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VOCÊ PODE SER O CHEFE capítulo seis
A
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quele era o momento mais perfeito da minha vida. De
olhos fechados esqueci que havia um mundo a nossa volta. Sentia a respiração
dele no meu pescoço e suas mãos fortes me tocando. Não conseguia descrever
melhor esse momento. Parecia um sonho. Desde quando eu pensava assim sobre
Adam? Não sei bem quando foi, mas eu acabei de descobrir: eu tinha tesão no meu
chefe, hétero, casado com dois filhos.
- eu estou sentindo seu tesão –
falou ele me tirando daquele sonho. Percebi que eu estava excitado e meu pau
duro pressionava nele.
- meu deus – falei levantando meu
rosto tentando me afastar, mas ele não deixou. Me segurou junto dele.
- não se preocupe – falou ele
rindo – não me importo que você tenha tesão em mim, afinal como você disse, eu
sou seu tipo. Além do mais é um elogio.
- só pra constar: eu não disse
que você é meu tipo. Você disse que você é meu tipo.
- não importa o que disse. Eu
estou sentindo.
- eu estou muito envergonhado.
- não devia.
Nós dançamos mais um pouco e eu
tentei relaxar para que a ereção fosse embora, mas estava difícil conseguir
isso.
- você realmente não se importa?
- veja Mike – falou ele olhando
para os outros casais e eu percebi que havia mais casais dançando. Um casal de
homens na esquerda e um casal de mulheres na direta – isso é mais normal do que
você pensa.
- acho que tenho problemas de
aceitação.
- eu acho que não.
- acha que não tenho?
- acho que você se aceita, só que
tem vergonha de demonstração de afetos.
- eu não tenho problemas em
demonstrar afeto em publico. Talvez seja porque eu tenho vergonha de estar
dançando agarradinho com meu chefe, que a proposito está sentindo minha ereção.
A canção acabou exatamente quando
eu disse aquilo.
- pena que acabou – falou Adam me
soltando.
- pois é – falei respirando
fundo. Por dentro eu estava muito agradecido.
Nós então voltamos para a mesa
sem dizer uma palavra. Eu não podia evitar de estar envergonhado pelo o que
tinha acontecido.
- minha vez – falou Steve.
- por favor Steve me diz que está
brincando.
- se você for bonzinho o resto da
noite eu não peço – todos deram boas risadas de mim. A noite continuou e eu
olhei no celular e já quase uma da manhã ainda não tinha tido noticias de
Charley.
- Adam, onde está seu irmão? –
falei percebendo que Xavier não tinha chegado ainda.
- ele não pode vir. Sabe como é a
vida de casado. A esposa conta nas decisões, mas eu quase ia me esquecendo –
falou ele rindo – ele mandou seu presente – Adam disse isso pegando um envelope
no seu terno que estava pendurado na cadeira que ele estava sentado. Ele me
entregou em seguida.
Abri o envelope e dentro tinha
uma carta escrita à mão desejando feliz aniversário e junto em cheque dobrado. Olhei
o valor e eu com as vistas um pouco embasadas afastei um pouco do rosto para
conseguir ver o que estava escrito.
- eu devo estar vendo embasado –
falei vendo o valor do cheque – não é possível. Adam será que você não me
entregou o envelope errado?
- deixe eu ver – falou Adam
pegando e olhando.
Ele olhou o envelope, virou do
outro lado de virou novamente para o valor.
- não, está certo. É a assinatura
dele. Ele me entregou o envelope selado.
- será que ele está achando que
eu vou processar vocês pelo o que aconteceu? – perguntei atordoado.
- o que aconteceu? – perguntou
meu pai.
Nessa hora já era tarde demais
para voltar atrás.
- claro que não – falou Adam me
entregando o envelope.
- desculpe, mas eu não posso
aceitar - falei me recusando a pegar o envelope – em fato eu fico até um pouco
ofendido com o valor.
- ofendido? Porque? – perguntou
Adam tocando meu ombro – tenho certeza que essa não foi à intenção dele.
- então porque ele daria pra
praticamente um desconhecido um valor desses?
- você não é desconhecido – falou
Adam.
- sem querer ofendê-lo, mas eu
não vou aceitar esse presente.
Eu peguei o envelope tirei a
carta escrita à mão e dei o envelope vazio de volta para Adam.
- eu fico com a carta que foi
escrita por ele, mas eu não posso e não vou aceitar esse dinheiro.
- de quanto estamos falando? –
falou Vanessa pegando o cheque e olhando o valor. Ela e Steve arregalaram os
olhos quando viram o valor – nossa! É realmente muito dinheiro.
Adam pegou o cheque e colocou no
envelope.
- quer saber? Eu vou ligar para
meu irmão pra saber dele o porquê do dinheiro, mas eu tenho certeza que ele só
quis te dar um presente – falou Adam se levantando.
- pelo amor de deus, não vai
acordá-lo a essa hora por causa disso.
- não tem problema – ele pegou a
carteira de cigarros e o celular e saiu do restaurante.
- o que aconteceu? – perguntou
meu pai.
- a gente conversa sobre isso em
casa pai.
- tudo bem – falou ele tomando
outro gole.
- gostou do colar? – perguntou
Denny.
- eu adorei.
Logo Adam voltou para dentro.
- ligou para ele? – perguntei.
- sim, ele vai vir aqui.
- não acredito que você fez seu
irmão vir até aqui por causa disso.
- ele se ofereceu para vir –
falou Adam.
- já que ele está vindo aproveita
e pergunta pessoalmente o porquê do presente – falou Steve.
- tudo bem – respondi.
As músicas continuavam tocando a
todo o vapor. Parecia que a noite não tinha fim e a medida que as horas
passavam ao invés do local esvaziar ele enchia e ficava cada vez mais populoso.
Nesse momento eu dividia um Martini com meu pai. Xavier entrou pela porta do
restaurante depois das uma e meia da madrugada.
- boa noite para vocês – falou
ele cumprimentando todos.
- boa noite Xavier – respondi
apertando a mão dele meio envergonhado com o presente.
- Mike, eu queria falar com você
em particular. Será que eu posso? – perguntou Xavier com uma expressão séria.
Enquanto me levantava Xavier pegou
o envelope com Adam e nós saímos do restaurante para conversar. A música alta
atrapalharia a nossa conversa.
- eu preciso que você aceite o
presente – falou Xavier.
- Eu não posso. Não processar
vocês pelo o que aconteceu, erros acontecem. A culpa foi de Hunt por ter lido a
minha ficha.
- Mike esse dinheiro não tem nada
a ver com o processo.
- então por que esse valor tão
alto no cheque? Levaria três anos pra ganhar todo esse valor.
- Não tem um motivo em especial.
É só um presente. Acredite em mim eu estou sendo sincero com você. Pode aceitar
sem medo não tem nada haver com o que aconteceu hoje.
- eu não vou me sentir bem
aceitando esse dinheiro. Não importa o motivo.
- Mike eu realmente gosto de você.
Você é um rapaz bom e trabalhador e você merece o presente que eu estou te
dando. Se você não aceitar eu vou ficar muito magoado. Vou me sentir ofendido.
Olhei para o envelope e olhei nos
olhos dele e depois para o envelope novamente.
- posso te perguntar uma coisa?
- pode.
- você ouviu a conversa que eu
tive com meu pai no telefone essa semana não ouviu?
Quatro Dias Atrás, Terça Feira
Tinha acabado de almoçar e
voltado para a empresa. Ainda tinha alguns minutos até voltar para o horário de
expediente então fui até o estacionando no subsolo e me sentei nas escadas para
ligar para meu pai.
Eu me sentei na escada de
incêndio e disquei o número meu pai e esperei chamar.
- pai? Agora eu posso falar.
- filho, o banco ligou outra vez.
- o empréstimo que o senhor
tentou fazer? Não deu certo?
- não – respondeu meu pai – eu
liguei hoje e eles não aceitaram fazer o empréstimo, mas que banco faria
empréstimo para um homem que está perdendo a casa? Especialmente para mim que
não tenho trabalho fixo.
- eu posso fazer um empréstimo –
falei.
- não vou deixar você fazer isso
– falou meu pai.
- quanto tempo o banco deu para
pagar?
- um mês para pagar pelo menos cinquenta
por cento da dívida ou então eles vão tomar a casa.
- qual o valor? – perguntei
curioso e aflito.
- cem mil – respondeu meu pai.
- cem mil?! – falei sentindo um
aperto no peito.
- sim… - respondeu meu pai
deixando a voz falhar.
- não se preocupe pai nós não
vamos perder a casa. Eu vou pensar em algo. Na verdade eu tenho algum dinheiro
no banco e...
- Não! – meu pai me interrompeu –
Não quero que pegue um tostão do seu dinheiro. Você trabalha duro para
juntá-lo. Eu é que deveria pagar essa divida. Eu sou o pai. Eu deveria cuidar
de você filho e não o contrário.
- deixa de ser orgulhoso pai. Não
tem jeito. Na segunda-feira eu vou pegar todo o dinheiro que eu tenho no banco.
Deve ser mais ou menos vinte mil. Deve dar pra pagar pelo menos um pouco da
divida. Na segunda o senhor vai ao banco conversar com eles e pede mais prazo.
Até lá eu arranjo um empréstimo no meu banco. Sou cliente fiel então eles devem
liberar sem muita burocracia.
- prometo te pagar – falou meu
pai engolindo o orgulho – te prometo filho.
- eu prometo não aceitar nenhum
centavo vindo de você – respondi rindo – beijo pai eu preciso voltar ao
trabalho.
- até a noite campeão.
Desliguei o telefone e por alguns
minutos fiquei lá sentado pensando se aquele plano realmente daria certo.
Espero que o banco libere o dinheiro. Meu pai é um homem orgulhoso, mas ele vai
ter que aceitar a minha ajuda querendo ou não.
- você ouviu a conversa que eu
tive com meu pai no telefone essa semana não ouviu?
- sim – respondeu Xavier sem
graça – me desculpe, mas eu ouvi. Estava descendo as escadas e ouvi você
conversando e acabei ouvindo toda a conversa.
- eu não posso aceitar esse
dinheiro.
- era para o Adam te entregar
esse presente em particular. Meu irmão é mesmo burro – falou Xavier com raiva.
- é muito gentil e eu realmente
agradeço sua bondade, mas eu não posso aceitar.
- você vai aceitar sim, Mike. Nesse
cheque tem exatamente o valor que você precisa para quitar sua dívida. Não
precisa ficar envergonhado. Ninguém nunca vai saber o motivo por eu ter te dado
esse dinheiro.
- com certeza todo mundo deve
estar atordoado, pois o cheque passou de mão em mão lá dentro.
- como o Adam é idiota – falou
Xavier claramente com raiva – eu mandei ele te entregar em particular e ele
praticamente exibe como se estivesse em um museu.
- mais um motivo para eu não
aceitar.
- eles não sabem o porquê. Não
interessa o que eles pensam. Aceite. Estou te dando de todo coração.
Minha mão começou a tremer e meu
coração bateu disparado. Eu realmente não queria aceitar o dinheiro, mas ao
mesmo tempo eu precisava e sabia que tal vez o meu banco não me concedesse o
empréstimo.
Xavier dobrou o envelope e
colocou no meu bolso.
- pronto é seu – falou ele com um
sorriso.
- obrigado – falei comovido com o
ato de Xavier.
- não precisa chorar – falou
Xavier me abraçando.
- eu não estou chorando… - falei
disfarçando – eu prometo pagar cada centavo assim que puder.
- eu prometo não aceitar – falou
Xavier me soltando – é um presente pra você.
- você não sabe o medo que eu
estava de perder a casa. O lugar aonde eu fui criado. O lugar tem muitas
lembranças de minha mãe. Cada lugar naquela casa me trás uma lembrança
diferente.
- não precisa se preocupar mais –
falou ele afagando minhas costas – vai ficar tudo bem.
- acho que você precisa saber
porque meu pai está com essa dívida.
- não precisa me explicar – falou
ele tentando ser legal.
- precisa sim. É o mínimo que eu
posso fazer – falei respirando fundo tentando organizar as ideias – meu pai e
minha mãe sempre tiveram vontade de ter um filho e por azar do destino tanto
minha mãe como o meu pai eram estéreis. Eles então decidiram adotar afinal o
sonho dos dois sempre foi terem um filho. Com a ideia de adotar em mente meu
pai ficou louco tentando comprar uma casa e fez um empréstimo com um amigo de
muitos anos que ele tinha. Eles combinaram a forma de pagamento e o amigo do
meu pai emprestou o valor de comprar a casa. Só que mais ou menos dois anos
depois do empréstimo o “amigo” que na verdade parecia mais um agiota começou a
pressionar meu pai para fazer o pagamento adiantado, mas meu se negou dizendo
que faria o pagamento como combinado. O tal amigo ameaçou a vida da minha mãe e
a minha. Meu pai temendo pela nossa vida foi ao banco e fez o empréstimo. O que
um homem não faz pela família? – falei rindo com orgulho de meu pai – Ele fez o
empréstimo e quitou a divida com o amigo. Ele pagou o banco certinho todo o
mês. Quando faltava apenas dez mil para quitar a divida ele perdeu o emprego. Como
meu pai é um homem orgulhoso ele não me disse nada. Ele ficou um ano sem pagar
e os juros do banco são bem altos e dez mil se tornaram cem mil. Ele voltou a
trabalhar há pouco tempo e eu só descobri essa história porque acabei abrindo
uma correspondência dele. Depois de pressioná-lo um pouco meu pai me contou a
história que acabei de te contar.
- seu pai agiu certo. Ele fez o
que foi possível pela família.
- meu pai é um homem incrível.
Ele não me contou nada e se tivesse me contado eu teria ajudado nas despesas só
que meu pai é muito orgulhos pra aceitar a ajuda do filho.
- agora você pode ficar
tranquilo. Vá ao banco e quite a dívida.
- eu vou ser grato toda a minha
vida.
- não precisa. É só um velho
amigo ajudando.
- o que eu digo sobre o valor?
- diz que eu te entreguei o
cheque errado.
- tudo bem.
- eu já vou indo – falou Xavier
me dando um último abraço.
- obrigado Sr. Xavier – falei
colocando o cheque no meu bolso.
- por nada Sr. Mike – falou ele
rindo Te vejo na segunda?
- sim – respondi acenado e entrando
no restaurante.
Eu me sentei à mesa e expliquei
para todos que Xavier tinha me dado o cheque errado e todos engoliram a
desculpa.
- foi um erro bem grotesco –
falou Vanessa rindo.
- erros acontecem – falei
disfarçando um sorriso e olhando para o relógio que marcava pouco mais das duas
da manhã.
A noite continuava e Adam perto
de mim revezava entre cerveja e cigarros. Eu fiquei muito feliz pelo presente
de Xavier. Feliz por finalmente essa divida ser quitada. Apesar de um dia não
muito bom a noite estava sendo mais do que perfeita. A única coisa quem e chateava
era o fato de meu namorado não ter vindo comemorar meu aniversário e ainda por
cima não atendia o telefone.
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