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Capítulo Três
QUADRA DE TÊNIS
vida é como estar em uma quadra de tênis. Gosto de
pensar que as raquetes se tornam nossas mãos e a bola representam uma bomba.
Aquele que deixa cair recebe a punição. As vezes fazemos os mesmos com os
problemas Muitas vezes apenas passamos ele adiante e não procuramos
resolvê-los. Muitas vezes somos egoístas demais e ao invés de desativar uma
bomba para evitar que exploda, nós apenas passamos ela para o próximo e nós
torcemos para que exploda na mão do próximo.
Apenas uma desculpa que nós
arranjamos para tentar deixar nossa consciência livre. Para que não nos
sintamos culpados quando a bomba finalmente cai no chão e explode na cara do
próximo. Talvez seja por isso que meu irmão Jake tenha aberto sua boca. Melhor
que seja eu do que ele. Porque eu sei o seu segredo: Jake é apaixonado por Amy.
Mesmo assim não disse nada e não vou dizer. Não quero que ele passe pelo o que
passei.
Os primeiros dias haviam sido bem
mais difíceis. Dormia de bruços ou de lado. As feridas ardiam. A verdade é que
não dormi na primeira noite. Passei em claro pensando em tudo o que tinha
acontecido. As surras do meu pai haviam se tornado mais e mais violentas, mas
acho que os tempos estão difíceis.
Ele diz que o mundo está
caminhando para um abismo moral. Temos gays e negros na televisão se
relacionando como se fosse normal. Sexo e violência em cada canal. Na minha
casa a televisão já não era mais ligada a muito tempo. Era ligada apenas nos
canais religiosos, mas não muito.
Muitos dos religiosos e padres
faziam pregações falando em como o mundo está moderno e os gays deviam ser mais
aceitos e é claro que meu pai não concorda. Típico.
Levantei-me naquela quinta-feira
e fui até o banheiro. Os machucados começavam cicatrizar. Estava quase
inteirando duas semanas. Era difícil contar o tempo levando em consideração que
eu só ficava em casa. Já não ia mais para o trabalho. Já não trabalhava mais no
Colégio de St. Louis.
Eu não havia ido até lá para
pedir demissão. Meu pai não deixou. Ele foi no meu lugar e disse que estava
tudo resolvido. Daqui uma semana eu começaria a trabalhar com ele em sua
pequena firma no centro.
- bom dia meu filho – falou minha
mãe na cozinha. Ela já não olhava para mim do mesmo jeito desde aquele dia.
Acho que meu pai acabou fazendo alguma coisa com ela. O brilho em seus olhos
haviam desaparecido.
- bom dia mãe – falei me sentando
a mesa.
- bom dia – falou Jake chegando a
cozinha e dando um tapa nas minhas costas.
Eu resmunguei porque doeu, mas
não disse nada. Jake riu de mim. Ele achava graça em me ver daquele jeito.
- o café da manhã está pronto? Eu
não quero me atrasar – falou meu pai chegando a cozinha.
- está sim David – falou minha
mãe colocando as panquecas e o mel por cima.
- você está melhor Ollie?
- sim senhor.
- você sabe que o que fiz, fiz
por amor né? Sabe que se não o fizesse você seria corrompido?
- sim senhor.
- não foi de tudo ruim não é
mesmo? Afinal daqui uma semana você vai estar trabalhando com seu velho.
- vou sim senhor.
- estou muito orgulhoso de você
meu filho.
Eu vi como Jake olhou para mim.
Ele odiava toda vez que meu pai dizia que me amava. Odiava toda vez que meu pai
conversava comigo. Comecei a pensar que talvez tudo não passasse de inveja,
afinal meu pai era mais próximo de mim. Imagina se não fosse. Eu estaria morto
a uma hora dessas.
- sim senhor. Estou ansioso.
- com licença – falou Jake se
levantando.
- não vai terminar seu café da
manhã? Sua mãe fez com muito carinho.
- estou sem fome.
- sente-se Jake – falou meu pai,
mas Jake saiu pela porta. Logo ouvimos o barulho de sua moto saindo a toda
velocidade.
- não sei o que fazer com esse
garoto.
- ele já tem trinta anos David.
Você não pode controlá-lo para sempre – falou minha mãe.
- por favor Stella, não venha me
dizer como devo criar meu filho.
Minha mãe não disse nada e
ficamos em silêncio.
- por isso que gosto de você
Oliver. Você é mais parecido comigo. Jake puxou sua mãe, por isso é tão
rebelde.
Eu apenas balancei a cabeça
confirmando.
Depois que tomamos o café da
manhã eu fui ajudar minha mãe a organizar a cozinha. Meu pai subiu as escadas
para poder se arrumar.
- não precisa Oliver – falou ela
olhando para mim forçando um sorriso – eu arrumo tudo sozinha, vá se deitar. Depois
vou passar uma pomada em suas feridas.
- tudo bem mãe. Eu ajudo.
- não precisa é sério.
- as feridas da minhas pernas já
se cicatrizaram quase que tudo. Apenas minhas costas doem um pouco. Eu vou
ajudar a senhor em casa. Eu vou arrumar a cozinha e se a senhora quiser ir ao
mercado pode ir.
- tem certeza? – perguntou ela
insegura.
- pode ir – falei cochichando –
eu cuido do papai.
- obrigado – falou ela beijando
minha bochecha.
Ela pegou o agasalho e colocou e
em seguida pegou a chave de seu carro.
- dirija com cuidado a neve mãe.
- tudo bem – falou ela saindo
pela porta.
Assim que ouviu o barulho do
carro meu pai desceu as escadas.
- quem está saindo?
- a mamãe. Foi até o marcado
fazer compras.
- você vai arrumar a cozinha?
- sim senhor. Vou ajuda-la.
- não vai. Isso é coisa de
mulher. Larga isso e vai pro seu quarto.
- eu não me importo pai.
- eu me importo – falou ele
arrumando a gravata. Hoje você lava a louça, amanhã está enfiando coisas no
ânus.
- sim senhor – falei deixando
tudo exatamente como estava e subindo as escadas.
Fui direto para a minha cama e me
deitei. Respirei fundo e fiquei lá deitado tentando ouvir a hora em que ele
saísse com seu carro para o trabalho. Não demorou para que eu ouvisse a porta
da frente se batendo. Me levantei e fui até a janela e procurei um ângulo atrás
da cortina em que ele não me visse.
Meu pai andou em direção ao seu
carro e com as luvas já na mão passou a mão no capô e no para-brisa tirando um
pouco da neve que havia caído. Quando ele dava a volta para entrar no carro eu
percebi que um carro da policia vinha em direção a nossa casa. No começo achei
estranho afinal o que eles estariam fazendo visitando meu pai? Ele é um “homem
santo”.
Foi quando o carro parou que eu
vi quem era. Saíram dois homens do carro e mesmo de longe eu reconheci Tobias.
Ele era o diretor da escola onde trabalhava.
- bom dia – falou ele e o outro
homem se aproximando.
- bom dia – falou meu pai com a
expressão que sempre tinha em seu rosto.
Eles apertaram a mão.
- sou David Maxfield.
- sou Tobias Schwartz, diretor do
Colégio St. Louis.
- prazer – falou meu pai
apertando a mão dele.
- igualmente – falou o diretor
olhando para o homem que o acompanhava – esse daqui é o detetive Leon Holloway.
- muito prazer – falou meu pai
parecendo assustado – o que posso fazer pelo o senhor detetive?
- será que podíamos falar dentro
de casa? Está um frio mortal aqui fora.
- tudo bem – falou meu pai se
virando para entrar. Seu olhar veio exatamente até onde estava. Ele me olhou
com raiva. Eu sabia o que significava. Se eu fizesse algum barulho ou desse
algum sinal de vida eu seria punido.
Meu pai, o diretor Tobias e o
detetive Leon entraram em casa. Eu fiquei muito curioso e decidi tentar ouvir o
que eles conversariam. Abri a porta do meu quarto lentamente e sai pelo
corredor e desci até a metade da escadaria. De lá eu conseguiria ouvir toda a
conversa e como eles estavam na cozinha, não corriam o risco de me ver.
- gostariam de beber algo? –
falou meu pai chegando a cozinha.
- porcaria - falei me lembrando que a cozinha estava
bagunçada. Meu pai era sistemático. Pra ele era como se cortassem toda a
masculinidade e jogassem fora. Eu tentei ajudar minha mãe, mas acabei piorando
a situação dela.
- apenas um café – falaram os
dois.
Meu pai serviu café e assim que
todos estavam tomando goles meu pai decidiu agilizar a conversa.
- então… como posso ajudar os
senhores?
- estou preocupado Sr. Maxfield.
Seu filho trabalha na minha escola a mais de dois anos e ele nunca desapareceu
dessa forma.
- não estou entendendo – falou
meu pai – vocês estão me acusando de algo.
Nesse momento percebi que meu pai
tinha mentido. Ele não tinha ido a escola.
- não senhor. De maneira nenhuma
– respondeu o detetive.
- na verdade eu só vim aqui hoje
porque Amy Gallard, que trabalha comigo notou que seu filho não foi trabalhar
faz duas semanas e não deu satisfação. Trouxe o detetive Leon comigo apenas por
formalidade. Dessa forma deixamos tudo em pratos limpos.
- vou ser sincero com vocês –
falou meu pai – meu filho agora trabalha comigo. Ele me disse que pediu
demissão. Estou surpreso por vocês estarem aqui.
- ele está aqui?
- não. Infelizmente já foi
trabalhar. Agora que meu filho está nos negócios da família eu fico mais
tranquilo. Posso chegar mais tarde.
- deve estar orgulhoso – falou
Tobias.
- muito – confirmou meu pai.
- bom… acho que tudo está bem
então – falou o detetive.
- está sim – falou meu pai.
- me desculpe por fazer você
perder o seu tempo. Acho que Amy está preocupada atoa. Gastando o dinheiro dos
cofres públicos e tirando os policias dos postos de trabalho por bobeira.
- não se preocupe com isso
diretor – falou o detetive – ela fez bem. nós nunca sabemos exatamente o que
aconteceu e muitas vezes um desastre pode ter acontecido. Especialmente no
inverno. Ele podia ter se perdido ao acontecido algo pior.
- é verdade – falou meu pai
acompanhando eles até a porta – ela fez a coisa certa sinal de que se importa
com meu filho.
Dei passos rápidos subindo a
escada e fiquei escondido pela parede. Eles não poderiam me ver.
- o senhor pode pedir para que
Oliver vá até a escola na segunda? Ele precisa assinar os papéis da demissão.
Ele é um ótimo funcionário, mas não posso impedir que ele siga os passos do pai
se é assim que ele deseja.
- não se preocupe. Eu dou o
recado.
Eles continuaram conversando e
meu pai se despediu deles. Fui até meu quarto e fechei a porta. Meu pai tinha
realmente mentido pra mim, agora eu teria que ir a escola de qualquer jeito.
Espero que ocorra tudo bem. Não estou afim de levar outra surra se fizesse algo
errado e alguém visse as cicatrizes.
Fui até a janela e fiquei olhando
eles saírem. Meu pai bateu a porta ficando do lado de dentro enquanto eles iam
de volta para a viatura. O diretor foi na frente e o detetive ficou olhando a
casa por um tempo enquanto colocava um cigarro na boca e o acendia. Ele
assoprou a fumaça e observou a casa como se tivesse todo o tempo do mundo.
Foi então quando ele olhou em
direção a minha janela e eu rapidamente me escondi. Ele ficou olhando por
alguns segundos e em seguida foi até a viatura. Ele entrou e rapidamente e o
carro desapareceu no horizonte.
Em seguida ouvi meu pai subindo
as escadas. Corri para a cama e me deitei esperando que ele viesse a meu
quarto. Foi o que aconteceu.
- está acordado Oliver?
- sim senhor.
- o diretor da escola onde
trabalhava veio aqui com um detetive. Parece que cadela que trabalha com você
deu queixa do seu desaparecimento.
- está tudo bem? o senhor
conseguiu contornar a situação?
- sim. Tudo o que precisa fazer é
ir lá na segunda assinar os papéis da demissão.
- tudo bem.
- já estou indo trabalhar.
- tudo bem pai.
Ele então veio até mim e ficou
parado por alguns segundos antes de colocar a mão no meu ombro. Era um sinal de
aprovação.
- fique bem – falou ele saindo do
quarto.
Esse era o máximo que conseguiria
dele. Meu pai não era o tipo de homem que demonstrava sentimentos com os
filhos. Nunca havia recebido um abraço ou um beijo. Não posso dizer que fiquei
triste. Gostei de saber que estava deixando-o orgulhoso.
Em seguida meu pai saiu do quarto
e não demorou para que ele saísse para o trabalho. aproveitei que ele se foi e
eu finalmente pude ajudar minha mãe. Estava feliz que Amy sentia minha falta,
mesmo depois de duas semanas. Só espero que ela não venha até aqui em casa.
Por fim, parece que tivemos uma
pausa no jogo de tênis. A bola não havia caído em nenhum dos lados e estava
apenas esperando que alguém a arremessasse e batesse com a raquete. Eu ganhei
essa rodada.
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com um pai desse ninguém precisa de inimigos. esse cara e doente.
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