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CAPITULO UM
MALDITO PACTO COM O DIABO
stava deitado naquela cama dura e desconfortável. Aquele frio lancinante
sob as minhas costas. Meu fino cobertor sempre caia no chão. Ainda bem que eu
dormia na parte de baixo da beliche, do contrário estaria ferrado. Buckle não
gostava de ser incomodado enquanto dormia. Aquele mesmo cheiro estranhamente
agradável que permeava todo o lugar. Era para ser seguro, mas na verdade eu
nunca estive em um lugar tão perigoso na minha vida. Eu estava acordado a pelo
menos trinta minutos. Ainda era cedo. Eu podia me levantar, mas o que eu faria?
Correria em círculos? Decidi ficar lá deitado encarando o teto acinzentado.
Estava quase na hora. Eu sabia porque já ouvia os passos do guarda enquanto ele
passava de cela em cela acordando os meus colegas detentos.
Ao se aproximar da cela o guarda bateu com o
porrete nas grades da cela.
- Buckle, Thomas, John e Stanley.
Acordem seus preguiçosos bastardos – falou o guarda
da forma mais educada o possível – Exercícios em cinco minutos.
“Droga” – pensei comigo mesmo. Eu sei que fazer
exercícios era um privilégio, mas precisava ser todos os dias ás sete da manhã?
Quer dizer, eu fui condenado a três anos de prisão e já estou aqui a pouco mais
de oito meses. Quando eu penso que estou começando a me acostumar aquela
vontade de me suicidar volta. É normal ter esses sentimentos. Talvez seja por
isso que eles nos obriguem a ter sessões com os psicólogos pelo menos uma vez
por semana. Era uma idiotice. Eles nos trancam aqui porque a sociedade não nos
quer por perto, mas eles não querem que nos matemos. Eles querem que nós
soframos. No fundo eu mereço estar onde estou.
Logo que fui preso o advogado e marido de minha
irmã Casey – Joe Baez – conseguiu me libertar da prisão para que eu respondesse
em liberdade. Nesse meio tempo sai junto com Clyde em busca dos melhores
advogados do país e acabei na Carolina do Norte a procura do advogado Craig
McCormick. Ele era a minha salvação, mas ele acabou morrendo antes que
conseguisse terminar o meu caso. Acho que minha mãe estava certa no final das
contas: todo mundo que entra em contato comigo morre. Minha mãe nunca me
visitou desde que estou aqui. Meu irmão Nick também nunca me visitou e ele
também me culpava pela morte do meu pai. Casey e Clyde foram as únicas pessoas
que sobraram. Acho que eu já devia ter me acostumado com isso, mas as vezes me
incomoda muito.
As sessões com o psicólogo eram no mínimo
interessantes. Um bando de presos sentados em um circulo e um monte de
palavrões e ameaças são ditos. Eu apenas ouço o que os outros dizem. É a melhor
parte da minha semana. É como assistir a um programa do Dr. Phil. Claro que
haviam aqueles presos que quase não falavam nada, mas aqueles que gostavam de
partilhar sobre a sua vida antes da prisão me entretêm bastante. O psicólogo
sempre cobrava de mim. Ele queria que eu dissesse algo, mas eu sempre dizia a
minha história já havia sendo contada vezes demais. Era hora de deixar pra lá.
Nas primeiras semanas que fui preso algumas pessoas fizeram protesto pedindo
que eu fosse libertado já que eu era uma vítima de um culto maluco e o único
pecado que tinha cometido foi mentir pela minha irmã. A policia não estava nem
ai e alguns dias depois os protestantes acharam algo melhor pra fazer na vida.
Um a um nós
íamos saindo das celas formando uma fila pelo corredor. Todos com seu uniforme
laranja com um número nas costas. Haviam brutamontes, caras de gangues e assassinos
em séries. Alguns diriam que eu me encaixo nessa última definição, mas essas
pessoas não me conhecem de verdade.
Ao chegarmos no pátio haviam muitas coisas para se
fazer. Os muros altos com cercas elétricas com guardas armados até os dentes
não era a melhor visão de todas, mas era a visão que eu tinha. Alguns presos
jogavam bola, outros presos faziam ginástica com os alteres e barras que
estavam espalhadas. Outros apenas caminhavam. Eu estava apenas sentado em um
banco de cimentos olhando para o sol sentindo-o no meu rosto. Eu fechei os
olhos e fiquei feliz por ao ouvir a música tocar. Era a única forma de ouvir
música. É claro que eles não colocavam qualquer música para tocar.
Especialmente aquelas músicas violentas. As antigas são as que eles mais gostam
de tocar. Anos 80, anos 90. “Endless
Love” tocava alto e eu cantava bem baixinho.
Nunca fui fã desse tipo de música, mas eu aprendi a
gostar com Clyde. Ela era maluco nas músicas dos anos oitenta e noventa. Não
tenho vergonha de ser gay fora daqui, mas dentro dessas paredes eu geralmente procuro
não dar pinta, mas você não consegue cantar sem se mostrar. Não que dar pinta
seja algo errado, mas não na prisão. De um lado haviam Skinheads neonazistas
que gostariam de acabar comigo, do outro havia um bando de ‘ursos’ gigantes
querendo compartilhar a cela comigo. Eu procuro ser sempre neutro. Eu não tenho
amizades, não tenho inimizades e no banheiro eu estou sempre no canto, de
costas, não olho para ninguém. Não implico com os guarda e sou muito comportado
e mantenho a cela arrumada e limpa. Procuro ficar apenas na minha.
Eu não quero me gabar nem nada e se Clyde souber
disso ele fica uma fera, mas eu atraia a atenção dos homens dali. Muitos deles
só queriam ‘descarregar’ a carga comigo, mas eu não dava bola e procurava
ignorar quando um deles dizia que ia ‘acabar’ comigo se dividissem a cela
comigo.
Nós tínhamos exatamente uma hora e trinta de banho
de sol e exercícios todos os dias. Depois voltávamos para as celas e ficávamos
lá até a hora do almoço. A tarde nós geralmente tínhamos alguma atividade como
o psicólogo, leitura e as vezes alguém vinha até a prisão fazer palestras ou
tocar o violão. A noite nós tínhamos uma hora de TV. E é óbvio que só podíamos
assistir a programação pré-aprovada. As oito nós jantávamos e depois íamos para
as celas para dormir.
Essa era a minha rotina e a única coisa que
quebrava essa corrente era o domingo. Era quando eu podia receber visitas.
Clyde sempre trazia consigo uma foto de Roger. Eu não queria que ele me
visitasse. Não queria meu filho naquele ambiente, mas eu admito que as fotos
não estavam sendo mais o suficiente. Meu filho estava crescendo e eu estava
perdendo. Isso era o que mais me matava. Sem contar que ver Clyde todo domingo
e não poder pular no pescoço também acabava comigo. Nós combinamos em não ter
visita intima. Não queria fazer sexo naquele lugar.
Endless Love continuava a tocar bem alto na Prisão Estadual da
Flórida e eu continuava de olhos fechados cantando a todo vapor.
- no que está pensando? – perguntou alguém se
sentando ao meu lado. Olhei para o lado e vi que era Freddy. Um dos poucos presos
ao qual eu ainda conversava. Ele era um jovem rapaz de provavelmente vinte e
poucos anos. Quase trinta. Eu não sei o que ele fez para acabar na prisão e eu
não pergunto. É meio que um código de conduta aqui dentro.
- em nada. Só curtindo a música – falei olhando
para ele apertando os olhos por causa dos raios de sol.
- e sua apelação? Deu certo?
- nah… - balbuciei – eu sabia que não daria certo. O
FBI está no meu pé. Eles não vão em liberar. Eu vou ser obrigado a cumprir os
três anos.
- eu sei como está se sentindo – falou Freddy
apertando seus olhos azuis olhando para algo além do nada.
- você também teve suas apelações negadas?
- não. Eu não fiz apelações.
- porque não? – perguntei olhando para Freddy.
- porque ninguém vai estar seguro comigo do outro
lado dessas paredes.
Eu fiquei surpreso com aquela resposta. Fiquei
imaginando o que ele teria feito.
- chega um momento na vida em que você tem que
aceitar o que você é. Eu sei que se eu sair desse lugar eu vou cometer o mesmo
erro outra vez – Freddy disse isso se levantando e caminhando até outros presos
que estavam jogando bola.
Eu entendia o ponto de vista de Freddy. Ele se
considerava um perigo para a sociedade e entendia que precisava ficar preso.
Segundo a minha mãe eu também deveria ficar preso já que todos ao meu redor
acabam morrendo.
- Stan! – gritou um guarda de óculos escuros vindo
na minha direção.
- sim senhor… guarda… - falei me levantando e
ficando em posição de sentido.
- você tem visitas – falou ele sinalizando com a
cabeça – venha.
- visita? – falei surpreso – Clyde disse que não poderia
ver hoje e minha irmã não me falou nada sobre vir me visitar.
- cala a porra da boca e venha – falou ele olhando
para trás.
- sim senhor – falei seguindo o guarda com o
coração batendo a mil. Nós atravessamos o gramado e ao chegar perto da porta eu
me virei de costas e coloquei as mãos para trás. O guarda colocou as algemas em
mim.
- desculpa guarda… é que… quem é? – perguntei
enquanto ele me levava pelo corredor.
O guarda simplesmente ignorou minha pergunta e
continuou de cabeça empinada me levando de corredor em corredor enquanto as
portas iam se abrindo após um longo barulho estridente. Eu decidi ficar calado
até que finalmente chegamos até a grande sala onde as visitas aconteciam.
Novamente eu me virei de costas e o guarda tirou as minhas algemas.
- Detendo 8102 – gritou o guarda. A porta a nossa
frente se abriu com um barulho e o guarda apontou para uma mesa e me acompanhou
até lá – você conhece a regras Stan – falou o guarda segurando na minha mão e
colocando alguma e ter meus dedos.
- de chocolate?
- sim – falou ele com um sorriso – Clyde disse que
você adora chocolate.
- ele acertou – falei escondendo o doce – obrigado
Marvin.
- não foi nada Stan – falou ele dando um tapa
amigável no meu ombro.
Clyde tem amigos que trabalham aqui e eles me protegiam
e faziam de tudo para que a minha experiência fosse a mais agradável possível.
Nós tínhamos que manter um certo teatrinho perto dos outros presos, mas quando
estávamos só nós ele me dava coisas e nós conversamos sobre os mais variados
temas. Algumas vezes nós até jogávamos baralho.
Enquanto caminhávamos em direção a mesa eu vi que
haviam duas pessoas. Na verdade era um homem e uma mulher. Tentei reconhecer
aquele casal que estava lá sentado me esperando, mas eu não consegui me lembrar
de inicio. Havia uma mulher negra de cabelos castanhos com luzes claras. Do
outro lado um homem de cabelos loiros e olhos azuis. Os dois estavam vestidos
elegantemente com terno.
Estava tão focado tentando descobrir quem eram
aqueles dois que só agora percebi que não havia mais ninguém na sala de
visitas. Eu olhei em volta e achei estranho. Era domingo e lá deveria estar
cheio de pessoas visitando os detentos, mas estava vazio. Quando estava a um
metro da mesa os dois se levantaram. Os dois se entreolharam e depois olharam
para mim.
- Agente Justine Diaz? – falei reconhecendo-a.
- olá Stan – falou a mulher esticando o braço –
você parece bem. A prisão tem te caído bem.
- sério? – falei apetando a mão dela – a liberdade
tem te feito mal. Você parece uma bruxa – falei me sentando.
- muito engraçado – falou ela com um sorriso – Stanley
esse daqui é o detetive Andrew Edwards.
- eu me lembro de você – falei apertando a mão dele
– você é o filho da mãe que me pegou aquele dia no hospital. O agente com cara
de mal.
- olha o linguajar – falou o guarda me
repreendendo.
- desculpa – falei olhando para ele.
- sente-se – ordenou o guarda.
Eu me sentei e coloquei as mãos em cima da mesa
para ele colocar as algemas. Ele pegou as algemas, mas Justine o impediu.
- não precisa disso – falou a Agente Justine.
- vocês que sabem – falou ele guardando as algemas
se afastando a um metro da mesa ficando lá parado.
- pode ir – falou Justine – nós continuamos
sozinhos daqui.
- sim senhor – O guarda então saiu do lugar e da
mesma forma que entrou ele se foi com um grande zumbido. A porta se abriu e em
seguida se fechou. O barulho ecoou pelo lugar vazio.
Eu fiquei lá sentado olhando para os dois. Todos
nós ficamos em silêncio por um bom tempo. A agente Justine tinha uma maleta
consigo. Parece que teríamos uma conversa séria.
- então… – falei quebrando o gelo – vocês vão
finalmente me libertar?
- não – falou Justine Diaz.
- então o que vocês estão fazendo aqui Agente Diaz?
– falei sarcástico – Não te vejo você desde o meu julgamento e você aparece
oito meses pra que? Jogar conversa fora?
- nós temos um acordo para te propor – falou o
Detetive Andrew.
- acordo? – perguntei intrigado. Aquilo realmente
me pegou se surpresa.
- Sim. Um acordo. Isso é algo em que você está
interessado?
- sim. muito – falei pensando em Roger.
- ótimo, mas antes – falou Justine tirando um gravador e colocando em cima da mesa – nossa
conversa será gravada para interesses futuros. Caso você resolva dar outro
falso testemunho para estender sua pena.
- ok – falei respirando fundo – pode gravar.
A Agente Justine apertou o botão do gravador.
- estão aqui nessa sela a agente do FBI Justine e o
detetive…
- Andrew Edwards – falou o detetive.
- também está presente o detento 8102. Por favor,
diga seu nome para os registros.
- meu… meu nome é Stanley Illtyd Anthony – falei
gaguejando.
- tudo bem – falou a Agente abrindo sua maleta e
tirando de lá um bocado de papéis e uma caneta e colocando a minha frente.
Eu peguei a caneta e levei até o papel.
- o que diabos está fazendo? – perguntou o detetive
Andrew.
- assinando o acordo.
- mas você nem ouviu qual é o acordo – falou a
agente Justine – você vai mesmo assinar sem saber o acordo? Pensei que fosse
mais inteligente Stanley – falou ela quase em um tom sarcástico.
- eu só quero ver o meu filho e tranzar com meu
marido – colocando a caneta de volta na mesa – o que vocês querem comigo?
- Stan eu estive conversando com o detetive Andrew
sobre o seu caso e decidimos que talvez eu tenha levado um pouco para o lado
pessoal o seu caso.
- um pouco? – falei rindo – você me colocou atrás
das grades por três anos por mentir em um julgamento onde a réu era inocente.
Se não fosse meu advogado eu nem teria ido ao funeral do meu pai.
- Olha aqui…- falou Justine.
- nós precisamos de sua ajuda – falou o Detetive Andrew
interrompendo Justine antes que ela dissesse alguma besteira.
- minha ajuda? No que eu poderia ajudar?
- nós estamos investigando um assassino em série –
falou Justine colocando um portfólio em cima da mesa. Ao abri-lo vi que haviam
fotos e detalhes sobre mortes. Corpos encontrados em valas, esgotos, na
floresta, eram vários corpos.
- ao todo já temos mais de seis vítimas – falou Justine.
- eu não entendo, eu não vi nada sobre isso nos
noticiários.
- isso porque por enquanto a mídia acha que esses
são casos isolados. Apenas mortes aleatórias.
- o que faz vocês pensarem que é um assassino em
série e não mortes aleatórias.
- por causa dos detalhes que não foram divulgados –
falou Justine.
- e quais são esses detalhes?
- todas as vítimas tiveram um dente arrancado –
falou ela mostrando raio x da arcada dentárias de algumas vítimas – todas as
vitimas tiveram a ponta dos dedos mergulhadas em ácido.
- para encobrir a identidade?
- achamos que não – falou Andrew – nós poderíamos
identificar a vítima de outras formas. Achamos que é só mais uma das coisas que
o assassino faz como parte do seu “ritual”.
- o que mais? – perguntei curioso.
Justine olhou para Andrew e depois olhou para mim.
- o que vou te dizer pode ser um pouco perturbador,
até para você.
- pode falar. Eu fui preso injustamente. Nada pode
ser mais perturbador do que ouvir “Culpado” ao invés de “Inocente”.
- todas as vitimas tiveram o braço esquerdo
trocados com outra vítima – falou Justine.
- braços trocados?
- sim – falou ela colocando seis fotos enfileiradas
na minha frente – A vítima número #1 teve o braço removido e então esse braço
foi colocado na vítima número #2 cirurgicamente. O braço a vítima número #2 foi
colocado na vítima número #3 e assim sucessivamente.
- espera… a vítima número um foi encontrada apenas
com um braço?
- não – falou Justine – ela estava com um braço que
não pertence a nenhum dos corpos encontrados até agora. Isso significa que pode
haver um ou mais corpos que ainda não foram encontrados. E o braço da vítima
número #6 ainda não foi encontrado o que significa que o assassino o guardou
para colocar na próxima vítima.
- olha, isso é fascinante Justine, mas eu não
entendo como eu posso ajudar nessa investigação… sinceramente. Eu ainda estou tentando
entender porque alguém mataria essas pessoas e trocariam os braços dela.
- tem uma outra coisa que liga todas essas vítimas
que eu ainda não te falei – falou Justine colocando outra foto em cima da mesa.
Dessa vez não era a foto de uma vítima, mas a foto de um hospital.
- o que é isso?
- o Hospital Mercy Falls. Fica em Sacramento, na
Califórnia.
- o que tem esse hospital?
- todas as vítimas encontradas deram entrada no
hospital antes de desaparecerem.
- então vocês acham que o assassino trabalha no
hospital?
- pela forma em que os braços foram cuidadosamente
retirados e recolocados eu diria que sim. Algum cirurgião, enfermeiro… qualquer
funcionário com o conhecimento básico de medicina poderia ter cometido esses
crimes.
- e as famílias das vítimas?
- nenhuma das vítimas tinha família. Todas as
vítimas são solteiros e sem teto que chegaram ao hospital por algum motivo.
- eu não entendo por que alguém faria isso.
- é exatamente o que esperamos que você nos diga –
falou Justine.
- eu não entendi.
- Stanley eu pedi que o psicólogo do FBI traçasse
seu perfil psicológico e ele chegou a conclusão de que você é um narcisista,
sedutor e manipulador. Você manipula a todos para conseguir o que você quer.
Por mais que me doa dizer isso você é bom em entender pessoas.
- e o que vocês esperam que eu faça para ajudar
nesse caso?
- Se você decidir cooperar com a investigação nós
estamos dispostos a reduzir a sua pena. Após cumprir sua parte no acordo você
será um homem livre.
- eu adoro a ideia, mas o que eu preciso fazer para
merecer essa liberdade?
- tudo o que você precisa fazer se infiltrar no
hospital. Nós vamos te dar um novo sobrenome e você vai se infiltrar no
hospital fingindo ser um estudante de medicina que está começando a sua
residência – falou Justine apontando para a foto do hospital.
- você quer dizer…
- sim – falou a Agente Justine com um sorriso. O
batom vermelho que ela usava desenhou em seus lábios – Nós queremos que você
trabalhe no hospital e colete informações e dados. Você vai nos reportar tudo o
que for estranho ou suspeito.
Meu irmão Nick está trabalhando em um hospital em
Sacramento na Califórnia. Talvez esse seja um detalhe que Justine deva saber,
mas por outro lado pode ser que ela desista do acordo se descobrir que existe a
chance de o hospital ser o mesmo que meu irmão trabalha.
- O FBI vai te fornecer um apartamento e uma conta
bancária onde será depositado um valor para ser usado para roupas, alimentação
entre outras coisas. É Claro que seu apartamento será vigiado com câmeras para
garantir a sua segurança e a de terceiros caso você decida fugir ou formar um
culto.
- culto? eu não sei do que está falando? – falei
lambendo os lábios.
- okay – falou ela rindo.
- eu tenho algumas condições – falei olhando para
ela.
- você não está em posição de ter condições! –
falou ela em um tom sarcástico.
- sério? Porque eu sei que tem algo que você não
está me contando. Você falou de vitimas e rituais se assassinato, mas você
ainda não me disse quem é esse! – falei pegando uma foto que estava por baixo.
Era um homem com de olhos azuis.
Justine olhou para o detetive Andrew depois olhou
para mim.
- esse é Brian Shaffer. Um residente que estava
começando a sua especialização. Ele era pediatra.
- era?
- sim. ele desapareceu – falou Justine – As
filmagens mostram que a última vez que Brian foi visto foi no hospital. Ele
entrou para trabalhar a mais ou menos dois meses atrás e nunca mais saiu.
- agora eu entendi – falei rindo – você precisa de
mim porque precisa de alguém de dentro procurando em todos os cantos pistas de
onde Brian esteja. Você não pode simplesmente pedir para alguém do hospital ser
seu espião porque você não sabe quem é o assassino ou ‘os assassinos’. E você também
não pode simplesmente mandar o FBI vasculhar o lugar porque você poderia
espantar o assassino. Descobrindo onde Brian está você descobre também quem é o
assassino e faz justiça para todas essas vitimas – falei passando a mão por
todas as fotos.
- sim – falou Justine – é por isso que eu preciso
de você. Se não quiser fazer isso por mim faça por Brian. Ele era um ótimo
médico. As crianças o adoravam.
- ele costumava se vestir de palhaço para animar as
crianças na érea oncológica – falou o detetive Andrew – ele era a alegria
daquele hospital.
- tudo bem. Eu entendo o lado de vocês, mas eu
preciso que me entendam também. Eu só tenho uma condição na verdade.
- quais são? – perguntou o detetive Andrew.
- eu quero que Clyde e meu filho Roger vão comigo. Só
isso.
- nós não podemos fazer isso – falou Justine.
- sim, nós podemos – falou Andrew – nós precisamos
dele Justine.
- okay – falou Justine – Clyde e seu filho vai com
você – estamos combinados então?
- sim, estamos – falei pegando a caneta – só mais
uma coisa – falei pegando a caneta e desenhando um rosto feliz na minha
mão - quando você ia me contar sobre
isso? – falei mostrando a mão com um rosto feliz desenhado – a mais ou menos uns três meses eu vi na
televisão a reportagem de uma mulher que foi morta e na cena do crime foi
encontrado o desenho de um rosto feliz com o sangue dela. Pelo o que eu vi nas
fotos ela é a sua vítima número #3 – falei puxando a foto e mostrando para ela.
- ele é esperto – falou Andrew rindo.
- nós íamos chegar lá – falou Justine com uma cara
nada agradável. Ela pegou outras fotos e começou a me mostrar – em todas as
cenas haviam o mesmo símbolo – falou ela mostrando as fotos – um rosto feliz
que foi desenhado com o sangue da vitima. Infelizmente acabou vazando para a
imprensa esse detalhe e a mídia tem especulado sobre um assassino em série.
Eles até apelidaram os crimes como ‘Assassino do Rosto Feliz’.
- então, Stanley – falou o detetive – podemos
contar com a sua ajuda?
Nesse momento eu peguei a caneta e encarei o papel.
Aquela oferta era tentadora e é claro que seria legal sair daquele lugar. Seria
perigoso participar de algo dessa magnitude, mas valeria a pena se Clyde e
Roger fossem comigo. Talvez eu até me entenda com Nick já que estaremos na
mesma cidade. Sem dizer nada comecei a assinar todos os papeis. Um por um. Era
a coisa certa a se fazer. Era como uma segunda chance de tudo o que tinha
feito.
- ótimo – falou Justine com um sorriso.
- quando eu começo?
- na próxima semana você pega um voo para a
Califórnia. O programa de residência do Mercy Falls começa na próxima sexta.
Nós vamos avisar Clyde e explicar tudo a ele.
- eu posso me despedir da minha irmã?
- não – falou ela balançando a cabeça negativamente
– para todos os efeitos você continua preso aqui. Isso é confidencial e você
pode comprometer toda a operação contando para as pessoas.
- eu entendo.
- achamos que o nome Stanley é comum, mas seu
sobrenome pode chamar a atenção – falou ela pegando um grande envelope pardo e
jogando em cima da mesa.
Eu abri o gordo pacote e retirei de lá um
passaporte, identidade, cartão do seguro social, um molho de chaves do lugar
onde eu moraria. Havia também um certificado da conclusão do meu curso com o
novo nome entre outros documentos. Todos com a minha nova identidade.
- a partir de hoje Stanley Anthony não existe mais.
Agora você é Stanislav Kazakov Echevarria. Um descendente russo.
- Stanislav Echevarria? – perguntei lendo aquele
nome na minha nova identidade.
- muito prazer Stanislav – falou Justine apertando
a minha mão e se levantando, assim como o detetive Andrew Edwards.
- só mais uma pergunta… - falei me levantando.
- diga? – falou Justine.
- o que eu faço se alguém me reconhecer?
- você nos reporta e a pessoa será investigada.
Caso a pessoa que te reconheceu não seja o assassino que procuramos ela será
colocada no programa de proteção as testemunhas até que a investigação termine.
Não se preocupe Stan. Ninguém vai te atrapalhar.
- OK – falei olhando para meus novos documentos. O
meu novo eu – quando eu vou sair daqui, já sabem o dia exato?
- na terça – falou Andrew – na terça você irá daqui
para um hotel e ficará hospedado por uma noite. Na quarta nós vamos pegar um
voo para Califórnia.
- você também vai?
- é claro. Eu faço parte dessa operação – falou o
detetive Andrew – estarei te vigiando de perto.
- ok – falei respirando fundo – obrigado por isso –
falei tentando esconder o sorriso, mas não consegui. Eu estava feliz por poder
daquela gaiola humana.
- não. Eu é que agradeço – falou Justine com um
sorriso se virando e saindo da prisão.
A Agente Justine e o Detetive Andrew saíram pela
porta e eu voltei a me sentar. Eu estava feliz. Feliz por poder sair daquele
lugar. Feliz por não ter que temer por minha vida todos os dias. Feliz por
poder ver Roger e por poder beijar o meu marido sem que um guarda chame a minha
atenção dizendo ‘perto demais’. Estava feliz por finalmente continuar a minha
vida de onde eu tinha parado. Perdi oito meses da minha vida nessa droga de
prisão e tudo o que eu tenho que fazer é ajudar o FBI e eu estarei livre.
Sentia como se uma chama tivesse sido acesa dentro
de mim. Sentia como se minha vida fizesse sentido outra vez. Era bom ter
esperança novamente. Eu quase que dançava enquanto andava de volta ao pátio
para os exercícios matinais. Eu tinha um sorriso no meu rosto e uma canção no
coração, mas não era o suficiente. Eu precisava compartilhar aquilo com alguém.
Quando o guarda me deixou no pátio novamente eu tive uma certa dificuldade para
passar pelo portão. Alguns presos estavam nervosos com algo. Estavam
argumentando com um dos guardas. Eu não me importei com o que era. Eu queria
contar para alguém o que tinha acontecido então eu olhei em volta e procurei
por Freddy. Logo vi que ele estava do lado direito.
Caminhei até Freddy que estava de longo vendo a
confusão com os outros presos. Sentei-me ao lado dele.
- que confusão é aquela?
- todo mundo está puto porque eles cancelaram as
visitas hoje.
- sério? – perguntei confuso – porque?
- eu não tenho certeza – falou Freddy – mas eu acho
que deve ter algo coisa a ver com a visita que você recebeu. Afinal você é o
único que foi permitido receber visitas hoje.
- pois é… eu não sei se é um segredo, mas eu
preciso contar par alguém.
- o que foi? – perguntou Freddy com um sorriso.
- a visita que eu recebi era do FBI – falei
cochichando.
- sério? O que eles queriam? Reavaliar o seu caso?
- Essa foi a primeira coisa que eu pensei quando eu
os vi, mas então eu descobri que eles não querem reavaliar o meu caso, mas eles
querem me tirar daqui.
- eu imagino que tenha um preço.
- sim. Não posso entrar me detalhes, mas eles
querem que eu trabalhe infiltrado para eles.
- e você aceitou?
- eu não pensei duas vezes antes de assinar.
- você tem certeza de que quer pagar um preço tão
caro pela liberdade?
- não é tão caro. Eles vão estar de vigia. Tudo o
que tenho que fazer é fingir que estou em um filme e atuar.
- e você confia neles? Você sempre está falando
sobre como eles armaram para te colocar aqui dentro.
- Eu sei que posso estar cometendo um erro, mas eu
tenho que confiar. Preciso confiar neles. Eu não sei por quanto tempo eu vou
aguentar ficar preso nesse lugar longe da minha família. Eu tenho um filho que
precisa de.
- quando você vai?
- na quarta.
- bem… eu te desejo sorte. Espero que consiga
encontrar o que está procurando .
- obrigado.
Nesse momento a confusão saiu fora de controle. Os
presos ficavam gritando sobre como queriam ver suas famílias e começaram ficar agressivos a chutar as grades. Os
guardas avançaram e começaram a empurrar os presos. Nesse momento a sirene
começou a tocar. Freddy e eu nos deitamos no chão e colocamos as mãos na
cabeça. Essa sirene tocava pelo menos duas vezes por semana. Quando ela toca,
não importa o que você está fazendo, você tem que se deitar de barriga para
baixo, colocar as mãos na cabeça e esperar que os guardas te levem para sua
cela. Eu odiava quando acontecia na hora do jantar. Eu sempre dormia com fome.
Eu não sei o que aconteceu com os presos arruaceiros.
Tudo o que eu sei é que eu fui levado para minha cela e meus três companheiros
também chegaram em seguida. Eu deitei na minha cama e fiquei lá olhando para o
alto imaginando como estaria tudo lá fora. Eu estava acostumado a não ter
ninguém. Estava acostumado a me virar. Eu era como uma criança esperando um
passeio á Disney World. Estava ansioso e ainda era domingo. Contaria no dedo os
dias para sair da prisão.
Três Meses E Meio Depois
Quando chegamos naquela festa eu
não imaginava o que estava prestes a acontecer. Todos estavam mascarados e eu
podia reconhecer algumas pessoas apenas pela olhar ou pela forma que elas
tomavam seus drinks. Meu irmão Nick era uma dessas pessoas eu o reconheci de
longe. A maioria estavam usando capas vermelhas como naquela cena do filme ‘De
Olhos Bem Fechados’, mas alguns preferiram usar um terno com suspensório que é
o caso do meu irmão. Clyde estava usando um terno marrom e sua máscara era
parecida com o bico de um falcão. Aquela era a festa de aniversário mais
estranha que eu já estive.
- vem dançar! – falou Clyde
segurando no meu braço e me puxando para junto dele. Eu o abracei e nós
começamos a dançar a música agitada, mas de uma forma lenta e quente.
Nossos corpos se entrelaçavam e
eu sentia seu membro duro me tocando. A música estava alta e eu fechei os olhos
sentindo Clyde beijar o meu pescoço. Acho que talvez ninguém o reconheça.
Havíamos bebido demais e quando Clyde disse aquelas palavras eu mal acreditei.
- se você quiser ir pra cama com
ele eu deixo – falou ele me fazendo engolir em seco.
- o que você disse?
- só uma vez – falou Clyde – e eu
quero assistir a tudo.
Comecei a ficar tonto e então dei
um passo para trás de Clyde.
- Stan? Você está bem?
- estou – falei sentindo minha
respiração se tornar ofegante. Olhei para trás e vi que Nick olhava para nós.
Ele tinha um cigarro entre os lábios. Ele tragou a fumaça e deixou que ela
saísse pelo nariz enquanto ele me observava. Ele lambeu os lábios em seguida e tomou
um gole de sua bebida.
- Stanley? – falou Clyde
segurando na minha mão.
- eu preciso respirar um pouco
Clyde – galei puxando minha mão.
Sai andando em meio à multidão.
Entre dezenas de rostos, mascaras e a música alta eu acabei no porão da grande
mansão. Havia uma grande mancha de sangue no chão. Eu tive medo. Senti um frio.
Meus dentes começaram a bater e eu comecei a engasgar. O chão era frio sob as
minhas costas e por mais que eu quisesse gritar eu não conseguia. Não faria
muita diferença já que lá em cima havia uma grande festa acontecendo. Ninguém
me ouviria gritar, ninguém sabia que eu estava ali. O som do tiro foi abafado
pela canção que a pouco havia começado. Quando ele saiu ela trancou a porta
para que ninguém me visse ali. Ela foi esperta. Ele foi muito esperto.
- Ro-ger… Ro-ger… - tremi sem
conseguir fazer sentindo e tudo o que me lembrava era o nome dele – Ro-ger, Ro…
Ro… Ger… A mancha de sangue que escorria do meu abdome aumentou cada vez mais
enquanto eu perdia a consciência e sangrava rapidamente.
Eu ainda não sabia. Naquela época
eu não fazia ideia. Deitado naquele chão frio me lembrei de quando assinei
aquele acordo com o FBI. Se eu soubesse talvez tivesse sido diferente, mas no
fim a culpa não é minha. Naquela época não fazia ideia de que alguém ia me
matar.
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Começou muito bem, adorei o primeiro capítulo.
ResponderExcluirValeuuuuuuuuuuuuuuuuu ;)
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