Capítulo 31: Cruel Paternidade | Conto: Cruel Sedutor

XXXI

Cruel Paternidade

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É

 incrível como uma situação pode criar uma pessoa e muda-la completamente. A maioria das pessoas não tira uma lição de vida quando passam por uma situação ruim. No meu caso eu não tive escolha. Bem, na verdade eu tive. Eu podia simplesmente ignorar o fato de que me tornei pai aos vinte e quatro anos, mas isso não serve pra mim. Muitas pessoas veriam o bebê como uma lembrança constante de tudo que aconteceu de ruim comigo e eu respeito isso. Só que não pra mim. O bebê pra mim representa tudo aquilo de bom que surgiu desde que ele tinha nascido. É claro que eu estava cheio de cicatrizes. Eu podia tocá-las, eu podia vê-las, eu sabia a dor que elas me causaram, mas já não me incomodam mais. Quando eu olho para o rostinho do meu filho – ainda é estranho dizer isso – eu vejo a minha inocência. Ele tem as minhas mãos e eu não vou cometer o erro de tirá-las dele.

Pouco mais de dez dias se passaram desde que os membros da seita foram presos. A cidade meio que passou por uma crise. Dois membros da polícia incluindo o delegado estavam envolvidos com os crimes e o pelo o que fiquei sabendo através de Judy que me visitava a cada dois ou três dias é que o prefeito andava sendo pressionado por uma solução. Os cidadãos estavam assustados e muitos não se sentiam mais seguros na mão da polícia. Eu estava de licença por causa dos meus machucados e só retornaria em alguns dias e estava aproveitando para cuidar do meu filho.

Transformei um dos quartos de hospedes que tinha na casa da minha família em um quarto de bebê. Minha mãe e meu pai compraram o enxoval para Roger. Esse foi o nome que escolhi para meu filho. Roger Illtyd Anthony. Depois de um exame de DNA eu consegui registrá-lo como sendo meu filho. Não havia o nome da mãe. Eles deixaram bem claro que era provisório já que Anne e Clyde estavam me processando pela guarda dele. Na verdade era só Anne, mas Clyde havia escolhido ficar do lado da filha então de certa forma eu o colocava no meio.

O quarto estava todo enfeitado e cheio de presentes que todos trouxeram para mim. Incluindo balões amarelos que formavam o nome dele ‘ROGER’ que Cory havia trago.

- não vou deixar nada acontecer com você Roger – falei acariciando seu pequeno rostinho no berço – ‘Incondicionalmente, eu vou te amar incondicionalmente… ’ – cantei enquanto sorria para Roger que se debatia no berço.

- como está meu neto? – perguntou minha mãe entrando no quarto Roger no berço.

- está ótimo – falei brincando com ele – não é bebê? Papai está aqui.

- Clyde ligou no meu celular… - falou minha mãe.

- sim, porque eu bloqueei as chamas dele.

- ele quer conversar com você.

- e a senhora disse pra ele que eu não tenho nada pra conversar com ele pelo telefone? Se ele quiser conversar comigo ele que venha até aqui.

- conversa com seu noivo filho…

- ex-noivo mãe – falei pegando Roger no berço.

- deixa eu pegá-lo – falou minha mãe esticando os braços e pegando Roger.

Clyde e Anne decidiram internar Tessa em uma clínica para doentes mentais por ordem do juiz que depois de uma avaliação psiquiátrica considerou Tessa mentalmente incapaz. Como o público ficou indignado com essa decisão a única solução foi levar Tessa para São Petersburgo que fica a cento e setenta e oito quilômetros de Orlando. Eu entendo que Tessa é filha de Clyde. De Verdade. Algo mudou dentro de mim quando eu percebi que era pai. Eu sei como é o sentimento de querer dar a sua vida incondicionalmente ao seu filho, mas eu não posso perdoar Tessa depois de tudo o que ela fez comigo. Ela ajudou aqueles malucos a se aproximarem de mim, ajudou eles a matarem Omar. Ela ajudou no meu sequestro e ficou apenas olhando enquanto eu era estuprado de novo e de novo por aqueles homens.

A minha sorte é que nenhum daqueles homens tinha doença. O pior seria descobrir que eu tinha pegado algo depois daquele Estupro Grupal, mas Graças a Deus, Buda, Maomé, Krishna e Alá eu estava bem e nada além das cicatrizes externas. Roger me fez ter forças que antes não sabia que possuía. Se ele não estivesse aqui talvez eu estivesse pior, com depressão e em choque por tudo o que aconteceu, mas ele despertava o melhor em mim e me fez querer continuar.

- para que dia está marcada a audiência sobre a custódia de Roger? – perguntou minha mãe.

- para daqui a duas semanas – falei respirando fundo.

- e você já tem um advogado?

- não. Eu preciso procurar um urgente.

- vai ficar tudo bem filho. O juiz vai entender que o melhor para Roger é ficar com você.

- espero que sim.

- se você quiser sair pra resolver esse problema eu não me importo em ser babá dele – falou minha mãe com um sorriso.

- obrigado mãe – falei dando um beijo no rosto dela – te amo – fui até o bebê e dei um beijo em seu rosto – papai não demora.

Peguei um Uber e pedi que me deixasse no distrito policial de Downtown no Metrowest. Talvez Cory ou alguém da delegacia conhecesse. Depois de alguns minutos em viagem eu peguei meu celular e desbloqueei Clyde. Se ele me ligasse eu conversaria com ele. À medida que fui me aproximando percebi que algo estava acontecendo. Vi os carros de todos os canais de TV e a impressa formava uma pequena multidão juntamente com alguns cidadãos que pareciam curiosos.

- o máximo que posso te deixar é aqui – falou o motorista de Uber parando ao ver a multidão.

- não tem problema, obrigado – falei pagando a corrida e caminhando até a multidão. Vi que havia um microfone e um pequeno palco preparado para uma coletiva de imprensa.

Ao me aproximar as pessoas começaram a gritar e vieram até mim tirando fotos e a imprensa se aproximou ‘como você está?’, ‘É verdade que a mãe de Tessa está pedindo a guarda do bebê?’

- qual o nome do bebê? – perguntou um repórter colocando o microfone na direção da minha boca.

- Roger – falei sem conseguir me mover – Roger Anthony.

- se afastem! Vamos! – falou Blacke e Vince se aproximando de mim e segurando em meu braço me guiando para fora da multidão até que chegamos a calçada da delegacia e nós entramos.

- o que está acontecendo aqui? Alguém morreu? – perguntei olhando em volta enquanto nós entramos no elevador.

- não – falou Blacke rindo – chega de tragédias.

- é que o prefeito fará uma coletiva de imprensa para anunciar o novo delegado – falou Vince quando a porta do elevador se abriu.

- e quem será?

- ele – falou Blacke apontando para um homem que estava dentro da sala de Cory junto com o prefeito da cidade de Orlando. Um homem alto de barba, topete de terno com um meio sorriso no rosto rindo de algo que o prefeito ou Cory tinha dito – Ele se chama Roderick Dooley Maddox. Um detetive condecorado do distrito de Winter Park.

- eu queria conversar com Cory será que eles vão demorar?

- quando fiz essa pergunta vi que o prefeito olhou para minha direção e Cory fez o mesmo. O prefeito saiu da sala e veio andando na minha direção.

- merda! – falei baixo forçando um sorriso enquanto o prefeito se aproximava com a mão esticada.

- Stanley Anthony? – perguntou o prefeito.

- sim senhor prefeito. É uma honra conhece-lo.

- eu digo o mesmo – falou o prefeito – você chegou em um momento perfeito – falou ele olhando para trás enquanto Cory e o delegado Roderick se aproximavam.

- como assim? Momento perfeito?

- eu vou anunciar o novo delegado desse distrito – falou ele colocando a mão no ombro de Roderick que estendeu a mão para mim – Roderick esse daqui é o Stanley Anthony.

- ouvi falar dele – falou ele apertando forte minha mão.

- eu queria poder dizer o mesmo de você – falei brincando.

- seria perfeito se você estivesse lá conosco quando anunciarmos. Você ao lado do novo delegado mostraria a população de Orlando e eu país que você confia na nossa escolha e que se sente seguro.

- Eu confiei no antigo delegado e ele… deixa pra lá – falei respirando fundo.

- não se preocupa – falou o delegado com um meio sorriso para mim – comigo você está seguro.

- espero que sim – falei olhando para Cory – posso conversar com você?

- claro – falou Cory – vamos até minha sala.

- o que você diz Stanley? – perguntou o prefeito.

Eu queria poder dizer ‘não’ a um pedido do prefeito feito pelo prefeito em pessoa, mas acho que não tinha escolha.

- sim, claro.

- ótimo – falou ele animado – a coletiva de imprensa está marcada para ás dez – falou ele olhando para o relógio – não demore.

- tudo bem – falei seguindo Cory que fechou a porta de sua sala.

- o que foi? Algum problema com Roger?

- não o pequeno Roger está bem – falei me sentando na cadeira – eu queria saber se você podia me indicar um bom advogado para cuidar do meu caso.

- claro – falou Cory pegando o celular.

- espero que isso não cause nenhuma animosidade entre você e Clyde afinal vocês são amigos.

- relaxa. Vamos ficar bem – falou ele anotando o número do advogado – como você e Clyde estão?

- não estamos – falei rindo.

- o que isso quer dizer? – perguntou Cory.

- eu não sei. Clyde está a mais de cento e cinquenta quilômetros de mim faz mais de dez dias e tudo o que ele tem feito é ligar, mas eu não atendo.

- atenda e ouça o que ele tem a dizer.

- a última vez que nós conversamos que foi pessoalmente ele estava tentando me convencer de que era melhor que Roger ficasse com Tessa. Que eles não queriam retirar meus direitos e que como pai eu poderia visitá-lo. Eu não quero um fim de semana com meu filho a cada quinze dias. Eu quero fazer parte da vida dele. Eu não vou abrir mão do meu filho. Especialmente para que ele esteja em contato com uma maluca.

- vice não concorda que ela esteja internada ao invés de presa?

- Olha Cory eu acredito sim que ela estava vulnerável e não sei o que lá. Você tem que tirar coisas boas dos problemas que tem na vida. Você não viu tudo o que aconteceu comigo? Agora eu tenho um filho. Tessa passou por um momento trágico, gravidez na adolescência e sofre um aborto e o que ela fez? Mata? Parece que todo mundo esqueceu-se das vítimas que aquela seita fez: Omar, Paul, Harry, Amy, Krista… e um monte de gente que eu nem lembro o nome. Sofrer não é desculpa para matar. Todo mundo tem problemas. Eu sei que ninguém é santo. Todo mundo tem algo de bom e de ruim dentro de si. Não é isso que te define é a forma com a qual você escolhe viver. Qual dos lados você escolhe.

- a quanto tempo você vem ensaiando esse discurso - perguntou Cory rindo me entregando o papel.

- eu disse isso a Clyde umas dez vezes e parece que entre em um ouvido e sai pelo outro – falei respirando fundo – Tessa nunca vai sair daquele hospital psiquiátrico. Se ela sair ela será presa. Anne é que está querendo criar o filho de Tessa. Ela sente como se tivesse errado com Tessa e quer corrigir os erros no bebê. Eu sei que é isso. Se a mãe está presa o bebê tem que ficar com o pai.

- só pra você saber – falou Cory se levantando – eu estou do seu lado.

- obrigado – falei abraçando-o.

- ligue para esse advogado – falou Cory. Ele é novo, mas isso não é uma coisa ruim. É uma coisa boa.

- Okay – falei lendo o nome do advogado Joseph ‘Joe’ Baez – eu vou ligar para ele. Obrigado.

Nós saímos da sala e o prefeito caminhou na minha direção. Ele estava sério.

- a coletiva de imprensa vai começar – falou ele de frente para mim – vamos?

- claro – falei colocando o papel no bolso – será que não era melhor eu estar com um terno ou algo assim?

- não. você está perfeito – falou a assessora de imprensa do prefeito olhando para mim – um garoto simples, uma vítima, um sobrevivente.

Nós entramos no elevador e ao chegarmos no lobby vi o novo delegado conversando com Blacke, Judy e Vince. Eles estavam de uniforme. Aproximei-me deles e Judy me deu um abraço.

- você está bem?

- estou ótimo – falei olhando para o delegado que ficou me encarnado por alguns segundos e em seguida olhou para frente.

- como está o Roger?

- está bem. Fofo – falei rindo.

- você está se saindo um ótimo pai – falou Blacke.

- ainda acho estranho pensar que sou pai.

- é assim mesmo – falou Blacke – depois você se acostuma.

O prefeito passou por nós e todos os policiais daquela delegacia saíram para fora e se alinharam atrás do prefeito que começava a dizer algumas palavras. A imprensa tirava fotos e filmava. Certeza que seria noticia nacional.

- está nervoso? – perguntou o delegado para mim.

- estou – falei olhando para ele – eu não costumo ser o centro das atenções.

- eu também não – falou ele rindo e virando o pescoço como se estivesse relaxando – já dei coletivas de imprensa umas três vezes e até hoje não me acostumei.

- tenho certeza de que eu também não me acostumaria. Não nasci para estar em frente às câmeras. Nasci para estar atrás delas usando uma luva – falei brincando.

O prefeito Buddy Dyer então disse o nome do delegado Roderick Maddox nós batemos palmas e ele caminhou até o microfone. Eu estava do lado direito do pequeno palco enquanto Roderick dizia algumas palavras. Ele falava algo sobre segurança, sobre a cidade precisar de uma nova direção e sobre a responsabilidade de ter sido indicado a um cargo tão importante. Em um momento ele estendeu a mão como se estivesse me mostrando ‘Ele é um sobrevivente, um símbolo de superação’. Eu me aproximei dele e o delegado colocou a mão em meu ombro. Eu apenas apertava os lábios e observava enquanto todos tiravam fotos.

A imprensa fez perguntas sobre o papel de detetive Hugo nos crimes, sobre a avaliação psicológica aplicada durante o processo da policia, sobre os erros que as investigações sofreram entre outras coisas. Eu não liguei muito para tudo aquilo. Depois de um obrigado o prefeito, o delegado e eu saímos do pequeno palco e a coletiva de imprensa terminou. O delegado foi até o elevador e eu fiquei no lobby com os meus colegas policiais.

Depois de me despedir de todos eu liguei para o número que Cory me deu e tive uma breve conversa com o advogado Joe Baez que me deu o endereço de seu escritório para que eu fosse até lá. Antes de ir fui até em casa e peguei todos os meus documentos e o que tinha de Roger até aquele momento. Ao chegar em seu escritório sua secretária pediu que eu aguardasse então o advogado apareceu com um largo sorriso. Eu já o tinha visto algumas vezes na delegacia.

- boa tarde Stanley – falou ele apertando minha mão – vamos até meu escritório.

Eu o acompanhei e ao entrar em sua sala entreguei a documentação provisória que tinha de Roger. Joe deu uma olhada e em seguida pesquisou algo no computador e olhou para mim.

- o que você acha Dr. Baez? Existe alguma chance de eu perder a guarda de Roger?

- eu não descartaria essa possibilidade Stanley. É claro que como pai biológico você tem todo o direito á Roger. Ele é seu filho.

- então porque existe um risco?

- eu vou ligar para o escritório do juiz e para o advogado de Anne Holloway e pedir o relatório do pedido de adoção. Eu ainda não sei o motivo que ela está alegando, mas eu tenho certeza de que ela está pedindo a guarda de Roger se baseando em sua saúde mental. Que você está estável assim como Tessa.

- mas isso é mentira. Eu passei por tudo o que passei, mas estou bem.

- eu sei… - falou o advogado olhando para minha – você entende que algumas pessoas podem olhar para sua mão e pensar que você tenha menos capacidade do que uma pessoa que tenha uma mão com cinco dedos.

- Eu sei Dr. Baez e você precisa fazer com que o juiz perceba que isso não tem nada a ver. Toda a minha vida as pessoas me chamaram de ‘garoto lagosta’ de ‘aberração’ e Tessa tem a aparência de uma estrela de cinema com um lindo rosto e belos olhos azuis, mas no fundo ela é a maior aberração de todas.

- só um minuto – falou o advogado pegando o telefone e ligando para o escritório do juiz pedindo o telefone do advogado de Anne que em uma breve conversa disse que enviaria por fax as alegações de Anne e o pedido de adoção.

A secretária de Joe me trouxe água, suco e por fim eu apenas neguei tudo o que ela me trouxe. Eu estava ansioso para saber o que diria naquele pedido de custódia.

- chegou! – falou o advogado chegando com várias folhas na mão se sentando e dando uma lida rápida.

- e então?

- eu estava certo – falou ele ainda olhando para os papéis – eles atestam sua saúde mental, dizem que você não é capaz de criar uma criança que é muito jovem.

- mas isso é idiota. Isso não tem nada a ver.

- tem outra coisa – falou o advogado – eles estão alegando que devido as condições que Steven nasceu ele…

- não é Steven. É Roger – falei com raiva

- Perdão é que no processo está Steven – falou ele respirando fundo – Anne alega que devido às condições que o bebê nasceu ele precisa de um ambiente estável com um pai e uma mãe.

- um pai e uma mãe? Quer dizer que toda mãe ou pai solteiro é incapaz de criar uma criança?

- talvez isso seja um problema – falou o advogado – eles tem um bom caso. Nesses casos o juiz decide o que é melhor para a criança.

- mas eu não entendo… quem seria o pai de Roger?

- Clyde Adamson Darius Holloway – falou ele olhando para mim.

- Clyde? Mas ele está se divorciando da esposa, nós dois… nós dois…

- aqui diz que eles adiaram o divórcio e que estão procurando aconselhamento para resolver os problemas do casamento.

- o que? – perguntei surpreso.

- olha Stanley… todos na delegacia sabem sobre você e Clyde, eu também sei por que vou à delegacia muitas vezes durante a semana. Eu sei que vocês estão ou… estavam juntos, eu não sei, tudo o que sei é que Clyde está ficando do lado da filha do mesmo jeito que você está ficando do lado do seu filho.

- há chances de Tessa sair do hospital psiquiátrico?

- sempre – falou o advogado – pode levar meses, pode levar anos, mas existe a chance do psiquiatra dar alta para Tessa e considera-la apta para viver em sociedade.

- mas isso é injusto. Eu sou a vítima. Roger é a tímica. Porque estão me tratando como se eu fosse o acusado? Porque estão questionando minha sanidade mental quando foi ela que fez tudo aquilo?

- Nesses casos eu não posso prometer que você ficará com Roger, mas eu posso prometer que darei o meu melhor se você me contratar.

- Okay – falei respirando fundo.

- obrigado por confiar em mim – falou o advogado apertando minha mão quando me levantei.

- eu peço que faça o seu melhor Dr. Baez. Eu tomei algumas decisões erradas em minha vida, muita decisões que eu me arrependo amargamente e se tem uma coisa que eu não me arrependo é de ter esse filho. Tudo o que eu sofri, tudo o que passei se resume a esse bebê. Eu o amo, ele é parte de mim. Se eu perder a guarda dele eu não sei se vou ter forças pra continuar vivo sabendo que está sendo cuidado por outras pessoas.

- eu prometo. Eu prometo.

Sai do escritório do Dr. Baez chorando. As lágrimas escorrendo por meu rosto ao descobrir que Clyde ficaria ao lado de Anne para tentar tirar o meu filho de mim. Eu não ligo se ele quer que a filha esteja em um hospital ao invés de uma prisão, mas porque ele quer tirar o bebê de mim? Eu sei que ele ama a filha, mas parte de amar é saber quando eles fazem algo errado. Entendo que ele não quer escolher um lado, mas ele está agindo como se estivesse contra mim.

Peguei um Uber de volta para casa e ao chegar fui até a cozinha e vi Clyde sentado com Roger nos braços. Ele brincava com o bebê. Minha mãe e meu pai estavam junto com ele. Ao me ver Clyde deu um sorrido e se levantou.

- você não atende minhas ligações então eu decidi vir.

- devolve meu filho – falei me aproximando de Clyde e ele colocou o bebê em meus braços – o que está fazendo aqui?

- vim conversar com você meu amor.

- mãe leva o Roger lá pra cima – falei entregando Roger para minha mãe e meu pai que saíram da cozinha nos deixando a sós. Meus olhos ainda estavam vermelhos do choro. Eu estava com muita raiva.

- precisamos conversar.

- não tenho nada pra conversar com você – falei com raiva – eu acabei de vir do escritório do meu advogado. Ele disse que você e Anne estão pedindo a custódia de Roger. Não é só Anne. Você e Anne.

- eu posso explicar Stan. Apenas ouça.

- estou ouvindo.

- vamos ser sinceros. O bebê estará melhor se for criado em um lar estável com um pai e uma mãe.

- isso é tão idiota – falei limpando meus olhos.

- você poderá visita-lo sempre que quiser. Prometemos.

- e nós? Você acha que existe alguma chance para nós?

- Anne e eu vamos continuar casados apenas para criarmos o Steven.

- é Roger. O nome dele é Roger – falei gritando com raiva.

- Okay, Roger – falou ele lambendo os lábios – nós podemos ficar juntos. Depois de alguns anos Anne e eu nos divorciamos e ela cria o bebê.

- você é maluco Clyde? Eu sabia que tinha sido um erro ter ficado com você – falei rindo – você é um sedutor. Um lindo e gostoso sedutor. Tem os lábios doces e um caralho duro, mas você não passa de uma tentação que entrou em minha vida para arruinar o que sobrava dela – falei rindo do sarcasmo –Você é cruel Clyde. Um cruel sedutor que entrou na minha cabeça e me seduziu com promessas vazias. Você quer tirar o bebê dos meus braços, quer continuar casado com Anne e espera que eu seja seu amante? Quer voltar ao ponto de partida em que fazíamos sexo enquanto Anne estava no trabalho?

- não diz essas coisas – falou Clyde com lágrimas nos olhos – eu te amo.

- eu também te amo Clyde, mas existe um limite pra tudo na vida. Inclusive no amor. Eu já sofri tanto até aqui e no momento em que eu posso ter um pouco de paz você vai me fazer passar pelo inferno de novo? Você devia ser a voz da razão na cabeça de Anne. Fazer com que ela desista dessa ideia maluca de querer criar um filho que não é dela. Ao invés disso você está aqui dizendo que me ama e que o bebê precisa de uma mãe e de um pai para ser bem criado? Que precisa de um lar estável?

- você precisa cair na realidade Stanley. Você nunca vai ganhar a guarda do Steven… Roger. Você é que está se jogando nesse inferno lutando por algo que não vai ganhar. Que juiz no mundo daria um bebê a um gay solteiro ao invés de um casal de heteros? Deixe que Anne cuide dele para que possamos ficar juntos.

Aquelas palavras doeram. Clyde não se considerava gay? Ou pelo menos bi? Eu nunca liguei para rótulos, por esse motivo nunca perguntei o que ele considerava ser. Acho que desde que você goste e sinta a atração rótulos não importam, mas ele estava me menosprezando por ser gay.

- sabe qual foi o maior erro que eu cometi na vida? Inicialmente eu pensei que o maior erro que eu tinha cometido na vida foi não ter feito a cirurgia na mão afinal se eu tivesse feito à cirurgia essa seita não teria existido, mas agora eu percebo que o maior erro que cometi na vida foi ter me apaixonado por você.

Engoli o choro e respirei fundo. O meu corpo doía, parecia que tinha corrido uma maratona. Clyde ter aparecido foi um erro. Eu apenas estava abrindo os olhos para a verdade.

- eu te amo tanto Stanley, mas Tessa e Anne precisam de mim. Querendo ou não eu ainda sou casado com ela e tenho uma filha que está em um hospital psiquiátrico por ter matado… - ele começou a chorar ao dizer aquelas palavras – por ter feito coisas horríveis com pessoas, com você…

- Engraçado – falei rindo – onde estavam seus votos quando me comeu enquanto sua mulher trabalhava? – falei me sentando no banco próximo ao balcão – a culpa é minha. Estou simplesmente recebendo o troco por ter sido um amante. Eu cometi erros e estou pagando por eles – respirei fundo e olhei para Clyde com lágrimas nos olhos – acho bom você devolver aquelas alianças.

- não diz isso… - falou Clyde se aproximando.

- acabou Clyde. ‘Nós dois’ é um erro que não deveria ter acontecido – falei rindo – o engraçado é que eu tenho certeza de que se eu tivesse me masturbado pensando em você nada disso teria acontecido.

- nada do que eu sinto por você mudou – falou ele se aproximando o suficiente para que eu sentisse sua respiração em meu rosto – O casamento com Anne será de faixada apenas para ela poder adotar o bebê.

- você está ajudando ela atirar o meu filho de mim. Acha que existe alguma chance para nós dois depois disso? A cada segundo a admiração e a paixão que eu sentia por você estão de desvanecendo e se transformando em remorso e arrependimento.

- não faça isso com nós dois – falou ele dando um selinho na minha boca. Eu correspondi por alguns segundos e então o empurrei de leve me levantando.

- você é uma cobra Clyde. Sedutor, você me tentou com a maçã e me ofereceu o paraíso – falei caminhando para fora da cozinha – acabei engasgado queimando no  inferno.

Limpei ás lágrimas de meus olhos e subi as escadas indo até meu quarto onde estava minha mãe sentada na cama brincando com Roger. Fechei a porta e me escorei na porta pensativo.

Espero que tenham gostado ;)