Capítulo 05: Cruel Verdade | Conto: Cruel Sedutor

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Cruel Verdade

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entia como se o chão tivesse se desfeito debaixo dos meus pés. Aquele tinha sido o pior fim de semana da minha vida. Depois de tantos dias normais eu tinha que acabar justamente preso? Maldita a hora em que eu entrei naquela lanchonete. Estava desanimado. Não costumava me jogar para baixo, mas eu não tinha forças para mais nada. Estava a pouco mais de vinte minutos de pé com a cabeça encostada na grade gelada ainda murmurando palavrões de raiva por estar ali. Tudo o que eu pensava era na cirurgia que eu seria obrigado a fazer. Quando meu irmão recebesse a ligação da policia dizendo que o ladrão tinha sido encontrado ele não pensaria duas vezes antes de vir para Orlando me buscar.

Por fim decidi me sentar. Se sentei ao lado da garota e apoiei os cotovelos na perna e repousei a cabeça em minhas mãos. De olhos fechados eu respirei fundo tentando assimilar aquilo tudo. Minhas pernas balançavam de ansiedade.

- Sr. Anthony – falou um guarda se aproximando da grade. Eu me levantei apressado.

- pois não – falei com o coração palpitando – esse daqui é seu advogado – falou o guarda apresentando um homem.

- eu não quero advogado. Não preciso.

- tem certeza? – perguntou o advogado.

- sim. Eu tenho direito a recusar um advogado.

- mas se você fizer isso eles vão entender que você é culpado – falou o advogado.

- eu sou culpado então… - respirei fundo e voltei a me sentar – vá usar o seu tempo com alguém que seja inocente.

O advogado e o guarda se foram e eu voltei ao meu pequeno mundo. Um pequeno mundo frio, sombrio e com um assento que fazia meus glúteos doerem. Fiquei muito tempo na companhia daqueles dois. Uma hora? Duas? Não sei ao certo. Só sei que depois de um longo tempo a garota foi retirada de lá para outra cela e o bêbado acordou e começou a vomitar por toda a cela. Os guardas o tiraram de lá e levaram para ser atendido em um hospital próximo. O vômito espalhado pelo chão apenas deixou a minha situação menos agradável e um pouco mais real.

Agora eu não conseguia nem ficar sentado. A cela estava suja e com um fedor excruciante que me fazia dar ânsia a todo o momento. Fiquei o mais próximo da grade esperando que alguém viesse limpar, mas não veio ninguém.

- tem alguém ai? – gritei enfiando o rosto nas grades tentando ver o fim do corredor.

Não houve resposta. Abaixei a cabeça para respirar fundo evitando o fedor e ouvi passos na minha direção. Era um dos guardas.

- o que você quer? – perguntou o guarda rabugento.

- será que o senhor poderia me trocar de cela? Aquele bêbado vomitou aqui e está com fedor insuportável.

- você está em uma prisão e não em um hotel cinco estrelas – falou o guarda.

O guarda disse aquilo e simplesmente foi embora.

- meu deus – falei sentindo meu estômago enjoar. Estava quase vomitando com aquele cheiro azedo. Fechei os olhos tentando controlar a respiração. A última coisa que queria era sujar mais aquele lugar imundo.

 O detetive DeLarosa apareceu caminhando pelo mesmo lugar que o guarda veio e ao se aproximar percebi que ele franziu a testa. Com certeza tinha sentido o mesmo fedor que eu sentia.

- o que aconteceu aqui? – perguntou ele visivelmente incomodado com o odor.

- um cara bêbado vomitou. Será que o senhor pode me tirar daqui? Está fendendo – falei apontando para o vômito. O detetive de uma olhada e voltou a olhar para mim. Ele colocou uma mão na cintura e a outra ele acariciou o rosto pensativo.

- vou pedir para virem limpar.

- obrigado – falei voltando a segurar a respiração.

O detetive deu dois passos para ir embora e parou olhando para mim. Ele ficou me encarando. Ele continuava com a mesma roupa do interrogatório, mas agora ele usava o coldre com uma arma.

- espera só um pouco – falou o detetive saindo pelo corredor. Alguns ,minutos depois ele voltou com um chaveiro – se afastou – ordenou;

O detetive abriu as grades e fez um gesto para que eu saísse da cela. Ele então segurou em meu braço e nós caminhamos pelo corredor voltando o corredor que levava a sala de interrogação só que dessa vez ao invés da sala de interrogação nós viramos a esquerda passamos por uma enorme sala com vários policiais e mesas e chegamos a um escritório. As paredes era de vidro. Nós entramos e ele fechou a porta.

- sente-se – falou o detetive me soltando.

Me sentei em uma cadeira que havia de frente para a mesa dele e depois olhei para ele.

- valeu – respirei fundo enchendo meus pulmões de oxigênio puro. Em seguida expirei relaxando meu corpo.

O detetive deu a volta na mesa e se sentou em sua vara de frente para mim. Em seguida ele começou a mexer em seu computador.

- você não vai me algemar?

- você não parece perigoso – o detetive não olhou para mim ao dizer isso. Alguns segundos depois ele me olhou direto nos olhos – preciso algemar você?

- não senhor. Não precisa.

- ótimo – falou ele voltando a prestar atenção no computador.

Em cima da mesa dele havia um monte de coisas. Várias pilhas de papéis, e arquivos de detentos. Havia também um livro e alguns enfeites como uma pequena estátua de Buda e um pequeno gato preto. Havia dois quadros, meio de lado. O primeiro quadro era a foto do detetive cm uma mulher loira. Eles estavam na praia. A segunda era uma foto do detetive com um gato preto de olhos verdes.

Ele percebeu que olhava suas fotos e ficou me encarando. Quando vi que ele me olhava disfarcei e olhei para outra coisa qualquer. Só não queria levar uma brinca por ser xereta demais.

- nós já ligamos para a polícia de Coala e eles avisaram seu irmão! – falou o detetive olhando para mim e juntando seus dedos em cima da mesa.

- ele vai demorar a chegar aqui?

- não deve morar – falou o detetive olhando para o relógio em seu pulso.

- ok – falei respirando fundo. Por um lado era um alívio poder sair da cadeia, por outro eu estava odiando a ideia de ver meu irmão.

- quer água?

- sim. Obrigado.

O detetive saiu da sala e voltou com um copo de água. Agradeci novamente tomando tudo bem rápido. Estava com muita sede e pra minha sorte o copo de vidro até suava de tão geladinha que estava a água.

- quer mais?

- não. obrigado.

Quando voltou a sala o detetive voltou a se sentar e ficou olhando para minha mão. Ele revezava entre olhar para o computador e olhar para minha mão. Ele meio que tentava disfarçar, mas eu já passei por isso tantas vezes que eu sabia quando alguém estava me encarando.

- quer ver mais de perto? – perguntei esticando o braço.

- me desculpa – falou ele sem graça.

- não precisa ficar sem graça. Não me importo que olhe. É diferente. Eu também fico olhando quando vejo alguém com um corte de cabelo diferente ou alguém com vinte piercing.

- ela não te atrapalha em nada? – perguntou ele olhando para minha mão agora bem de perto.

- não pra mim afinal cresci com essa mão. A verdade é que demorei mais tempo para me acostumar com cinco dedos do que com os que tenho nessa mão.

- entendo – falou o detetive DeLarosa – é como alguém que nasce cego. O instinto os ensina.

- isso mesmo.

Nesse momento um policial abriu a porta e mostrou alguns papéis para o detetive DeLarosa. Ele deu uma lida e em seguida saiu da sala fechando a porta. A cadeira que estava sentado era daquelas cadeiras giratórias. Já que as paredes eram de vidro me virei e fiquei de olho no escritório. Todos os policiais preenchendo papeladas. Alguns trazendo detentos com mãos algemadas entre outros.

Observando a movimentação vi quando meu irmão subiu as escadas. Ele estava de calça jeans e uma camiseta branca com alguns detalhes em cinza. O cabelo desgrenhado a barba por fazer. Estava com a chave do carro na mão. Imagino que ele deva ter saído correndo assim que recebeu a ligação.

- merda – falei sentindo minha respiração aumentar.

Nick foi até uma policial e pediu informação. Vi quando a policial apontou para o detetive DeLarosa que estava do outro lado conversando com um outro policial. Nick caminhou até eles e apertou a mão do detetive DeLarosa que deixou os papéis com o outro policial e os dois caminharam em direção à sala.

Ao se aproximarem o suficiente para me ver Nick não tirou os olhos de mim. A expressão dele era de apreço. Ela parecia chateado comigo e feliz ao mesmo tempo por me ver, mas com certeza preparado para me dar uma bronca.

O detetive abriu a porta para Nick e estendeu a mão para que ele entrasse. Nick entrou e o detetive fez o mesmo fechando a porta atrás de si. Nick ficou de pé olhando para mim.

- oi – falei sinalizando com a mão apertando os lábios para não rir. Por algum motivo àquela situação era mais engraçada do que trágica.

- sente-se, por favor – disse o detetive se sentando em sua cadeira. Nick se sentou ao meu lado. Nós nos entreolhamos rapidamente e em seguida voltamos a olhar para o detetive.

- bom… nós podemos resolver essa situação de duas maneiras. A maneira fácil e a maneira difícil.

- qual a maneira fácil? – perguntou Nick.

- você retira as queixas. A ficha de Stanley fica limpa e ele pode sair como um homem livre.

- essa opção está ótima – respondi pelo Nick.

- qual a opção difícil? – perguntou Nick olhando para mim. Ele queria me punir? Sério?

- você mantem a queixa e Stanley está indiciando por roubo e fraude no cartão de crédito.

- qual a sentença para esses crimes? – perguntou Nick.

 Está falando sério Nick? – perguntei empurrando ele – vai me deixar na prisão por ter te roubado quatro mil dólares?

- bom… - falou o detetive respirando fundo – pelo roubo ele pode pegar de seis meses a um ano de prisão ou pagar uma multa de mil dólares. Para a fraude no cartão de crédito a coisa é um pouco mais séria. Como ele fez um saque e não era o titular do cartão ele pode pegar até três nãos de prisão ou uma multa de cinco mil dólares.

- eu não tenho esse dinheiro. É claro que ele vai retirar as queixas, não é?

- por quê? – perguntou Nick.

- porque você é meu irmão e você não me quer preso por quatro anos.

- não é isso – falou Nick se virando para mim com a expressão séria – quero saber por que fez isso, porque fugiu? Porque fez isso como nossos pais? Sabia que mamãe não tem dormido uma noite inteira desde que você se foi? Eu não tenho trabalhado direito. Fui impedido de fazer cirurgias porque as enfermeiras e anestesistas fizeram um relatório dizendo que eu parecia “desconexo e desligado”.

- eu não queria que ela ficasse tão preocupada.

- é? Então não fuja de casa. Nós espalhamos cartazes por toda a cidade de Coala. Nunca imaginaríamos que você estaria aqui em Orlando, mas eu devia ter adivinhado. Você veio aqui para ficar com a Casey.

- não. A Casey não tem nada a ver com isso.

- está me dizendo que Casey não sabe que você está aqui? – perguntou ele sério aumentando um pouco o tom de voz.

- bom… tecnicamente ela descobriu ontem.

- porra você e Casey são mais parecidos do que eu imaginei – disse Nick irônico com um meio sorriso balançando a cabeça.

- você quer saber mesmo porque eu fugi?

- claro que quero.

- por causa disso daqui – falei mostrando a mão.

- vai usar a ‘cartada da mão’?

- não é ‘cartada da mão’. Eu não quero fazer a cirurgia.

Nick pareceu surpreso ao ouvir aquelas palavras. Ele ficou sem palavras e lambeu os lábios pensativo.

- eu sei que você fez de tudo para que eu pudesse ter duas mãos normais. Você até se formou em medicina para isso. Sei que fui sua inspiração para escolher essa carreira, mas eu não quero perder mais um ou dois anos da minha vida por causa desses dedos malditos – falei fechando os olhos. Sentindo meus olhos se humedecerem. Não me deixei chorar, mas meu coração disparou e eu senti minha voz tremer.

Detetive DeLarosa estava em silêncio apenas vendo aquela discussão. Ele não sabia se nos deixava a sós ou continuava lá sentado presenciando aquela briga de irmãos.

- porque você nunca me disse isso?

- porque não queria magoar você. Nem minha mãe e meu pai. Sei que tudo o que vocês querem é que eu tenha uma vida normal com mãos normais, mas eu não quero fazer essa cirurgia.

- o mundo já é um lugar difícil. Ter todos os dedos facilitaria as coisas para você.

- Eu só tenho oito dedos e olha tudo o que fiz por mim mesmo? Olha onde estou?

- Estou vendo. Em uma delegacia! – Nick disse isso sério.

- esse é o problema de vocês. A única pessoa que me entendeu foi Casey.

- eu te entendo Stan. Só quero que você tenha as mesmas chances que as outras pessoas.

- mas eu nunca vivi para conhecer essas dificuldades. Você e todo mundo acha que minha vida é mais difícil só porque nasci com uma deficiência. É isso que tenho ouvido. É isso que me ensinaram todos os dias da minha vida, mas como eu posso fazer uma cirurgia baseado em dificuldades as quais eu nunca vivi?

Nick não disse nada. Olhou para o detetive e colocou a mão em cima da mesa pensativo.

- tudo bem. Se você não quiser fazer a cirurgia eu entendo. Te apoio.

- sério?

- sim.

- obrigado – falei respirando aliviado.

- mas você precisa voltar para Coala.

- não. Não vou voltar para lá. Não depois de passar por tudo o que passei aqui. Eu quero ficar aqui em Orlando. Eu consegui um apartamento barato que divido com uma amiga.

- você não está com a Casey?

- não. É como eu te disse. Encontrei com Casey ontem por acaso. Ela não sabia que eu estava aqui.

- eu não sei se é uma boa ideia você continuar aqui – falou Nick pensativo. Ele estava relutante.

- vai dar tudo certo Nick. Confia em mim.

- tudo bem – falou Nick relutante. Sei que era difícil para ele. Sabia que ele faria qualquer coisa por mim. Para que eu fosse feliz – mas e quanto ao seu emprego? O detetive DeLarosa me contou tudo o que aconteceu e o porquê de você ter vindo aqui para a delegacia.

- eu não sei. Consigo outro.

- quanto tempo levou para você conseguir esse emprego? – perguntou Nick.

Hesitei em responder. Ele já tinha me deixado ficar. Não queria dar motivos para ele mudar de ideia.

- pouco mais de duas semanas.

- viu só? – falou Nick olhando para o detetive e depois para mim – quanto tempo vai levar para você encontrar outro?

- na verdade nós estamos precisando de uma pessoa aqui na delegacia – falou o detetive interrompendo Nick – se o Stanley quiser a vaga é dele. Ele parece ser um rapaz responsável e claramente tudo não passou de um terrível mal entendido então não vejo problema em oferecer essa vaga para ele.

- você faria isso por ele? – perguntou Nick.

- claro. Eu posso conversar com meu chefe e a vaga é dele.

- eu ficaria agradecido – falei olhando para o detetive.

- a vaga é para assistente de escritório. Não exige experiência e é basicamente dar uma mão para o pessoal aqui. Se não tiver problema a vaga é sua.

- não. Não tem problema nenhum. Eu adoraria.

- obrigado por fazer isso – falou Nick se levantando e estendendo a mão. O detetive DeLarosa apertou a mão de Nick se levantando.

- não foi nada – falou o detetive com um sorriso – posso entender esse aperto de mão como opção número um?

- claro – falou Nick – vou retirar as queixas.

- tudo bem – falou o detetive dando a volta na mesa – vocês podem me esperar aqui. Só vou preparar a papelada e já trago para você assinar.

- beleza – falou Nick.

Nós voltamos a nos sentar e o detetive fechou a porta assim que saiu. Nick olhou para mim e não disse nada. Ficou lá apenas me encarando. Ele parecia pensativo. Ele esticou a mão e pegou a minha e levou para perto de seu rosto. Ele começou a analisar a minha mão. Odiava quando ele fazia aquilo. Não importava quando ele fazia aquilo como irmão, mas detestava quando ele fazia como médico. Me sentia uma cobaia.

- eu não vou fazer a cirurgia.

- eu sei – falou Nick soltando minha mão. Ele respirou fundo e olhou para baixo como se estivesse com vergonha – só estou com vergonha por fazer você passar por isso. Nunca quis te obrigar.

- não tenha vergonha. Eu tenho sorte por ter a família que tenho. Por ter você como irmão. Eu só não estou preparado para dizer adeus a essa parte de mim.

- eu não te entendo. Sinceramente.

- sei que não entende. Ninguém entende. As pessoas acham que se eu tivesse a oportunidade devia me desfazer desses dedos, mas sinto como se estivesse fazendo uma cirurgia plástica no rosto. Sinto que estou mudando algo que me faz eu.

- eu não te entendo mesmo – falou Nick rindo – mas eu te respeito. E só quero que seja feliz. Me odiaria se estivesse fazendo algo que te fizesse infeliz.

- valeu Nick. Não sabe como significa pra mim ter você do meu lado.

- eu vou conversar com a mamãe e o papai e eles vão ficar felizes em saber que você está bem e tenho certeza de que eles também vão concordar que a cirurgia deve esperar. Pelo menos até você achar que deve fazê-la.

- obrigado por entender. O apoio da família é tudo.

- eu sempre estive do seu lado. Quando você se assumiu eu fui o primeiro a dizer que o importante era que você fosse feliz.

- eu me lembro – falei rindo – lembra quando aquela namorada sua vomitou ao ver minha mão?

- lembro sim – falou Nick tentando não rir – naquele dia mesmo eu disse que nunca mais queria vê-la.

- eu lembro. Ela saiu chorando – falei dando gargalhada e meu irmão começou a rir também.

Nós dois estávamos dando risada como nos velhos tempos. Limpei meus olhos. Tinha começado a chorar de tanto rir. Eu tinha muitas histórias como essa para contar. Minha família era muito alegre nesse sentido. Dávamos risadas dos problemas.

- prontinho – falou o detetive voltando com alguns papéis – é só você assinar e tudo está oficializado.

Enquanto meu irmão se inclinava para assinar os papéis o detetive DeLarosa ficava olhando para mim. Quando eu olhava para ele o seu olhar era imediatamente desviado. Aquilo era estranho. Ele continuava encarando minha mão?

- agora eu posso levar esse delinquente? – perguntou meu irmão devolvendo a caneta para o detetive.

- claro. Ele é todo seu.

- muito obrigado – falou meu irmão apertando a mão do detetive e eu fiz o mesmo agradecendo.

- não foi nada – respondeu o detetive – te vejo aqui na segunda? – perguntou o detetive se referindo a vaga de emprego.

- com certeza.

- vamos buscar suas coisas – falou o detetive.

Nós fomos até o guarda que me entregou um pequeno saco transparente com tudo o que tinha deixado quando fui fichado.

- então fica combinado – falou o detetive – na segunda feira você vem e conversa com meu chefe. Se ele for com a sua cara você tem um novo emprego.

- tudo bem. Na segunda bem cedo eu venho.

- te vejo na segunda então. – falou o detetive esticando a mão e se despedindo de mim novamente.

Quando Nick e eu saímos da delegacia ao invés de irmos para o carro meu irmão me mostrou uma lanchonete que havia ao lado da delegacia. Nós nos sentamos e fizemos os pedidos. Um suco de melancia para mim e cerveja para meu irmão.

- você não devia beber, sabia? Acabamos de sair da delegacia e você está querendo ser preso por beber embriagado?

- fica calado Stan. Eu preciso beber depois de tudo o que aconteceu – falou meu irmão dando um longo gole do copo de vidro – você não sabe o inferno que tem sido depois que você fugiu. Você não pode fazer uma coisa dessas. Todo mundo te ama, sabia?

- mas eu deixei um bilhete dizendo que estaria bem.

- você nunca saiu de Coala e de repente deixa um bilhete dizendo que foi embora e que vai ficar tudo bem? É claro que ficamos preocupados.

- sei que o que fiz foi errado, mas eu não achei outro jeito de fazer sem isso que não fosse de uma vez porque eu tinha certeza de que se pedisse permissão eu seria trancado dentro do quarto.

- o importante é que você está bem.

- estou sim.

Tomei um gole do meu suco e olhei em volta. Vi que em frente à delegacia havia um grande prédio. Era uma imobiliária chamada ‘Blackstone Real State’. O emblema da empresa estava escrito em letras pretas contornadas em branco.

- nós vamos nessa imobiliária para poder alugar um lugar para você poder morar.

- mas eu tenho onde morar.

- sim. Você disse que dividi o aluguel com alguém. Vamos dar uma olhada nos apartamento que tem aqui perto e eu pago o aluguel para você.

- não precisa Nick. Eu sei que não moro no centro, mas eu gosto de onde moro. A garota – Mya – que eu divido o apartamento é minha amiga. Nós acabamos fazendo amizade.

- você não prefere morar em um lugar no centro? É mais seguro. Ficaria mais perto do seu novo trabalho.

- segurança é relativo. Hoje em dia é inseguro e perigoso em qualquer.

- tudo bem, mas se você mudar de ideia é só dizer.

- tudo bem. Eu digo.

- sabe. Dizem que uma casa não é um lar e um lar não é uma casa.

- quem disse isso é um perfeito idiota – falou Nick tomando outro gole da sua cerveja.

- não. Idiota é você. Isso quer dizer que um lar é o que você faz dele. Um lugar que você se sinta como se estivesse em casa.

- você se sente mais em casa aqui em Orlando do que em Coala?

- com certeza. Aqui é meu lugar – falei olhando em volta. Não há lugar como a nossa casa. Estava lá há poucos meses e não queria mais sair. Voltar para a pequena cidade de Coala seria andar para trás. Estava onde deveria estar. Qualquer lugar era melhor do que o lugar de onde fugi.

- eu queria ir visitar a Casey antes de ir embora. Você vem comigo?

- claro. Esse tempo todo que estou aqui não vi a Caylee. Ela deve estar fofa. Estava tão fofinha a última vez que eu a vi.

- então vamos – falou meu irmão pagando a conta.

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