Capítulo 32: Cruel Derrota | Conto: Cruel Sedutor

XXXII

Cruel Derrota

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O

 dia da audiência tinha finalmente chegado. Era também o meu primeiro dia de volta ao trabalho. A cidade parece ter voltado ao normal depois que o prefeito havia anunciado o novo delegado do nosso distrito policial. As coisas foram voltando ao normal calmamente. O meu amor por Roger cresci a cada dia e aquela sensação de que tudo daria errado e eu perderia Roger começou a possuir o meu corpo. Eu não conseguia imaginar a minha vida sem ele. Imaginar que Clyde e Anne o criariam como se fossem deles para que um dia Tessa assumisse a maternidade da criança. Eu nunca permitira isso. Preferia pegar Roger e fugir pra bem longe. Já tinha fugido uma  então não seria difícil fazer isso de novo.

É claro que Roger às vezes me mantinha acordado e hoje não foi exceção. Ele chorou a noite inteira. Acho que até ele estava sentindo aquela vibração de que tudo daria errado e que ele não passaria outra noite naquela casa. Eu já estava tão nervoso e ansioso que mal conseguia dormir e Roger ter gritado e chorado a noite inteira não ajudou. Minha mãe se ofereceu para cuidar dele para que eu pudesse dormir, mas eu não aceitei. Ele era minha responsabilidade e não dela. Eu precisava ser pai já que queria tanto que Roger continuasse em mina vida.

Sentia-me um pouco sozinho depois que Clyde e eu terminamos. Não tinha ninguém para conversar, para poder desabafar. Mya acabou voltando para a casa dos pais depois de tudo o que aconteceu em relação ao culto. Os pais finalmente aceitaram que Mya fizesse o curso que quisesse na Universidade. Quase perder a filha fez com que eles abrissem os olhos para o que era mais importante no mundo do que a carreira profissional: a felicidade da filha deles.

Era de manhã cedo e eu tinha acabado de vestir minha roupa, uma camiseta, uma calça jeans, tênis e passado o meu perfume favorito. Estava pronto para o inicio de uma nova era em minha vida. Desci as escadas e fui até a cozinha. Meu pai estava fazendo o café da manhã e minha mãe estava sentada lendo o jornal.

- bom dia pai – falei me sentando a mesa dando um beijo no rosto da minha mãe.

- eu não ganho um beijo?

- claro pai – falei me aproximando e dando um beijo no rosto dele.

- onde está Roger? – perguntou minha mãe quando eu voltei a me sentar á mesa.

- está dormindo.

- aquele pirralho não me deixou dormir – falou meu irmão Nick.

- não seja malvado Nick.

- não estou sendo malvado estou sendo sincero. No fim das contas eu sou o tio legal, o que vai dar a primeira cerveja e essas coisas - falou Nick se levantando e colocando café em uma xícara – você precisa disso – falou Nick – está com uma cara péssima.

- eu sei – falei rindo e pegando a xícara e tomando um gole – estou tão nervoso e ansioso para a audiência hoje.

- que horas será? – perguntou Nick.

- ás quatro da tarde.

- todos nós estaremos lá para te apoiar seja lá qual for o resultado – falou meu pai colocando os ovos e o bacon em meu prato.

- ovos e bacon?

- sim. Você precisa se fortalecer – falou ele me entregando o garfo e servindo suco de maracujá em um como para mim.

- obrigado – falei comendo.

- e você e Clyde? Tem se falado? – perguntou Nick.

- não. Nós terminamos.

- pra valer? – perguntou minha mãe.

- sim. Pra valer.

- e você sente falta dele? – perguntou minha mãe preocupada comigo.

- sinceramente? – falei espetando o bacon com o garfo e levando até minha boca – não. Eu sinto mais arrependimento do que saudades.

- isso é normal Stan – falou Nick – Clyde foi só o primeiro de muitos caras que você vai se apaixonar e fazer loucuras de amor. A vida é assim mesmo

- e o pior é que a culpa não foi minha. Ele é que voltou com a esposa.

- já começou errado ai – falou meu pai – desculpa se eu estou sendo sincero demais, mas você se envolveu com um homem casado. É claro que ia dar merda.

- o senhor está certo – falei rindo e tomando um gole do suco – ‘ninguém escapa com pecado’ – falei me levantando e levando o prato até a pia.

- o que isso quer dizer? – perguntou Nick.

- que não importa os motivos o fim não justifica os meios. Se você está cometendo um erro não importa se seus motivos são bons. Continua sendo um erro e cedo ou tarde você paga por ele.

- exato – falou meu pai se levantando e me dando um abraço – bom trabalho filho e boa sorte. Nós estaremos lá ás quatro.

- obrigado.

Sai de casa e fui para a garagem esperar por Nick e sua carona. Ao me deixar em frente à delegacia meu irmão me desejou sorte e eu caminhei para dentro da delegacia entrando no elevador. Ao chegar no prédio um monte de gente gritou me assustando. Era uma festa surpresa de boas vindas.

- vocês me assustaram! – falei abraçando Judy, Lola e em seguida Blacke.

- seja bem vindo de volta – falou Lola me dando um forte abraço – fui eu mesma quem fiz o bolo – falou ela me entregando um pedaço.

- sério?

- sim. Você me inspirou a cozinhar. Você é um ótimo professor.

- está maravilhoso – falei olhando na direção de Clyde que estava parado a alguns metros olhando para mim. Ele tinha uma expressão triste e ele acenou para mim e eu acenei de volta me virando para Lola.

- a audiência é hoje? – perguntou Lola ao lado de Judy.

- sim. Estou tão nervoso e ansioso.

- você está com olheiras.

- é que não dormi de tão nervoso e ansioso.

- espero que dê tudo certo pra você Stan – falou Judy – todos nós esperamos que você ganhe.

- eu também espero que ganhe – falei olhando em volta. A maioria dos policiais havia voltado ao trabalho ou estavam conversando entre si. Próximo á mesa de Vince cortando um pedaço de bolo estava o delegado Maddox que sorria e conversava com alguns policiais. Ele pegou seu bolo e foi para a sala dele e fechou a porta.

- bem vindo de volta Stan! – falou Cory colocando a mão em meu ombro.

- obrigado Cory – falei terminando de comer o meu bolo e jogando o pequeno pratinho de plástico no lixo.

- pessoal vou colocar o bolo na geladeira da copa – falou Lola pegando o bolo e indo até as escadas.

- obrigado pela festa pessoal – falei agradecendo a todos caminhando até a minha mesa que ficava atrás da mesa de Clyde. Quando cheguei lá percebi que não havia mesa.

- onde está minha mesa?

- não ficou sabendo? – perguntou Cory me seguindo.

- sabendo do que? – perguntei sentindo um frio na barriga. Será que a festa na verdade era de despedida?

- você ganhou uma sala só sua – falou ele apontando para a sala com paredes de vidro ao lado da dele. Ficava de frente para a sala do delegado Maddox.

- sério? – falei caminhando até lá percebendo que meu computador e todas as minhas coisas estavam lá – graças a Deus – falei rindo.

- eu sei – falou Cory – seria constrangedor sentar atrás de Clyde depois de tudo o que aconteceu…

- nem me diga – falei me sentando em minha cadeira – estou feliz por estar de volta.

- todos nós estamos – falou Cory saindo da sala – bom trabalho.

- obrigado – falei ligando o computador e abrindo as gavetas da minha mesa. Não havia trabalho acumulado alguém deve ter feito o meu trabalho enquanto eu estive fora.

O telefone da minha mesa tocou e eu levei um susto. Nem havia reparado que agora eu tinha um telefone.

- alô?

- Stanley vem até a minha sala, por favor.

- quem fala?

- Roderick.

- sim senhor delegado – falei desligando o telefone e me levantando rapidamente indo a primeira porta a minha direita e batendo duas vexes na porta antes de entrar.

- sente-se – falou o delegado apontando para a cadeira.

- no que posso ser útil delegado.

- eu quero que você dê um recado a todos por e-mail, por favor.

- sim senhor – falei atento.

- O RH estará fazendo nesse fim de semana um encontro colaborativo dos funcionários desse distrito. Será uma espécie de confraternização com gincanas, brincadeiras, atividades físicas entre outras coisas. A gerente de marketing sugeriu essa interação devido aos acontecimentos que caíram sobre esse distrito. Uma forma de unir e descontrair a equipe.

- tudo bem. Eu aviso.

- terá inicio na sexta feira e estaremos de volta no domingo de tarde.

- onde será?

- eles reservaram chalés na floresta de Floresta de Greenwitch. Estaremos apenas nós. Tem piscinas, a floresta, o rio… será divertido. E não se esqueça de dizer a todos de que é obrigatório. Se alguém não puder ir tem que dar uma boa explicação do porque não.

- aviso sim senhor – falei me levantando.

- isso inclui você – completou ele.

- eu também? Pensei que fosse só pros policiais.

- Não, são para todos os funcionários – falou ele com um sorriso.

- tudo bem – falei chegando até a porta e voltando – delegado Roderick eu queria…

- Ricky! – falou ele me interrompendo.

- o que?

- me chame de Ricky.

- sim senhor… Ricky – falei respirando fundo – hoje ás quatro horas da tarde eu preciso ir ao tribunal para resolver um problema pessoal.

- hoje é a audiência de custódia do seu filho?

- sim senhor. É hoje.

- não se espante – falou ele se levantando – todo mundo aqui joga conversa fiada e eu não sou surdo – falou ele me acompanhando até a porta da sala – fica tranquilo. Pode sair mais cedo se quiser. Já conversei com o Policial Holloway e ele também vai sair mais cedo.

- fico agradecido.

- boa sorte lá – falou ele colocando a mão em meu ombro dando um tapinha amigável.

- obrigado senhor

Voltei para minha sala e escrevi o e-mail para todos os funcionários. Antes de enviar mandei uma cópia para Ricky e alguns minutos depois ele me respondeu com algumas alterações e pediu que eu enviasse a todos.

Durante o almoço uma turma foi ao restaurante e Clyde estava incluído nessa turma junto com Judy, Lola, Vince, Luís e outros policiais que não conhecia. As vezes pegava Clyde me encarando e ele sempre desviava o olhar. Nós não trocamos nenhuma palavra que não fosse extremamente necessária. Apenas coisas do trabalho. Todos pareciam animados com a Confraternização do fim de semana. Era quarta então faltavam ainda dois dias para que chegasse a sexta. A floresta de Greenwitch era uma reserva florestal enorme. Não sei como me sentia em relação a essa confraternização. Eu estava torcendo para as horas passarem logo para que chegasse a hora da audiência.

Pouco antes das três e meia da tarde juntei minhas coisas, desliguei meu computador e fui até a sala do delegado avisar que já estava de saída.

- delega… Ricky. Estou indo embora.

- beleza – falou ele sorrindo ao telefone e acenando para mim – boa sorte.

- obrigado – falei fechando a porta.

Ao chegar na rua peguei o celular para chamar um Uber, mas ouvi uma buzina e vi meu irmão Nick estacionado do outro lado da rua.

- entra ai – falou Nick ligando o carro.

- onde estão mamãe e papai?

- estão com Roger lá no tribunal. Eu vim te buscar.

- eu estou tão nervoso – falei quando Nick começou a andar com o carro.

- relaxa Stan. Não adianta ficar nervoso com coisas que você não pode controlar. O que será, será.

- eu sei Nick, mas é que eu quero o melhor para Roger.

- é o que todos queremos – falou Nick.

Ao chegarmos ao tribunal Vi minha mãe, meu pai e Roger que estaca em um carrinho. Vi também meu advogado o Dr. Joe Baez. Cumprimentei a todos e vi o momento em que Anne, Aaron e Clyde entraram e conversaram com a advogada deles. Era uma mulher de óculos e cabelos castanhos claros e séria.

- vamos porque já vai começar – falou Joe chamando nossa atenção.

Nós caminhamos em direção ao tribunal e lá haviam algumas pessoas, curiosos, estudantes de direito e alguns funcionários que trabalhavam no Tribunal de Justiça. Nós ficamos do lado direito do tribunal e Clyde, Aaron e Anne do lado esquerdo.

- todos de pé para a entrada do excelentíssimo juiz Andrew Franklin – falou o meirinho enquanto o juiz entrava e se sentava em sua cadeira.

- podem se sentar – falou o juiz – vou explicar a vocês como funcionará – falou ele lambendo os lábios. Ele usava um bigode – as partes irão expor os seus pensamentos, chamar testemunhas e no final eu decidirei quem terá a guarda definitiva de Steven…

- …é Roger! – falei levantando – o juiz olhou para mim.

- perdão juiz – falou Joe me fazendo sentar – você quer perder antes de começar?

- desculpa.

- continuando – falou o juiz – a guarda será decidida por mim após analisar tudo o que me for apresentado. O juiz apontou para a mulher que era advogada que Anne e Clyde.

- excelentíssimo juiz os meus clientes querem e devem ter a guarda da criança por vários motivos e um deles e o mais importante é a segurança do bebê que no fundo é o que realmente importa. O bem estar da criança é o que deve prevalecer. Nós não acreditamos que Stanley Illtyd Anthony tenha capacidade física e mental para cuidar da criança. Vamos apresentar ao senhor testemunhos de pessoas que podem confirmar que Stanley Illtyd Anthony não possui o necessário para se cuidar de uma criança tão inocente que precisa desesperadamente de um pai e uma mãe heterossexuais para ter um lar estável e amoroso que possa providenciar tudo o que ele precisa.

Minha vontade era de ir até lá e dar um soco na cara de Clyde e um tiro na cara daquela advogada que falava aquele monte de baboseiras, mas eu precisava me conter até que fosse a nossa vez.

- nós queremos chamar a nossa primeira testemunha; Nicholas Illtyd Anthony.

- o que? – perguntou Nick surpreso que se levantou e foi até o banco dos réus e depois de fazer um juramento se sentou.

- eles podem fazer isso?

- podem – falou o advogado.

- Sr. Anthony. É verdade que o senhor prestou uma queixa contra roubo de identidade e furto contra o seu irmã Stanley Anthony.

- sim – falou Nick – mas é porque eu queria…

- responda apenas sim ou não! – falou a advogada seca cortando meu irmão.

- sim – falou Nick contrariado.

- É verdade também que Stanley Anthony tentou por duas vezes o suicídio desde que chegou a cidade de Orlando?

- não – falou Nick.

- engraçado porque segundo esse relatório policial Stanley esfaqueou a si mesmo no abdômen há alguns meses atrás e recentemente ele tentou cortar o pulso proferindo facadas em sua mão - falou a advogada se aproximando do juiz e entregando o relatório – apresento a vocês a prova A.

- isso é verdade? – perguntou o juiz para Nick.

- sim Sr. Juiz, mas situação em que isso aconteceu eram extremas.

O juiz leu o papel e em seguida o colocou de lado. Olhei para Clyde e senti raiva. Certeza que tinha sido ele mesmo a pessoa a dar detalhes d oque tinha acontecido e de ter dado esse relatório para a advogada.

- Dr. Baez eu quero te pedir uma coisa – falei cochichando.

- o que? – perguntou ele.

- além da guarda do Roger eu quero que o juiz abdique os direitos de Tessa como mãe fazendo com que ela não tenha nenhuma ligação com o bebe.

- tem certeza? – perguntou o advogado – será difícil.

- certeza. Eu quero – falei respirando fundo com muita raiva.

- mais alguma pergunta? Advogada?

- não – falou ela voltando a se sentar.

O advogado se levantou e caminhou em direção á Nick.

- Sr. Nick Anthony como médico o senhor considera que o Sr. Stanley Anthony é incapaz de criar sue filho por sua deficiência física. Que fique claro para os autos que Stanley Illtyd Anthony tem uma síndrome chamada de Ectrodactilia.

- não – falou Nick – tanto do ponto de vista profissional quanto no ponto de vista pessoal eu não considero que seja um empecilho. Do contrário deveríamos retirar os bebês de qualquer um que tenha uma deficiência – falou Nick olhando para a advogada.

- em sua opinião o fato de Stanley ser solteiro e homossexual deveria impedir que ele ou qualquer outro cidadão solteiro ou homossexual deva perder o direito de se criar um filho?

- não.

- fazer isso não seria uma grande demonstração de preconceito?

- eu protesto! – falou a advogada.

- baseado em que? – perguntou o juiz.

- a sexualidade de Stanley não deve influenciar – falou a advogada.

- Juiz foi a própria advogada que disse ‘pai e mãe heterossexuais’. Ao dizer isso ela trouxe a questão da sexualidade a tona.

- negado! – falou o juiz para a advogada – mais alguma pergunta?

- encerramos – falou o advogado caminhando de volta para se sentar, mas antes ele se virou – excelentíssimo em uma decisão de última hora gostaríamos que consideração a possibilidade de abdicar os direito de Tessa Smith Holloway como mãe da criança.

- isso é um ultraje! – falou Anne se levantando com raiva.

A advogada fez com que Anne se sentasse e o juiz olhou para Anne e depois para mim.

- sim advogado. Estarei considerando essa questão.

- gostaríamos de fazer o mesmo pedido – falou a advogada de Anne – queremos que abdique o direito de Stanley Illtyd Anthony como pai.

- senhores advogados eu estarei considerando a abdicação em ambos os lados, mas no momento vamos continuar com os depoimentos – o juiz se ajeitou em sua cadeira e olhou para a advogada – vocês tem mais alguma testemunha?

- sim – falou a advogada – gostaríamos de chamar Stanley Antothy para depor.

Eu fiquei surpreso ao ouvir meu nome, mas eu não tinha outra escolha. Ao me levantar me inclinei para meu advogado e disse ‘Sedutor Cruel’ – falei em seu ouvido. Fui obrigado a fazer um juramente e aguardar minhas perguntas.

- Sr. Stanley Anthony é verdade que nos últimos meses você manteve um relacionamento secreto com o Sr. Clyde Holloway?

- Sim. É verdade.

- então você admite que foi amante de Clyde e que destruiu o casamento deles?

- eu protesto – falou Joe – ela está especulando os motivos do fim do casamento.

- eu retiro – falou a advogada.

- não precisa responder – falou o juiz olhando para mim.

- Stanley você poderia, por favor, me dizer quem são Paul McCaffrey e Harry Duncan?

- Sim. São um casal que eu conheci. Infelizmente eles foram assassinados.

- exato – falou a advogada – foram assassinados na noite em que você teria um ‘encontro sexual’ com eles, mas acabou desistindo para ter relações sexuais com o detetive Cory DeLarosa?

- sim, mas o que isso tem a ver?

- senhor juiz Stanley acaba de nos confessar que tem tendências a tomar decisões por impulso sem pensar no próprio bem estar. Como podemos esperar que ele tome decisões por uma criança.

- isso não tem nada a ver – falei com raiva.

- por favor, Stanley, se contenha – falou o juiz.

- mais alguma pergunta advogada?

- encerro.

Meu advogado se levantou e caminhou até mim.

- Sr. Stanley você e o Policial Clyde Holloway continuam envolvidos de alguma forma? Romanticamente ou sexualmente?

- não.

- vocês terminaram?

- eu terminei na verdade.

- por quê?

- Clyde disse pra mim que não iria mais se divorciar da esposa e que ficaria ao lado dela para tentar obter a guarda de Roger.

- a ideia de terminar partiu de quem?

- de mim.

- espera… – falou  o advogado sarcástico – quer dizer então que Clyde não queria se divorciar da esposa, mas a ideia de terminar foi sua? Porque isso aconteceu?

- porque ele não queria terminar. Disse que seria um casamento de faixada e depois que ela tivesse a guarda do bebe ele a deixaria para ficar comigo.

- eu protesto – falou a advogada – especulação. Não existem provas de que meu cliente tenha dito isso.

- é por isso que eu gostaria de chamar o Policial Clyde Adamson Darius Holloway como testemunha.

Eu me levantei e Clyde se sentou em meu lugar após recitar o juramento dizendo que diria a verdade e nada além da verdade.

- Sr. Holloway. O que o meu cliente acabou de dizer é verdade? Lembro a você que está sob o juramento e que se mentir pode ser preso por perjúrio.

Clyde olhou para mim e depois olhou para Anne. Ele respirou fundo e lambeu os lábios.

- não senhor. Eu não disse isso.

- tem certeza? – falou o advogado pegando um pendrive em uma embalagem e mostrando para o juiz – gostaria de apresentar a vocês a evidência B, uma gravação de Clyde Holloway dizendo exatamente as palavras que ele acabou de negar que disse.

Clyde pareceu surpreso com aquilo, mas eu não era uma pessoa idiota. Eu disse que faria tudo pelo meu filho então eu gravei toda a nossa conversa no momento em que eu o vi na cozinha da minha casa segurando meu filho. Eu disse. Ou você está do meu lado ou está contra mim.

O juiz pegou o pendrive e entregou para o meirinho que colocou no televisor e a nossa conversa começou e eu vi que os lábios de Clyde tremeram de vergonha. Anne começou a chorar ao ouvir o marido dizer exatamente o que eu tinha dito.

- então Sr. Juiz a advogada de Clyde e Anne dizem que eles querem um lar estávelpara um bebê com um ‘pai e uma mãe’ – falou o advogado ironizando a frase – Pra mim parece que o Sr. Clyde Holloway não está muito interessado no bebê ou em seu bem estar. Parece mais interessado em entrar nas calças do meu cliente.

- você tem mais alguma pergunta? – perguntou o juiz.

- não, nós encerramos.

- pode voltar ao seu lugar Sr. Holloway – falou o juiz para Clyde que voltou e se sentou próximo a Anne.

- nós queremos apresentar a avaliação de um psiquiatra que avaliou Tessa – falou ela entregando uma cópia para o juiz e outra para meu advogado – o senhor verá nesse relatório que o psiquiatra considera Tessa uma paciente promissora que pode chegar a ser liberada dentro de dois ou três anos.

- engraçado – falou meu advogado pegando um relatório – eu também tomei a liberdade de pedir que um psiquiatra avaliasse Tessa – falou ele entregando uma cópia para o juiz e outra para a advogada – e nesse relatório o senhor excelentíssimo verá que o psiquiatra considera Tessa incapaz de voltar a viver em comunidade e muito menos de cuidar de um bebê. Durante a consulta Tessa falava sobre o bebê ‘ter que procriar a sua raça’ ao crescer.

- vocês tem algo mais a dizer?

- pedimos que o senhor considere o simples fato de que Tessa é a mãe do bebê – falou a advogada se levantando – e que mesmo que ela não volte a cuidar do bebê ele merece um lar provido de amor e é isso que meus clientes querem dar. O senhor não quer que esse bebê sofra mais do que já sofreu. Ele terá companhia do irmão mais velho e crescerá em um lar estável. Se o Sr. Stanley Anthony se importasse com o bebê ele admitira que não tenha condições de criar esse filho e daria ele para meus clientes. Anne Smith é uma mulher disposta a deixar o emprego para se dedicar cem por cento a crianção do bebê com deficiência.

 - Senhor excelentíssimo – falou meu advogado se levantando – após as considerações finais de minha colega eu gostaria de apresentar a evidência C – câmera de filmagem da Clinica de Aborto Planned Parenthood – falou ele entregando uma fita de vídeo.

A advogada de Anne pareceu surpresa ao ouvir aquelas palavras como se não soubesse do que se tratava.

- o que nós veremos que eu aceitar essa fita como evidência? – perguntou o juiz.

- são imagens de segurança da sala de espera da clínica. As imagens são de cinco anos atrás quando Tessa alegadamente sofreu um ‘aborto espontâneo’. As imagens mostram Anne levando Tessa a uma clinica de aborto para terminar a gravidez.

Clyde pareceu surpreso ao ouvir aquilo.

- Sr. Juiz essas imagens não devem ser aceitas como provas. Tanto as pacientes quanto as clinicas merecem privacidades. Elas já são ameaçadas todos os dias por praticarem a escolha de abortar. Não devemos expô-las.

- A privacidade inclui a confidencialidade Médico-Paciente – falou Joe – todos podem passar em frente a clínica e ver as pacientes na sala de espera. Porque as filmagens seriam ilegais?

- eu aceito a evidencia – o juiz entrou a fita para o meirinho que colocou-a para rodar e as imagens mostravam o que parecia ser Anne obrigado Tessa ter um aborto. Tessa estava de braços cruzados de pé querendo ir embora e Tessa a segurava no braço para que ela ficasse.

- a imagem não tem áudio – falou a advogada – ela está aberta a interpretações.

- Fui até a prisão estadual e conversei com a melhor amiga de Tessa - April Swanson – que também fazia parte da mesma seita que Tessa e ela pode confirmar que se trata de um aborto. Tenho um testemunho por escrito de April e ela diz que Anne obrigou Tessa a fazer um aborto porque os exames do pré-natal confirmaram que o bebê de Tessa tinha Síndrome de Down.

Joe entregou o testemunho para o juiz que deu uma breve lida.

- Senhora Anne Smith, isso é verdade?

- sim senhor juiz – falou Anne.

- nós encerramos – falou meu advogado se sentando.

Todos os podres estavam expostos. Eles foram até lá para me humilhar e dizer que eu não era capaz de cuidar de um bebê e no fim das contas todos os dois foram expostos. Aquele advogado era muito bom.

- vou para meu escritório e vou deliberar e tomarei uma decisão. Peço a vocês que aguardem no saguão e assim que eu tiver tomado uma decisão eu peço que chamem vocês.

Nós ficamos de pé e o juiz se foi e nós saímos do tribunal de volta para o corredor. Eu estava muito nervoso minha cabeça girava e eu estava com vontade de vomitar. Eu balançava minhas pernas ansioso e fiz algo que não costumava fazer: orar. Não sabia pra quem, mas pedia que tudo desse certo.

- se acalma Stan! – falou Nick se sentando ao meu lado.

Minha mãe estava com Roger e depois de esperar quarenta minutos nós decidimos ir a um restaurante em frente ao tribunal. Joe veio conosco. Nós resolvemos comer e beber algo para se acalmar. Mais ou menos duas horas e meia depois Joe recebeu uma mensagem no celular dizendo que o juiz havia se decidido. Ao entrarmos no tribunal percebi que não havia volta. Aquela seria a decisão. O juiz pediu que nós nos sentássemos e ele pegou um papel com seu veredito.

- depois de analisar as evidências e considerar fortemente os pedidos de ambas as partes eu percebi que no final eu devo escolher o melhor para o bebê. Cheguei à conclusão de que de um lado temos Stanley Anthony que é o pai biológico da criança e está disposto a fazer de tudo por ele. Do outro temos um casal que está disposto a criar a criança como se fossem deles. Eu não estou aqui para decidir qual modelo de família é o melhor. Dois pais, duas mães, pais solteiros… enfim, eu só tenho que pensar no melhor para o bebê. Eu não posso deixar de pensar que Tessa talvez não foi criada da forma que deveria. Pais e mães cometem erros e isso influência na criação dos filhos, mas eu também não posso ignorar que Stanley tem vinte e quatro anos de idade e passou por muita coisa. Ele não tem experiência nenhuma e talvez não tenha maturidade para criar uma criança. No fim das contas preciso pensar no que é melhor para o bebê e ignorar as brigas que existem entre os adultos. Por isso decidi conceder a guarda da criança á Stanley Illtyd Anthony. Ele não veio aqui sozinho, veio com o irmão e com os pais. Ele pode ser inexperiente, mas tem disposição e é o pai biológico da criança. Não posso tirar a criança dos braços do pai por problemas os quais ele foi vítima. Ele não criou o culto, ele não matou ninguém. Ele foi à vítima disso tudo. Por isso eu também decidi acatar ao pedido de Stanley sobre abdicar os direitos de Tessa Smith Holloway como mãe da criança. Ela não será registrada como a mãe e não terá nenhuma ligação ou direito sobre ela.

O juiz bateu o martelo e eu dei um pulo abraçando meu irmão e meu pai. Minha mãe começou a chorar emocionada. Abracei o advogado e me senti agradecido por ele ter cumprido sua promessa. Peguei Roger nos braços e dei um beijo em sua pequena mão que se balançava de um lado para o outro. Percebi pelo canto do olho que Clyde saiu primeiro do tribunal deixando Anne para trás. Anne parecia frustrada por ter perdido e senti que ela queria vir até mim dizer alguma coisa, mas a advogada dela não deixou que ela viesse. Estava contente por tudo isso ter acabado. Estava tão aliviado por finalmente poder deixar aquela parte da minha vida para trás.

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Obrigado a todos por acompanharem. Beijão ;)