Capítulo 04: Paul ‘o homem que salvou sua vida’ | Conto: Príncipe Impossível: Parte Dois

QUATRO

paul ‘o homem que salvou sua vida’

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A

 terça feira começou exatamente como a segunda. Do celular apitando em minha orelha para acordar para poder chupar meu marido. Parece que eu o meu relógio biológico reconhecia isso e eu acordei novamente na hora certa. Quatro e meia da manhã. Gray foi todo elogios no dia anterior dizendo como o meu boquete o perseguiu durante o dia todo e como ele teve que aliviar durante o banho no hospital para poder se concentrar no trabalho. Era bom saber que eu ainda levava jeito e conseguia fazê-lo se sentir daquela forma. Meu marido tem quarenta e um anos de idade e comigo ele age como um adolescente apaixonado com os hormônios a flor da pele. Estava contente por sentir que era apreciado e que mesmo quando se masturbava era em mim que ele pensava e não em um estranho.

Quando acordei e me sentei na cama ainda no escuro cocei meus olhos e já fui tirando o cobertor de cima de Gray. Ao contrário do dia anterior eu fui por cima de Gray ficando com minha bunda em seu rosto e seu pau logo a minha frente. Me abaixei e beijei sua barriga enquanto acariciava seu membro. Abaixei a bermuda e a cueca até o joelho e senti Gray segurando nas minhas nádegas enquanto bocejava. Segurei seu pau meia bomba e fui ate seu saco enchendo de beijos e sentindo seu cheiro. Minha língua molhou seu saco e encheu de água. Coloquei a cabeça na boca e a mamei por alguns segundos. Apenas a cabeça rosada que tanto me dava prazer.

- boa noite – falou Gray com a voz grave. Aquela voz de sono.

- não posso falar estou de boca cheia – falei a colocar a cabeça na boca e fui afundando.

- não precisa dizer nada – falou ele puxando o travesseiro para levantar um pouco sua cabeça. Ele tirou a língua pra fora e passou no meu cuzinho antes de abocanhá-lo. Seus dedos abriam minhas nádegas enquanto sua barba me fazia cócegas enquanto sua língua explorava meu ânus e minha boca engolia seu caralho até o talo. Quando a engolia por completo mantinha ela no fundo da garganta e esfregava os lábios nos pentelhos e quando subia eu mamava apenas a cabeça.

Percebi que sempre que fazia isso Gray apertava minha bunda mais forte e juntava os lábios sugando meu ânus. Ele tinha destruído minhas pregas na noite passada e eu sabia que ele chupava meu cu como uma forma carinhosa de pedir desculpas por ter detonado minhas pregas. Eu já disse que não precisa pedir desculpas já que enquanto ele detonava essas pregas eu gozava pra caralho, mas ele é assim. Pede desculpas pelas coisas que não precisam ser desculpadas.

Cheguei um pouco para trás deixando Gray chupar meu cuzinho esfregando a língua enquanto agora eu fazia um boquete guloso e faminto no seu pau. Apoiei as mãos em suas pernas enquanto movia a boca pelo seu pau frenético. Meus olhos lacrimejavam enquanto eu engolia o pau dele com vontade. As vezes ele escapava para fora na minha boca, mas eu o colocava logo de volta e com mais vontade eu voltava a engolir seu caralho. Gray se empenhou cada vez mais na forma em que sugava meu cuzinho. Agora eu já estava sentado na sua cara enquanto ele linguava meu cuzinho e suas pernas tremiam tentando segurar o gozo.

Movendo minha cabeça mais devagar acariciava as pernas de Gray deslizando meus dedos pelos cabelos de sua perna enquanto minha cabeça se movia devagar aumentando a velocidade cada vez mais. Eu sabia que aquilo o matava e sentindo a intensidade de sua língua no meu ânus eu senti o gosto amargo da sua porra entrar em minha boca. Continuei movendo a cabeça mais devagar dessa vez enquanto ele gozava na minha boca e seu pau empurrava tudo para o fundo da minha garganta. Gray deu dois tapas doloridos na minha bunda e quando eu soltei seu pau dando aquela última chupada ele já caiu quase mole na barriga.

- tenha um bom dia trabalho meu amor – falei saindo de cima dele e caindo deitado ao seu lado tendo suas pernas ao meu lado.

- é sacanagem fazer isso e me desejar um bom dia de trabalho – falou ele se sentando na cama com um sorriso – você sabe que eu vou ficar louco esperando a noite pra te comer né?

- sim e vê se dessa vez não se alivia no banheiro –  falei acariciando as costas dele.

- eu te amo – falou ele vindo até minha boca e dando um selinho. Eu o segurei e acariciei seu rosto sentindo nossos lábios se unirem e nossas línguas dançarem enquanto eu sentia o sabor da boca do meu marido misturado ao meu próprio gosto.

- eu te amo mais – falei rindo.

- essa é minha fala – falou ele ficando de pé.

- nós podemos trocar as vezes.

- isso é uma indireta?

- não. você sabe que eu não gosto de comer. Esse é o seu papel.

Gray sorriu e caminhou pelo quarto pegando a toalha e indo para o banheiro tomar seu banho. Fechei os olhos pensando que iria dormir de novo, mas parece que Kurt não estava muito afim. Ele começou a fazer barulhos no berço e quando abri os olhos e peguei o tablet vi que ele estava de pé no berço brincando com o sistema solar que girava enquanto ele dormia. Para a alegria de Kurt o papai Gray é louco em qualquer coisa que tenha a ver com o espaço sideral. Não me espanta que o tema da primeira festa de aniversário de Kurt tenha sido o Pouso Lunar. Ele contratou até dois atores para se fantasiarem de astronautas com roupa e tudo.

- papai! – gritou Kurt.

- já estou indo! – falei vestindo o meu robe e saindo do quarto e caminhando pelo corredor até o quarto de Kurt que parecia estar bem acordado – quais as chances de você voltar a dormir – falei me aproximando do berço e pegando ele no braço.

- Dora! – falou ele rindo e segurando meu rosto com as duas mãos.

- essa maldita Dora – falei colocando ele no trocador de fraldas e tirando a roupa e a fralda suja e jogando no lixo.

Preparei o banho morno de Kurt e dei banho enquanto ele brincava com um dos três alienígenas do filme Toy Story. Ele gostava mais desse alienígena do que do patinho de borracha. Deixei ele brincar na água um pouco e enquanto colocava a fralda nele e vestia sua roupa Gray apareceu na porta do quarto e entrou.

- você não estava na cama quando sai do banho – falou ele chegando por trás e dando um beijo no meu rosto e ele acariciou o rosto de Kurt – bom dia meu filho.

- te amo papai – falou ele segurando o alienígena.

- owwwnt! – falou Gray rindo – ele já disse que te ama?

- não vem com isso. Não me desafia – falei brincando.

- brincadeira seu bobo – falou Gray pegando Kurt nos braços depois que ele estava pronto – porque você deu banho nele? Não será mais difícil dele dormir?

- ele não vai dormir.

- como você sabe?

- eu conheço meu filho e quando esse pestinha acorda, mas não chora é sinal de que ele já dormiu mais do que devia.

- você não dormiu quase nada – falou Gray saindo do quarto e eu o segui – nós ficamos até tarde fazendo você sabe o que… quer que eu chame uma babá ou deixe ele na Pegasus pra você dormir um pouco? Você não tem dormido bem nas últimas semanas

- não Gray, eu estou bem  -falei pegando Kurt de volta – você dorme pouco e salva a vidas pessoas e faz cirurgias. Eu vou ficar bem.

- por falar nisso – falou ele descendo as escadas e eu o segui – Vince e Stephanie virão passar o fim de semana conosco.

- ouviu Kurt? Seus irmãos vão passar o fim de semana aqui. Aposto que vocês vão se divertir muito – falei colocando ele no sofá e ligando a televisão colocando a maldita Dora Aventureira.

Gray e eu fomos para a cozinha e eu fui preparar a mamadeira dele.

- vou te contar eu tenho vontade te dar um tiro na cara dessa tal de Dora. Ele não podia ter gostado de outra coisa?

- relaxa papai de primeira viagem. Essa não é a primeira vez que seu filho vai gostar de coisas que você detesta. Se você não quiser magoá-lo vai ter que engolir e sorrir – falou Gray rindo e colocando uma caneca na cafeteira e depois de pronto ele colocou uma para mim e enquanto o leite esquentava eu me sentei a mesa para poder tomar o meu café.

- eu sei, só estou reclamando a toa.

- Dora! – gritou Kurt da sala.

- ele está fazendo isso só pra me provocar – falei tomando o café e Gray começou a rir.

- não sei talvez devemos experimentar outros desenhos com ele com Ben 10 ou outra coisa mais masculina – falou Gray fazendo cara feia – essa Dora é coisa de menina.

- como assim? Só porque ela é uma menina?

- não é porque ela é menina, mas é um desenho pra menina: tem uma garotinha toda menininha um macaquinho bobo chamado Botas e eu juro que em um episodio eu pude jurar que a mochila dela conversava – falou Gray rindo.

- o que é que tem? É só um desenho e ele gosta.

- eu sei, mas ele é menino e talvez seja melhor assistir alguma coisa mais máscula como Go, Diego, Go! ou Scooby-doo. Se ele ficar assistindo esses desenhos ‘mimadinhos’ quando ficar mais velho ele pode ficar meio…

- …Gay?! – perguntei interrompendo Gray – ficar ‘meio’ Gay?

- vai me dizer que você quer que ele seja gay?

- não. Eu quero que ele tenha saúde e seja uma boa pessoa. A minha prioridade é essa.

- você sofreu preconceito. Você sabe como é na escola e na vida. Não estou dizendo que terá problema se ele for gay, mas ele precisa ser firme. Sabe – falou ele tomando um gole do café.

- firme? – falei ficando com raiva dele – a ta – falei colocando a caneca em cima da mesa depois de tomar um gole – eu entendi. Com firme você quer dizer ‘macho’. Você não quer que ele seja afeminado? Né? Tudo bem ele ser gay, mas se for afeminado ele não pode?

- eu não vou mentir Griffin. Se eu puder escolher eu prefiro um filho que seja discreto e que não chame a atenção. Não quero que ele sofra preconceito.

- cara você está soando exatamente como o meu pai – falei rindo e ficando de pé.

- porque você está tão nervoso? É só uma conversa.

- quer saber? Vai logo trabalhar e me deixa em paz – fui até a pia e despejei o resto do café lá dentro.

- porque você está tão chateado? Foi você que começou falando mal da Dora.

- porque ela é uma garotinha irritante e eu tenho vontade de mata-la e não é porque ela é feminina é só porque ela é irritante mesmo.

- você é pai a cinco minutos eu sou pai a anos. De três duas crianças. Você não tem moral pra opinar sobre isso.

- e você nunca foi gay então você também não tem moral pra falar de preconceito. Você é bi e a verdade é que você nunca se assumiu. É um covarde que esperou até os quarenta. Quando você percebeu que os rabos masculinos também te deixavam com a cueca melada teve que ir pra cama com a melhor amiga da esposa pra provar a si mesmo que continuava ‘macho’ mesmo querendo comer outros caras já que agora eles também faziam parte do seu cardápio.

- parabéns Griffin – falou ele ficando de pé batendo palmas – você conseguiu acabar com o meu dia antes das seis da manhã – Gray parecia irritado – esse é o seu novo recorde.

- é? Imagina como eu me sinto você dizendo que não gosta de ‘afeminados’? Alô? Eu sou afeminado. Eu não sou você que ficou escondido no armário e treinou a vida inteira ser um ‘macho alfa’. Apesar de tudo o que aconteceu comigo eu sempre fui bem confortável com a minha sexualidade. Pensando bem agora eu me pergunto: É por isso que quase não saímos mais juntos? Você quase não me leva pra jantar e quase não saímos juntos para levar Kurt para passear. Você tem vergonha de mim? Eu estava achando que era por causa do meu peso, mas eu estava errado… e certo. São meus trejeitos. Eu sou ‘gay’ demais pra você?

Gray mudou a expressão ao me ouvir dizer aquilo.

- nós fizemos comprar juntos ontem – falou Gray abrindo os braços achando o que eu dizia ser loucura.

- sim. no mercado mais longe possível do hospital. Você tem tanta vergonha de mim que o tal Dr. Jimmy Bardon nem me reconheceu quando levei Kurt para o hospital.

- porque estamos discutindo? – perguntou Gray rindo – é uma discussão idiota sofre um desenho idiota.

- não é sobre o desenho. É sobre o nosso filho e a forma que você me vê: como um incapaz que nunca criou um filho e que não tem direito de opinar – falei com ódio.

- e você me vê como um quarentão com uma crise de meia idade que por acaso decidiu se casar com você só por causa do sexo.

- eu não disse isso.

- e eu também não disse que vejo você como incapaz.

- você sempre faz isso Gray: coloca seus filhos em primeiro lugar ou então tenta me diminuir só porque você tem mais experiência do que eu.

- quer saber? vamos parar pro aqui – falou Gray respirando fundo tentando se acalmar – eu não quero brigar em frente do Kurt e você está sendo irracional.

- estou? Ou é a verdade que está finalmente mostrando a cara?

Gray me deixou na cozinha de braços cruzados  e foi até Kurt e deu um beijo no rosto dele se despedindo. Ele pegou as chaves do carro e caminhou em passos rápidos em direção a porta.

- obrigado por ter arrumado o ar condicionado! – gritei da cozinha antes de ouvir ele bater a porta ao sair – idiota.

Depois que Gray se foi eu  joguei fora o resto do café que ele tinha feito e dei um jeito na cozinha. Ela não estava suja, mas parecia que precisava de uma  arrumação. Talvez eu precisasse de uma arrumação, mas a cozinha era uma metáfora perfeita. Era antes das seis e nossos gritos provavelmente acordaram os vizinhos.

Deixei Kurt assistindo a maldita Dora e agra eu tinha mais um motivo para odiá-la porque Kurt vai assistir Dora, a Aventureira pelo o que tempo que ele quisesse e se o outro pai não concordar ele pode ir se ferrar bonito. Depois de dar a mamadeira de Kurt arranquei todos os pratos, vasilhas, panelas e prataria dos seus lugares e arranquei a poeira dos armários. Lavei todas as louças e isso era só o começo. Por volta das oito horas  eu estava debaixo da pia de quatro tentando limpar o que parecia ser um lodo que havia se formado.

- merda! – falei respirando ofegante. Eu estava todo suado e usava apenas uma camiseta branca que estava grudando no meu corpo. Com uma espátula tentava arrancar o lodo e uma parte daquela goma caiu do meu rosto.

- papai eu quero leite! – falou Kurt de pé perto da pia.

- só um minuto filho. Papai vai pegar pra você – falei saindo debaixo da pia e me levantando. Fui até o armário pegar o chocolate em pó e vi a embalagem com canela que tínhamos comprado no dia anterior. Parecia ter um pequeno buraco porque o armário estava um pouco manchado. Passei a mão para limpar e coloquei a embalagem em cima do balcão – você vai tomar leite no copo como um garoto grande – Falei indo até a geladeira e pegando o leite – seu outro papai também conhecido como ‘papai bobão’ comprou e você nunca usou. Vamos mostrar pra ele que você é um menino grande?

- no copo – falou ele apontando para o copo.

- vai lá assistir a Dora enquanto eu preparo.

Kurt saiu da cozinha e eu coloquei a panela no fogão e liguei o fogo e despejei o leite dentro.

- que droga – falei pegando alguns papeis toalhas para limpar o meu suor. Usei um bocado e coloquei os usados em cima do balcão mesmo junto com o rolo.

Enquanto o leite esquentava no fogo peguei o ventilador e coloquei em cima do balcão e o liguei.

- agora vamos colocar essa canela em um recipiente onde não fique derramando – falei olhando pra minha mão. Parecia um pouco irritada. Minha pele estava vermelha – era só o que faltava: ser mordido por um inseto – peguei a embalagem de canela e com uma tesoura eu a cortei. Peguei uma vasilha e coloquei a canela dentro despejando rapidamente para dentro da vasilha – ótimo agora é só achar a tampa.

Peguei o pote na mão e me virei para procurar a tampa e dei alguns passos em direção ao outro balcão passando pelo fogão. No exato momento que passei em frente o fogão o ventilador que estava ligado virou-se para mim e assoprou a canela do pote para o meu rosto. Eu respirei metade daquele pó. Assustado dei alguns passo para trás e deixei o pote cair no chão. Seria cômico se não fosse trágico. Seria cômico se eu não tivesse acabado de descobrir que tinha alergia mortal a canela. Meus olhos começaram a arder e a canela que respirei surtiu o mesmo efeito. Eu cambaleei com falta de ar e bati o braço na panela em cima do fogão queimando meu braço e derramando o leite no chão ao qual eu escorreguei e cai. Os papéis toalhas em cima do balcão foram jogados no fogo pelo ventilador e o que era pra ser um simples acidente começou a tomar grandes proporções quando o cheiro de fumaça começou a entrar em meu nariz.

Tentei abrir os olhos e senti falta de ar. Meu rosto estava ardendo como se ele tivesse sido queimado. Coloquei as mãos no pescoço tentando respirar e percebi que minha garganta estava se fechando enquanto o fogo aumentava. O fogo estava alto e havia passado para as cortinas. Ouvi o som das janelas se quebrando com o calor. A primeira coisa que eu pensei foi em Kurt. Minha língua e meus lábios tinham triplicado de tamanho e meu rosto estava coçando pra caralho. Rastejei pela cozinha e foi quando os armários começaram a pegar fogo. A porta do armário caiu em cima da minha perna e eu mal consegui gritar com a dor. Usei o pé para poder chupar a porta para longe e eu vi a minha perna queimada.

- papai? – falou Kurt de pé próximo ao sofá. Ele parecia assustado sem entender o que diabos estava acontecendo. Eu me levantei usando as minhas forças e peguei Kurt nos braços no momento em que o gás da cozinha explodiu. O sofá foi meio que uma barreira que nos protegeu do impacto da explosão. Agora o fogo se alastrava pela sala e eu vi que não havia como sair por ali. As escadas eram a única saída daquele inferno que o andar de baixo havia se tornado.

Com Kurt nos braços me esforçando ao máximo para respirar ao subi as escadas cambaleando, mas conseguindo chegar até o alto. O quarto de Kurt já era assim como o lado esquerdo da casa. Puxei as escadas que levavam até o sótão e nós subimos. Ao chegar lá em cima coloquei Kurt no chão e peguei a primeira coisa que vi e quebrei a janela. Assim que ela se quebrou eu vi os carros do corpo de bombeiros chegando. ‘A ajuda chegou’ – pensei comigo. Arranquei a minha camisa e fui até a janela e tirei o máximo do meu corpo e balancei a camisa de um lado para o outro sentindo ficar cada vez mais difícil respirar.

- nós vamos ajudar! – gritou um dos bombeiros lá embaixo. Os vizinhos parecia aterrorizados ao verem a casa pegando fogo. O sótão era o único lugar onde não se podia ver as chamas, mas eu sabia o que acontecia nos andares de baixo: toda a nossa vida era destruída pelas chamas.

Os bombeiros aproximaram um dos carro da casa e a escada começou a subir enquanto os outros começavam a jorrar água com suas mangueiras. Ao ver aquilo eu peguei Kurt nos braços e o coloquei na janela esperando o bombeiro finalmente chegar.

- tem quantas pessoas na casa! – perguntou o bombeiro de olhos verdes e barba no rosto falando bem alto.

Eu não consegui responder alto, mas eu apontei para Kurt e eu e ele soube o que eu queria dizer com quilo. Nesse momento as chamas chegaram as escadas do sótão e elas começaram a consumir o ondar onde eu estava com muita fome. Entreguei  Kurt o bombeiro e olhei para trás.

- venha rapaz! – falou o bombeiro chamando minha atenção.

- salve ele – falei para o bombeiro antes de me sentir fraco e desmaiar no chão com a falta de ar e toda a fumaça que cobria o lugar. O bombeiro fez algo que eu jamais achei que fosse possível Ele jogou Kurt para o ar e o bombeiro lá embaixo conseguiu agarrá-lo. O bombeiro entrou pela janela e me pegou nos braços e com um pouco de dificuldade ele conseguiu me colocar para o lado de fora no telhado do segundo andar. Percebendo o que estava acontecendo comigo ele voltou até o sótão e encontrou uma caneta que ele usou para improvisar uma Traqueostomia. Quando ele furou o buraco e colocou o tubo de caneta eu finalmente consegui respirar e foi quando eu acordei abri os olhos. A primeira coisa que eu vi foi um homem de olhos verdes me encarando com um sorriso. Os dentes do meio aparecendo como se ele fosse um coelho.

- você é… você é Deus? – levantei minha mão e com o dedo indicador toquei o rosto do homem sentindo sua barba espetar meu dedo

- eu sou bom demais no meu trabalho garoto. Você não vai conhecer Deus hoje.

O bombeiro então recebeu a ajuda de um segundo que subiu as escadas e juntos eles conseguiram me descer. Quando senti o chão em minhas costas recebi os primeiros cuidados médicos. Eles colocaram alguma coisa em minha veia que fez com que o ardor e a coceira que sentia por dentro e por fora desaparecessem. Ouvi uma barulheira e a imagem da casa queimando foi a última coisa que eu vi antes de me colocarem na ambulância. Enquanto a ambulância virava de um lado para o outro desesperadamente eu comecei a balançar meu braço procurando pro alguém e foi quando senti alguém pegar minha mão e segurar.

Procurei com o olhar e vi que era o bombeiro. Ele tinha pego a minha mão e levado até seu rosto.

- vai ficar tudo bem garoto – falou ele com um sorriso segurando minha mão entre as suas – Eu estou aqui com você não precisa ter medo. Seu filho está em outra ambulância e nós estamos a caminho do hospital.

- qual hospital?

- sabe para qual hospital estamos indo? – perguntou o bombeiro para o paramédico.

- Sagrado Coração de Maria – falou o paramédico.

Fiquei mais tranquilo ao saber que estaríamos indo para o hospital onde Gray trabalhava. Eu vou ficar bem, Kurt vai ficar bem. Nós vamos ficar bem. Vou repetir isso várias vezes em minha mente até que seja verdade. Senti o sono chegar e comecei a fechar os olhos.

- ele precisa ficar acordado. Ele tem um grande ferimento na cabeça – falou o paramédico.

- garoto! Acorda! – falou o homem batendo na minha cara – como é seu nome?

- Bru… Bruce, mas todos me chamam… - parei para engolir em seco – chamam de Griffin  falei olhando para mim.

- prazer ‘Bruce que todos chama de Griffin’. Eu sou Paul Herveaux. Todos me chama de ‘o homem que salvou a sua vida’. Eu ri do que ele disse e segurei forte na mão dele. Eu estava sentindo dores por todo o meu corpo.  Minha cabeça, minha garganta, minhas pernas – rir é bom – falou ele – mostra que você ri dos problemas e chuta a vida na bunda quando ela tenta te derrubar.

- ela está fazendo um ótimo trabalho. Tudo dói – falei gemendo sentindo a minha perna e meu braço queimados doerem pra caralho.

- você vai ficar bem Bruce. Vou fazer de tudo para que os melhores médicos cuidem de você e do seu pequeno.

- é Griffin! – falei sentindo frio – Griffin. Todos me chamam de Griffin.

- eu não sou todo mundo – falou ele com um sorriso – vai ficar tudo bem Bruce.

Quando a ambulância parou e as portas se abriram a minha maca foi tirada e eu vi o sol lá no alto tão azul quanto a mochila da vadia da Dora. Ou será que era lilás? Eu nunca reparei para dizer a verdade. Quando entramos no hospital um monte de médicos e enfermeiras se aproximaram de mim, mas antes que eles pudessem me tocar eu ouvi uma voz conhecida.

- fiquem longe dele. Ninguém toca nele.

Todos se afastaram e eu vi Gray se aproximar. Ele estava chorando e quando me viu daquele jeito ele não conseguiu se segurar e colocou a mão no rosto chorando. Olhei para o lado e vi Kurt em pé em uma maca. Ele estava sendo atendido, mas ele parecia estar bem.

- você vai me ajudar ou vai ficar ai chorando como uma menina – me referi a briga que tivemos mais cedo – falei gemendo como se estivesse no alto do Monte Everest.

- chamem o Dr. Gordon English e o Dr. Scott Clarke – falou Gray olhando para a equipe que ia me atender. Ele foi bem autoritário – e eu quero apenas as enfermeiras Bethany Cortez e Melissa Phillips. Elas são as melhores do hospital. Eu quero apenas os melhores para ele – falou Gray com os olhos vermelhos olhando para mim franzindo a testa. Ele nem conseguia olhar para mim.

- estou tão feio assim?

- não – falou ele segurando minha mão – não está.

- com licença – falou o bombeiro se aproximando – eu sou Paul Herveaux o bombeiro os resgatou.

- sou o Dr. Gray – falou ele apertando a mão do bombeiro – aquele é meu filho e esse é meu marido. Eu não sei como te agradecer.

- não foi nada – falou Paul colocando a mão no ombro de Gray tentando confortá-lo – eu não costumo acompanhar as vitimas até o hospital, mas ele parece ser um cara especial e eu não quis deixa-lo sozinho. Agora que estava sem o capacete de bombeiro vi que seus cabelos eram curtinhos e ele tinha em seu rosto uma barba castanha.

- você está certo – falou Gray tocando meu peito – ele é muito especial.

Respirei fundo e olhei para Gray e percebi que ele realmente me amava. Me arrependi das coisas que disse pra ele. Deitado nessa cama com meu corpo queimado a briga pareceu tão boba e sem sentido.

- eu preciso voltar, mas não deixe de me dar noticias – falou o bombeiro apertando a mão de Gray – lembre-se do que eu disse Bruce: não deixe a vida te derrubar.

- okay – falei procurando a mão de Gray e apertando forte.

- Dr. Gray? – falou o Dr. Scott se aproximando e me vendo lá deitado – o que aconteceu?

- um incêndio na casa. Griffin e Kurt estavam lá.

O Dr. Gordon também se aproximou já preparado para me atender.

- sinto muito – falou o Dr. Gordon se aproximando. As enfermeiras que Gray pediu também chegaram.

- precisamos ter calma – falou Gray colocando suas luvas.

- ‘Nós’, precisamos ser calmos – falou Scott – o Dr. Gordon e eu vamos atender o paciente. Neste momento você não é médico é um parente e tem o privilégio de estar aqui para segurar a mão dele enquanto fazemos o desbridamento.

Gray olhou para mim e puxou uma cadeira e segurou minha mão.

- o que é isso? – pergunte olhando para ele sentindo sua respiração no meu rosto – o que é desbridamento?

- não é nada – falou Gray fechando os olhos e apertando forte minha mão enquanto eu gritava sentindo a maior dor da minha vida. A dor se repetiu e repetiu por horas. Eu gritava, chorava, xingava e pedia a Deus que eu tivesse morrido queimado. Gray tentou ser forte por mim e eu agradeci por ele ter deixado eu gritar. Apenas dez minutos tinham se passado. Agradeço por eu ser o único que se queimou se o mesmo tivesse acontecido com Kurt não sei se eu me perdoaria.

- okay – falou o Dr. Gordon – vamos começar mais uma vez.

Fechei os olhos e comecei a gritar. Gritar. Gritar e gritar. Como disse Clarice Lispector: ‘Porque há o direito ao grito. Então eu grito’.

Espero que tenham gostado de mais esse capítulo. não deixem de comentário e deixar um voto. Vamos reagir. isso me anima muito a escrever cada vez com mais frequência. Fico muito agradecido. Um grande abraço a todos e até o próximo capítulo.