Mya parecia surpresa com a minha resposta – por quê? Não me diga que é por causa da sua mão por que você é um gatinho.

- me acha gatinho? – fiquei envergonhado com aquele elogio. Eu não era magrinho como os caras que via na TV. Era cheinho, tinha ‘garras de lagosta’, meus olhos não eram azuis… ela me achava mesmo bonito?

- claro – Mya riu e apertou os olhos ao dizer isso – você é fofo.

- não é por causa da mão. Esse problema vem de dentro eu acho. Sempre fui muito na minha. Quase não tive contato com ninguém na vida. É claro que eu desejo, mas ninguém nunca chegou em mim.

- Você não pode ficar esperando alguém chegar em você. Tome a iniciativa.

- eu não consigo. Quando penso em conversar com alguém eu travo. Começo a sentir uma dor no estômago e sinto vontade de vomitar.

- vou contar uma novidade pra você – Mya disse isso se aproximando de mim – todo mundo semente isso. É normal. Você só precisa seguia a diante.

- e se esse alguém não estiver afim? Quer dizer… e se ele não ‘curtir’?

- fala sobre ser hétero?

- sim. Eu já me interessei por algumas pessoas, mas nenhum passou do interesse porque eu não sei como chegar em alguém. E se ele não estiver interessado? E se eu não for atraente o suficiente? E se o sentimento não for mutuo? E se ele for hétero?

- São muitas perguntas – Mya disse isso sinalizando com as mãos para que eu me acalmasse – perguntas as quais você só terá a resposta se você perguntar. Não tenha medo. Medo é o pior sentimento que podemos sentir, mas é irracional na maioria das vezes.

- e você? – tentei de mudar de assunto – tem alguém em vista? Um namorado?

- olha tem um cara ai… - Mya começou a rir e colocou as duas mãos no rosto – nós meio que estamos ficando.

- e você o conheceu onde?

- no curso que estou fazendo.

- é um colega de classe?

- um professor – falou Mya apertando os lábios tentando não rir.

- um professor?

- sim, mas não conte para ninguém – falou ela colocando o dedo na minha boca – eu sempre gostei de caras maduros e uma coisa levou a outra e nós acabamos ficando.

- não se preocupe não vou contar pra ninguém – Fui sarcástico. Fiquei imaginando pra quem eu contaria aquilo.

- sei que é errado afinal ele é um dos meus professores, mas sei lá… só não quero que as pessoas saibam que tem algo acontecendo porque se não vão achar que estou fazendo pelas notas e não é isso.

- eu sei que não.

- além do mais ele é casado – Mya disse isso rindo.

- casado? – perguntei surpreso.

- sim, mas, por favor, não me julgue – falou ela juntando as mãos – sei que é errado, mas ele me entende. Depois que eu contei vinha vida para ele e o motivo de eu estar aqui em Orlando ele ficou admirado pela minha coragem de tomar as rédeas da minha vida.

- você gosta dele?

- muito – Mya respirou fundo e suspirou – acho que estou apaixonada – Entendi o que Mya quis dizer com o olhar. Seus olhos cintilavam. Conseguia ver no fundo dos seus olhos o desejo, o sentimento ao qual ela se referiu.

- não vou te julgar. Eu te entendo. Já me interessei por caras comprometidos antes. É como desejar algo que nunca se vai ter então fico feliz que tenha conseguido. Além do mais ele que é casado; Não você.

- obrigada! – exclamou Mya me abraçando forte e dando dois beijos no meu rosto – você é o melhor amigo do mundo.

Era estranho sentir Mya me tocando. Nunca fui tão intimo de alguém dessa forma. Não fora da minha família. No começo não entendi o que era aquele sentimento, mas percebi ao longo do abraço que era o sentimento da amizade crescendo. Mya tomou um último gole da sua cerveja e foi até a pia e despejou o resto.

- e qual o nome desse ‘cara irresistível’? – tomei um longo gole do meu ginger ale.

- Rudolph – Mya estava com aquele olhar – Ele é lindo! Tão romântico! –Ela estava perdidamente apaixonada por aquele homem. Podia ver pela forma que ela falava o nome dele. Como ela tentava esconder o sorriso, como ela entrelaçava os dedos e seu rosto corava.

- espero um dia encontrar alguém assim!

- você vai – disse Mya me abraçando. Eu ainda estava sentado e ela estava de pé. Com certeza estava um pouco alta de toda a cerveja – prometo a você – falou ela me soltando e pegando as minhas duas mãos – e quando você encontrar esse cara ele verá mais do que suas mãos. Verá seu coração.

Mya mordeu os lábios e soltou minhas mãos. Ela foi para o quarto dela do lado esquerdo da cortina e eu vi pela silhueta da luz do abajur dela que ela tinha acabado de ligar que ela arrumava a cama para ir dormir. Mya era tão natural quanto tudo aquilo. Nunca tinha me aberto tanto para uma pessoa. Apesar de sermos parecidos éramos tão diferentes. Aquela realidade de Mya parecia tão distante para mim. Ela estava apaixonada, eufórica e estranhamente feliz por ter alguém ao seu lado. Tudo o que tenho sentido nesses últimos anos é agradecimento. Feliz por estar vivo, por ter uma mão normal, por ter uma família. Comparado a vida dela ou a vida de qualquer um a minha era tão ordinária. Vim para Orlando para ter uma vida extraordinária. Cansei do ordinário.

Depois de lavar as louças e organizar a cozinha eu tomei um banho e fui me deitar. Não consegui dormir por um tempo. Estava pensativo. Muitas coisas em minha cabeça. Saudades de casa, dúvidas sobre o futuro e sobre as coisas que tinham acontecido no passado. No mais estava mais do que ansioso para começar em meu novo emprego. Espero que o dia de hoje seja apenas o primeiro de vários deis como esse.

Espero que estejam gostando. Não esqueçam de comentar e votar :)

PERSONAGENS

WATTPAD