Capítulo 05: Nós Encontramos o Amor | Conto: Paixão Secreta | Temporada: 7ª

NÓS ENCONTRAMOS O AMOR capítulo cinco

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E

stava sem ar. Não por causa do câncer no pulmão, mas por causa das mãos dele em volta do meu pescoço. Apertando cada vez mais forte enquanto sua expressão raivosa se transformava em algo que eu não reconhecia. Eu segurava nos braços dele tentando me livrar, mas não conseguia. Atrevo-me a dizer que estou surpreso. Quer dizer, estatisticamente falando se você for assassinado será alguém que você conhece. Alguém próximo de você. Tão próximo que ao ver acontecer será como um choque. Um conhecido, um vizinho, um amigo, um membro da sua família… seu amante e companheiro. Por que será? Por que somos mais propensos a machucar as pessoas que mais amamos? Porque revertemos todo o amor e paixão em ódio?

Não sei a pergunta para essas respostas e eu não conseguira responder porque as mãos de Adam apertavam meu pescoço enquanto eu estava caído no chão de nossa casa. Eu tentava me soltar, mas ele não se movia e parecia pronto para acabar com tudo ali. A minha mochila estava jogada no chão do lado esquerdo e a mesa da cozinha estava virada com todos os copos e pratos quebrados. Estatisticamente falando eu estava sendo assassino por um conhecido, amigo, membro da minha família e meu parceiro e amante.

1 HORA E 49 MINUTOS ANTES

Era constrangedor. Lucy parecia ser uma mulher incrível. Tem um emprego instável como gerente em uma companhia de entregas, é mãe de dois filhos maravilhosos e ainda conseguia tempo para cozinhar um jantar perfeito. Ainda não tinha provado, mas conseguia sentir o cheiro de longe. Adam e Jeffrey estavam sentados lá fora conversando e fumando. Coisas de homens. Jeffrey era o homem do aplicativo. Ele usava o nome de PapaiVermelho. Ele provavelmente levou um choque  ao me ver. Ao saber que Adam morava comigo. Ele não disse nada quando chegamos e depois que Adam entregou a garrafa de vinho ele sorriu pra mim e apertou a minha mão. Fingimos não ter nos conhecido.

Fazia um bom tempo que estávamos lá. Adam, Jeff e Lucy tomaram algumas cervejas, mas eu decidi tomar apenas suco. Tinha medo de que a cerveja embrulhasse o meu estômago.

- você gosta de peixe? Eu decidi fazer frutos do mar – falou Lucy enquanto caminhávamos para a sala de jantar. Ela colocou a panela com a moqueca de peixe no centro da mesa.

- eu adoro – falei sorrindo e me sentando a mesa.

Adam e Jeff já estavam sentados e quando Lucy colocou a panela eles começaram a se servir. Era uma pequena mesa e cada um de nós se sentou em um lado dela. Fiquei de frente para Lucy e Adam se sentou na ponta do meu lado direito

- o cheiro está maravilhoso – falou colocando o peixe.

- espero que esteja saboroso – falou Lucy rindo – sabe… eu não posso esconder o quanto e bom conhecer vocês.

- querida – falou Jeff sem graça – você está parecendo desesperada.

- não precisa ter vergonha – falou Adam – também acho bacana conhecer alguém com quem possa jantar as vezes ou conversar sobre futebol – falou Adam rindo -  Mike não gosta de exportar e quando assistimos futebol juntos ele logo dorme no meu colo.

- é o mesmo com Lucy – falou Jeffrey colocando um pouco de comida na boca – o máximo de esporte que ela assiste é a ginastica rítmica.

Todos deram boas risadas da análise de Adam e Jeffrey sobre Lucy e eu. A comida de Lucy estava boa, mas eu estava um pouco receoso em comer e acabar vomitando tudo depois então eu tentei disfarçar bastante e não deixar transparecer que eu estava tentando evitar a comida para não ofender Lucy.

- estava uma delícia – falou Adam terminando de comer e limpando a boca – você é uma cozinheira de mão cheia Lucy – falou ele elogiando com um sorriso.

- ainda tem um pouco do peixe. Você quer Mike? – perguntou Lucy com aquele sorriso.

- quero sim. está maravilhoso – falei forçando um sorriso enquanto ela colocava mais comida.

- acho que podemos abrir o vinho, certo? – falou Adam se levantando.

- está na cozinha – falou Jeff se levantando e in do com Adam.

- você gostou? – perguntou Lucy olhando pra mim.

- sim. está maravilhoso. Eu não consigo fazer peixe ou camarão ou a lula. Estão divinos – falei forçando um pouco mais para dentro da boca.

- vinho para nossos parceiros – falou Adam trazendo a garrafa e Jeff trazendo duas taças. Ele colocou uma taça na frente de cada um de nós. Adam serviu o vinho para Lucy e quando finalizou ela olhou para Jeff e ele se baixou e e deu um selo na boca de Lucy e falou alguma coisa romântica. Adam colocou o vinho para mim e eu olhei para ele e não soube o que fazer. Eu queria um carinho dele. Queria um motivo pra ficar e pra não ir embora. Adam apertou os lábios e eu levantei uma das mãos e toquei seu rosto e o puxei pela nuca e dei um beijo em seu rosto. Não disse nada. Apenas um beijo no rosto e ele virou o rosto e deu um selo em minha boca.

Adam se levantou e Lucy olhou para mim com um sorriso terno no rosto.

- vamos Jeff – falou Adam indo para a cozinha – vamos lá pra fora.

- vamos embora – falou Jeff esfregando as duas mãos e eles se foram.

Depois que eu termine de comer ajudei Lucy a juntar as louças e a dar uma organizada na cozinha. Eu insisti em lavar as louças e apesar dela tentar me impedir eu acabei lavando a tudo enquanto ela me fazia companhia. Quando terminei Lucy serviu mais uma taça de vinho para mim e para ela. Era tarde e lá fora estava escuro.

- esse vinho é maravilhoso – falou ela pegando a sua taça e tomando um gole.

- foi o irmão do Adam que nos deu. Para comemorar o nosso casamento – falei tomando outro gole.

- vocês já se casaram?

- sim, mas isso foi no passado. A quase três anos atrás. N´s ficamos separados dois anos e quando nos vimos pela primeira vez não teve jeito. Aquele sentimento ainda existia. Na verdade essa garrafa é  para o nosso segundo casamento.

- isso é tão romântico – falou ela rindo – mas se era pro casamento porque trouxeram hoje? Me sinto uma vigarista tomando esse vinho.

- Adam achou que a ocasião de hoje merecia esse vinho.

- estou lisonjeada – falou ela ficando ao meu lado e olhando lá pra fora  - olha lá nossos homens. Bebendo o vinho, fumando seus cigarros, jogando conversa fora… - falou ela tomando um gole de sua bebida – e mais tarde eu vou receber a melhor linguada de toda a Seattle – falou ela rindo.

- okay – falei rindo sem graça. Não achei que chegaria a esse tipo de conversa tão cedo.

- desculpa – falou ela colocando uma das mãos na boca – eu te deixei sem graça? – ela tomou um gole do vinho – é que Jeffrey é ótimo nisso – falou ela rindo – Adam não faz em você? Lá… embaixo?

- na frente? não – falei rindo – eu não curto muito, mas ele manda muito bem lá trás. Fica horas e horas… me deixa até mole na cama.

- eu conheço essa sensação irmã – falou ela brincando e batendo a taça dela na minha – acho que sou a mulher mais sortuda do mundo.

- também acho – falei olhando para Adam conversando sobre algo com Jeff que deu risada. – quer dizer… sobre mim. Acho que sou sortudo por tê-lo.

- como vocês se conheceram? – perguntou Lucy com um sorriso – eu adoro ouvir essas histórias.

- não foi nada demais. Ele era meu chefe e depois de muita enrolação e sentimentos reprimidos acabamos indo pra cama. Foi… foi mágico sabe. O melhor cara que já me levou pra cama.

- eu acho romântico – falou Lucy rindo.

- e você e Jeff? Como se conheceram?

- ele era meu mecânico. Na época eu tinha vinte e poucos anos… como você. Meu pai me deu um carro de presente que vivia empacando. Fui tantas vezes a oficina que ele achou que era uma desculpa para vê-lo – falou ela rindo – um dia ele criou coragem e me chamou pra sair e estamos juntos desde então. Agora eu sou gerente em uma companhia de entregas e ele é gerente de uma concessionaria.

- o sonho americano – falei rindo.

- mais ou menos – falou ela rindo e tomando um gole do seu vinho.

- então… - falou Jeff entrando na cozinha com Adam – o que as garotas estão conversando?

Ninguém respondeu nada e Jeff olhou pra mim envergonhado pelo o que tinha falado.

- desculpa… eu não quis dizer que…

- relaxa – falei respirando fundo – é um elogio ser chamado de garota. Não me ofende.

- okay – falou ele rindo sem graça.

- o cheiro da comida está ótimo – falou Adam se aproximando de Lucy e eu me afastei um pouco. Os dois ficaram conversando e eu fiquei ao lado de Jeff. Adam e Lucy se distraíram enquanto conversavam e Jeff olhou pra mim.

- podemos conversar um pouco lá fora?

- acho melhor não – falei olhando pra ele – eu não vou fazer nada com você.

- eu não quero que você faça nada. Eu quero falar sobre o câncer que você tem e que o Adam não sabe – falou ele sério.

Jeff saiu pela porta da cozinha e eu peguei minha taça de vinho e tomei o restante de uma vez só. Sai atrás de Jeff e ele estava na parte esquerda da área externa para que Adam e Lucy não nos visse. Me aproximei dele e cruzei os braços.

- então? Vai me chantagear?

- não! – falou Jeff – quando é que você vai contar pro Adam sobre o sue câncer. Ele merece saber.

- quando é que você vai contar pra sua esposa que estávamos a dois passos de você me comer de quatro e ser o meu daddy. Não foi o que você disse? Ele também tem direito de saber.

- isso não é sobre mim – falou Jeff – eu conheço seu namorado desde que vocês se mudaram para cá e ele é um homem bom. Gosta de você – falou Jeff lambendo os lábios – quando ele fala de você todos que estão em volta conseguem ver o brilho nos olhos dele ou a forma que ele tenta esconder o sorriso ao dizer seu nome. Ele te ama Mike. Conte pra ele.

- eu não vou contar. Ele acabou de sugerir que talvez eu devesse voltar pra Carolina do Norte pra fazer meu curso de direito. Ele está se desfazendo de mim. Eu conheço Adam.

- ele me falou sobre isso – falou Jeff – ele está aflito. Disse também se sente que não conseguindo ser o homem que você precisa e que você está se distanciando.

- isso não é verdade. Ele é mais do         que homem pras mim. É um Super-homem. É o Batman. Um herói que não tem poderes, mas que faz de tudo por mim. Ele… eu o amo – falei sentindo meus olhos ficarem marejados – eu tenho medo de contar que tenho câncer porque eu tenho medo de morrer. Ele é o meu Batman e eu não quero perdê-lo.

- eu entendo que você está com medo, mas você precisa contar Mike. Ele disse que vai conversar com você hoje.

- sério?

- sim. Ele disse que vai abrir o jogo sobre como está se sentindo e pediu alguns conselhos. Eu disse que você parece ser um garoto legal. Pra ele não desistir tão fácil de você.

- okay – falei sentindo meu estômago embrulhar – okay – falei tentando segurar o vômito.

- você está bem?

Antes que pudesse responder vomitei tudo nos sapatos e na camisa de Jeffrey. Estava ali o jantar que eu tanto tive medo de comer. Para acompanhar uma água amarelada.

- desculpa – falei tapando a boca.

- não. tudo bem – falou ele olhando pra mim percebendo que eu tinha começado o meu tratamento – tudo bem.

- o que aconteceu? – perguntou Adam aparecendo e vendo o vômito no chão e na camisa de Jeffrey.

- nada – falei limpando a boca – eu estou com o estômago um pouco enjoado.

- eu vou trocar de camisa – falou Jeffrey.

- me desculpa – falei colocando a mão no estômago.

- não foi nada. Fica tranquilo.

- você está bem? – perguntou Adam se aproximando e passando o braço por trás de mim.

- sim. só um pouco enjoado.

- traga ele – falou Lucy – toma uma água com limão. É ótima pra melhorar enjoo.

Ao chegar na cozinha Adam me colocou sentado em uma cadeira e Lucy preparou a água com algumas gotas de limão. Adam pegou o copo e em entregou para que eu bebesse. Tomei rapidamente em vários goles e coloquei o copo em cima da mesa.

- obrigado – falei respirando fundo – já estou me sentindo um pouco melhor.

- sua roupa sujou um pouco – falou Adam apontando para minha camisa.

- pega uma das camisa do Jeff – falou Lucy.

- não precisa. Eu vou lá em casa e pego outra pra ele.

Tirei a minha camisa e entreguei para Adam que antes de ir passou as mãos em meus cabelos.

- você está melhor ou ainda está enjoado?

- estou um pouco melhor. A água com limão ajudou um pouco.

- ótimo – falou ele olhando para Lucy – eu volto já.

Adam  se foi e uns quinze minutos depois Jeffrey apareceu de banho tomado e uma nova muda de roupa. Lucy fez o grande favor de lavar todo o meu vômito. Ela disse não se importar em fazer isso. Eu detestava incomodar as pessoas, mas eu não tive muita escolha.

- você está melhor? – perguntou Jeffrey chegando a cozinha e se sentando no balcão ao meu lado.

- um pouco.

- você já começou o tratamento? – perguntou Jeff todo paternal preocupado comigo.

- sim. hoje eu tomei o primeiro ciclo. Achei que não fosse ter efeitos colaterais, mas eu não consegui segurar nem o almoço e nem o jantar.

- você ainda acha uma boca ideia esconder isso dele?

- eu não sei – falei coçando a chorar e colocando uma das mãos no meu rosto – eu não sei.

- terminei de limpar… - falou Lucy chegando e olhando para mim – o que está acontecendo? O que aconteceu? – Lucy se aproximou e segurou em minha outra mão.

- eu tenho câncer – falei olhando pra ela – e eu ainda não contei ao Adam. Não sei como contar a ele. Eu tenho medo da reação.

- Mike eu… eu sinto muito – falou Lucy dando a volta e me dando um abraço enquanto eu chorava molhando sua roupa.

- ele começou a quimioterapia hoje – falou Jeffrey – por isso ele vomitou.

- a culpa é minha – falou Lucy – eu vi que você quase não comeu e fiquei empurrando m ais comida pra você.

- a culpa não é sua – falei limpando os olhos – a culpa é dos remédios. E isso é só o começo. Eu vou perder os cabelos, perder o apetite… vou parecer um monstro. Que advogado de sucesso quer ficar casado com alguém com a minha aparência.

- você mesmo disse que vocês tem uma longa história – falou Lucy – olhe para trás e pense em tudo o que você passaram. Agora me diga: você acha que ele vai te dar o pé por causa disso? Se ele fizer isso ele é o verdadeiro monstro da história.

- não que haja um monstro – falou Jeff completando – não existem monstros e você não deveria se referir a você como um monstro. Deveria se referir como um lutador.

- vocês acham que eu devo contar? – perguntei limpando os olhos.

- sim – falou Jeff – você vai se espantar em como as pessoas podem te surpreender. As pessoas encontram amor em qualquer situação – falou ele apertando os lábios em um sorriso – além do mais se ele te chutar você vai ser bem vindo pra ficar aqui – falou ele com um sorriso – mas eu tenho certeza de que ele vai entender. Não conheço Adam a muito tempo, mas pelo o que conheci ele parece ser um homem bom.

- okay – falei me levantando – você acham que eu devo esperar?

- é melhor você ir lá. Aproveite que ele está lá. Será até melhor. Vocês vão ter um pouco de privacidade – falou Jeff colocando a mão no meu ombro enquanto eu caminhava até a porta. Quando a .porta se abriu eu vi a estátua do Frankstein.

- eu posso perguntar qual é a do Frankstein? – perguntei olhando para eles.

- pode sim – falou Lucy – acontece que o meu maridão aqui é um ótimo escultor nas horas vagas. Ele fez essa estátua pro Halloween e as pessoas gostaram tanto que decidimos deixar.

- você tem talento – falei olhando em direção a minha casa e então ouve um raio e um trovão. Então começou a chuviscar bem fininho.

- parece que vai chover – falou Lucy.

- me desejem boa sorte.

- depois nos conte como foi – falou Lucy.

- conto sim – falei atravessando a rua sentindo o cheiro do gramado molhado. A chuva começou a engrossar e eu cheguei em casa antes que pudesse me molhar. Abri a porta e notei que apenas a luz do escritório de Adam estava acesa e um abajur na sala. Fechei a porta e vi uma pequena luz nas escadas e vi que era Adam sentado em um dos degraus fumando um cigarro.

- Adam? O que está fazendo aqui?

- nada – falou ele assoprando a fumaça e jogando as cinzas do cigarro – eu fui pegar uma camisa pra você encontrei isso – falou ele pegando a minha mochila e jogando no chão – notei que tem algumas roupas, carteira, passaporte… estava pensando em fugir com seu amante?

- amante? Que amante?

- não me faça de idiota Mike – falou ele apagando o cigarro no cinzeiro e me mostra o celular. Eram fotos de Dr. Cody e eu nos abraçando em frente ao hospital – eu estou fazendo de tudo pra poder ter a minha reputação de volta, estou trabalhando como louco e você está por ai caçando ‘daddy’ com aquele aplicativo?

- você está enganado Adam. Eu não tenho amante.

- mas e a mochila? Vai me dizer que não estava pensando em fugir?

- Sim. Estava. você mesmo me mandou embora pra Carolina do Norte.

- sim. porque você está me traindo. Quer que eu fiquei te sustentando enquanto você senta no pau de outro cara? – perguntou ele alto com muita raiva.

- eu não tenho amante Adam – falei caminhando em direção a cozinha e quando chegamos em frente ao escritório dele Adam segurou forte no meu braço me fazendo parar. Eu puxei meu braço – me solta – falei respirando fundo – você me seguiu?

- foi o Thad. Eu pedi pra ele te seguir pra ter certeza de que você iria onde disse que iria.

- eu fui. Pro hospital.

- e quem é esse maldito homem que está te abraçando? – ele perguntou isso mostrando novamente o celular.

- meu médico Adam – respondi exatamente quando um trovão cortou o céu. A chuva estava grossa lá fora.

- sua médica é mulher. Dr. Alma o nome dela. Não é?

- sim. os dois são meus médicos. Esse é o Dr. Cody Lennox.

- e porque esse nível de intimidade?

- eu tenho câncer – falei baixinho.

- o que? – perguntou ele se aproximando um passo para ouvir. A expressão dele estava me assustando.

- eu… tenho… câncer! – fui aumentando a voz e gritei quando disse câncer no momento em que outro trovão estalou – eu tenho câncer! Eu tenho câncer! Okay? – falei respirando fundo – Dra. Alma é minha oncologista e o Dr. Cody me diagnosticou. É por isso que estávamos nos abraçando.

- câncer? – perguntou Adam assustado segurando nos meus dois braços - câncer de que?

- câncer no pulmão.

- no pulmão? A culpa é minha?

- não Adam. A culpa não é sua. Não é minha, não é de Deus. Não é de ninguém.

- e quando você descobriu? Hoje? Foi por isso que a Dr. Alma te ligou? Eu sou um idiota – falou ele se virando e colocando a mão na boca e coçando a barba. Ele parecia perturbado.

- não – falei respirando fundo – na verdade eu sei desde o natal passado.

Quando disse isso Adam parou de se mover e olhou pra mim.

- o que você disse? Você sabe desde de… de o Natal? – perguntou ele novamente com raiva.

- sim. ele me ligou na festa de natal na casa do Gray.

- e você não me disse nada?

- não. você perdeu a empresa e começou do zero. Eu não queria ser um fardo.

- e você pretendia esconder isso de mim até quando?

- não sei. Achei que depois de começar a quimioterapia talvez eu te contasse. Eu não sei. Não pensei nos detalhes.

- você já… é por isso que vomitou? Você está fazendo quimioterapia? – Adam parecia possuído por um demônio de raiva.

- sim. comecei hoje.

Adam veio pra cima de mim e me empurrou contra a prede e passou por mim entrando em seu escritório. Ele andou pela sala algumas vezes e começou a pegar os livros que estavam na estante e jogar no chão. Ele pegou o monitor do computador e jogou para o alto.

- Adam! – falei indo pra cima dele – para com isso!

 Ele não me deu ouvidos e pegava tudo o que via e jogava no chão. Ele pegou alguns enfeites de porcelana e jogou na parede. Em seguida ele pegou o notebook do Eric que ele sempre deixava lá.

- Adam esse é o notebook do Eric.

 Não adiantou. Foi o mesmo que falar com uma criança de cinco amos. Ele abriu o notebook e o quebrou em dois pedaços e jogou contra a parede. Ele então pegou a base de um troféu que ele quebrou e bateu nas lâmpadas do lustro do seu escritório que estouraram.

- para com isso Adam! – gritei com raiva.

Adam olhou para mim, mas não disse nada. Ele pegou a mesa do escritório e virou ela com as pernas para cima derrubando o que estava lá em cima. Ele veio na minha direção e me empurrou me tirando da frente. Ele foi até a sala e chutou um criado mudo derrubando-o no chão junto com o abajur.

Adam foi até os sofás e os virou com toda a sua força. Ele e pegou o abajur caído no chão e jogou na direção da televisão que se quebrou fazendo um barulho horrível.

-  o que está fazendo Adam? Ficou maluco – falei tapando os ouvidos enquanto ele pegava os quadros da parede e jogava de um lado para p outro. Ele pegou alguns de seus livros que estavam na sala e começou a rasgar as páginas e por fim ele desistiu e apenas jogou em direção a janela que se quebrou. Ele começou a jogar as coisas da sala para fora da janela caindo no gramado na frente de casa – os vizinhos vão ver Adam! – falei indo na direção dele, mas ele deixou a sala e seguiu pelo corredor.

Ele foi até a cozinha a abriu a porta dos armários e começou a jogar os pratos, panelas, copos tudo no chão. Ele jogou uma travessa contra a porta da cozinha que se quebrou. A chuva que já não estava tão grossa começou a entrar na cozinha enquanto Adam jogava as coisas de um lado para o outro.

- seu desgraçado – falou Adam derrubando a mesa da cozinha – filha da puta – falou ele com raiva olhando em volta e abrindo as portas dos armários com tanta força que elas se quebravam.

- Adam o que você está fazendo – falei segurando no braço dele tentando impedir, mas ele se virou me empurrou com toda força me fazendo bater na parede e cair no chão. Ele veio por cima de mim e começou a apertar o meu pescoço.

Ele apertava o meu pescoço com toda a sua força e eu tentava me soltar. Estava sem ar. Tentava me soltar, mas ele não se movia e parecia pronto para acabar com tudo ali. Virei um pouco o rosto e vi a minha mochila estava jogada no chão do lado esquerdo e a mesa da cozinha estava virada com todos os copos e pratos quebrados do outro lado. Estatisticamente falando se eu for assassinado Adam seria o meu assassino. Ele apertou forte meu pescoço e eu segurei em seu braço tentando me soltar e foi quando eu senti algo pingando em mim. Eram lágrimas. Adam começou a chorar e foi afrouxando as mãos do meu pescoço. Empurrei Adam que caiu do meu lado chorando e eu tentei recuperar o ar. Eu respirava fundo sentindo meu pulmão queimar enquanto Adam chorava ao meu lado.

- você devia ter me contado – falou ele chorando – eu teria estado lá… com você – falou ele colocando as duas mãos no rosto – você me roubou… me roubou esses dias – falou ele se sentando e em posição fetal ele deitou a cabeça nos joelhos chorando.

- Adam? – falei conseguindo me levantar e ir até ele – para de chorar – falei acariciando seus cabelos.

- você é um monstro – falou Ele olhando pra mim com os olhos vermelhos ainda chorando. Ele soluçava de tanto chorar-  como você pôde fazer isso comigo? mentir pra mim? Enquanto eu estava aqui trabalhando e eu deveria estar lá com você? Você não entende? Se você morrer eu nunca vou me perdoar. Eu não vou conseguir superar.

- para de chorar meu amor – falei tocando o rosto dele e acariciando-o – me perdoa por mentir.

- não. você não precisa pedir desculpas. Não precisa pedir perdão. Você tem câncer – falou ele lambendo os lábios – e eu sou a pior pessoa do mundo por não ter percebido.

- estica as pernas – Adam em obedeceu e eu me deitei em seu colo e peguei sua mão e a segurei em meu coração – enquanto esse coração estiver batendo, ele bate por você – falei respirando fundo – então esse pulmão estiver se enchendo de ar você é o motivo por ele se esvaziar. Enquanto as minhas veias estiverem cheias de sangue é por você que ele circula. Dei um beijo na mão dele e fiquei lá deitado. Eu segurava sua mão esquerda e ele usou a direita para acariciar meus cabelos. A chuva era forte e a casa estava destruída. Adam estava sentado no chão da cozinha e eu fechei os olhos tentando adormecer no meio daquela bagunça. Eu lambia os lábios e sentia o gosto de suas lágrimas. Era um lar sem esperanças, mas ainda sim tínhamos amor.

A chuva já tinha parado e durante longos minutos nós estávamos lá em silêncio. Adam acariciava meus cabelos e meu corpo sentia o chão gelado. Ouvi o som de alguém batendo na porta.

- polícia! Está tudo bem? – falou uma voz masculina.

Eu me levantei e parei sentado e Adam se levantou e foi até a porta. Ele deu alguns passos e abriu a porta. o policial olhou diretamente para mim. Lá da cozinha ele podia me ver.

- boa noite – falou o policial com a mão na arma olhando para Adam – nós recebemos uma denuncia anônima de agressão – o homem olhou para o lado de fora e tinha um monte de coisa no gramado. A sala e a cozinha destruídas.

- foi um mal entendido – falou Adam grosseiro.

- eu posso falar com ele? – perguntou o policial.

- claro – falei me levantando e indo até o policial. Adam deixou a porta e desapareceu na cozinha.

- você está bem? – perguntou o policial olhando param eu pescoço e vendo as manchas vermelhas.

- sim. eu estou.

- tem certeza? – falou ele apontando pro meu pescoço.

- sim. foi só um… mal entendido.

- tem certeza?

- tenho sim senhor policial.

- você sabe que pode denunciá-lo por agressão mesmo sendo… você sabe… homem. Certo?

- sim. eu sei.

- okay então – falou ele se afastando – se precisar é só ligar pra emergência.

- obrigado pelos seus serviços policial – falei fechando a porta.

Caminhei até a cozinha procurando Adam e ele estava lá fora de pé fumando um cigarro. Cruzei os braços e esperei por ele. Ele fumou calmamente o cigarro e quando terminou ele o jogou no chão, picou em cima e em seguida jogou a carteira de cigarros pra longe. Ele voltou para dentro da cozinha pisando nos cacos de vidro e parou á minha frente. Ele ficou me olhando e aproximou lentamente. Sentia sua respiração em meu nariz e ele tocou lentamente meus lábios no meu. Descruzei os braços e o abracei.

- cara beijo seu é como água pra mim. Eu preciso todo dia.

- eu sei – falei tocando seu rosto e sentindo sua barba em minhas mãos.

- então você sabe que se morrer você também estará me matando – falou ele com a voz trêmula.

- eu sei – falei começando a chorar.

Adam segurou na minha cabeça e pressionou contra seu peito e me deixou chorar. Pressionei o rosto bem forte em seu peito enquanto chorava e sentia as lágrimas de Adam caindo em minha cabeça. A ferida estava exposta e doía muito. Abracei forte Adam e ele também me abraçou. Eu sei o que ele vai sentir quando eu me for e ele não é tão forte quanto eu pra suportar. Voltou a chover grosso lá fora enquanto nós dois nos despejávamos um.

Espero que tenham gostado desse capítulo :( Espero que estejam gostando do que escrevi até agora. O título do capítulo de hoje veio da música 'We Found Love' da Rihanna feat. Calvin Harris. Um abraço e até o próximo capítulo.