Capítulo 04: DIA 4 — 03h00min ás 04h00min | Conto: Crônicas de Perpetua: Homem Proibido — Livro Um

Capítulo 4

DIA 4 — 03h00min ás 04h00min

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M

inha cabeça doía devido à queda. Estava novamente caído naquele chão e tudo o que via era o teto cinca opaco sob minha cabeça. Olhei em volta e percebi que eu não era o único que estava acordando. Lucy, Ted e Rodolfo estavam com a mão na cabeça coçando os olhos sem saber o que tinha acontecido. A lareira agora não passada de um pequeno fiasco que quase já não iluminava mais o ambiente. Sentei-me no chão de madeira empoeirado e pelo som a chuva já não caia lá fora. Estava muito. Muito frio na verdade. Eu me arrepiei ao sentir a brisa passando por mim. Ben, Dorothy, Misty e Anita foram os últimos a acordar. Todos pareciam desnorteados imaginando o que teria acontecido.

- o que aconteceu? – perguntou Lucy sentada ao lado de Ted no sofá.

- nós caímos no sono – falei me levantando – literalmente – falei rindo do sarcasmo – eu desmaiei e dormi.

- vejam! – falou Rose apontando para a carne no centro em cima da mesa. Ela estava podre, cheia de larvas, mosquitos com um cheiro horrível.

Todos olharam para aquele pedaço de carne, mas ninguém disse nada. Foi como se uma luz se acendesse dentro de todos nós. Nós tínhamos nossas respostas. Olhei para o relógio e era pouco mais das três da manhã.

- você estava certo – falei para Ted – nós estamos dormindo por vinte e quatro horas seguidas.

- mas oque está fazendo com que a gente durma? – perguntou Anita se levantando.

- talvez seja algo no ar ou na comida – falou Benjamin.

- Eu não sei o que é, mas é algo forte porque eu acabei desmaiando aqui no chão mesmo – falei me sentando no sofá entre Lucy e Ted.

- você está bem? – perguntou Ted colocando a mão em meu ombro – se machucou?

- não, eu estou bem – falei engolindo em seco.

- nós precisamos nos preparar para sair daqui – falou Dorothy.

- você é louca? – falou Misty – e aqueles lobos lá fora que quase mataram Kyle?

- Dorothy tem razão – falou Ted – temos que sair daqui, não podemos passar o resto das nossas vidas aqui. Temos que sair daqui e quem sabe não encontramos a polícia ou alguém que possa nos ajudar.

- mas não hoje – falou Benjamin jogando mais lenha na lareira junto com o pedaço de carne podre – se a teoria estiver correta em três dias nós iremos acordar ás seis horas da manhã e será de dia. Nós teremos uma hora para caminharmos até cairmos no sono de novo.

- nós precisamos arrumar tudo e deixar ajeitado para quando esse dia chegar – falou Rose Rodolfo.

- concordo – falou Ted – nós só temos uma hora por dia então temos que aproveitar o máximo dessa hora.

- vamos nos juntar e colocar em mochilas tudo o que pode nos ajudar – falou Benjamin apontando para o porão – lá tem tudo o que precisamos para acampar. Barracas, alimentos, armas, facas… nós precisamos juntar tudo e deixarmos preparados para quando acordamos durante o dia.

- e se eles não deixarem nós sairmos? – perguntou Anita olhando em volta.

- eles quem? Os lobos? – perguntei.

- não. Quem está nos mantendo aqui, dopados – falou Anita apreensiva. Ela havia levantando uma ótima questão. Nós estávamos ali por um motivo, alguém nos colocou ali e talvez não quisesse que nós saíssemos.

- vamos ter que pagar pra ver – falou Ted colocando o restante das balas na arma – nós vamos sair daqui e se alguém tentar nos impedir eu vou meter bala – falou ele se levantando.

Eu forcei um sorriso para Ted que sorriu de volta pra mim. Ele estava disposto a acabar com todos que entrassem no nosso caminho e isso de certa forme fez eu me sentir um pouco mais seguro em meio a toda aquela bagunça.

- Anita, Misty – falou Benjamin delegando tarefas a todos – vocês duas vão em todos os quartos para tentarem encontrar algo que tenha passado despercebido.

- Okay – falou Misty se levantando com Anita e as duas subiram as escadas de mãos dadas. Benjamin olhou para Rodolfo.

- Rodolfo, você e Ted vão lá para o sótão e vejam o que tem por lá. Pode ser que haja armas ou algo para nos defendermos lá fora na floresta. Qualquer coisa ajuda.

- eu prometo que volto logo – falou Ted pressionando os lábios olhando para mim.

- tudo bem, vai lá.

- Rose, Dorothy e Lucy vocês três vão até o porão e peguem qualquer coisa que encontrarem para nossa sobrevivência. Não olhei tudo, mas acredito que deva haver kits de primeiros socorros por lá. Aquele lugar parece ter sido construído para sobreviver a uma guerra.

- Okay – falou Lucy olhando para mim enquanto se aproximava de Rose.

Benjamin entregou duas lanternas para as garotas irem até o porão.

- e eu? O que eu vou fazer?

- você vem comigo – falou Ted pegando uma lanterna e jogando na minha direção.

- onde nós vamos?

- você parece ser durão então nós dois vamos até o carro ver se conseguimos fazê-lo funcionar.

- Okay – falei ligando a lanterna.

Benjamin saiu na minha frente portando uma faca afiada e eu logo atrás iluminando o caminho. Nós caminhamos tentando não fazer barulho até que finalmente chegamos até o carro. Benjamin e eu entramos no carro e ele tentou dar partida, mas o carro não ligou. O motor fazia um som estranho.

- será que está sem gasolina? – perguntei olhando para Benjamin que apontou para o medidor mostrando que o tanque estava pela metade.

- deve ser outra coisa – falou ele saindo do carro e abrindo o capô do carro dando uma olhada no motor – fica de olho em volta se por acaso você ver alguma coisa você me fala.

- Okay – falei apontando a lanterna para a floresta sombria atrás de nós.

Fiquei olhando em volta enquanto Benjamin fazia sons mexendo no motor. Parece que ele tinha experiências em carros.

- o que há entre você e o engomadinho? – perguntou Ted.

- o que? – perguntei apontando a lanterna para ele que apertou os olhos.

- fica de olho na floresta.

- Okay – falei voltando a apontar a lanterna em direção ás árvores.

- eu perguntei o que há entre você é o engomadinho.

- Ted? Não há nada – falei respirando fundo sentindo uma brisa gelada passar por mim.

- é que eu tive a impressão de que tem algo entre vocês e não fui só eu que tive essa impressão.

- nós não temos nada. Já disse. Ele só é… legal. Tenta me proteger.

- você é bicha? – perguntou Benjamin.

- E-eu? Nã… não – falei engolindo seco.

- tem certeza? Porque aquela Misty é gostosinha e eu não vi você olhando para ela nenhuma vez.

Quando Benjamin disse aquilo eu ouvi um som de galhos se quebrando do lado direito e eu apontei a lanterna naquela direção.

- o que foi? – perguntou Benjamin.

- ouvi galhos se quebrando. Parece que veio dali – me aproximei dando alguns passos e outra vez ouvi galhos se quebrando.

- o que é Kyle? Vê alguma coisa?

- parece que tem um animal ali – falei vendo ele se aproximando em dois passos. Era um homem. Subi a lanterna pelas suas pernas e percebi que sua calça jeans estava rasgada, subi a lanterna pelo seu torso até que chegou em seu rosto. E foi nesse momento que eu senti um calafrio na espinha. Não era um rosto humano e sim uma cabeça de touro que estava babando. Ele me encarava como se fosse me atacar.

- corre Kyle – falou Benjamin entrando dentro do carro trancando as portas.

Aquela criatura com corpo de homem e cabeça de touro ficou me encarando. Ele não se moveu e eu não me atrevi a move r um músculo sequer. A última vez que encontrei com algo daquela floresta e corri eu quase fui morto. Não havia ninguém ali para me ajudar e o covarde de Benjamin não ligava para nada além do próprio umbigo.

- fica calmo! – falei para a criatura que virou o rosto me observando. Dei dois passos para trás e a criatura deu dois passos na minha direção – eu não vou te machucar – falei me abaixando e pegando um pedaço de pau que eu havia pisado – vai ficar tudo bem – Dei alguns passos para trás. A criatura ergueu a cabeça e soltou um mugido amedrontador. Um som animal misturado com um grito humano agonizante.

Aproveitei aquela deixa e sai correndo dando a volta no carro e a criatura começou a me seguir.

- abre a porta Ben! – falei batendo no vidro, mas ele não abriu a porta. Ele olhava aterrorizado para a criatura que parou do outro lado do carro e me encarou – abre a porta seu desgraçado!

Benjamin olhou para mim e lambeu os lábios sem mover um músculo sequer. Ele não estava nem ai pra mim. Só se preocupava com o próprio traseiro. Se ele não estava disposto a me proteger e olhar por mim eu faria o mesmo por ele.

Pensativo eu movi a lanterna de um lado para o outro e percebi que o homem Touro moveu o rosto na mesma direção. Ele parecia furioso e a baba gosmenta escorria por sua boca. Achei aquilo estranho. Eu apaguei a lanterna e percebi que o touro olhou de um lado para o outro confuso. Dei alguns passos e ele não me seguiu com o olhar. Só quando eu pisei em um galho que ele se moveu procurando de onde vinha.

- ele é cego! – falei baixo para mim mesmo – ele não conseguia ver nada no escuro apenas à luz da lanterna e quando eu pisei nos gravetos.

Olhei para Benjamin dentro do carro e olhei em direção a casa. Era um s cem metros até lá. Eu precisaria correr muito para não ser pego e precisava distrair o Homem Touro.

- abre à porta Benjamin, ele é cego! – falei baixinho me aproximando do vidro, mas Benjamin me ignorou.

Com a lanterna desligada eu comecei a bater o pedaço de pau no vidro do carro de Benjamin que começou a gritar.

- o que está fazendo? Kyle! O que está fazendo.

O touro ficou desorientado sem saber de onde vinha o som. Quando o vidro de quebrou Benjamin fechou os olhos ara se proteger. Eu acendi a lanterna e joguei ela dentro do carro e sai correndo torcendo para que ele não me seguisse pois ele parecia correr bem mais rápido do que um ser humano comum.

Ouvi Benjamin gritando e parei no meio do caminho olhando para trás. O Homem Tour havia puxado Benjamin pelos cabelos e dado uma mordida em seu ombro fazendo-o gritar enquanto o sangue escorria.

- me ajude! Me ajude! – gritou Benjamin quando o homem touro o puxou para fora do carro pela janela e o jogou no chão.

Eu me virei e continuei a correr e percebi que todos estavam na janela observando. Eu corri com todas as minhas forças e eu vi a porta da cabana se abrindo. Era Ted. Sua expressão era de terror – venha! Você consegue! – eu conseguia ler os seus lábios se movendo enquanto ele ansiava pela minha entrada.

Quando pisei na madeira da cabana e dei mais cinco passos entrando na cabana joguei meu corpo contra o de Ted e nós caímos na sala enquanto Lucy fechava a porta e Dorothy e Rose empurravam a mobília de volta mantendo-a fechada. Estava em cima de Ted. Ele se levantou me deixando deitado e colocou a mão na minha testa.

- você está bem?

- estou – falei tossindo sentindo minha boca seca.

Rodolfo se aproximou e abriu uma garrafa de água e jogou na minha boca me fazendo beber. Era um alívio.

- o que diabos era aquilo? – perguntou Anita ouvindo Benjamin gritar enquanto a criatura o mordia arrancando pedaços de seu corpo. A criatura berrou mais uma vez fazendo com que todos nós nos arrepiássemos.

- como nós vamos sair daqui com aquelas coisa lá fora? – perguntou Dorothy chorando.

- eu acho que são criaturas noturnas – falei me sentando. Todos olharam para mim.

- como assim? – perguntou Ted se abaixando.

- eles são cegos. Aquele Homem Touro, aqueles lobos de olhos amarelos… eles são criaturas noturnas e vieram até aqui por causa da luz. Eu não acho que eles andem durante o dia. Se eles estão acordados à uma hora dessas as chances deles serem noturnos são muitas. Vocês são acham?

- você pode estar certo – falou Misty.

- e Benjamin? O que aconteceu com ele? – perguntou Rodolfo.

- nós fomos lá fora para vermos se o carro estava funcionando e aquela coisa com cabeça de touro apareceu. Benjamin se trancou dentro do carro e me deixou de fora. Era eu ou ele – falei começando a me sentir mal.

- não se sinta mal – falou Ted – o covarde de deixou lá de fora. Vocês fez o que foi preciso pra sobreviver.

- eu sei – falei me levantando – eu sei – falei me aproximando da janela vendo que Benjamin estava morto lá no chão com sua cabeça aberta pela metade. A criatura estava de pé encarando a casa.

Apaguem o fogo – falei olhando para Rose que pegou uma das garrafas de água e apagou a lareira.

Anita e Misty subiram até o segundo andar e apagaram todas as luzes que estavam acesas. Nos ficamos na completa escuridão e depois de uns dez minutos encarando a casa a criatura pareceu desnorteada e começou a andar em direção á floresta.

Nós estávamos todos sentados no sofá na completa escuridão ouvindo os sons da floresta lá fora. Muita coisa passava por minha cabeça. Tudo o que Benjamin tinha dito antes de morrer e de querer me entregar à criatura como um banquete.

- você está bem? – perguntou Ted ao meu lado esquerdo chamando minha atenção.

- sim, eu estou.

- a culpa não é sua, ouviu? – falou Ted tentando me acalmar e me fazer pensar – Benjamin era um idiota e fez aquilo consigo mesmo. Ele era um covarde e bancava o durão.

- eu sei… é que ele disse algumas coisas antes de morrer que me deixaram um pouco bolado.

- o que?

- nada – falei respirando fundo – nada que vale a pena ser repetido.

- tem certeza?

- sim. Tenho – falei respirando fundo.

- acho que já podemos acender a lareira – falou Rodolfo pegando a lanterna e indo até o porão e pegando lenha. Ele usou um pouco de álcool e o isqueiro para voltar a acender a lareira.

Quando a luz do folgo voltou a iluminar a sala o relógio marcava três e quarenta e três da manhã. Faltava pouco para cairmos no sono de novo e sinceramente eu já me sentia cansado novamente. Aquilo tudo estava sendo muito estressante.

- pessoal precisamos nos organizar – falou Ted se levantando – nós temos duas noites até que seja de manhã. A próxima vez que acordarmos será quatro horas, depois as cinco e finalmente as seis. Será quando vamos partir daqui. Hoje nós já fizemos muito. Temos duas noites para juntarmos tudo e nos prepararmos para acordarmos dispostos na terceira noite, pois o sol irá nascer.

- concordo – falou Rodolfo – seja lá o que encontremos lá fora precisamos estar preparados para acampar e atacar. Hoje foi apenas uma mostra de que seja lá o que está acontecendo está além do que conhecemos.

Depois de comermos algo decidimos ir parar nossos quartos dormir para descansarmos, evitar que alguns de nós desmaiássemos de novo de sono. Agora que Lucy estava aqui Ted se ofereceu para dormir no sofá na sala para que eu e Lucy dividíssemos a cama.

Lucy e eu entramos para o quarto e nos deitamos de costas um para o outro. Lucy não era exatamente uma amiga, apenas uma colega muito inteligente com a qual eu gostava de estudar às vezes. Faltava ainda dez minutos para ás quatro da manhã e Lucy já tinha adormecido por conta própria. Eu por outro lado não estava com nenhum pouco de sono, mas sabia que em alguns minutos ele tomaria conta de mim querendo ou não.

Muita coisa estava em minha cabeça. Se não estivéssemos nessa realidade maluca eu provavelmente passaria a noite acordado pensando em tudo o que aconteceu. Levantei-me para poder tomar um pouco mais de água antes de cair no sono. Desci as escadas e no alto vi Ted deitado no sofá com a carteira aberto olhando para uma foto. Ele parecia estar chorando em silêncio. Desci as escadas devagar e nos últimos degraus eles se rangeram.

- oi? – falou Ted se olhando para mim.

- me desculpa não queria atrapalhar.

- você devia ir se deitar antes de desmaie de novo – falou Ted se sentando no sofá deixando o cobertor escorrer por seu corpo revelando que ele estava sem camisa. Um forte peito com alguns cabelos castanhos preenchendo seu corpo.

- eu só queria tomar um pouco de água – falei me sentando do lado dele – o que você estava olhando?

- a foto da minha noiva – falou ele limpando os olhos.

- você estava chorando?

- sim – falou ele respirando fundo me entregando a foto três por quatro de sua noiva.

- porque?

- porque eu nunca mais vou vê-la.

- porque você acha isso?

- depois do que vimos hoje você realmente acha que existe alguma chance de eu vê-la com vida?

Eu não me atrevi a responder o óbvio. Eu também não tinha nenhuma esperança de que minha família estivesse viva. A essa altura eu nem sabia se nós estávamos vivos. Achava que talvez estivéssemos em um tipo de inferno ou purgatório pagando pelos nossos pecados.

- ela é bonita – falei entregando a foto para ele.

- ‘era’ – falou ele se levantando e jogando a foto dela na lareira.

- não! Porque você fez isso?

- não tem porque ficar olhando uma foto se eu não vou poder vê-la pessoalmente novamente – falou ele voltando a se sentar do meu lado.

- tenha um pouco de esperança. Talvez ela esteja bem.

- gosto de você – falou ele sorrindo – você é otimista. É bom ser otimista, quando era jovem tinha muito disso em mim.

- pois é.

- o que Benjamin te disse antes de morrer?

- eu não quero falar sobre isso.

- Vamos. Me diga.

- ele perguntou se eu era ‘bicha’.

- idiota imbecil – falou Ted com raiva.

- e perguntou se nós dois tínhamos alguma coisa. Ele te chamou de ‘engomadinho’.

- e o que você disse?

- que não.

- só isso? Você devia ter dito todo o discurso sobre respeito.

- a minha vida toda fui ensinado a esconder quem eu sou. Minha mãe e meu padrasto me ensinaram que era vergonhoso e errado ser gay. Que era pecado e que o inferno me aguardava. Essas coisas que as pessoas usam como desculpa para ter preconceito.

- eu te acho corajoso – falou Ted lambendo os lábios.

- por quê?

- por ser quem você é. Se assumir. Com tanto preconceito que existe por ai acho muito corajoso da sua parte por se assumir. Você está de parabéns.

- obrigado – falei sem graça – acho que vou beber minha água e voltar o quarto.

- não dá tempo – falou Ted apontando para o relógio – faltam três minutos. Deixa pra beber essa água depois.

- será rápido – falei me levantando e pegando a garrafa de água e começando a tomar alguns goles. Ted se deitou no sofá e estendeu a mão.

- deita aqui comigo, você não pode arriscar subir as escadas e desmaiar. Você sobreviveu a lobos, a um homem com cara de touro, seria uma morte bem idiota cair de uma escada – falou ele rindo.

- eu vou subir correndo.

- não, vem aqui – falou Ted me chamando com a mão.

Olhei para as escadas á minha direita e para o homem deitado há minha frente pedindo que eu me aninhasse a ele. Era uma fácil decisão.

- Okay – falei me sentando no sofá e tirando os meus tênis – esse sofá é muito apertado para nós dois – falei me deitando e Ted jogou o cobertor por cima de nossos corpos e passou o braço por mim me fazendo ficar junto dele.

- é bom estar aconchegado a alguém – falou ele rindo. Senti sua respiração em minha nuca.

Por alguns segundos ficamos ali deitados. A respiração ode Ted em minha nuca. Engoli em seco e me forcei a virar no sofá ficando de frente para Ted. Seu rosto bem próximo ao meu. Podia sentir sua respiração em meu rosto.

- você acha que eu teria sido um bom pai? – perguntou Ted.

- sim – falei olhando profundamente em seus olhos – você salvou minha vida tipo umas dez vezes – falei rindo.

 Sei lá… é bom sentir que tem algum motivo para eu estar aqui. Salvar você é um bom motivo – falou ele rindo.

- faz tanto tempo que não tinha ninguém por mim nesse mundo, ninguém para me salvar ou para conversar. Quem diria que no meio de uma floresta dentro de uma cabana abandonada com um monte de estranhos eu encontraria alguém que se importasse comigo.

- quem diria? – falou Ted rindo – eu estou me saindo um paizão.

- o melhor pai do mundo – aproximei meu rosto do dele e dei um tímido selinho em sua boca. Ted não pareceu surpreso ao receber o meu beijo. Era como se ele já esperasse por aquilo. Ele continuava com aquele sereno olhar e apertou os lábios

- eu devia esperar por essa – falou ele rindo.

- desculpa – falei respirando fundo – é que esse lugar está me deixando louco.

- não tem problema – falou Ted passando o braço por mim pressionando minhas costas me fazendo ficar bem mais juntinho dele – é bom ter alguém para poder me aconchegar.

- não tem medo de ‘ir pro inferno’?

- Nós já estamos no inferno – falou ele com um meio sorriso – tivemos a sorte de estarmos aqui ao mesmo tempo – falou ele beijando minha boca. Ele mordeu meus lábios e nossas línguas se encontraram. Era gostoso ter alguém em meio a tudo aquilo. Meu primeiro beijo. Pelo menos em um homem. Depois de algumas namoradas de faixada eu apenas desisti te tentar esconder quem eu era.

Levei minha mão até o rosto de Ted e acariciei seu rosto enquanto nos beijávamos. Deslizei minha mão pro seu rosto até seu ombro e cheguei as suas costas acariciando sua cintura. Pouco a pouco nossos lábios foram perdendo as forças e nossos corpos se entregaram ao profundo dono ao qual seriamos submetidos. Pelo menos dessa vez nós não nos sentiríamos sozinhos. Eu via Ted como o pai que não tive depois que o meu morreu. Uma figura paterna acalentadora. Espero que estejamos certos e que em três dias o sol nasça novamente. Apesar de que nesse momento – aninhado junto a Ted – essa é a minha última preocupação.

Espero que tenham gostado. E vamos que vamos.