Capítulo 13: Mundo Afogado | Conto: Deus Americano

PARA ACESSAR A PÁGINA DE PERSONAGENS ACESSE A GUIA 'PERSONAGENS +' NO ALTO DA PÁGINA OU CLIQUE AQUI.

capítulo treze

MUNDO AFOGADO

---

S

eis dias. Seis dias preso naquele hospital. Seis dias preso em um inferno dentro da minha mente. Seis dias sem visitas, porque eu não queria ver ninguém. Seis dias e eles ainda não tinham liberado o corpo das vítimas para o velório. Meu pai estava morto e tudo o que eu queria é que ele descansasse em paz. As únicas pessoas que eu queria ver era minha mãe Bonnie e minha irmã Lea, mas elas não tinham vindo me visitar. Não entendo o porque delas terem me abandonado logo nesse momento. Meus olhos ainda estavam inchados. Fazia três noites que não dormia. A última conversa que tive com meu pai se repetia em minha cabeça. Eu queria tanto ter dito coisas diferentes. Ter dito algo como “eu te amo” ou “não podia ter pedido por um pai melhor.”

Era estranho sentir aquilo pelo homem que eu nem me lembrava direito, mas era um bom sinal. Algo dentro de mim sabia que ele eram meu pai mesmo que eu o tenha conhecido á pouco mais de um mês eu já sentia aquele amor de pai e filho e não outro sentimento confuso. O que me reconforta é que os terroristas tinham sido mortos. Mereceram cada tiro que levaram. Não sei bem se isso é algo bom ou ruim já que eles esperam por setenta e duas virgens.

- bom dia – falou a enfermeira chegando naquela manhã. Todos os dias ela aparecia na mesma hora para ver como eu estava, checar meus sinais vitais, me dar remédios entre outras coisas.

- bom dia – respondi sem ânimo nenhum.

- como passou a noite?

- acordado – falei me sentando na cama respirando fundo – assim como as noites anteriores.

- vai ficar tudo bem.

- é o que todos dizem ao entrar nesse quarto: ‘via ficar tudo bem’. Não. Não vai ficar nada bem.

- você está mesmo se sentindo bem?

- sim. A ferida da bala já não dói.

- eu não estou falando fisicamente. Fisicamente você parece está bem, estou querendo saber se por acaso você quer que eu chame o psicólogo.

- Não. Não quero conversar com o psicólogo.

- porque você não deixa as visitas entrarem?

- não. Não quero visitas. A não ser que seja minha mãe ou minha irmã.

- você não quer…

- Pare de ficar perguntando o que eu quero porque a única coisa que eu quero é ver meu pai uma última vez e eles não liberaram o corpo.

- não precisa ficar irritado – falou a enfermeira tentando me acalmar – tudo vai se resolver.

- OK – falei tomando um gole do copo de água que ela me entregou – é o que todos dizem: “tudo vai se resolver”. É fácil dizer quando se está de fora.

A enfermeira saiu do quarto e eu liguei a televisão para ver se falava alguma coisa sobre o atentado e sobre os corpos das vitimas. Aposto que assim como eu, todas as famílias esperavam ansiosas pela liberação do corpo das vitimas. Tudo o que eu queria era ver meu pai uma última vez e enterrá-lo. Olhei para o celular em cima do criado mudo e fiquei imaginando porque minha mãe e minha irmã não tinham me ligado.

A policia conseguiu encontrar meu celular e me trouxe a mais ou menos três dias. Olhando para o celular eu vi ele vibrando. Era uma ligação do Dr. Bryan. Meu psicólogo. Tinha ignorado algumas ligações dele, mas já que estava sozinho todos esses dias decidi atender.

- alô.

- Max Loudorn?

- ele mesmo.

- que bom que você atendeu.

- o que foi? Aconteceu alguma coisa?

- não. Eu só quero saber como você está?

- como acha que estou?

- sinto muito pelo seu pai.

- eu também sinto.

- Estou te ligando para dizer que você não deve parar de vir as sessões.

- porque eu devo ir? Meu pai morreu, não importa o que eu sinto por ele.

- não é sobre seu pai. É sobre sua memória. Você precisa continuar vindo para nós exercitarmos o seu cérebro. Os sentimentos que tem pelo seu pai eram apenas uma parte do meu trabalho.

- Dr. O’Connor eu não sei o que vou fazer. Ainda estou no hospital e não sei quando vou sair daqui. Vou levar um tempo para me adaptar e essa nova realidade.

- só não desista da terapia. Ela é muito importante para você. Especialmente devido aos últimos acontecimentos.

- prometo que vou pensar a respeito.

- tudo bem. Um abraço.

- obrigado por ter ligado.

- não foi nada.

 Desliguei o telefone e desviei novamente minha atenção para a TV. Eles mostravam a foto de dois homens. Eram os terroristas. Mostrava também uma vigília que estava sendo feita em frente ao aeroporto. Os familiares e pessoas que estava sendo solidárias com a vítimas. Estava distraído com a televisão quando a porta do meu quarto se abriu. Pensei que talvez fosse minha família, mas na verdade era a minha médica.

- bom dia Sr. Loudorn – falou ela entrando rapidamente com o meu prontuário na mão.

- bom dia Doutora – falei ansioso – quando vou poder ir para casa?

- bom, levando em consideração os seus resultados eu não vejo o porque de te manter aqui.

- sério? eu estou bem?

- sim – falou ela com um sorriso – te manter aqui só aumenta as chances de você pegar uma infecção. Além do mais depois do que aconteceu eu acho que o melhor é ficar com sua família. Va para a casa, fique em repouso e tome os remédios que vou te passar. Você está ótimo – falou ela escrevendo algo o prontuário.

- irônico – falei para ela – nesses últimos seis dias alguns amigos vieram me visitar e eu os ignorei. Agora que recebi alta não tenho ninguém pra me levar pra casa. Minha mãe e minha irmã não deram as caras todos esses dias. Acabei afastando todo mundo.

- na verdade tem uma pessoa lá fora desde cedo.

- quem?

- seu herói – falou ela rindo – desculpa, o soldado.

- ele está lá fora? Está desde cedo?

- na verdade ele vem aqui todos os dias.

- ele sabe que eu não quero receber visitas?

- sim. E mesmo assim ele vem e fica aqui todos os dias.

- Sei que você não quer ver ninguém, mas talvez você deva deixar ele entrar. Ele está preocupado com você.

- Ele não devia ficar preocupado comigo. Ele devia ter ido embora.

- sim eu disse várias vezes que você ficaria bem que ele podia ir para casa já que você não queria visitas, mas ele não quis. Todos os dias ele disse a mesma coisa “quero ter certeza de estar aqui se ele precisar de mim”.

A médica disse essas palavras, mas eu as ouvi como se tivesse saído da boca de Ralf. Consegui imaginar as palavras em sua voz rouca e cansada.

- pode deixar ele entrar.

- suas roupas estão ali – falou ela apontando para uma poltrona – pode tomar um banho primeiro se quiser…

- não obrigado, quero ir pra casa logo. Quero ver minha mãe e minha irmã.

- como quiser – falou ela com um sorriso saindo do quarto para chamar Ralf. Assim que a médica saiu uma enfermeira veio e retirou tudo o que estava conectado em mim. Ela foi rápida e bem ágil na verdade. Eu balançava minhas pernas de ansiedade.

Assim que a enfermeira se foi eu me levantei e comecei a vestir minha roupa. Meu braço doía um pouco quando eu o forçava, mas não era essa dor que me incomodava. Era a dor que sentia aqui dentro. Tinha um pequeno corte com cinco pontos na testa e agora que estava de pé percebi que mancava um pouco. Quando tirei a roupa do hospital vi que tinha uma marca roxa na perna esquerda bem próximo do joelho e quando tentei dobrá-lo senti um dor que não me permitiu continuar, mas por sorte consegui andar.

Fiquei imaginando de onde tinha vindo aquela marca roxa e percebi que foi quando Ralf pulou em cima de mim. Não pude evitar e deixei algumas lágrimas caírem porque me lembrei do meu pai. Essa dor não deve ser nada comparado ao que meu pai deve ter sentido quando levou os tiros.

Mesmo chorando me levantei e consegui vestir minha camisa. Era hora de vestir a calça e com certeza não seria fácil. Tentei me abaixar para colocar, mas meu braço doeu um pouco. Seria difícil vestir a calça e foi quando a porta se abriu. Levei um susto. Era Ralf.

- desculpa – falou Ralf se virando.

- não tem problema – falei com vergonha limpando meus olhos. Minha calça estava no chão e minha preocupação era que ele me visse chorando – não tem problema – falei tentando me recompor – será que pode me ajudar a vestir? Está difícil.

Ralf se virou vagarosamente e se aproximou. Atencioso ele se colocou a minha frente e eu apoiei minhas mãos em seus ombros. Ele se abaixou e eu coloquei a perna direita dentro do buraco da perna. Depois, com muita dificuldade eu coloquei a esquerda. Assim que terminei de vestir fechei o botão da calça e Ralf colocou o cinto para mim e o afivelou. Devo admitir que estava incomodado com nossa proximidade. Eu tenho sentimentos por Ralf e não parece ser reciproco e isso me deixava sem graça. Ele estava tão perto que conseguia sentir seu cheiro e não era perfume. Era o cheiro dele. Ralf usava uma camiseta azul marinho, uma calça na cor castanha e um tênis marrom. Agora ele já não tinha mais a barba cheia do dia que ele me salvou. Agora ele só tinha uma barba cerrada bem curtinha.

- obrigado – falei sorrindo para ele. Ralf não sorriu de volta e olhou para baixo para ver se o cinto estava afivelado. Começo a achar que esse é o jeito dele. Ele não parece ser alguém que tem muitos motivos para sorrir.

- vamos embora? – falou ele pegando uma mochila com algumas roupas minhas e jogando nas costas. Ele foi até a porta e a abriu, foi quando ele me viu mancar. Foram três passos.

- agorinha chego ai – falei indo até a metade do caminho.

- você machucou a perna?

- devo ter batido o joelho com força no chão quando você pulou em cima de mim. Eu sentia uma pequena dor, mas não imaginei que ia me impedir de andar.

- vem, eu te ajudo – falou ele se colocando ao meu lado esquerdo e eu passei o braço por trás dele. Ele segurou minha mão e nós caminhamos para fora do quarto. Mais uma vez eu sentia o corpo dele próximo do meu. Em menos de uma semana.

Nós saímos do quarto e quando chegamos no corredor eu levei um susto. Alguns pacientes estavam na porta de seus quartos e parece que todos os funcionários do hospital estavam lá. Ralf parou e assim como eu pareceu estar surpreso. Por alguns instantes o silêncio persistiu e foi quando Ralf me pôs a caminhar novamente. Nós demos três passos e em silêncio todos começaram a bater palmas.

As palmas eram como águas em um dia de calor incessante. Era como a chuva passando entre os dedos, aquele barulho gostoso na janela. Alguns assovios também foram ouvidos. Agora entendi que aquela tragédia no aeroporto era maior do que eu, maior do que Ralf. Algumas pessoas estavam chorando de emoção e eu não pude deixar de evitar que uma lágrima caísse. Odiava tudo aquilo, aquela situação. Tudo fazia com que eu lembrasse do meu pai.

O herói carregando o único sobrevivente caído. Meu coração bateu forte, não estava acostumado a ter tanta gente prestando atenção em mim. Nós atravessamos o corredor e assim como eu, Ralf pareceu não se importar com as palmas e com as pessoas em volta. Acho que ele estava feliz por eu finalmente estar saíndo do hospital. Pouco antes de chegar no saguão nós paramos um pouco. Ralf percebeu que eu estava chorando em silêncio. Ralf não disse nada, não me perguntou nada e apenas levou seu dedão até meu rosto e limpou as lágrimas que escorriam.

Vi que Ralf apertou os lábios. Acho que de alguma forma ele consegue imaginar a dor que eu estava sentindo. Não foi preciso dizer nada para me confortar.

- para onde você quer ir?

- para minha casa. Minha mãe e minha irmã devem estar lá. Eu não tenho certeza porque eu não falo com elas a semanas.

- tudo bem, eu te levo lá.

Voltei a passar o braço por trás de Ralf e nós continuamos pelo restante do caminho. Quando chegamos ao saguão do hospital pude ver pela frente que era toda em vidro que haviam dezenas e pessoas lá de fora. A reportagem também estava toda lá. Olhei para algumas televisões no saguão e vi que todas mostravam o mesmo canal que noticiava o ocorrido. Mostrando cenas das tragédias e pude ver novamente a cena em que Ralf pulou em mim. eles não cansavam de mostrar aquilo.

- sabia que ninguém mais ia estar aqui – falei enquanto Ralf me colocava sentado em uma cadeira.

- Uma garotas estiveram aqui.

- Ursula e Laila?

- sim. Elas vieram quase todos os dias.

- ainda bem que pelo você ficou – falei vendo a surpresa em sua expressão – a médica que contou que você veio todos os dias e não foi embora.

- Sim. Eu fiquei tantos anos fora do país e quando eu vi minha família foi o melhor sentimentos em muitos anos. Quando eu vi na TV que seu pai foi uma das vítimas eu pude imaginar a dor – falou ele se sentando do meu lado – Só queria estar aqui caso você precisasse de mim – ele disse a mesma frase que a médica e soou exatamente como imaginei.

A cada palavra que ele dizia tornava-se mais difícil de decifrá-lo. Ele tinha aquela pose amarga, rabugenta, mas conseguia ser um homem carinhoso e atencioso. O jeito dele me irritava porque ele mostrava pouco de si, pouco do que sentia e eu queria poder conhece-lo mais. Ele era um homem de poucas palavras. Ele coçou a cabeça e a barba cerrada olhando para o chão. Ele entrelaçou os dedos se repousando nas coxas e se inclinou para frente. Fechou os olhos e permaneceu assim por um tempo.

- você deve estar cansado – falei para ele – você chegou de viagem a poucos dias e eu não te deixei em paz.

- Só um pouco. Na verdade não tenho dormido muito bem, não senti sono nos primeiros dias – falou ele olhando para mim na mesma posição.

- você está com sono agora?

- sim – falou ele bocejando – muito sono – falou ele coçando os olhos.

- o taxi chegou – falou a recepcionista do hospital.

Ralf se levantou e me ajudou a levantar. Nós dois caminhamos até a saída do hospital e as portas automáticas se abriram. Nesse momento um monte de gente gritando, com cartazes mostraram seu apoio a Ralf e surpreendente a mim. “Melhoras Max” dizia um cartas azul claro escrito em preto “Rezem Por Leon” estava escrito em outro cartaz. Não gostava dessa atenção toda, mas fiquei agradecido por aquelas pessoas. No fundo eu estava no meio de um espetáculo ao qual não queria participar.

Nós caminhamos até o taxi e alguns repórteres noticiavam a minha saído do hospital como se fosse o pouso na lua. Alguns repórteres nos faziam perguntas, mas nós ignoramos todas e apenas entramos no taxi.

Ao entrarmos no taxi passei o endereço de onde morava e então nós seguimos caminho. A viagem não foi longa. Vi que apesar da tragédia as pessoas seguiam com a vida. As ruas estavam cheias e os comércios aparentemente prósperos. Espero que continue assim e logo todos esqueçam o que aconteceu. Tenho certeza de que eu não vou esquecer. Jamais.

Ao chegarmos Ralf me ajudou a sair do taxi e pagou a corrida. Quando chegamos á porta apertei a campainha e quando a porta se abriu eu vi minha mãe. Ela estava chorando.

- oi mãe – falei sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos. Nós compartilhávamos a dor.

- o que está fazendo aqui? – perguntou minha mãe mudando a expressão de seu rosto. Era como se ela não tivesse visto Ralf ao meu lado ou não ligasse.

- recebi alta do hospital.

- ótimo – falou ela cruzando os braços.

- porque você não foi me visitar no hospital?

- tinha coisas mais importantes para fazer como por exemplo organizar o funeral do seu pai.

- eles liberaram o corpo?

- sim. Me ligaram á algumas horas.

- eu posso ajudar a senhora.

- não. Não quero sua ajuda. Seu pai está morto e a culpa é sua.

- minha culpa? O que eu tenho a ver com isso?

- ele me contou o porque de você ter se mudado para um hotel. Os sentimentos nojentos que você tinha por ele. Seu pai esta frustrado e triste. Você pode ter certeza de que ele morreu com muito desgosto.

- olha eu não quero me intrometer, mas acho que a senhora deve se acalmar – falou Ralf para minha mãe.

- tudo bem – falou minha mãe limpando os olhos.

- onde vai ser o velório?

- não importa onde será. Você não está convidado.

- você não pode me impedir.

- posso. Talvez você não se lembre porque perdeu a memória, mas você não sabe o tanto de desgosto que deu ao seu pai. Sei que você procura por redenção, mas agora acabou. Eu não quero sua redenção e sua irmã concorda comigo. Seria melhor se você Não aparecesse no velório e nem no enterro.

- você não pode fazer isso comigo.

- Por favor Max. Não apareça. Não me faça te tirar a força. Vamos evitar fazer uma cena. Tenha respeito pelo seu pai. Pelo menos na morte dele. Respeite a minha dor e a dor da sua irmã.

- essa também é minha dor – falei sentindo uma dor no coração.

- desculpa Max, mas você me decepcionou muito no passado. Todas as coisas que você fez antes do acidente… não é fácil de esquecer. Você fez sua família sofrer. Seu pai, Lea e eu.

- eu já pedi desculpas.

- desculpas não são o suficiente. Desculpas não apagam os erros. Você pode até estar arrependido, mas o que aconteceu está lá. Você precisa lidar com as consequências.

Minha mãe parecia chateada e sem dizer mais nada ela fechou a porta. Levei as mãos até os olhos e Ralf me ajudou a andar de volta.

- se acalma. Vai ficar tudo bem.

- não vai ficar nada bem – falei soltando Ralf me sentando na calçada. Minha perna doía um pouco, mas não me importava. Nada mais importada.

- não chora – falou Ralf se sentando ao meu lado.

- que droga – falei respirando fundo. As lágrimas já não caiam porque não haviam mais lágrimas. Levei minhas duas mãos ao rosto e respirei fundo. Não sabia o que fazer. Era como se eu estivesse perdendo o controle da minha vida. Não havia saída. Um acidente, um ex-namorado que me enganou, um atentado terrorista, um pai morto e agora o que me sobrou de família está me rejeitando. É difícil tentar se manter quando não se tem nada para apoiar.

- você está bem? – perguntou Ralf acariciando minhas costas.

- eu sinto como se não pudesse respirar. Como se eu tivesse me afogando.

- é normal se sentir assim depois de tudo o que você passou.

- não aguento mais.

- não quero me intrometer na sua vida, mas o que sua mãe quis dizer com “Sei que você não se lembra”?

- á alguns meses eu sofri um acidente de carro e  eu bati a cabeça e acabei ficando com Amnésia. Não me lembro de nada de antes do acidente.

- isso é sério?

- sim – falei respirando fundo tentando me recompor. Meu rosto queimava com a lembrança de meu pai. Minha cabeça doía um pouco e eu me sentia fraco.

- Não quero comparar, mas eu já passei por coisas piores do que você e eu estou aqui. Não vou dizer que sou a pessoa mais sã do mundo, mas eu vivo um dia de cada vez.

- já que não tenho família e não posso ir ao funeral acho que vou voltar para o hotel onde eu estava hospedado… não… espera… não posso voltar para o hotel porque eu não tenho nenhum centavo para pagar já que meu pai é que pagava minhas despesas. Então eu posso adicionar mais um item á minha lista: sem teto.

- vamos para minha casa – falou Ralf.

Fiquei surpreso com aquele convite.

- não posso. Não quero te atrapalhar.

- claro que pode. Você pode ficar lá até se reerguer. Não tem motivo para fazer isso sozinho. Minha família vai gostar de você.

- tem certeza que não vou atrapalhar?

- não – falou Ralf se levantando. Ele estendeu os braços e me ajudou a levantar – você pode ficar o tempo que precisar.

Quando me levantei por completo vi que um carro chegou até onde eu estava. Um Sedan Cinza. De lá de dentro saiu Ursula.

- olá – falou ela com um sorriso.

- oi

- eu fui até o hospital e eles disseram que você recebeu alta – falou Ursula vindo até mim e me abraçando.

- pois é. Recebi alta hoje.

- como você está se sentindo?

- como se tivesse perdido meu pai.

- sinto muito. Essa pergunta foi bem idiota.

- não tem problema. Preciso me acostumar a isso. Meu pai está morto.

Ursula me abraçou novamente e em seguida olhou na direção de Ralf. Ela o encarou por um tempo. Acho que ela percebeu que o reconhecia de algum lugar.

- é você? – perguntou Ursula para Ralf.

- o que? – perguntou Ralf confuso.

- você é o soldado?

- sim. Ralf Falconer – falou ele estendendo a mão.

- é um prazer e uma honra te conhecer,

- também é um prazer – falou ele com um sorriso sendo educado.

- como está sua família? Fiquei sabendo que eles liberaram o corpo do seu pai e o das outras vítimas – falou Ursula tristonha.

- é uma longa história – falei olhando para Ralf.

- você não falou com ela? – perguntou Ursula.

- na verdade falei. Minha mãe disse que a culpa do meu pai ter morrido foi minha e que não me quer no velório e nem no enterro. Não sei o que vou fazer.

- sinto muito – falou Ursie segurando minha mão.

- não sinta. Ela provavelmente está certa. Eu devia ter morrido no acidente de carro e tudo isso não teria acontecido.

- não diga isso – falou Ralf sério – sabe quantas pessoas morreram naquele aeroporto e queriam estar vivas?

- desculpa se não estou sendo muito otimista, mas eu já devia estar acostumado com essa vida. Já que eu estou fodido era dever do universo me foder com tudo. Como se não bastasse tudo o que aconteceu agora eu não tenho ninguém.

- me deixa te ajudar – falou Ralf se aproximando e passando o braço por trás de mim.

- para onde vocês vão? – perguntou Ursula.

- vamos para minha casa.

- vamos no meu carro. Eu levo vocês.

- não quero incomodar Ursula – falei parando e olhando para ela.

- não é incômodo nenhum, vamos indo – falou ela entrando no carro. Ralf me ajudou a entrar e a me sentar no banco de trás, mas ele se sentou na frente ao lado de Ursula. Foi até bom porque eu pude chorar e lamentar em silêncio sem que nenhum deles percebesse.

Desculpem pela demora. Alguns aqui já sabem, mas eu tenho feito algumas cirurgias no pé nos últimos meses devido a uma infecção que peguei no hospital onde trabalho devido a um acidente de trabalho onde fui perfurado por uma agulha usada. Essa é a terceira cirurgia e eu fico meio nervoso antes de cada cirurgia e não consigo escrever.  Estou ansioso de que essa será a última cirurgia e pretendo voltar às postagens regulares. Espero que tenham gostado do capítulo, não deixem de comentar, e votar.