Capítulo Dezesseis
LAGO CHAMPLAIN
M
|
inha estadia no hospital durou uma semana depois
que eu acordei do coma. O médico quis me manter lá o máximo que conseguiu para
que tivesse certeza de que eu estava bem.
Estava vivendo com meu pai
Broderick a três dias. A casa dele era absurdamente grande. A casa onde vivia
com David e Stella tinha um estilo mais rústico, pequena e era afastado de
tudo. O vizinho mais próximo estava a quilômetros de distância. A casa de meu
pai era totalmente o contrário. Além de ser grande tinha uma decoração bem
moderna. Além disso tudo ela ficava a poucos quilômetros do hospital onde ele
trabalha.
Meu quarto era enorme e meu pai
tinha colocado várias coisas lá dentro. várias das coisas eu nem sabia da
existência, como por exemplo o humidificador de ar que ficava do lado direito
no quarto.
- Oliver – falou meu pai vindo
até o meu quarto. Eu estava deitado na camas encarando o teto.
- pode entrar – falei sem olhar
para ele.
- você está bem? – perguntou ele
vindo até mim na cama.
- estou sim, porque pergunta?
- você não saiu de casa desde que
chegou aqui.
- não se preocupe comigo. Eu não
gosto de sair de casa.
- não é bom você ficar trancado
aqui – falou ele se aproximando o
suficiente para ver que ele estava pronto para ir para o hospital.
- eu não estou depressivo nem
nada é que… eu fico pensando em tudo. Minha vida mudou tanto nesses últimos
meses.
- eu sei que é tudo novidade para
você, mas você me faz um favor hoje?
- claro, o que o senhor quiser –
falei me sentando na cama.
- saia de casa e dê uma volta no
lago Champlain. É verão e ele vai estar cheio. Quem sabe você não faz amizade.
- prometo que irei – falei me
lembrando de Amy. Ela estava na África. Ela havia se oferecido como voluntária.
Devido aos problemas que tive resolvi não ir. Meu pai não tinha deixado de
qualquer maneira. Ele preferiu que eu ficasse com ele esse verão.
- vou querer detalhes quando
chegar de casa, OK? Pra saber se você saiu mesmo.
- não se preocupe. Eu não gosto
de mentir.
- vou para o hospital.
- pai, posso te perguntar uma
coisa?
- claro meu filho.
Pensei um pouco antes de
perguntar.
- qual é meu nome verdadeiro?
Quer dizer… meu nome que você e minha mãe colocaram em mim?
- Peter – falou ele sorrindo.
Provavelmente se lembrando da época em que estava com eles.
-
nome bonito.
- é seu nome pra dizer a verdade
– falou meu pai indo até uma cômoda no meu quarto e pegando um papel – esse
ainda é seu nome viu? Peter Creswick Marshall.
- então eu não me chamo Oliver.
Me chamo Peter.
- eu estava pensando em dar
entrada me um processo para mudar seu nome para Oliver. Você nunca teve
identidade ou certidão de nascimento, então tecnicamente seu nome nunca foi
Oliver, mas eu sei que se entrar na justiça o juiz consegue mudar seu nome,
dessa forma você será Oliver Creswick Marshall. O que você acha?
- ótima idéia.
- que bom que gostou porque eu
falei com o advogado a mais de uma semana.
- é um ótimo nome.
Meu pai deu um sorriso antes de
sair do quarto.
- preciso ir para o hospital.
- tenha um ótimo dia de trabalho
– falei sorrindo.
- se precisar de qualquer coisa é
só me ligar – falou ele se despedindo.
Meu pai passava a maior parte do
seu dia no hospital. Isso quando não passava a noite também, mas eu entendia
afinal o trabalho dele exigia isso.
O Lago Champlain é um lago enorme
que fica no leste da América do Norte nos Estados Unidos e Canadá para ser mais
preciso. O lago também faz fronteira com entre os estados de Nova Iorque e
Vermont. De um lado está Vermont e do outro está Nova Yorque.
Não costumava ir a esse lago. Eu
sempre passava por ele é claro porque ficava no caminho de casa.
Fazia dias que não via Tobias.
Decidi me afastar dele para o bem de seu casamento. Respeitava-o o suficiente
para deixar que ele fosse feliz e seguisse com a vida dele.
Depois que me levantei tomei o
café da manhã que meu pai havia deixado pronto em cima da mesa. Pensei no que
ele tinha dito e decidi dar uma volta no lado. Assim que terminei de tomar o
café da manhã lavei o que estava sujo na pia. Subi as escadas para vestir uma
roupa mais adequada para sair. Meu pai havia feito compras para mim ou pelo
menos ele tinha pedido que alguém comprasse porque a pessoa não acertou no
tamanho e as roupas ficaram um polco maiores, mas mesmo assim dava para
vesti-las.
Quando cheguei no topo da
escadaria passei em frente ao quarto do meu pai e vi que estava uma bagunça
assim como o resto da casa. Para um médico ele era um homem muito desorganizado
e bagunçado, então eu pensei: porque não arrumar toda essa bagunça?
Nesses três dias fiquei a maior
parte do tempo dentro do meu quarto e nem tinha percebido o quão bagunçada
estava a casa. Decidi então que antes de sair iria arrumar tudo e foi isso o
que eu fiz. Passei as próximas cinco horas limpando tudo. Cada canto daquela
casa. Desde a sala até os três quartos.
Coloquei toda a roupa suja para
lavar e lustrei bem o banheiro do quarto dele. Estava acostumado a fazer o
serviço de casa. Quando David saia eu sempre ajudava Stella porque tinha pena
dela. Na hora do almoço eu mesmo preparei algo para comer e em seguida voltei
ao trabalho.
Depois que a casa toda estava
limpa e as roupas secas e dobradas já eram quase quatro horas da tarde. Estava
morto de cansado, mas mesmo assim precisava cumprir minha promessa. Tomei um
banho e vesti minha melhor roupa.
Ao chegar aos redores do lago
decidi dar uma volta e ver como tudo estava e em seguida ir embora. Minhas
pernas doíam muito devido ao esforço que tinha feito.
Havia barcos no lago e jovens
nadando. Com certeza o verão tinha despertado o melhor dos cidadãos de Vermont.
De repente ouvi alguém chamando meu nome.
- Oliver – falou uma voz
conhecida.
Procurei por todos os lados
virando minha cabeça e inicialmente não vi ninguém conhecido, mas logo vi
Abraham. O professor de matemática. Ele estava com sua filha.
- como você está – falou ele com
um sorriso se aproximando de mim.
- estou bem, obrigado.
- que bom – falou ele sorrindo –
me desculpe não ter ido te visitar no hospital, mas não conseguiam e perdoar
pelo o que aconteceu com você.
- porque?
- como eu fui tolo em não perceber
que aquelas coisas horríveis aconteciam com você.
- não se culpe – continuei
andando e Abraham me acompanhou.
- vamos mudar de assunto – falou
ele me mostrando sua filha – essa é Isabel.
- não sabia que tinha filha.
- Tenho sim – falou ele com um sorriso.
- ela é uma gracinha.
- você vai voltar a trabalhar na
escola quando terminarem as férias de verão?
- eu sinceramente não sei. Quem
sabe.
- espero que sim – falou Abraham
– você será bem vindo.
- obrigado – falei me lembrando
de Tobias. Fazia dias que não o via.
- você tem visto o Tobias?
- tenho sim. Ele está bem.
- que bom.
- você gosta dele né?
- eu? Não.
- você olha de um jeito diferente
para ele.
- olha, no começo eu ate gostei,
mas depois de muita confusão decidi me afastar.
Não quero atrapalhar a vida dele.
- quando ver Tobias outra vez vou
pedir que ele te visite.
- não. Não precisa. Ele me ajudou
muito e eu sinto falta de conversar com ele, afinal ele sabe meus segredos. Ele
é um bom amigo e um ótimo ouvinte, mas não quero cultivar essa amizade.
- posso ser seu novo amigo –
falou Abraham.
- mas você… você não se importa
em ter um amigo gay?
- claro que não.
Pensei por alguns segundos.
- você é gay? – perguntei sem
rodeios.
- não – falou ele rindo – não
preciso ser gay para ter amizade com outros gays.
- me desculpe é que…
- tudo bem. sei como foi sua
criação – falou ele forçando um sorriso – bom, fiz a proposta, se quiser um
amigo para conversar eu estou disponível.
- obrigado pela proposta, vou
pensar nela.
- pensa mesmo – falou ele rindo –
preciso ir agora – falou Abraham – tenha um ótimo dia.
- mande um abraço para sua
esposa.
- mando sim – falou ele
finalmente indo embora.
Segui meu caminho por mais algum
tempo e tinha chegado por um caminho um pouco deserto em meio as árvores.
- Oliver – falou uma voz atrás de
mim. olhei para trás e vi que era Jake.
- Jake? – falei surpreso – o que
está fazendo aqui? – falei indo até ele e dando um abraço – você está bem?
Pensei que estivesse preso.
- não estou – falou ele parecendo
perturbado – meu advogado conseguiu que eu respondesse em liberdade pelas
acusações.
- você não tem culpa de nada você
sofreu o mesmo que eu.
- eu sei, mas o problema é que
você é o único em que as pessoas confiam. Não tive a sorte que você teve.
- como assim?
- você já parou para pensar em
como é difícil para mim? Eu não sabia de nada do que você sabia, eu tive a
mesma surpresa que você. Não sabia que Stella era minha irmã e não sabia que
David não tinha pênis afinal ele só me estuprava com pedaços de pau e gravetos.
Você é o herói Oliver e parece que o mundo não precisa de outro.
- eu estou aqui pra você. Se
precisar de qualquer coisa, eu posso falar com meu pai ele pode…
- não quero sua ajuda. Não quero
a ajuda dele. Vou me virar sozinho.
- você não devia se virar
sozinho. Você tem a mim. pra mim você é e sempre será meu irmão – falei
tentando tocá-lo outra vez, mas ele se afastou dois passos.
- eu não mereço. Não depois do
que eu te fiz passar todos aqueles anos
- por favor Jake me deixe…
- a culpa não é sua Oliver.
- eu sei. Me deixe te ajudar.
- eu vou ficar bem – falou Jake
se afastando por completo e indo embora.
Queria muito ajuda-lo. Jake não
tinha culpa e não merecia o que tinha acontecido com ele.
Do mesmo jeito que eu tinha
ficado chocado, Jake também tinha ficado. Não era justo que ele sofresse
sozinho afinal eu tinha um pai. Tinha outra família e Jake não tinha
escapatória. Stella era sua família verdadeira – é isso – falei para mim mesmo.
Iria conversar com meu pai
Broderick para ver se ele por acaso ajudava Jake. Talvez com o apoio dele, Jake
começasse a viver a vida normalmente. Não conseguiria viver a minha vida
sabendo que meu irmão ainda estava nessa.
Depois de trinta minutos decidi
ir embora. Minhas pernas doíam um pouco devido a todo esforço que havia feito.
Ao chegar em casa fui direto para o banheiro e tomei um banho quente. Em
seguida me deitei e fiquei pensando em Jake. Esperaria meu pai chegar para
conversar com ele sobre esse assunto.
Fiquei lá deitado esperando, mas
não demorou para que eu caísse no sono.
0 comentários:
Postar um comentário
Comente aqui o que você achou desse capítulo. Todos os comentários são lidos e respondidos. Um abração a todos ;)