Capítulo 26: Cruel Ciúme | Conto: Cruel Sedutor

XXVI

Cruel Ciúme

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uas semanas haviam se passado desse que tinha acordado do meu coma. Um fisioterapeuta vinha todos os dias na casa dos meus pais para minhas sessões trabalhando minhas pernas para que eu conseguisse andar novamente. Eu já conseguia dar passos, mas me cansava com facilidade e precisava me sentar. É claro que mesmo assim minha família não confiava em mim descendo escadas sozinho então sempre tinha alguém me ajudando. Quando não era Nick era minha mãe. Mya e Quinn também vieram em visitar e eu aproveitava a visita delas para poder descer as escadas. Clyde por outro lado não aparecia todos os dias. Eu sabia que ele andava um pouco ocupado devido ao divórcio. Sempre que podia ele aparecia nem que fosse por algumas horas e conversava comigo, meu irmão e minha família.

Admito que sentia falta dele. Não sabia o motivo dele não estar tão presente, mas talvez tenha a ver com os problemas pessoais que ele vem enfrentando. Ele confiava em mim e desabafava suas frustrações, suas dores e tudo o que o incomodava. Sabia que todo o tempo que estive em coma ele tinha reservado seu tempo para mim e agora que acordei ele havia tirado algum tempo para cuidar dos problemas dele. Do divórcio, a traição de Blacke e é claro o estresse do trabalho de ser um policial e correr um grande risco de vida a todo momento.

Mya agora estava morando com Quinn e me visitava algumas vezes na semana. Naquela segunda feira havia acabado de almoçar e subia as escadas devagar. Ao ver que eu estava sozinho minha mãe veio correndo para me ajudar.

- pode deixar mãe. Eu consigo. Pode ir para o trabalho. A senhora vai se atrasar.

- não tem problema – falou ela me ajudando.

- é sério mãe. Pode ir. Não quero que seja demitida. Está em um novo emprego.

- deixa que eu ajudo – falou uma conhecida voz entrando na casa. Olhei para trás e vi que era Cory – desculpa entrar sem bater, mas a porta estava aberta.

- não tem problema – falou minha mãe com um sorriso.

- posso ajudar? – perguntou Cory.

- claro – falei olhando para ele – viu só mãe? Não estou sozinho. Pode ir.

- Okay – falou minha mãe – tenha uma boa tarde meu filho.

- bom trabalho mãe.

- onde está seu pai – falou Cory colocando uma mão em meu ombro e a outra em minha cintura.

- foi visitar Casey. Ele está tentando se aproximar da minha irmã.

- entendo – falou Cory me ajudando subir degrau por degrau até chegar no alto – consegue andar sozinho?

- consigo sim, só sinto uma dor nas pernas quando fico tempo demais em pé. Meu fisioterapeuta disse que em uma ou duas semanas essa dor deve diminuir.

- que bom. Fico feliz que você esteja bem.

- e você? O que veio fazer aqui?

- vim te visitar. Saber como você está.

- estou bem – falei caminhando até meu quarto e Cory me seguiu – obrigado por ter vindo me visitar – falei abrindo a porta e caminhando rapidamente até minha cama me sentando aliviado. Minhas pernas doíam muito – posso te perguntar uma coisa?

- claro – falou Cory se sentando ao lado.

- como está a relação de Blacke e Clyde depois do que aconteceu?

- fria – falou Cory – eles não obrigaram, não chegaram às vias de fato, mas eles têm sido apenas colegas e não mais amigos.

- Clyde não me conta sobre Blacke e eu fico sem jeito de perguntar. Com medo de ele achar ruim.

- é uma situação complicada. Eu não sei o que faria se descobrisse o que Clyde descobriu. Ele está sendo muito forte.

- tem algo acontecendo?

- por quê? – perguntou Cory.

- não é nada. Talvez seja bobeira minha, mas Clyde não tem vindo me visitar com frequência desde a semana passada e eu estava pensando que talvez ele estivesse fazendo turnos dobrados ou algo assim.

- não. Ele está trabalhando normalmente – Cory pareceu pensativo – na verdade ele não tem saído muito para o trabalho de campo e tem ficado mais do escritório. Talvez seja porque ele está treinando o rapaz que entrou no seu lugar.

- já contrataram alguém pra ficar no meu lugar?

- Sim; na semana passada, mas não se preocupe. Seu lugar está garantido. Quando você voltar terá bem menos trabalho já que terá um colega para dividir as tarefas.

- e é o Clyde que está treinando-o?

- sim – falou Cory.

- você acha que eu estaria forçando as coisas indo visita-lo? Para mostrar que já consigo andar.

- não – falou Cory – acho uma boa ideia. Se você quiser eu te levo.

- obrigado – falei me levantando – vou me trocar e te encontro nas escadas para que me ajude a descer.

- combinado – falou Cory se levantando e fechando a porta ao sair do quarto.

Depois de trocar de roupa e sair do quarto Cory me ajudou a descer as escadas. Tranquei a porta e coloquei a chave na pedra falsa que havia no jardim. Em seguida nós entramos em seu carro e seguimos caminho a delegacia que não ficava muito longe dali.

Ao chegarmos na delegacia nós caminhamos até o elevador e ao sairmos vários dos policiais vieram me cumprimentar perguntando se eu já estava de volta, como eu estava me sentindo entre outras coisas. Lola me deu um abraço com um largo sorriso feliz por me ver. Até Blacke que eu achei que não ligaria a mínima para mim me deu um forte abraço feliz por me ver.

- está de volta? – perguntou ele.

- não. Só vim visitar vocês – falei olhando em volta dos meus companheiros se encontrava Clyde. Eu o vi onde costumava ser a minha mesa. Ele estava de pé e ao seu lado um rapaz que tinha mais ou menos minha idade. Clyde estava segurando alguns papeis dando uma gargalhada. O rapaz ao lado dele também estava rindo e enquanto ria colocou a mão no ombro de Clyde e desceu a mão pelo peito dele e em seguida a tirou.

Vi que Clyde lambeu os lábios e olhou na minha direção parecendo surpreso por eu estar ali. Ele deu um largo sorriso e caminhou na minha direção. Ao chegar ele veio com os braços abertos e me de um abraço e um beijo no rosto.

- você está andando? – perguntou ele com um largo sorriso.

- vim te fazer uma surpresa – falei rindo. Clyde se aproximou e eu dei um selinho em sua boca. Sua barba me espetou.

- Oficial Holloway! – falou alguém atrás de Clyde. Era o garoto que estava no meu lugar.

- Brian – falou Clyde se virando – esse daqui é Stanley Anthony. O rapaz que eu te falei.

- prazer – falou Brian estendendo a mão – sou Brian Richardson. É bom finalmente conhece-lo.

- prazer é meu – falei olhando para Clyde e colocando a mão no ombro dele me apoiando.

Clyde ficou conversando com Brian por alguns segundos dizendo o que ele deveria fazer em algum trabalho. Eu fiquei encarando Brian que tinha olhos azuis, cabelos bem penteados e uma barba bem ralinha no rosto. Era magro, alto e tinha um sorriso bonito. Parecia ter m ais ou menos tinha idade.

- obrigado – falou Brian pegando os papeis – foi bom te conhecer.

- igualmente – falei forçando um sorriso. Clyde passou o braço por trás de mim e se aproximou dando um beijo em meus lábios – que surpresa maravilhosa.

- eu pensei em vir te ver pra te fazer uma surpresa.

- você veio com quem?

- Cory.

- Cory? Ele estava na sua casa?

- Sim. Foi me visitar e eu pedi que ele me trouxesse para te fazer uma visita surpresa – falei sentindo dor nas pernas – será que eu posso me sentar um pouco? Ainda doí.

Clyde me levou até a sua mesa e me deixou sentar em sua cadeira. Ele puxou outra e se sentou ao meu lado. Ele colocou sua mão junto a minha e sorriu para mim. Ele apenas ficou olhando para mim com um sorriso.

- o que foi?

- não é nada – falou ele com o sorriso – é que você é tão bonito. Não percebido o quanto você ficava bonito sob as luzes desse andar – falou ele apontando para cima.

- deixa de ser bobo – falei rindo e olhando para o computador dele.

- é sério – falou ele colocando a mão em meu rosto me fazendo olhar para ele – é tão bom poder olhar para você de olhos abertos. De pé, se movendo. É tão bom.

- é bom sentir você tocar meu rosto – falei fechando os olhos deitando o rosto sentindo sua forte mão tocando meu rosto – onde você está morando?

- no meu prédio – falou Brian atrás de nós.

- o que? – perguntei confuso.

- isso – falou Clyde – na verdade foi lá que eu conheci Brian – eu estou morando de aluguel em um apartamento aqui peto. Fica á uma quadra daqui. Brian é o meu vizinho de frente. Nós conversamos um dia e uma coisa levou a outra e eu acabei trazendo-o para uma entrevista.

- legal – falei coçando a garganta voltando a olhar para Clyde – eu senti falta das suas visitas.

- É que semana passada estive encarregado de treinar o policial novato que entrou no lugar do Omar… - Clyde pareceu triste ao lembrar do que tinha acontecido – então eu não estava com muito tempo. Sem falar que Aaron ficou comigo na semana passada já que Anne foi passar alguns dias na casa da mãe no Alabama.

- que bom.

- sim. É bom ficar com ele.

- Aaron sabe sobre…

- não – falou Clyde – ele não sabe e Anne e eu conversamos e decidimos que ele não precisa saber disso. Eu sou o pai dele e não tem porque dizer o contrário.

- eu concordo com você – me aproximei de Clyde e dei um beijo em sua boca. Clyde pressionou minha nuca sentindo nossas línguas dançando em sua boca.

- eu te amo – falei com um sorriso.

- eu também – falou ele com um largo sorriso no rosto.

- o que você acha de passar a noite lá em casa hoje? Estou sentindo falta de dormir juntinho de você.

- bem que eu queria meu amor – falou Clyde respirando fundo – mas hoje eu peguei o turno da noite para compensar alguns dias de folga que peguei enquanto você estava em coma.

- tudo bem. Eu entendo.

- mas eu compenso você. Passo a noite com você o resto da semana. Pode ser?

- pode – falei forçando um sorriso.

- fica triste não amor – falou ele segurando em meu queixo com uma mão acariciando meu rosto com as costas da outra mão – dá um sorriso pra mim. Não um sorriso falso, um sorriso.

Clyde me fez rir. Ele sempre me fazia rir.

- tudo bem amor. Pode ser. Mas tem que ser todos os dias incluindo o sábado.

- combinado! – falou ele dando um selinho em minha boca.

O delegado Hugo saiu de sua sala e Clyde se levantou rapidamente.

- Stan? Você por aqui? – perguntou o delegado estendendo a mão.

- boa tarde senhor Thornton – falei me levantando e apertando a mão dele.

- como você está? Se recuperando?

- sim.

- bom saber que está se recuperando – falou o delegado sorrindo para mim – estamos aguardando ansiosos a sua volta.

- eu também – falei olhando para Brian que estava concentrado no computador. Eu respirei fundo e voltei a me sentar.

Não gostava de bancar o ciumento. Especialmente porque eu nunca tive motivos para ser ciumento afinal Clyde é o primeiro a me despertar esse sentimento. Clyde era um coroa gostoso e era charmoso. Não sabia que Brian gostava da ‘Fruta’, mas eu não estava disposto a pagar para descobrir. A confiança é a base qualquer relacionamento e seu que um pouco de ciúmes é bom para o relacionamento. Simplesmente respirei fundo e agradeci por ter um homem em minha vida que me fizesse sentir tantos ciúmes. Sinal de que eu o amava.

Quando Clyde se sentou coloquei as duas mãos em seus ombros e o puxei para dar um beijo em sua boca. Clyde segurou meu rosto entre suas fortes mãos e não hesitou em me dar um beijo quente e apaixonado ali mesmo no meio da delegacia. Ele não tinha ciúmes em mostrar que estava apaixonado. Seu beijo sempre me mostrava isso.

- eu preciso trabalhar amor.

- mas já?

- sim. Eu queria que meu trabalho fosse ficar aqui sentado te beijando e fazendo outras coisinhas com meus dedos, mas eu preciso trabalhar.

- eu entendo – falei dando um último beijo em sua boca – Vou embora e te deixar trabalhar.

- quer que eu te dê uma carona pra casa? – falou o delegado Hugo aparecendo.

- Eu não quero incomodar o senhor.

- Não incomoda. Estou indo até a cena de um crime e posso passar na casa de Stanley e deixa-lo.

- eu agradeceria muito – falou Clyde.

- sem problemas – falou Hugo – vamos indo?

- vamos – falei me levantando e Clyde veio conosco entrando no elevador. Nós descemos até o saguão e quando chegamos de fora Hugo desativou o alarme de seu carro e Clyde me deu um abraço aninhando seu corpo ao meu dando um beijo no meu rosto.

- te amo – falou Clyde cochichando em meus ouvidos.

- também te amo – falei abraçando-o passando a mão em suas costas cobertas pelo uniforme – te vejo amanhã?

- amanhã – falou Clyde me dando um último beijo.

Entrei no carro de Hugo e acenei para Clyde à medida que o carro se afastava. Nós seguimos em silêncio por um momento, mas depois de nos afastarmos duas quadras Hugo quebrou o gelo.

- todos pareciam felizes de te ver – falou delegado quebrando o gelo.

- sim. Eu também fiquei feliz em vê-los. Nem achei que fosse sobreviver a tudo o que aconteceu.

- o que achou do Brian? – perguntou ele com sua grossa voz.

- ele parece legal.

- sim, ele é eficiente – falou o delegado parando o carro no sinal – vai ser bom pra você. Quando voltar terá bem menos responsabilidades em suas costas.

- apesar de que eu não me importava com as responsabilidades que tinha – falei quando Hugo seguiu com o carro.

- você preferia trabalhar sozinho?

- sim, mas não quero que o rapaz perca o emprego foi só um infeliz comentário – falei respirando fundo.

- o que foi? – perguntou ele apontando para a esquerda e eu confirmei que era o caminho correto a se seguir.

- não é nada… vire a próxima esquerda.

- pode me falar. Você está incomodado com algo?

- não tem nada a ver com o trabalho. Não quero importunar o senhor com meus problemas pessoais.

- eu sei que todos na Delegacia me tratam com muito respeito e eu respeito a linha que eles colocaram no relacionamento, mas eu sou como eles. Pode conversar comigo. Quer conselho sobre algo?

- o senhor acha que aquele Brian é como eu?

- como você? – perguntou ele confuso.

- sim. Eu digo… que gosta de homem. Como eu.

- olha… no fim da semana passada nós fizemos uma pequena confraternização comemorando o aniversário do policial Luís e eu presenciei uma conversa entre os policiais Vince, Clyde e Brian.

- que tipo de conversa?

- nada comprometedor. Brian perguntou ao Clyde se ele era casado porque tinha visto a marca da aliança no dedo. Clyde respondeu que estava se divorciando no momento.

- eu acho que estou ficando paranoico.

- ainda não terminou – falou o delegado – o Vince então fez uma brincadeira dizendo que Clyde gostava de rapazes e Brian perguntou ‘Sério? Rapazes como eu?’ e Clyde respondeu ‘Sim, rapazes como você’.

- acho que foi só uma conversa… é aqui – falei vendo minha casa do lado esquerdo.

- Olha eu sei que você está com ciúmes. É normal existir ciúmes – Hugo parou o carro e o desligou – é saudável ter ciúmes em um relacionamento. Provavelmente não foi nada.

- eu também acho.

- mas você precisa ter uma coisa em mente – falou Hugo.

- o que?

- Clyde era casado e traiu a esposa com você. Quer dizer… quem trai uma vez trai duas, não é?

- Eu não sei. Talvez. Não acho que seja uma regra que todos seguem, mas ele me disse que estava infeliz no casamento e que estava apaixonado por mim.

- não é exatamente isso que diz todo traidor? – Hugo fez uma pausa – diz que está infeliz no casamento, que está apaixonado e que vai deixar a esposa?

- na verdade ele não disse que deixaria a esposa, disse que levaria tempo.

- então podemos concluir que se a ‘Noite do Enxame’ não tivesse acontecido e Clyde não tivesse descoberto que Aaron não é seu filho eles estariam juntos… certo?

- eu não sei. Talvez. Ele disse que levaria tempo que a esposa era importante para ele.

- não estou querendo colocar coisas em sua cabeça é que eu estou de fora e vejo o que está acontecendo. Vejo que você gosta muito dele. Só estou te mostrando os dois lados da moeda. Os dois caminhos por onde tudo isso pode seguir. Todo mundo ao seu redor bate palmas e fica feliz por vocês, mas eu não tenho porque mentir. Só digo o que estou vendo. É bom ter uma opinião de alguém que está de fora.

- obrigado por ser sincero comigo – falei tirando o cinto de segurança.

- precisa de ajuda para caminhar até lá dentro?

- não precisa. Obrigado – falei forçando um sorriso para ele e saindo do carro dando a volta. Hugo ligou o carro e deu um sorriso acenando para mim.

- tenha um bom dia.

- o senhor também delegado.

- quase me esqueci – falou o delegado voltando com o carro depois que eu havia pegado a chave na pedra falsa.

- o que foi?

- antes de voltar ao trabalho à política da policia insiste que você tenha pelo menos dez sessões com o psiquiatra. Então se você pretende voltar em breve deve começar ás suas sessões o mais breve possível.

- tudo bem – falei limpando os lábios.

- o psiquiatra é o Dr. Henry Parker – falou o delegado Hugo me entregando o cartão de visitas do psiquiatra.

- tudo bem eu vou ligar para ele amanhã mesmo.

Hugo deu um sorriso e seguiu viagem enquanto me deixava ali na calçada com mais dúvidas do que respostas. Aquela ida á delegacia tinha sido um erro. Ou um acerto? Eu só sabia que tinha muita coisa em minha cabeça naquele momento.

Peguei a chave na pedra falsa e entrei em casa. Não havia ninguém. Meu pai ainda não havia chegado da casa de Casey. Fui até a cozinha tomar um copo de água e com tudo o que o delegado Hugo tinha me dito percebi que havia ficado transtornado. Joguei o copo longe que se quebrou ao tocar a parede. Brian tinha duas mãos perfeitas, era bonito e andava passando um bom tempo com Clyde.

- hey hey hey! O que está acontecendo aqui? – perguntou meu irmão Nick entrando na cozinha pela garagem com a chave do carro na mão. Ele havia acabado de estacionar o carro.

- não é nada. Deixei o copo cair.

- pois parece mais que você estava tentando ensinar o copo a voar – falou ele rindo.

- não estou com graça agora Nick – falei me sentando próximo ao balcão.

- o que aconteceu Stan?

- não é nada.

- claramente algo uma coisa aconteceu – falou ele se sentando do outro lado do balão de frente para mim.

- não é nada, me ajuda a ir pro quarto.

- não senhor. Vai ficar de castigo aqui até me falar porque está jogando coisas? você não é assim. Vamos, me diga. O que está acontecendo?

- Eu acho que quero fazer aquela cirurgia.

- o que? Por quê?

- precisa de explicação – falei levantando a mão – olha essa garra. Ela dá medo nas crianças e provoca ânsia de vômito nos adultos.

- mas você não queria fazer essa cirurgia. Porque mudou de ideia?

- você estava certo Nick. Você, meu pai e minha mãe estavam certos o tempo todo. Eu deveria ter feito essa cirurgia a muito tempo.

- eu não vou fazer cirurgia nenhuma se não em disser o que está acontecendo.

- é o Clyde.

- ele te disse alguma coisa? Está te pressionando a fazer a cirurgia?

- não. Ele não disse nada é que… acha que alguém que trai uma vez acaba traindo de novo?

- Okay – falou Nick coçando a cabeça tentando encontrar o conselho correto – o que está pegando? Você acha que ele está te traindo?

- não. Eu fui hoje na delegacia e eles contrataram alguém por meu lugar. Um rapaz que parece ter minha idade, mas bem mais bonito do que eu. Ele é magro, tem olhos azuis e duas mãos perfeitas. Clyde e ele vivem no mesmo prédio.

- você acha que eles estão…

- não, mas acho que Clyde pode gostar dele e acabar se apaixonando. Ele anda meio afastado e… eu fui um idiota por achar que ele gostaria de passar o resto da vida indo pra cama com isso – falei mostrando a mão sentindo um mal estar.

- você sabe o que significa ‘Política do Medo?’ – perguntou Nick em uma voz compreensiva.

- vai falar de política?

- já ouviu falar ou não?

- não. não ouvi.

- politica do medo é quando os políticos usam o medo das pessoas para serem eleitos. De uma forma ou de outra foi assim que Trump acabou sendo eleito. Com tantos ataques terroristas no país e no mundo ele prometeu uma solução, prometeu acabar com tudo. Ele usou o medo das pessoas para ser eleito. Ele usou o medo das pessoas para conseguir dominá-las.

- o que isso tem a ver comigo?

- o seu cérebro está fazendo isso com você. Seu cérebro sabe que o seu coração bate mais forte por causa do Clyde e nesse momento ele está usando o seu maior medo contra você. As suas mãos. O medo de ser rejeitado por ser quem você é. Por ter nascido com essas mãos. Seu cérebro é racional, mas é traiçoeiro. O seu cérebro obedece a você. Se você pensa coisas ruins ele te fará pensar em coisas cada vez piores. Então pense em coisas boas. Pense no que você e Clyde têm, em como gostam um do outro.

- é difícil pensar isso quando estamos tão longes.

- então porque não vai a casa dele hoje ou o convida para dormir aqui? Se você quiser eu te dou uma carona.

- porque ele vai trabalhar no turno da noite. Ele prometeu vir pra cá todas as noites pelo resto da semana para compensar.

- viu só? Ele gosta de você.

- acho que estou sendo paranoico.

- eu também – falou meu irmão.

- obrigado pelo conselho.

- por nada – falou meu irmão saindo da cozinha junto á mim.

Ele me ajudou a subir as escadas e quando cheguei ao meu quarto tomei um longo e demorado banho. Precisava desestressar e parar de me preocupar com coisas que nem aconteceram. Eu precisava confiar que todas as vezes que ele me disse ‘eu te amo’ ele estava sendo verdadeiro, porque eu estava. Assim que saí do banho desci as escadas sozinho até a cozinha e preparei um lanche para mim. Peguei o pão, a margarina, o peito de peru e depois de fazer um suco me sentei para comer. Meu irmão me deu uma bronca por ter desci as escadas sozinho e eu tive que prometer que não faria de novo.

Por volta dás seis da tarde que era a hora que se iniciava o turno da noite eu pedi para meu pai me ajudar a subir as escadas e assim ele o fez apesar de usar a bengala. Ao chegar no meu quarto mandei uma mensagem para Clyde dizendo que estava com saudades, que tinha gostado de encontra-lo e que o amava muito. Por ultimo escrevi que ele tivesse cuidado no trabalho e que ele ficasse bem. Obtive a resposta logo em seguida.

- Aqui é a Judy, Clyde foi pra casa e esqueceu o celular.

Desisti das mensagens e liguei para o celular de Clyde e Judy atendeu.

- oi Judy, tudo bem?

- tudo joia.

- Clyde saiu para o turno da noite e esqueceu o celular ai?

- não. Ele foi pra casa e esqueceu.

- mas ele não ia trabalhar o turno da noite? Pensei que o delegado Hugo tinha pedido para ele trabalhar o turno da noite.

- Talvez eu esteja enganada, mas ele não mencionou nada sobre trabalhar no turno da noite. Não que eu saiba – respondeu Judy.

- tudo bem então. Obrigado.

- por nada.

Desliguei o celular e cai deitado na cama. Nenhum conselho conseguiria tirar da minha cabeça de que algo de errado estava acontecendo com Clyde. Porque ele mentiria? Sinto que o Delegado Hugo sabia de algo que ele não teve coragem de contar. Eu não ia aguentar esperar as respostas virem até mim. Eu precisava obtê-las por mim mesmo.  Espero que a carona que Nick ofereceu mais cedo ainda estivesse de pé.

Obrigado pelos comentários pessoal. todos vocês. Um abração á todos.

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