Capítulo 12: Massacre | Conto: Deus Americano

capítulo doze

massacre

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Q

uase nunca pude relaxar, quase nunca pude apenas me sentar e deixar a luz do sol entrar. Tudo o que queria era poder me sentar em um lugar, relaxar, deixar a luz do sol queimar em minha pele, mas sempre foi difícil me sentir como se eu pertencesse á algum lugar. Tudo o que eu queria era poder me sentir feliz. Dizem que tenho todas as ferramentas para ser feliz, mas porque não me sinto assim?

Nunca saí muito. nunca fui aquele ao qual as pessoas ligavam para pedir minha companhia. Acho que as pessoas tinham pena de mim pelo o que tinha acontecido e elas não me viam como uma pessoa, mas como algo inanimado no mundo que existe apenas para fazê-las se sentir bem consigo mesmos. Poucas eram as pessoas que me viam como um ser humano. Meu pai era uma das poucas pessoas que me conhecia de verdade.

Abri os olhos devagar. A luz me incomodou e me faz lacrimejar por alguns instantes. Minha visão ficou embaçada por um momento e logo a luz desapareceu. Olhei para os lados tentando reconhecer onde estava. Sentia meu corpo balançar de um lado para o outro como se eu fosse um objeto sem importância. Tentei me mover, mas não consegui. Não foi difícil reconhecer. Era como naquela manhã em que fui encontrado no jardim daquela amável família.

- ele está recuperando a consciência – falou uma voz baixa e grave.

Movi meus dedos tentando sentir meu corpo e percebi que minha mão esquerda tocava algo quente. Apertei meus dedos e percebi que segurava em uma mão.

- você vai ficar bem – falou um rosto entrando em meu campo de visão. Era o soldado que tinha salvado minha vida. Percebi que ele segurava minha mão tentando me acalmar.

Minha visão se recuperou por completo e percebi que estava imóvel. Estava deitado em uma maca dentro de uma ambulância. Sabia. Era difícil esquecer. Me sentia tonto.

- meu pai! – falei rouco tentando encontrar minha voz.

- o que foi? – perguntou Ralf se inclinando. Lembrei do seu nome ao ver seus olhos azuis atônitos me encarando.

- Meu pai… está bem?

- não entendi – falou ele aproximando o rosto bem próximo ao meu colando sua orelha em meus lábios.

- acidente de carro… meu pai… - falei dessa vez mais alto.

Ralf olhou para um dos paramédicos, mas ninguém disse nada. Aquele silêncio dizia tudo.

- podem me dizer o que aconteceu – falei sentido a ambulância parar – eu estou bem – falei respirando fundo tentando mostrar que estava bem.

Nesse momento a porta da ambulância se abriu e tiraram minha maca. Ralf pulou para fora da ambulância e parou a maca.

- você levou um tiro – falou Ralf – no braço. Quando pulei em cima de você consegui te desviar. O trajeto era no seu peito.

- é por isso que estou sentindo um ardor – falei reparando no curativo que fizeram as pressas.

- você estava em choque, por isso não sentiu na hora, mas quando você tentou correr eu vi o sangue no seu braço, por isso te segurei.

- vou ficar bem, certo? – falei com medo. Toda essa situação trazia lembranças.

- vai sim. Você vai fazer uma cirurgia, mas vai ficar bem – falou Ralf.

- me promete uma coisa? – falei segurando a mão dele.

- prometo – falou ele apertando os lábios.

- você vai procurar saber como meu pai está?

- sim – falou ele olhando em volta. Ele via algo que eu não via já que estava imobilizado – qual o seu nome? Posso ligar para alguém?

- Max… - falei engolindo em saco – Max Rutherford Loudorn – falei sentindo de repente um frio no corpo – meu pai se chama Leon.

- prazer em te conhecer Max – falou Ralf vendo os paramédicos me levarem na maca, seu rosto transparecia sua preocupação, ele andou rapidamente seguindo a maca – vou estar aqui quando acordar da cirurgia – falou ele ofegante olhando em volta.

- porque você diz que eu vou ficar bem, mas está com essa cara de preocupado?

- houveram vítimas fatais – falou Ralf apertando os lábios. A barba castanha dele estava arrepiada. Conseguia ver a tristeza em seus olhos.

- quantas vítimas? – perguntei entendendo o que tinha acontecido.

- quinze vítimas, um sobrevivente.

- quem é o sobrevivente?

- você – foi a ultima coisa que ele disse antes que a minha maca entrasse pela emergência, ele não podia passar daquele ponto. Minha maca se afastou e uma dúzia de repórteres se aproximaram dele tirando fotos, fazendo-lhe perguntas. Não consegui ver mais quando a porta se fechou. Os enfermeiros e médicos eram rápidos. Eles me aplicavam injeções e faziam testes apenas me dizendo o que fariam tentando me acalmar.

- ele levou um tiro no braço direito – falou o médico – a bala está alojada. Parece que só atingiu os músculos.

- a pressão dele está muito baixa – falou uma enfermeira – os lábios dele estão tremendo.

- estou com frio – falei sentindo minha boca tremer de frio.

- vamos leva-lo para a cirurgia – falou o médico pra mim. Eu apenas balancei a cabeça afirmativamente. Em seguida o médico olhou para a equipe – ele foi o único sobrevivente pessoal – falou o médico aflito – vamos mantê-lo assim.

- você vai sentir um choque e um ardor – falou o médico aplicando algo no nervo do meu pescoço. Assim que ele enfiou a agulha senti um choque. Em seguida colocaram uma mascara no meu rosto com algo para eu respirar e essa é a última coisa de quem e lembro antes de apagar com a anestesia.

Sei que não devia me preocupar com o meu pai afinal ele foi atingido por um carro e não pelo atirador. Então ele provavelmente está bem. Devia preocupar comigo mesmo, mas acaba sempre colocando o bem estar dos outros acima do meu. Não me importava com o resultado de minha cirurgia só queria saber como ela estava.

Abri os olhos devagar. Mais uma vez, por alguns segundos, não sabia onde estava. Olhei em volta e antes que eu pudesse descobrir por mim mesmo onde estava senti uma mão tocar meu braço.

- está se sentindo bem? – perguntou uma voz conhecida.

Olhei para o lado para ver quem era e vi que não era meu pai. Queria tanto que fosse ele. Na verdade era Kevin.

- estou sim – falei tentando me recompor. Olhei em volta e percebi que estava no quarto de um hospital. Estava conectado a aparelhagem que monitorava meus batimentos cardíacos e havia um curativo no meu braço direito.

- você vai ficar bem – falou Kevin – você vai ficar bem – falou ele repetindo.

- o que está fazendo aqui?

- vim te fazer companhia. Achei que você ia gostar de acordar e ver alguém conhecido.

- sim. Eu gostaria, mas a última pessoa que eu queria ver era você.

- vamos esquecer o que passamos pelo menos por agora, pode ser?

- tudo bem – falei respirando fundo – eu vou mesmo ficar bem? Porque não parece que você acredita muito nisso já que precisa repetir tantas vezes – falei para Kevin.

- Só estou feliz por você estar vivo. Essa é a terceira vez que você sobrevive a algo assim.

- talvez exista um motivo – falei tentando ser otimista – se eu passei por isso três vezes talvez seja porque eu esteja destinado a algo.

- talvez – falou Kevin sorrindo. O sorriso dele parecia falso.

Naquele momento senti um frio na barriga. Lembrei do meu pai e uma sensação ruim possuiu meu corpo. Tinha medo de perguntar porque talvez não gostasse da resposta.

- Meu pai? Ele está bem?

Nesse momento Kevin apertou os lábios e olhou para a porta do quarto como se ele quisesse que um médico estivesse lá quando me desse a noticia.

- desembucha. Meu pai está bem? Tem noticias dele?

- na verdade não… - falou ele parando por um instante e indo até a porta – tem alguém que gostaria de te dar noticias pessoalmente.

Kevin foi até a porta e saiu do quarto por alguns instantes. Torci para que meu pai entrasse. Torci para que ele entrasse naquele quarto, mas tive uma agradável surpresa. Não foi meu pai que entrou. foi Ralf. Ele ainda vestia o seu uniforme militar. Aposto que tudo o que ele tinha passado se assemelhasse ao que ele passou na guerra.

- com licença – falou Ralf ainda com a cara séria. A expressão dele não era das melhores.

- pode entrar – falei sentindo um frio na barriga. Ele se aproximou da minha cama e parou olhando para toda a aparelhagem conectado a mim.

- eu disse que estaria aqui quando você acordasse.

- sim – falei vendo sua barba se arrepiar ao olhar para mim – você não quebrou sua promessa.

- como você esta? – perguntou ele olhando diretamente para meus olhos.

- estou bem. Melhor do que esperei estar – falei olhando para Kevin  e depois para Ralf – mau pai está bem?

- nós ainda não temos noticias dele – falou Ralf com a voz rouca e cansada.

- você quase me matou de susto – falei respirando fundo.

- porque?

- sua expressão. Parece quê você viu um fantasma. Você está bem?

- não se preocupe com minha expressão. É só minha cara. você entenderia se soubesse as coisas que eu vi e vivi.

- me desculpa – falei lembrando que ele era um soldado. Devia ter passado e visto coisas horríveis.

- não tem problema. É sério. Sou assim o tempo todo – falou ele olhando em volta. Reparei no uniforme dele e vi que estava sujo de terra e sangue. Parecia que ele esteve no campo de batalha a poucas horas e de certa forma ele esteve.

- você está bem mesmo? Você passou por muita coisa hoje – falei para Ralf.

- eu é que devia estar de fazendo essa pergunta – falou ele voltando seu olhar para mim.

- não precisa se preocupar comigo. Você salvou minha vida – falei sentindo um arrepio no meu corpo – O resto é irrelevante, tenho vida e é isso que importa – falei tocando sua mão com os dedos, mas dessa vez podendo senti-la de verdade. Sua mão era grossa e pude sentir calos. Ela contava centenas de histórias, apenas com um toque.

- Preciso ir – falou Ralf misterioso.

Nesse momento olhando diretamente para os olhos de Ralf me vi novamente perdido em seu olhar. Mergulhando no profundo azul de seus olhos, me afogando nas águas cristalinas do mar de seu olhar quase me afoguei se não fosse uma voz que tivesse me puxado de volta de meu tranze.

- Max? você está bem? – falou Adrien entrando no quarto.

- tire ele daqui – falei assim que ouvi sua voz.

- ele veio se desculpar – falou Kevin.

- tira ele daqui – falei tentando me levantar da cama – Adrien me trazia péssimas lembranças. Tentava me levantar apesar dos vários fios conectados ao meu corpo. Quando fiz isso fiquei tão nervoso que o aparelho que monitorava meu coração começou a disparar.

- fica calmo – falou Ralf – tentando me fazer ficar quieto.

- vamos embora Adrien – falou Kevin puxando o filho pelo braço para fora do quarto.

- você está bem? – falou uma enfermeira entrando no quarto.

- estou – falei voltando a me deitar.

Ela checou os aparelhos e depois de fazer uma anotação ela saiu novamente do quarto.

- você não pode se levantar, fique quieto – falou Ralf agora autoritário.

- tudo bem – Falei me acalmando – Só não gosto dele. Sou o tipo de pessoa que não consegue disfarçar quando não gosta de alguém.

- acho que você também não consegue disfarçar quando gosta – falou ele olhando para o relógio na parede.

Quando ele disse isso eu fiquei com muita vergonha. A expressão dele era séria. Ele não tinha gostado dos meus olhares e nem dos meus toque. Tenho certeza que passei dos limites com ele.

- preciso ir – falou Ralf.

- precisa mesmo ir?

- sim, minha família deve estar preocupada.

- me esqueci que você também tem família – falei tentando desviar do assunto anterior. Pensei em insistir para que ele ficasse, mas depois da indireta achei melhor até que ele fosse logo. Agora já não olhava mais para ele e procurava não tocá-lo. Acho que ele não gostou muito.

- aquele rapaz é algum amigo seu? – perguntou Ralf – você pareceu não gostar muito dele.

- não. longe de ser amigo. Ele não é nada meu. Ele é só um racista imbecil. Por causa dele eu tomei algumas decisões erradas na minha vida – falei mostrando a cicatriz de onde meu rim foi removido.

- então essa não é a primeira vez que você sobrevive?

- não – falei apertando um botão que fez a cama se inclinar um pouco mais. Estava cansado de ficar deitado – pode ir se quiser eu vou ficar bem – falei olhando para a TV. Só agora percebi que estava ligada, mas em um volume bem baixo.

- vou embora então – falou Ralf coo as mãos para trás como se estivesse se apresentando no exército. Ele estava longe, mas conseguia sentir o cheiro dele. Apesar de tudo o que tinha acontecido ele tinha um cheiro bom – posso te visitar amanhã? – perguntou ele se afastando.

- pode, se quiser.

- eu venho. Só vou embora agora porque tenho que ir ver minha família, do contrário eu passaria a noite aqui com você para te fazer companhia. Parece que você não está muito a vontade com as companhias que tem.

- realmente.

Segundos depois que ele se foi comecei a me sentir estranho. Não consigo entender esse sentimentos que me permeou assim que ele se foi. Atrevo-me a dizer que é saudades. Senti uma dor na barriga pensando que só o veria amanhã e talvez ele nem voltasse. Talvez estivesse sendo só gentil.

Pouco tempo depois que Ralf saiu a porta se abriu e era Kevin e Adrien.

- eu já disse que não quero vê-lo. Não quero ver nenhum de vocês dois.

- se acalma Max – falou Kevin – Adrien veio pedir desculpas por tudo.

- Não quero a visita dele, não quero sua visita. Não preciso. Prefiro ficar sozinho do que ter a companhia de vocês dois. Não estou julgando o que vocês fazem entre paredes. Estou julgando o fato de você ser um racista e de você ter mentido pra mim.

- quer saber? Não preciso pedir desculpas por nada – falou Adrien.

- quero terminar isso da melhor forma possível – falou Kevin.

- não. Não faço questão que vocês peçam desculpas, mas faço questão de ver a bunda de vocês quando saírem pela porta e não voltarem mais.

- nós não vamos a lugar nenhum –  falou Kevin me provocado.

Antes que pudesse pular da cama para arrancar os dois do quarto a porta se abriu novamente. Era Ursula.

- posso entrar? – perguntou Ursie.

- pode. Claro que pode – falei me acalmando.

- eu posso voltar depois – falou Ursie.

- não. Os dois já estavam indo embora – Kevin olhou para Adrien e eles não sem moveram – a conversa terminou – falei alto e claro – podem cair fora.

Kevin olhou novamente para Adrien, mas dessa vez eles caminharam até a porta do meu quarto.

Assim que eles se foram Ursie fechou a porta.

- que tenso – falou Ursula.

- você tem um ‘timing’ perfeito Ursie. Chegou na hora certa – falei sentindo um desconforto no meu braço, nada que doesse muito.

- você está bem? – perguntou Ursie – vi o que aconteceu na televisão.

- eu não apareci, certo? – falei preocupado.

- está de brincadeira? – falou Ursie – foi tudo filmado. Os tiros, o soldado pulando em cima de você te protegendo. Ele salvou sua vida.

- que vergonha.

- Não precisa se sentir envergonhado. O país inteiro está feliz por existir pelo menos um sobrevivente. O soldado é um herói e você é um tesouro nacional – falou ela bem animada.

- nem me diga isso – falei lembrando de tudo o que tinha acontecido na minha vida. O que era pouco já que não me lembrava de muita coisa – eu devo ser a pessoa mais fodida do universo. O que falta acontecer agora?

- não diga isso. Alguns males vem para o bem – falou Ursie tentando me animar.

- não acredito nisso. Só merda tem acontecido comigo.

- pelo menos você pode dizer que está vivo. Outras quatorze pessoas perderam sua vida hoje.

- verdade – Me senti mal ao ouvir ela dizer aquilo.

- o importante agora é você melhorar.

- eu queria saber como meu pai está – falei nervoso.

- ele estava no aeroporto?

- sim. Acho que ele sofreu um acidente de carro, foi atropelado algo assim.

- talvez ele tenha vindo para esse hospital. Eu posso ir até a recepção ver se ele está aqui.

- seria muito gentil da sua parte.

- volto logo – falou Ursie saindo do quarto.

Assim que fiquei sozinho no quaro fechei os olhos tentando relaxar. Estava nervoso com aquela visita indesejada de Kevin e Adrien. Eles queria que eu melhorasse ou que piorasse? Eu queria era distância deles.

- toc toc! – falou Laila abrindo a porta do quarto.

- Laila? Você está bem?

- estou – falou ela entrando no quarto – posso entrar?

- pode.

Ela fechou a porta e caminhou até a cama.

- como você está? – perguntou ela se sentando na poltrona

- estou bem e você?

- estou ótima. Triste com tudo o que aconteceu.

- sabe… eu posso te perguntar uma coisa?

- pode – falou Laila intrigada.

- porque eles cancelaram a volta do soldado?

- eu não posso dizer.

- não precisa. Eu sei o porque – falei olhando para Laila fixamente – havia uma ameaça terrorista não é?

- sim – falou Laila.

- é irresponsabilidade deles não avisarem as pessoas. Eles deviam ter avisado que havia uma ameaça. Agora á quatorze pessoas mortas.

- a culpa não é minha – falou Laila preocupada.

- eu sei Laila. Não estou falando de você. Não estou falando de ninguém. Sou só uma pessoa chateada pelas mortes. Sei que eles não disseram nada para não criar pânico.

- os únicos culpados são os dois atiradores que fizeram isso. Pelo menos eles estão mortos. Eles não merecem estar vivos.

- como chegamos a esse ponto? Agradecer por duas pessoas terem morrido? Como chegamos ao ponto em que as pessoas vão á aeroportos e começam a atirar a esmo?

- esse mundo está ficando louco – falou Laila triste – pelo menos você teve sorte.

- pois é. Estava no lugar errado na hora errada e no fim das contas eu estava exatamente onde deveria estar.

- sua cara está em todos os canais de televisão do pais.

- nem me diga uma coisa dessas – falei olhando para a televisão. O noticiário mostrava o local do atentado terrorista. As pessoas já tinham feito um memorial para as vítimas em frente ao aeroporto. A tela estava dividida em dois e pela primeira vez eu via a cena em que Ralf pulou em mim. Seu corpo me pressionando para baixo enquanto aquele atirador era abatido como um porco que ele era.

- quer que eu desligue a TV?

- não. pode deixar.

- voltei – falou Ursie entrando no quarto – desculpa, eu não sabia que tinha outra visita.

- pode entrar Ursie.

Ursula entrou envergonhada.

- Ursula essa e é Laila. Laila essa é Ursula.

- muito prazer – falou Ursula apertando a mão de Laila que fez o mesmo.

Laila e Ursula apertaram as mãos com um sorriso no rosto.

- e então? Algum sinal do meu pai?

- não. A garota na recepção disse que não tem nenhuma pessoa com esse nome aqui no hospital.

- talvez ele tenha ido para outro hospital – falei chateado e irritado por não ter noticias dele.

- logo você deve ter noticias dele – falou Ursula – talvez ele te ligue.

- eu nem sei onde está, meu celular. A última coisa de que me lembro é de estar falando com um estranho que ligou usando o celular dele.

- onde está sua família? Você tem mãe?

- sim. Uma mãe e uma irmã. É estranho que elas não estejam aqui – falei nervoso.

- olha lá! – falou Laila aumentando o volume.

Ursula e eu olhamos para a televisão para ver o que tinha chamado a atenção de Laila.

- a policia revelou agora a pouco o nome das quatorze vítimas fatais do massacre de Miami. Sendo onze delas mortas dentro do aeroporto e as outras três foram mortas pelo segundo atirador do lado de fora. Essas são as vítimas.

Então eles começaram a mostrar a foto e o nome e idade de todas as vítimas. Haviam jovens, idosos e até crianças. Tudo o que eles fizerem foi sair de suas casas para receber um herói e acabaram sendo vítimas. A repórter começou a ler os nomes.

- Charlotte Campbell Lopez, uma contadora de trinta e três anos. Sofia Cruzes Collins, vinte e um anos. Uma estudante de medicina. Jasmin Lee Eastwick, doze anos, estava nos braços do pai. Morgan Turner Yates, nove anos. Corria atrás do seu balão. Grace Fuller Hill, quarenta e quatro anos. Professor de português. Simon e Cecelia Walker Sylvester. Pai e filha com sessenta e três e vinte e nove anos. Spencer Davis Leonard, policial de vinte e sete. Alice Hawkins Simpson, advogada de trinta e cinco anos. Julia Catlin-Rodrigrez, atendente do Burger King de vinte e quatro anos. Tyler Baker Courtney II, pianista e estudante de música de vinte e cinco anos. Roberto Menendes Perez, estudante de intercâmbio de dezoito anos que veio da Colômbia. Archer Anderson Williams, aposentado de cinquenta e cinco. A última vítima foi Leon Rutherford Loudorn, promotor criminal de quarenta e nove.

Não acreditei quando ela disse o nome do meu pai. Quando eu vi a foto dele foi como sentir o chão que eu pisada desmoronar. Foi como sentir o ar que eu respirava ficar pesado. Meus olhos arderam e eu não acreditei.

- Leon Loudorn de quarenta e nove anos é o pai da única vítima sobrevivente, Max Rutherford Loudorn de vinte e quatro anos que passou por uma cirurgia e está bem.

Laila e Ursula seguraram em minha mão e me abraçaram tentando me consolar, mas não há nada que elas pudessem fazer para tirar a dor que eu estava sentindo. Nada se comparava aquilo. Aquela dor era terrível. Como se alguém estivesse me esmurrando no estômago e esmagando meu coração com as mãos. Tudo ao mesmo tempo.

É isso? Tudo o que fiz nessas últimas semanas foi ficar longe dele. Estúpido psicólogo. Tudo o que fiz nos últimos anos foi ser o maior desgosto que ele já teve e agora ele está morto? Quando foi a última vez que eu disse que o amava? Qual foi a última coisa que eu disse a ele? Senti as lágrimas escorrendo em meus olhos. Isso não é justo.

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