E
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Capítulo Dezessete
O ENGANO PERFEITO
stava tendo um pesadelo. Era aquele tipo de
pesadelo em que você sabe que está dormindo, mas não consegue acordar. Estava
debaixo da terra e quanto mais me mexia tentando me sair de lá, mais terra caia
em mim e dentro da minha boca.
-
Oliver! Oliver Acorde! – falou meu pai conseguindo me acordar.
Sentei na coma todo suado tentando
relaxar, minha respiração estava ofegante.
- você teve um pesadelo – falou
meu pai se sentando na cama.
- já está em casa? Quantas horas?
- são quase onze horas da noite.
- nossa – falei passando a mão na
testa – eu só me deitei para pensar e então…
- não tem problema – falou ele
com um sorriso – você foi ao lago?
- fui sim – falei tentando
retribuir o sorriso.
- você se divertiu?
- sim, eu inclusive encontrei um
amigo da escola onde trabalho… trabalhava… um amigo da escola.
- viu só? Eu disse que seria bom
você sair.
- e no hospital? Como foi o
trabalho?
- foi bem. salvei algumas vidas.
Perdi outra, mas é parte da vida.
- que bom – falei coçando a
garganta tentando não estender esse assunto de morte.
-
você quer jantar? Podemos pedir comida, deve ter algum lugar aberto e se não
tive eu posso fazer.
- não estou com fome.
- há... OK – falou meu pai
parecendo decepcionado e se levantando da cama – tudo bem então.
Só agora tinha percebido que ele queria passar
um tempo comigo. Ele havia ficado todo o tempo no hospital.
- quer saber? Acho que vou
aceitar comer algo – falei movendo minhas pernas rapidamente e me sentando na
beirada da cama.
- AI! – falei alto reclamando de
uma dor.
- você está bem?
- minha perna está doendo muito –
falei passando a mão nelas.
- será que é por causa da fratura
que você teve? – perguntou meu pai se abaixando e colocando minha perna no seu
colo.
- talvez – falei respirando fundo
– ou talvez seja por causa do esforço que fiz hoje.
- que esforço?
- a casa. Eu limpei ela toda.
Talvez seja por isso. Fiquei muito tempo agachado.
- foi você que limpou? –
perguntou meu pai.
- foi.
- pensei que a diarista tinha
vindo uma dia mais cedo – falou ele esfregando as duas mãos em minha perna
tentando acabar com a câimbra.
- não. Fui eu mesmo que limpei.
Foi antes de ir pro lago.
- você limpou ela toda?
- foi sim senhor.
- não precisava Oliver. Ela vem
toda a semana e limpa.
- desculpa.
- não tem problema. Devia ter te
avisado.
- desculpa dizer isso, mas é que
estava muito bagunçado. Estava me incomodando.
- você que precisa me desculpar –
falou meu pai finalmente se levantando – vivo sozinho a tanto tempo e sou mesmo
um pouco desleixado, mas prometo que vou tentar cuidar mais de mim e da casa
agora que está aqui.
- sem problema.
- tenta se levantar agora.
Agora tinha conseguido me
levantar. Eu tive câimbra nas duas pernas por isso doeu tanto quando eu as movi
bruscamente.
- vamos descer. Vou preparar algo
para comermos – falou meu pai.
Nós descemos as escadas e eu fui
até a cozinha e sentei-me próximo ao balcão enquanto meu pai pegava algumas
coisas na panela e alguns ingredientes.
- como foi no lago? – perguntou
meu pai.
Pensei em falar sobre Jake, mas decidi
esperar até depois do jantar afinal Marshall poderia reagir de forma
inesperada. Eu sabia que ele reagiria de uma forma negativa. Tinha certeza.
- sim. É como disse antes.
Encontrei aquele amigo e dei uma volta no lago. Havia tanta gente lá. Alguns nos
barcos e outros bebendo a beirada. Fiquei até com vontade de dar um mergulho,
mas acho que ficaria meio sem graça sem amigos.
- se você quiser nadar a piscina
é toda sua – falou meu pai apontando para fora – se quiser nadar agora não tem
problema.
- acho que devia ter mencionado o
fato de que eu não sei nadar.
- eu te ensino – falou meu pai.
- OK. Eu aceito aulas.
- agora. vamos?
- não vai fazer a comida?
- deixa ai no fogo – falou ele
colocando o fogo no mais baixo – no seu quarto tem roupa de banho. Bermuda e
sunga.
- vou lá vestir – falei indo até
meu quarto.
Ao descer as escadas e chegar lá
fora vi que meu pai já estava na piscina.
- pula – falou ele ao longe.
- vou me afogar.
- você fez uma cirurgia no
cérebro e sobreviveu. Você acha que vou deixar você morrer afogado? Pula logo.
- ok – falei tirando o roupão e
jogando no chão revelando que eu estava com uma sunga verde no estilo samba
canção. Em seguida eu fechei os olhos corri e dei um pulo dentro da piscina.
No inicio fiquei assustado e
procurando um lugar para dar pé, mas não encontrei. Pensei que estava afogando
quando meu pai segurou nos meus cabelos e me puxou de volta para cima.
- você está bem? – perguntou ele
assustado.
- estou – falei ofegante.
- você me deu um susto – falou
ele com um sorriso – fica tranquilo. Fica de pé – falou ele.
Segurei no braço dele e tentei
ficar de pé e consegui. A água chegava até na metade do meu pescoço.
- essa piscina dá pé pra você
–falou ele ficando em pé também – você tem que ficar calmo – falou ele andando
para trás e segurando minha mão. Ele me mandou balançar as pernas e respirar
pela boca. Em seguida ele soltou minha mão e eu afundei. Mais uma vez ele me
salvou e me fez ficar de pé.
- você é um ótimo médico – falei
respirando ofegante – mas é um péssimo professor de natação – falei rindo e
tremendo com o frio. Os pelos da barba do meu pai estavam arrepiado por causa
da brisa.
- eu também não sei nadar – falou
ele rindo – eu só queria que você entrasse na piscina.
- mas você é médico!
- exato. Nunca tive aulas quando
criança e não tive tempo depois de mais velho.
- obrigado por ter me feito
entrar na água.
- por nada – falou ele sentindo
cheiro de queimado – tá sentindo esse cheiro?
- a comida está queimando.
- vamos sair. Está muito frio
falou ele saindo pela beirada da piscina, se secando rapidamente e enrolando a
toalha. Em seguida ele foi para a cozinha. Fui até a escada e subi me enrolando
no roupão. Fui até a cozinha e meu pai estava jogando algo dentro da panela.
- vou me trocar.
- vai lá – falou ele.
Fui até meu quarto e tomei um
banho. Aproveitei já que não tinha tomado meu banho desde que tinha chegado do
passeio.
Depois que tomei meu banho e
desci as escadas percebi que meu pai também havia subido então dei uma olhada
no que estava no fogão até que ele voltasse. Não demorou para que ouvisse
passos na escada.
- você já está aqui – falou meu
pai.
- estou – falei olhando para ele.
Levei um susto quando o vi. Ele estava secando os cabelos com a toalha apenas
de cueca. Ele era um homem alto e corpulento com alguns pelos no peito, mas o
que me chamou a atenção foi a cueca que usava. Era branca e tinha um enorme
volume nela.
Olhei rapidamente e em seguida
fiquei sem graça e não soube mais o que dizer. Não tinha o costume de ver
homens daquele jeito. Era a primeira vez.
- me desculpa – falou ele
vestindo o roupão – desci rápido pensando
que a comida estava queimando.
- não, tudo bem – falei tentando
esquecer.
- deixa que eu cuido. Vai se
sentar.
Não houve muita conversa depois
daquilo. Tinha ficado sem graça e o piro de tudo: com aquela imagem gravada na
cabeça. Tentava pensar em outra coisa, mas não conseguia.
Os minutos se passaram e o
silêncio continuou até que meu pai quebrou o gelo.
- me desculpa Oliver – falou ele
se sentando no balcão – eu me esqueci que você… quer dizer… eu não pretendia…
- não se preocupa com isso. A
culpa não é toda sua. Sou um puritano comparado as outras pessoas. Não porque
eu quis. Meu pai me tratou assim a vida toda. Eu já tinha visto… homens como
você antes, em revistas ou filmes… mas nunca ao vivo.
- homens como eu? – perguntou
ele.
- sabe… homens… de cueca… como
você.
- tudo bem – falou ele rindo.
Meu pai voltou a cuidar da comida
e não demorou para que tudo ficasse pronto. Meu pai arrumou tudo em cima da
mesa de jantar e nós nos sentamos um do lado do outro para comer.
Nós nos servimos e quando eu ia
dar a primeira garfada eu desisti.
- espera – falei impedindo que
meu pai começasse a comer.
- o que foi? Está com o cheiro
ruim?
- não é que… estou com algo na
cabeça e não consigo tirar.
- o que foi? – perguntou meu pai.
Com certeza ele pensou que falava do fato de tê-lo visto de cueca.
- quando dei entrada no hospital.
Antes de saber que o senhor era meu pai e a Bethany minha mãe.
- sim o que que tem? – perguntou
ele curioso.
- eu vi uns enfermeiros e médicas
conversando sobre você e minha mãe não viverem mais juntos. É verdade?
- é – falou ele respirando fundo
– nós não éramos mais um casal – falou ele olhando para mim – porque pensou
nisso agora?
- porque eles me disseram que a
culpa de vocês não morarem mais juntos era de algo que tinha acontecido. Eu
quero saber o seguinte: vocês se separaram quando eu desapareci? Eu separei
vocês?
- não. Não foi você.
- então porque?
- você quer a verdade?
- ela é assim tão ruim?
- você vai me achar um canalha
depois que eu contar.
- pode dizer. Eu aguento a
verdade. Sempre aguentei.
- você desapareceu, mas nós
continuamos juntos. De fato algo aconteceu, mas não foi por isso. A culpa foi
minha. A mais ou menos dois anos atrás sua mãe me pegou na cama traindo ela.
- você traiu ela?
- sim. Não me orgulho do que fiz.
Não foi justo com sua mãe.
- OK – falei tentando entender.
- então você traiu ela e vocês se
separaram.
- sim, mas o pior não é isso.
- o que pode ser pior do que você
trair ela?
- foi justamente no dia em que
ela tinha descoberto ter um câncer inoperável no cérebro. Ela estava arrasada e
veio para casa mais cedo para me contar e acabou me pegando na cama – falou ele
suspirando – espero que continue pensando o mesmo sobre mim. espero que
continue me admirando. Eu me arrependi muito e prometi ficar ao lado dela até o
fim.
- vocês não eram um casal, mas
ficaram juntos para que o senhor cuidasse dela?
- sim.
- não se preocupe – falei – não
vou mudar minha opinião. Todo mundo comete erros.
- OK – falou ele sorrindo – mas
não acaba por ai – falou ele se contorcendo na cadeira.
- o que? Tem mais?
- ela me pegou na cama com um
homem.
- um… um homem?
- sim.
Fiquei calado por alguns
segundos.
- e agora? Aposto que está me
odiando.
- não, só estou… chocado.
- você tem o direito de ficar.
- espero que não se importe de
ter um pai homossexual. Eu sei que você também é, mas espero que não te
incomode.
- quer dizer que você se
arrepende de ter me tido? Quer dizer…
- não. Em nenhum momento eu me arrependo
de ter te tido. Você é a maior benção e o maior presente eu tive na vida. Não
me arrependo de ter conhecido sua mãe, de ter me casado com ela e
principalmente: não me arrependo de você. Eu me descobri um pouco mais tarde do
que você, mas não significa que tudo o que veio antes disso não tem valor. Tem
e muito.
- ok – falei respirando fundo.
Meu pai me abraçou e deu um beijo
no meu rosto. Sua barba roçou e me fez cócegas. Achei que aquele seria o
momento perfeito para falar sobre Jake. Com certeza ele não iria me atrapalhar
ou tentar dizer que Jake era culpado. Não depois do que ele me revelou.
- pai, preciso te falar uma coisa
– falei soltando-o e olhando para ele.
- o que foi?
- o senhor me ama?
- claro.
- faria qualquer coisa por mim?
- qualquer coisa – falou ele
completando.
- Qual-quer Coi-sa? – falei
enfatizando.
- sim – falou ele sorrindo -
Qual-quer Coi-sa.
Antes que pudesse pedir o que
queria meu pai colocou a mão na minha nuca e aproximou seu rosto ao meu e deu
um solo na minha boca.
- qual-quer coisa – falou ele
deixando sua respiração quente no meu rosto – o que você quiser – falou ele
beijando minha boca novamente.
Meu pai tinha achado que eu
estava dando em cima dele, mas eu queria falar sobre Jake. Realmente era
estranho estar naquela situação. Estava beijando meu pai na boca. Meu pai
beijava a minha boca pra dizer a verdade, mas eu não podia colocar tudo em cima
dele afinal minha língua também estava na boca dele.
- o que você quer? – perguntou
meu pai dando um último selinho e voltando a posição original, mas dessa seu
polegar alisava meu rosto.
Eu não tinha percebi que meu pai
estava se sentindo excitado comigo. Realmente estava sendo novidade. Talvez eu
tivesse dado alguns sinais, mas não tinha sido minha intenção. Era estranho
para mim ter beijado meu pai. Não tão estranho na verdade. Aquele homem me
amava e tinha feito tudo por mim. ele me amava como filho e pelo o que parece
existe algo a mais.
- o que você quer? – perguntou
ele novamente com um meio sorriso no rosto.
- sejam eu primeiro – falei
esquecendo totalmente Jake.
- o que?
- sejam eu primeiro – falei
novamente com um frio na barriga – seja o meu primeiro.
- você quer? – perguntou ele
alisando minha perna – você entende que sou seu pai? Eu sei que você sofreu
muito na mão do homem que te sequestrou então não quero que faça nada que não
queira. Sei que é errado o que eu fiz. O que estou fazendo…
- não é errado. O que David fez
era errado porque eu tinha medo de pensar no que ele fazia. Em todas as vezes
que ele me bateu. Ele nunca abusou de mim, mas mesmo assim era errado ele me
bater. Eu quero isso. Eu não sabia que queria até me beijar, mas eu quero. Você
fez tudo por mim. Você me obrigou a lutar pela minha vida. Você me deu uma
casa, um lar.
- Fiz isso tudo porque você é meu
filho. Eu sou seu pai e te obriguei a lutar por sua vida. Eu sou seu pai e te
dei um lar. O beijo não é porque você é meu filho. Eu poderia beijar qualquer
um. O beijo é porque eu te amo. Desde a primeira vez que te vi no hospital eu
senti algo diferente. Eu trai sua mãe com um homem e me arrependi. Depois do
que aconteceu eu fiquei me martirizando e me culpando por saber que ela tinha
câncer e por ela ter descoberto o que descobriu me vendo na cama com outro.
Algo dentro de mim não me deixava sentir vontade ou atração por outro homem,
mas quando eu te vi pela primeira vez no hospital foi diferente. Eu sabia que
precisava de mim. Sabia que você precisava que alguém cuidasse de você.
- e quando descobriu que eu era
seu filho?
- eu fiquei arrasado. Não
conseguia nem dormir porque o que eu sentia não desapareceu. Continuou na minha
cabeça. Eu prometi a mim mesmo que seria apenas seu pai e o resto que eu
sentisse eu deixaria para lá, mas hoje quando você começou a dar sinais de que
sentia o mesmo por mim… você estava me dando sinais certo?
- certo – falei ouvindo com
atenção o que ele dizia.
- Agora eu te pergunto outra vez.
Você tem certeza que me quer como seu primeiro? Porque apesar de tudo eu ainda
serei seu pai naquele quarto e você ainda será meu filho.
- tenho certeza – falei levando
minha mão até seu rosto - Seja meu primeiro, seja meu pai e seja meu homem
naquele quarto – falei me aproximando e dando um selo na boca dele. Depois de
um segundo selo nos beijamos outra vez.
O mundo pode dizer que isso é
errado, mas eu não me sinto desse jeito.
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Nossa MC adorando muito bommm voçê incrivel,ansioso pelo proximo
ResponderExcluirAss:Neverton
Estou adorando o conto, por alguns motivos não pude acompanhar a outra versão do Paixão Secreta, mas também amei a primeira, enfim, gosto muito de ler seus contos e continue.
ResponderExcluirBjs