Capítulo 27: Cruel Traição | Conto: Cruel Sedutor

XXVII

Cruel Traição

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E

ngraçado como tudo na vida tem regras. Acredito que em todos os jogos as regras tenham sido criadas depois que coisas deram errado para que nunca mais voltassem a acontecer. O mesmo aconteceu com o jogo do amor. Regra número um: você tem que se divertir, mas assim que acabar você tem que ser o primeiro fugir. Regra número dois: nunca se apegue a alguém que você pode perder, você é que será o grande perdedor. Regra número três: Deixe o coração em seu bolso, mas nunca na mão da outra pessoa. A menos que você queria perde-lo. Regra número quatro: Têm que parecer puro, beijo de despedida na porta, beijo grego no quarto. Regra número cinco: sempre se apaixone por um jogador, do contrário você estará cantando ‘eu te amo de montão’. Pelo menos achará que está amando.

- Cory? Sou eu, Stan.

- oi Stan, algum problema?

- não. Eu só queria saber se você sabe o endereço de onde Clyde está morando. Eu queria fazer uma surpresa a ele.

- sim, eu sei. Eu posso te mandar por mensagem se você quiser.

- eu ficaria muito agradecido.

Assim que recebi a mensagem de Cory me dizendo onde Clyde morava sai do meu quarto e fui até o quarto do meu irmão. Bati na porta algumas vezes antes dele finalmente atender enrolado na toalha.

- Nick será que você pode me dar uma carona até o apartamento do Clyde?

- pensei que você tinha dito que ele trabalharia essa noite.

- descobri que ele foi dispensado e decidi fazer uma surpresa a ele.

- Okay, deixa só eu vestir minha roupa.

- combinado – falei indo até as escadas e descendo vagarosamente até chegar á sala. Meu pai e minha mãe estavam sentados assistindo TV.

- oi meu filho – falou meu pai olhando para mim.

- pai o senhor visitou a Casey hoje? Como ela está? E Caylee?

- eu não cheguei a ver a Caylee. Ela estava na casa de uma amiga brincando então eu vi só a Casey. Ela está bem e Caylee também.

- que bom – falei respirando fundo.

- você vai á algum lugar filho? Está cheiroso – falou minha mãe com um sorriso.

- vou até a casa do Clyde. Nick vai me levar.

- você vai demorar a voltar? – perguntou ela querendo saber se eu dormiria lá.

- não. Eu vou dormir lá.

- você gosta mesmo dele? – perguntou meu pai.

- sim pai. Muito. Eu o amo.

- Se ele for o ‘Cara’ não espere – falou meu pai olhando para minha mãe – quando sua mãe e eu nos casamos todos foram contra. Disseram que éramos jovens demais, disseram que não iria durar. Nós não demos ouvidos a nada disso.

- eu agradeço todos os dias por ter conhecido seu pai – falou minha mãe – o meu único arrependimento é não tê-lo conhecido antes. Os dois deram um beijo.

O amor dos dois era um grande exemplo para muitas pessoas. Minha família já passou pelo céu e pelo inferno e aqueles dois continuavam juntos. Meu pai ainda olhava para minha mãe com um brilho nos olhos. Como se fosse a primeira vez.

- vamos Stan! – Nick desceu as escadas pegando a chave do carro na mesinha próximo as escadas.

- boa noite pai – falei dando um beijo no rosto dele e um beijo no rosto da minha mãe.

- boa noite filho – falou meu pai acenando enquanto eu seguia até Nick.

- eu amo vocês.

- nós também te amamos filho – falou minha mãe.

Nós fomos até a cozinha e ao chegarmos na garagem entramos no carro e eu coloquei o cinto de seguranças apressado enquanto Nick checava as rodas do carro e outras coisas como se havia óleo o suficiente.

- Nick anda logo! – falei gritando olhando pela janela.

- calma! – falou ele fechando a capota do carro – que fogo no rabo é esse?

- sem graça.

Nick entrou no carro e abriu a porta da garagem.

- eu não estou indo lá porque estou com fogo no rabo – falei respirando fundo – estou indo lá perguntar se ele está me traindo e se ele gosta de mim.

Meu irmão tinha tirado metade do carro e ao me ouvir dizer isso ele voltou o carro para dentro da garagem.

- o que está fazendo?

- deixa de ser bobo Stan.

- não estou sendo bobo. Estou sendo sincero. Vou lá pra conversar com ele. Não é a coisa adulta a se fazer? Eu vou lá perguntar para ele se ele ainda sente por mim o que eu sinto por ele.

- eu não sei se é uma boa ideia – falou ele respirando fundo – essas coisas nunca acabam bem.

- a última vez que vocês me contrariaram eu fugi de casa e desapareci por quatro meses. Se não for agora eu faço de novo. Vai logo. Tira esse carro e me leva até lá.

- tudo bem – falou Nick – mas eu vou ficar lá embaixo esperando por você. Só vou embora quando você for lá e me disser    que está tudo bem. Só assim vou ficar tranquilo.

- tudo bem.

Nick finalmente tirou o carro da garagem e eu adicionei o endereço ao GPS do carro dele. Vinte e um minutos. Era o tempo que levaríamos para chegar ao apartamento de Clyde. Seriam os vinte e um minutos mais longos da minha vida. Eu estava tão desesperado e com um mau pressentimento. Sabe quando você sabe que não deveria ter saído da cama de manhã? Sinto que não deveria ter saído de casa. Talvez esteja errado e seja como meu irmão falou. Talvez seja só coisa da minha cabeça.

- é aqui? – perguntou Nick olhando para o alto de um grande prédio.

- Sim. É aqui – falei vendo o nome do prédio. ‘Residential Heliconia’ escrito em uma letra cinza opaco com detalhes em vermelho e com luzes laranjadas.

- vai lá – Nick estacionou o carro e o desligou – eu vou ficar aqui esperando pelo tempo que for preciso. Vai lá, conversa com ele e vem aqui em baixo me dizer que está tudo bem.

- pelo amor de Deus Nick. Pode ir embora. Nada vai acontecer. Eu confio em Clyde, eu só quero tirar isso da minha cabeça.

- essa é minha condição – falou Nick tirando o cinto de segurança demonstrando que não iria a nenhum lugar.

- tudo bem – sai do carro e caminhei até a portaria do hotel. Havia uma garota loira que usava um boné. Eu não conseguia ver direito o seu rosto. Só sabia que ela tinha cabelos loiros e um batom cor de rosa bem forte nos lábios – boa noite…

- boa noite – falou a garota com um pirulito.

- eu gostaria de ir até o apartamento de Clyde Adamson Darius Holloway eu não sei qual bloco ele vive.

- eu sei – falou ela apertando o botão para que eu entrasse – bloco dois apartamento oitenta e quatro. Fica no sétimo andar. Quarta porta do lado direito.

- Okay, obrigado.

- não foi nada – falou a porteira olhando para baixo para pegar alguns papeis que haviam caído.

Com o coração abatendo a mil caminhei por entre os blocos até chegar no segundo prédio. Havia esfriado muito e enquanto entrava no prédio senti que estava chuviscando. Parece que cairia uma grande tempestade. Um clarão e em seguida um grande estrondo. Fui até o elevador e apertei o botão aguardando que ele chegasse. Quando entrei no elevador uma mulher negra de cabelos pretos com um a boca carnuda e bonita entrou junto de mim e apertou o botão sete.

- qual o seu andar? – perguntou a mulher.

- o mesmo que o seu.

- Okay – falou ela com um sorriso – eu nunca vi você por aqui. É novo?

- não, na verdade eu não moro aqui.

- está visitando alguém?

- Sim. Vim visitar o meu namorado.

- sério? – perguntou ela – quem é ele? Será que eu o conheço?

- acho que não. Ele se mudou pra cá tem pouco tempo. O nome dele é Clyde Holloway. Ele é policial.

- Clyde? Eu sei quem é – falou ela quando a porta do elevador se abriu e nós caminhamos – ele é seu namorado?

- sim, por quê?

- por nada – quando nós passamos em frente à porta ela apontou – ele mora aqui – ela apontou para a porta com o número oitenta e quatro.

- obrigado moça.

- por nada – falou ela com um sorriso seguindo o corredor para o apartamento dela.

Respirei fundo antes de tocar a campainha. Fechei os olhos e pedi que eu estivesse errado e que tudo não passasse de coisa da minha cabeça. Toquei a campainha, mas ela não estava funcionando. Bati na porta três vezes e esperei que Clyde a abrisse, mas ninguém apareceu. Bati novamente na porta e ela destravou se abrindo um pouco. Ela estava destrancada.

- Clyde? – falei empurrando a porta e entrando. Era um grande apartamento. Era muito bonito e estava bem mobiliado. Tinha um grande carpete vermelho e bem felpudo na sala.

Fechei a porta atrás de mim e vi em cima da mesa da sala uma carteira de cigarros Marlboro e o isqueiro de Clyde. Aquele com certeza era o apartamento certo. Olhei de um lado para o outro e fui até cozinha, pois senti o cheiro bom de comida. Abri as panelas e vi que um grande jantar estava feito. Arroz, legumes, frango ao vapor… podia achar que ele estava me esperando.

Antes de continuar me sentei no sofá da sala um pouco descansando as pernas. Talvez ele aparecesse. Depois de uns cinco minutos esperando nada aconteceu. A única explicação é que ele estivesse no banho. Talvez eu pudesse fazer uma surpresa a ele. Tirei meu tênis, minhas meias, minha bermuda, minha camiseta e minha cueca. Fiquei completamente nu e caminhei até o quarto em silêncio.

Ao me aproximar vi que a porta estava entreaberta e que havia uma certa movimentação. Vi o que pareciam ser toalhas ou lençóis se movendo. Aproximei-me o suficiente e vi Clyde deitado na cama nu. Ele estava com as pernas aberta e meio dobradas. Engoli em seco ao ver que seu corpo pulava. Em cima dele virando de costas estava Brian e olhos fechados. Clyde segurava em sua cintura enquanto Brian movia lentamente o quadril.

- isso Clyde! – falou Brian ainda de olhos fechados – mete! – Clyde estava gemendo e dando tapas na bunda de Brian enquanto ele se mantinha sentado com todo o membro dele no fundo de seu ânus. Clyde estava com a cabeça inclinada para trás gemendo com a língua nos lábios ofegante. Podia ver o seu rosto barbado enquanto Brian se virava de frente para ele deitando o corpo em cima do de Clyde beijando sua boca enquanto movia lentamente a mão direita no pau de Clyde. Enquanto se beijavam ouvi Clyde dizendo que ele era gostoso e que o amava. Brian correspondia aos beijos dizendo que sentia o mesmo.

Senti um aperto no coração ao ver aquilo. Por um momento minhas pernas bambearam. Achei que fosse por causa do tempo que fiquei em coma, mas era pior. Era por descobrir que o homem que eu amava não sentia o mesmo por mim. Com todos os problemas ele acabou procurando alguém que pelo menos não havia sido caçado até quase a morte. Alguém que não tivesse os problemas que eu tinha. Alguém com mãos normais, uma vida normal.

Senti as lágrimas caindo em meu rosto e um aperto no coração. Eu nunca havia entendido as músicas que falavam sobre coração partido, mas agora eu entendo. Entendo a dor, entendo cada uma das palavras que eram cantadas. A chuva caia forte lá fora. Podia ver pela janela da sala. Fui até a cozinha e comecei a abrir rapidamente todas as gavetas. Uma por uma procurando por aquilo que acabaria com todos os meus problemas. Finalmente encontrei uma do tamanho correto. Coloquei minha mão direita em cima do balcão da cozinha e segurei firme a faca com a mão esquerda. Eu a levantei o mais alto que consegui e a bati no pulso. Uma vez, duas vezes, três vezes.

- haaaaaaaaaaaa! – gritei sentindo o sangue escorrer enquanto cortava minha mão. Acho que da quarta facada para frente eu acabei acertando meus dedos porque comecei a ficar tonto. Minha visão ficou embasada e a dor foi muito intensa. Não sentia mais a mão direita grudada ao meu corpo. Talvez agora eu estivesse do jeito que o mundo queria: Perfeito.

Cai no chão da cozinha sentindo o sangue escorrer do balcão caindo em meu peito. Sentia-me humilhado, me sentia enganado. Não há sentimento no mundo que pudesse descrever o sentimento de ser traído pela pessoa que achei que amava. A vida nem sempre é da forme que achamos que seria. Às vezes é bem melhor. Às vezes é bem pior. O melhor geralmente nunca acontece.

Estava em uma enorme cama com lençóis tão macios que pareciam ter sido feitos especialmente para Cleópatra. Meu corpo nu naquela cama não sentia nada mais além de paz. Nunca senti tanta paz na minha vida. Era bom finalmente deixar para trás aquela parte de mim. Aquela parte chamada mão. Uma doce canção começou a soar em meus ouvidos e eu fechei os olhos tentando lembrar. Eu a conhecia. Acho que era a canção que minha mãe sempre cantou para Casey e eu quando nos colocava para dormir. “Eu estarei do seu lado, Não deixarei ninguém te machucar, Eu estarei do seu lado”. Sim. Era aquela canção. Depois de alguns versos não eram apenas uma voz e sim um coral. Um gigante coral cantando para mim: ‘Estaremos Sempre ao Seu Lado, nas suas horas mais escuras, estaremos ao seu lado’.

Quando abri os olhos já não estava mais naquela cama cobertas com os mais finos tecidos. Estava naquela horrível cama de hospital. Minha visão estava um pouco embasada, mas sabia que era o mesmo hospital que havia acordado do coma. Olhei para o lado e dessa vez Clyde não estava lá. A porta do quarto estava aberta e eu pude ver Clyde sentado em uma cadeira ao longe com as mãos cobrindo o rosto enquanto chorava. Próximo a porta eu vi meu irmão Nick e a policial Judy.

- Nick?! – falei sentindo minha garganta seca.

- Stanley? – falou Nick e Judy entrando no quarto – você acordou.

- acordei? – falei olhando em volta – o que aconteceu comigo? – falei olhando para minha mão vendo que ela ainda estava lá. Completamente enfaixada. Eu sentia uma forte dor.

- o que aconteceu com você? Eu quero saber o que aconteceu com você! – falou Nick.

Pela porta Clyde voou em minha direção com os olhos vermelhos e com os lábios pressionados. Ele se inclinou e deu um beijo na minha boca. Um beijo que eu não correspondi.

- sai daqui – falei sentindo as lágrimas chegarem aos meus olhos novamente.

- o que? – perguntou Clyde – o que eu fiz?

- eu vi – falei engolindo o choro – eu vi tudo. Você no seu quarto com Brian.

- no meu quarto?

- sim. No seu quarto com o rapaz que está me substituindo?

- Stanley nós te encontramos no apartamento do Brian e não no meu.

- o que?

- Clyde não estava em casa – falou Nick eu o vi chegando uns quinze minutos depois de você ter entrado.

- Ele tinha ido até a delegacia buscar o celular – falou Judy.

- sim. Eu ia tomar um banho e te fazer uma surpresa. O Delegado Hugo me avisou pouco antes do fim do expediente que eu não precisaria cobrir as horas que devia – falou Clyde com o rosto vermelho.

- mas eu te vi… com Brian.

- Brian não existe – falou Judy.

- como assim?

- Brian levou hoje os documentos para os recursos humanos finalizarem sua contratação e Brian Kurtis Richardson não existe. Era um nome falso. Tudo falso.

- Ele se aproximou de mim porque queria se aproximar de você – falou Clyde – não podemos confirmar, mas achamos que tem ligação com a seita maluca que te venera.

- porque eles não me deixam em paz – falei chorando.

- não tente entender a mente de gente maluca – falou Judy.

- eu só não entendo porque eles estão querendo me arruinar – falei sentindo um mal estar ao pensar que eles ainda estavam soltos por ai. Me senti mal pela traição. Eu me trai. Trai meu corpo, minhas convicções. Tinha tentado cortar minha mão. No fim eu era o maior traidor. Porque era tão difícil aceitar a mim mesmo?

- nós olhamos nas câmeras do prédio – falou Judy – a garota que estava na portaria que liberou sua entrada não trabalha lá. Aquela mulher negra que entrou no elevador com você não é moradora do prédio. Eles fizeram de tudo para que você entrasse no apartamento errado. Eles armaram toda a cena para parecer que Clyde te trai. Eles queriam te separar.

- eu moro no apartamento oitenta e cinco – falou Clyde – de frente para o apartamento que você entrou. Eles armaram tudo. Mexera m com sua cabeça. Não era eu. Eu nunca estive lá.

- eu podia jurar que era você – falei engolindo em seco. Pra ser sincero eu não tinha visto o rosto do homem deitado na cama. Apenas o de Brian que insistia em dizer o nome de Clyde. Pensando bem a barba do homem que estava na cama com Brian nem era grisalha como a de Clyde. Acho que no momento fiquei cego. Especialmente depois dos terríveis conselhos que o delegado Hugo tinha me dado.

- mas não era – falou Clyde tocando meu braço. Ele deslizou os dedos até tocar minha mão e eu segurei forte na mão dele – e minha mão? – perguntei olhando para Nick.

- foram cortes superficiais – falou Nick – graças a Deus o corpo humano foi programado pra desmaiar ao receber um trauma desses – falou Nick – você torou a palma da mão e um dos dedos, mas está tudo ai.

- que bom – falei sentindo alívio. Alívio por ter minha mão, alívio por ter Clyde. Por outro lado estava cansado daquelas pessoas querendo me fazer mal. Sentia que enlouqueceria a qualquer momento – acho que estou ficando louco.

- é isso que eles querem – falou Clyde – não deixe-os vencer. Eles cometeram um erro. Nós sabemos o rosto de dois deles. O de Brian e o da mulher do elevador. Infelizmente o homem que estava com Brian e a garota da portaria estavam de óculos escuros e boné e não foi possível identifica-los, mas precisamos de apenas um para pegar a todos. E temos dois. Será questão de tempo até que eles sejam pegos.

- espero que sim – falei puxando o braço de Clyde olhando o relógio dele no braço. Era pouco mais das três da manhã. Dei um beijo em sua mão e senti seu perfume.

- Nick me contou sobre sua paranoia – falou Clyde - eu te amo, não sei por que acha que eu iria te trairia. Eu fiz alguma coisa que te magoou?

- não.

- fiz alguma coisa que desse a entender que estava te traindo?

- não. Não fez.

- então deixa de bobeira e paranoia – falou Clyde se sentando na cadeira próxima a cama segurando minha mão dando um beijo – é gostoso ter um pouco de ciúmes. Apimenta o relacionamento, mas você levou a outro nível – falou Clyde rindo e eu me atrevi a rir com ele.

- será que posso ir pra casa?

- o médico vai querer que você fique, mas eu posso convencê-lo a te dar alta.

- ótimo. Quero ir pra casa. Cansei de hospitais – falei respirando fundo – minha mãe e meu pai sabem o que aconteceu?

- não – falou Nick – nem tive coragem de ligar pra contar.

- é melhor assim – falei olhando para Clyde.

Nick saiu do quarto para ir conversar com o médico e Judy nos deixou a sós.

- não adianta tentar fugir de mim Stanley Illtyd Anthony… Echevarria – falou Clyde com um sorriso – você é meu e de mais ninguém.

- dói tanto – falei me referindo à traição.

- essa é uma dor que você nunca vai sentir. Não por minha causa.

- se eu ver aquele Brian eu vou dar um tiro na cara dele.

- dê dois – falou Clyde – só para garantir que ele está morto.

- combinado.

- precisamos conversar sobre uma coisa séria – falou Clyde.

- o que foi?

- sua mão – falou ele pegando minha outra mão que estava cheia de pontos e toda enfaixada – precisamos falar sobre sua mão e essa sua obsessão em ser ‘perfeito’. Não tem nada de errado aqui – falou Clyde apontando para minha mão – o que você precisa consertar está aqui – falou ele apontando para minha cabeça – eu não sei o que se passa na sua cabeça, mas você precisa entender que a sua mão é perfeita da forma que ela é. Uma das coisas quem e faz te admirar é a decisão de manter a mão. Você foi corajoso e manda um grande ‘foda se’ para o mundo. É a sua coragem que me fez apaixonar por você. Aquele dia no meu aniversário enquanto você fazia o almoço eu fiquei te observando a forma que você sorria com as piadas de Judy ou como ficava sério ao explicar á Lola o que ela deveria fazer. Senti inveja de Cory quando ele beijou sua boca. Essa boca gostosa – falou ele com um sorriso se aproximando e beijando minha boca.

- era a sua boca que eu queria estar beijando naquele dia.

- que bom que nós dois conseguimos tudo o que queríamos.

- nem tudo – falei sem graça.

- o que? O que você quer? Eu faço o que você quiser.

- Venha morar comigo. Lá em casa. Por favor. Seria perfeito ter minha família e você na mesma casa.

- claro – falou ele com um sorriso – depois que você se recuperar o que acha que viajarmos? Eu posso pedir alguns dias de licença e nós podemos ir para Las Vegas, Miami ou até mesmo para o Hawaii. O que você acha?

- seria perfeito.

- até lá eu já teria finalizado o meu divórcio com Anne e não teria mais nenhuma preocupação a não ser se ficaríamos a noite na piscina aquecida ou na gigante e deliciosa cama do hotel – falou ele rindo.

Me lembrei do que meu pai tinha dito mais cedo naquele dia. Sobre não desperdiçar tempo sobre aproveitar o amor o máximo que puder. Eu me sentia daquela forma. Me arrependia por não ter conhecido Clyde antes. Se naquele dia na lanchonete descobrisse que aquele policial de olhos azuis que me levou preso fosse ser o homem por quem me apaixonaria teria pulado em seu pescoço no momento em que senti o cheiro do seu gostoso perfume permear meu nariz.

- - na verdade tem uma coisa.

- o que?

- eu não sei se devo dizer.

- diga? Você sabe que eu faço qualquer coisa por você.

- casa comigo – falei sentindo aquelas palavras saltarem de dentro de mim – seja meu marido.

- você… você acabou de me propor casamento?

- sim. Sei que ainda é cedo, mas só Deus sabe se eu vou conseguir chegar aos trinta ou quarenta anos. Até que todos os envolvidos nesse culto sejam presos eu vou sempre viver com essa aflição de que amanhã pode ser o meu último dia. Eu não quero esperar pra saber. Casa comigo. Você ficou ao meu lado todo esse tempo, todos esses meses. Eu não sei por que, mas eu sinto aqui dentro que foi a sua voz e seus beijos que me fizeram voltar do coma. Que me fizeram encontrar forças para viver novamente. Você não foi o meu primeiro, mas quero que seja o meu último.

- tem certeza de que não quer alguns anos pra poder dar uma pesquisada no mercado, talvez tenha alguém melhor por ai – Clyde disse isso rindo.

- seu idiota. Quero você.

- seria uma honra ser o seu último – falou Clyde se inclinando e beijando meus lábios. Sua boca continuou grudada na minha e eu chupei seus lábios enquanto sua língua macia circulava dentro da minha boca. Sua barba me fez cócegas enquanto Clyde se debruçava em cima de mim. Amava muito aquele homem.

- o médico te deu alta – falou Nick entrando no quarto.

- nós vamos nos casar! – falei animado olhando para Nick.

- o que? – perguntou Nick olhando para Clyde.

- foi ele quem fez o pedido – falou Clyde ficando de pé tentando segurar o sorriso.

Nick balançou a cabeça negativamente e com um sorriso estendeu a mão e deu um abraço em Clyde que tinha um grande sorriso no corpo. Os dois bateram fortes as mãos um nas costas o outro. Meu irmão também sorria. Ele ter ficado feliz me deixou feliz.

- bem vindo à família! – falou Nick vindo até mim e dando um beijo no meu rosto – te amo Stan. Quero que seja feliz.

- também te amo – falei abraçando Nick com uma das mãos enquanto ele ficava de pé.

Queria sentir que tinha o controle da minha própria vida. Pedir Clyde em casamento foi uma das melhores decisões que tinha feito naqueles últimos dias. Tanta coisa ruim estava acontecendo, algo de bom tinha que sair disso tudo. Percebi agora que dei tanto valor a minha virgindade tentando escolher a dedo quem seria meu primeiro. Tudo isso para descobrir que não importa quem seria o meu primeiro, meu segundo ou terceiro e sim o meu último, pois seria esse que ficaria ao meu lado até o fim.

Obrigado a todos pelos comentários e pelos votos. Espero não ter assustado vocês, rsrsrsrsrsr