Capítulo 38: Árvore de Sicômoro | Conto: Deus Americano | Final

capítulo trinta e oito

ARVORE DE SICOMORO

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S

abe qual é a definição de insanidade, loucura? Fazer a mesma coisa duas vezes esperando resultados diferentes. É engraçado e até um pouco irônico. Não percebi que eu estava indo pelo mesmo caminho. Fazendo as mesmas escolhas. É engraçado como eu cometi os mesmos erros. Tanto na vida antes do acidente como na vida que tenho agora. Acho que sou louco. Somos todos adultos praticando sexo consensual, mas eu não gostava daquilo. Não queria magoar ninguém, mas é que meu coração pertence apenas a um homem só.

Foi uma conversa amigável. Pensei que seria pior, mas até ele entendeu que não havia espaço suficiente para todos nós. Todos devíamos ter pensado duas vezes antes de embarcar nesse trem. Ainda bem que ainda temos uma outra chance. Não é tarde demais. Desci ás escadas e fui até a cozinha. Peguei o bloco de notas e escrevi um recado para ele. Quando ele acordasse ele com certeza iria até a cozinha. Deixei o bilhete e coloquei na geladeira. Chicago é o meu próximo destino.

QUARENTA E CINCO MINUTOS ANTES

Tinha acabado de me lembrar de tudo. Dizem que é sempre mais escuro antes do amanhecer. É verdade. Estava tudo claro. Uma luz se acendeu dentro de mim. O sol nasceu no horizonte da minha alma. Era como se o acidente nunca tivesse acontecido. Eu precisava que Ralf e Derek me esperassem.

- Max eu estou cheio de tesão – falou Ralf – eu quero transar.

- eu também – falou Derek – ver aquele cara cuidando de você me deixou com vontade de cuidar de você eu mesmo.

- eu sei, eu sei, mas eu preciso ir – falei me levantando da cama – eu prometo que volto logo.

- o que aconteceu? – perguntou Ralf curioso e furioso.

- depois eu explico a vocês. Tenho coisas importantes para fazer agora.

Sai do quarto e deixei os dois para trás. Eu sabia que eles não estavam gostando nada daquilo, mas eu não devia explicações á eles. Eu devia explicação á Griffin em primeiro lugar. Eu sei porque ele me odeia tanto.

Depois de avisar Eve por meio de mensagem que eu estava á caminho eu peguei um taxi. Eu estava tão nervoso e ansioso que ele me pegou no meio do caminho. Eu acenei quando vi o carro amarelo e monocromático se aproximar. Por sorte Gray tinha deixado um recado com o endereço de Eve e eu entreguei para o motorista. Tudo  oque sabia é que Eve tinha uma casa na praia de Malibu.

Depois de quinze minutos no taxi finalmente chegamos ao destino. A minha sorte é que eu estava com a carteira de Ralf. Eu tinha me esquecido de pegar a minha. Peguei a corrida do taxi e ao chegar na casa de Eve percebi que estava rolando uma festa. O sol brilhava lá no alto e como eu bati na porta e ninguém atendeu eu entrei por conta própria.

- tem alguém em casa? – falei chegando á cozinha. A música estava bem alta.

- oi Max – falou Gordon. Ele estava fazendo uma caipirinha.

- oi Gordon.

- aceita uma?

- não. Obrigado.

- que bom que você decidiu vir – falou Gordon.

- onde estão todos?

- lá na praia – falou Gordon apontando para o lado de fora da cada. Eu vi Morgan, o namorado dela, Kiff, Holly, Oliver, Rachel… vi um monte de rostos conhecidos. Vi também Kurt, meu irmão mais novo e também vi Sam. Filho de Oliver e  Rachel. Enquanto Kurt estava nos braços de Morgan, Sam corria de um lado para o outro com ajuda de Oliver que segurava seus braços.

Sai da casa e caminhei até a praia. Eve e Ally estavam deitadas em uma cadeira de praia apenas de biquíni tomando sol. Elas davam risadas. As duas estavam com chapéus e óculos escuros As duas tomavam uma bebida alcoólica.

- você veio! – falou Rupert. Ele tinha acabado de sair do mar.

- vim sim – falei disfarçando.

- você tomou os remédios que eu te enviei?

- sim. Tomei – falei forçando um sorriso. Rupert não percebeu que eu não estava lá para socializar. Eu estava com pressa.

- Eve, Eve! – falei chamando a atenção dela, mas Eve não olhava para mim. Continuava conversando com a irmã.

- porque Ralf e Derek não vieram?

- porque não! – falei alto olhando para Rupert.

Agora sim eu consegui chamar a atenção de todos que olharam para mim. Percebi que fui rude, mas eu tinha necessidade de ser rude.

- me desculpe – falei olhando para Rupert.

- não tem problema. Eu sei que nos primeiros dias o remédio provoca mudanças de humor.

- eu me lembro! – falei para Rupert.

- do que você se lembra? – perguntou Eve.

- eu me lembro de tudo – falei forçando um sorriso.

- você se lembra? – perguntou Rupert animado.

- sim. Eu me lembro.

Rupert parecia pensativo. Ele ficou tão animado quanto eu.

- como você se lembrou?

- eu não sei. Em um momento eu não em lembrava de nada então eu senti esse raio de luz me atingindo. Estava tudo lá. Sabe quando entra na água para tomar um longo banho de piscina e quando sai descobre que entrou água no seu ouvido. Você tem aquela sensação de que tem algo errado. Você sabe que tem algo errado. Quando você finalmente consegue tirar a água que estava presa você ouve melhor. Você sente um alivio. Foi mais ou menos assim. Eu senti uma certa clarividência.

- isso é incrível – falou Morgan se aproximando com o pequeno Kurt em seus braços.

- isso é maravilhoso – falou Rupert – talvez até tenha sido melhor você ter parado de tomar os remédios. Isso fez com que sua cabeça trabalhasse sozinha novamente.

- esse é um caso raro – falou Ally.

- você tem razão – falou Rupert – devia estar nos livros de medicina.

- pode ser, mas não tenho tempo para entrar para a história. Pelo menos não agora – falei olhando em volta – onde está Griffin?

- ele foi embora – falou Rupert.

- ele foi embora?

- sim – falou Eve se levantando da cadeira de praia – você enviou a mensagem dizendo que estava vindo e quando o Griffin ficou sabendo ele pegou as coisas dele e foi embora.

- mas que droga – falei procurando por outra pessoa – onde está Gray?

- ele foi para o hospital. Um paciente precisou de cirurgia urgente – falou Morgan.

- será que ele vai demorar?

- Vixi… não espere em pé – falou Morgan – fui casada com ele durante onze anos e sei que para o Gray sair de uma festa para entrar em uma cirurgia tem que ser algo sério. E ele só deve sair daqui umas dez ou doze horas.

- não acredito – falei pensativo.

- o que aconteceu? – perguntou Oliver.

- eu preciso falar com Griffin. Urgentemente.

- Ele voltou para casa. Vocês devem ter se cruzado no caminho.

- eu vou voltar para lá – falei voltando para a casa. Dei dois passos e olhei novamente para todos – será que vocês podem me responder uma coisa?

- claro – falou Morgan.

- Griffin tem um irmão mais novo que “morreu’ quando tinha oito anos, certo?

- certo – falou Morgan.

- qual era o nome desse irmão?

- Christopher – falou Eve – porque?

- por nada – falei com um sorriso.

- espera um pouco – falou Morgan me seguindo.

- o que foi? – falei enquanto caminhávamos me direção a casa.

- pega leve com Griffin. Não sei o que você quer falar com ele, mas Griffin bebeu o dia todo e antes de Gray ir para o hospital eles brigaram. Griffin inclusive tirou a aliança e jogou na cara de Gray. A coisa está muito feia entre eles.

- obrigado por avisar, mas eu sei porque Griffin tem tanta raiva de mim.

- porque? – perguntou Morgan curiosa.

- Eu preciso contar para ele primeiro.

- OK – falou Morgan com um sorriso.

Depois de sair andando pela rua eu finalmente encontrei um taxi. Ao chegar na casa de Gray paguei a corrida e entrei pela porta da frente. Achei estranho no começo. Fui até a piscina, mas não havia ninguém. Só agora percebi como estava com fome.

- onde diabos eles estão? – falei comigo mesmo pegando uma banana na fruteira. Eu mordi dois pedaços e parei no meio da sala. Pensei onde eles poderiam estar. Fui até a cozinha e joguei a casca de banana no lixo.

Percebi que haviam mais latinhas de cervejas abertas em cima do balcão do que quando eu sai. A água da piscina ainda se movia, o que significa que eles estiveram nadando a pouco tempo. Foi então que eu vi que as roupas de Ralf e Derek já não estavam mais lá. Será que eles saíram? Será que Griffin não tinha chegado e decidiu ir a outro lugar?

Agora já não faz mais diferença porque eu sei que o Christopher que mora em Chicago é o irmão mais novo de Griffin. o Irmão mais novo de Griffin nunca morreu. Quando o pai de Griffin bateu em Christopher quando tinha oito anos ele perdeu a guarda dos filhos. Griffin foi morar com o professor de história do colegial, Stephen. Christopher entrou para o sistema de adoção. Ele foi para um orfanado em Nebraska. Christopher foi adotado em Nebraska e a família adotiva morava em Nova Orleans. Christopher acabou não se adaptando á família nova então ele foi novamente colocado no sistema só que dessa vez em um orfanato em Nova Orleans. O mesmo que eu estive. Nós estivemos lá em épocas diferentes. Eu já tinha sido adotado naquela época, afinal eu fui adotado quando tinha alguns dias.

Eu tinha dois motivos para estar em Chicago. Um deles era procurar sobre o meu passado. Christopher e eu viemos do mesmo orfanato e ao tentar descobrir mais sobre nossas famílias biológicas Christopher descobriu que tinha um irmão mais velho vivo. Bruce Griffin Blake. Infelizmente eu não cheguei a descobrir muita coisa sobre minha família adotiva. Christopher tinha vergonha e medo de entrar em contato com Griffin então fui eu que entrei em contato. Como eu viajava pelo país avaliando hotéis eu pedi uma viagem a Los Angeles. Eu marquei um encontro com Griffin e quando nos encontramos eu contei a Griffin que eu conhecia Christopher. Contei que o irmão dele estava procurando por ele. Ele era um homem feito, tinha até família. Griffin surtou. Ele não acreditou em mim. Gritou para todos que aquilo era uma brincadeira de mal gosto. Ele não me deu chance de explicar.

Percebi que Griffin só acreditaria em mim se visse Christopher e eles fizessem um teste de DNA. Antes de voltar a Chicago para contar a Christopher que eu me encontrei com Griffin eu voltei para Miami. Foi quando eu peguei Kevin transando com o filho Adrien. Eu filmei o sexo e voei para Chicago. Eu fiquei hospedado na casa de Christopher. Quando chegamos na casa dele eu vi que o cachorro de Christopher estava desmaiado no chão. Sem respirar. Christopher pegou o cachorro e correu para o veterinário. Eu o acompanhei. Infelizmente o cachorro já estava morto. Foi na volta do veterinário que sofremos o acidente.

Eu não me lembrava de Griffin, mas ele se lembrava de mim. Griffin acha que sou um impostor. Griffin acha que eu armei tudo isso para ter o dinheiro de Gray ou sei lá. Griffin nunca acreditou que eu fosse filho de Gray. Porque eu sou negro. Talvez isso colocou a dúvida em sua mente. Ele não confia em mim porque ele acha que eu inventei a história de Christopher. Ele acha que eu inventei sobre o acidente e a perda de memória. Ele claramente acha que isso tudo é um golpe. Ele está enganado. E tenho certeza de que ele vai ficar feliz em saber que o irmão está vivo. Isso é muita coincidência. Esse tipo de coisa só acontece com uma pessoa em um bilhão. Christopher e eu viemos do mesmo orfanato. Meu pai biológico se casou com o irmão biológico dele. Se a coincidência fosse feita de morangos todos nós estaríamos tomando milk-shakes.

Ainda havia uma peça desse quebra cabeças que não se encaixava. Pouco antes de Christopher e eu sofrermos o acidente de carro o veterinário ligou para Christopher e disse que encontrou algo preso na garganta do cachorro. Essa tinha sido a coisa da morte. Ele não quis dizer pelo telefone então ele pediu para voltarmos. Quando Christopher fez a curva o freio do carro falhou e nós capotamos. Saímos da estrada. Foi então que tudo começou. Eu em um campo com flores amarelas e uma pequena garotinha me encontrando. Até esse presente momento eu não sei o que foi que o veterinário encontrou na garganta do cachorro. Mas eu pretendo descobrir.

A casa estava silenciosa. Depois de jogar a casca de banana no lixo eu subi as escadas até o segundo andar. O meu quarto era o terceiro á esquerda então eu imaginei que Derek e Ralf estivessem lá. Talvez Griffin estivesse em seu quarto. Ao caminhei até o quarto e vi que a porta estava entre aberta. Ralf estava deitado na cama. Sozinho. Ele dormia profundamente. Ele bebeu além da conta.

Voltei pelo corredor e fui até o quarto de Gray. Bati na porta, mas ninguém respondeu nada. Quando abri eu vi Griffin deitado na cama.

- com licença – falei entrando.

- o que está fazendo aqui? – perguntou Griffin com raiva.

- eu queria falar uma coisa com você.

- eu não tenho nada pra falar com você.

- eu me lembro Griffin. eu me lembro de tudo. Eu sei que nós nos conhecemos. Nós nos encontramos.

Griffin pareceu surpreso ao me ouvir dizer aquilo.

- então você não estava fingindo? – perguntou ele se sentando na cama.

- claro que não. Eu realmente não me lembrava de nada.

- não fale sobre Christopher.

- sim. Eu falo. Porque é verdade.

- Christopher morreu – falou Griffin muito triste.

- ele não morreu. Ele está vivo. Eles mentiram pra você Griffin. Eles sabiam que você nunca deixaria de procurar então eles disseram que Christopher morreu, mas a verdade é que ele está vivo. Ele tem a minha idade e vive em Chicago.

Griffin se levantou da cama e veio até mim. Eu estava pronto para a briga, mas Griffin me abraçou. Ele estava chorando. Christopher realmente era parte importante da vida dele.

- você me perdoa? – perguntou Griffin olhando para mim.

- sim. Claro que eu perdoo – falei abraçando Griffin. Era bom finalmente resolver toda essa confusão.

- diga ao Gray que nós nos entendemos. Eu sinto falta do meu marido – falou Griffin respirando fundo – eu cansei de brigar.

- sim eu digo – falei ajudando Griffin a ir para a cama. Ele estava um pouco alterado.

Depois de deitar Griffin na cama eu voltei até o meu quarto. Ralf estava deitado. Eu me deitei ao lado de Ralf e deitei minha cabeça em seu peito. Ralf se moveu e acordou. Ele suspirou e olhou para mim.

- você está bem? – perguntei para Ralf.

- sim. Eu cansei disso – falou Ralf.

- do que está falando?

Ralf estava um pouco bêbado.

- estou falando que eu cansei de te dividir. Eu achei que daria certo, mas isso não é pra mim.

- eu também – falei olhando pra Ralf – eu não quero outra pessoa. Eu não quero um relacionamento em aberto. Eu quero só você. Eu amo só você.

- eu também te amo  -falou Ralf. Foi a última coisa que ele disse antes de cair do sono de novo.

Fiquei deitado com Ralf por um tempo e percebi que não podia mais ficar lá. Precisava ir. Desci as escada sem fazer barulho e deixei um recado na geladeira explicando tudo. Assim que eu sai da cozinha em direção a porta da frente eu ouvi passos atrás de mim. Era Derek. Ele estava enrolado na toalha. Derek ficou olhando para mim e eu apenas o encarava. Ele tinha ouvido a conversa.

- eu não quero atrapalhar – falou Derek.

- eu gosto de você Derek. De verdade.

- eu também gosto de você – falou Derek.

- sim. Eu gosto de você, mas eu amo Ralf e só ele. Foi bom por um tempo, mas eu não consigo sentir por você o que sinto por ele e acho que Ralf se sente do mesmo jeito.

- no começo eu fiquei com você por pena, mas eu realmente gostei de você. Esse é o problema eu só gosto – falei suspirando – Eu nunca te amei de verdade. Eu amo apenas Ralf. Eu menti todas as vezes que disse que te amava e me dói ter que te dizer isso.

- não se sinta mal – falou Derek – eu também não disse a verdade quando disse que te amava. Acho que só estava tentando me encaixar.

- pois é – falei olhando em volta – Ralf tinha tentado se matar e eu fiquei com medo de que você fizesse o mesmo. Agora Ralf… eu amo Ralf. Eu sou apaixonado por ele e faria qualquer coisa para tê-lo. Ralf queria te colocar no nosso relacionamento e eu deixei. Eu estava até me acostumando só que eu não me sentia bem. Eu amo apenas Ralf e não preciso de outros homens.

- nós bebemos muito – falou Derek quase cochichando – eu sei que você não me ama. Sei que você nunca teve sentimentos verdadeiros por mim. Nunca passou de tesão. Eu estava disposto a aceitar que eu era um intruso nesse relacionamento, mas agora percebo que preciso arranjar alguém que me ame.

- sim. E você vai encontrar. A pessoa que encontrar você será uma pessoa sortuda.

- obrigado por tudo – falou Derek.

- para onde você vai?

- acho que vou voltar para Miami. Lá é o meu lar.

- você está com raiva de mim?

- não – falou Derek – Eu sei que vocês dois se amam. Sei que o amor de vocês é verdadeiro. Mesmo que tenha durado pouco essa experiência me ajudou.

- sim. A experiência foi maravilhosa – falei rindo.

- também – falou Derek.

- foi bom namorar você – falei me aproximando e dando um selinho na boca de Derek.

- digo o mesmo  -falou ele dando um selinho e um beijo um pouco mais quente. Senti sua língua húmida em minha boca pela última vez.

Deixei a casa de Gray me sentindo mal. Eu gostava de Derek e me sentia mal por ele. Espero que ele tenha dito a verdade quando disse que estava bem com toda essa situação. Agora eu precisava ir para Chicago. A verdade é que não podia esperar Ralf se recuperar da ressaca. Eu precisa ir para Chicago o mais rápido o possível. Peguei meu telefone e liguei para Lea. Eu precisava falar com ela. Ela tinha mais respostas. Espero que ela esteja disponível para me encontrar em Chicago.

CHICAGO

Era a hora de obter algumas resposta. Eu me lembrava de tudo, mas não sabia de tudo. Eu também tinha algumas perguntas sem respostas. Devo admitir que não foi nada fácil me despedir de Derek. Doeu e doeu muito. eu me importava com ele. Eu chorei em silêncio durante todo o voo de Los Angeles até Chicago. Acho que as comissárias de bordo ficaram com pena de mim. Elas me ofereceram algo para beber e comer como cortesia da companhia aérea. Eu estava puto com aquela situação, mas foi a coisa certa a se fazer. Ralf e eu fomos feitos um para o outro. E é assim que tem que ser.

Quando eu liguei para Lea eu dei poucos detalhes. Tudo o que eu disse é que precisava encontrar com ela em Chicago. Era algo muito importante. Quando cheguei no aeroporto de Chicago eu peguei meu celular e liguei para Lea. Antes que ela atendesse eu senti alguém tocando meu ombro.

- você está me ligando? – perguntou Lea com um sorriso.

- estou sim – falei me virando e forçando um sorriso.

Lea me puxou e nós nos abraçamos.

- como vai? – perguntou Luke estendendo a mão.

- você veio? –falei apertando a mão dele.

- sim – falou Luke – eu fiquei preocupado com você. Lea disse que você parecia apreensivo.

- só um pouco – falei forçando um sorriso.

- porque seus olhos estão inchados? – perguntou Lea.

- Não é nada – falei disfarçando.

- o que aconteceu? – perguntou ela preocupada.

- não importa Lea. Não mais.

- vamos indo – falou Luke – eu aluguei um carro e já demos entrada no hotel.

- você chegaram faz muito tempo? – perguntei enquanto caminhávamos para fora do aeroporto.

- a mais ou menos duas horas – falou Lea. Ela segurava minha mão. ela sabia que eu não estava bem. Eu realmente não estava bem. Eu estava puto e com razão. Eu estava até marcando com o relógio. Foram cinco horas de Viagem de Los Angeles até Chicago. Eu dou mais umas seis horas até que Ralf comece a me ligar feito louco. Ele vai acordar, ler o recado na geladeira e vai me ligar. Ele vai ficar feliz de saber que eu lembrei de tudo.

Ao sairmos do aeroporto nós entramos no carro de Luke e seguimos viagem sem destino.

- para onde nós vamos? – perguntou Luke.

- vamos para o Hospital Geral de Chicago.

- Hospital Geral de Chicago? – perguntou Lea olhando para trás – Max, você está bem?

- não Lea. Eu não estou. Eu cansei de cometer o mesmo erro duas vezes.

- o que aconteceu Max, me diz?

- eu me lembrei de tudo.

- o que? – perguntou Lea eufórica – você está falando sério? é sério Max?

- sim. Eu me lembro de tudo. Por isso eu quis vir aqui em Chicago. Preciso encontrar uma pessoa.

- isso é magnífico Max – falou Luke.

- e porque você está triste? – perguntou Lea.

- porque eu me lembrei de algumas coisas e me despedi de uma pessoa … não quero falar sobre isso. Eu falarei. Na hora certa.

- OK – falou Lea levando a mão para trás e eu segurei a mão dela.

Quando chegamos ao hospital nós fomos até a recepção buscar informações sobre o paciente. 

- boa tarde – falei para a recepcionista.

- boa tarde, no que posso ajuda-lo?

- eu gostaria de obter informações sobre um paciente.

- você é algum parente?

- não na verdade eu sou só um amigo.

- eu não posso dar informações de pacientes para terceiros.

- por favor. O nome dele é Christopher Randolph Simpson.

- eu sinto muito, mas não posso dar informações.

- com licença – falou uma mulher loira se aproximando – você disse Christopher Simpson?

- sim – falei olhando para a mulher.

- você é Max?

- sim.

- eu sou Madeleine Simpson. Esposa do Chris – falou ela com um sorriso.

- espera… foi com você que eu falei por telefone?

- sim. Eu mesma.

- nossa, é muito bom te ver – falei seguindo ela.

- então você finalmente veio?

- sim. Eu me lembrei. Lembrei de tudo.

- isso é sério?

- sim. Assim que eu me lembrei eu sabia que tinha que vir.

- você veio na hora certa. Christopher saiu da cirurgia faz algumas horas e ele não está mais em coma induzido. Os médicos não podem dizer se ele vai acordar ou quando vai acontecer, mas agora depende do Chris – falou Madeleine quando paramos do lado de fora do quarto de Christopher.

Ele estava lá. Deitado de olhos fechados. Barba no rosto.

- as vezes eu aparo a barba dele – falou Madeleine – mas eu não corto completamente porque se não ele ia ficar irritado.

- sim – falei rindo – Ele gostava da barba.

- sim – falou ela.

- então existe chance dele acordar?

- sim. Existe.

- que bom. Espero que dê tudo certo – falei olhando para Madeleine.

- você já está indo?

- sim, mas eu preciso de um favor.

- o que é?

- você ainda mora na mesma casa? A casa que o cachorro de vocês foi encontrado morto?

- sim. Eu ainda moro lá.

- tem alguém lá agora?

- não.

- eu preciso de um favor. Você pode me dar as chaves. Eu preciso investigar uma coisa.

- o que é? – perguntou Madeleine confusa me entregando as chaves da casa.

- eu ainda não sei, mas tem a ver com a casa e com o cachorro.

- é verdade – falou Madeleine - eu nunca fui ao veterinário porque Chris entrou em coma e você perdeu a memoria.

- sim, mas eu me lembro exatamente qual foi o veterinário que nós levamos o cachorro e eu vou até lá. Quando Chris e eu sofremos o acidente de carro o veterinário ligou dizendo que descobriu como o cachorro morreu. Ele não quis dizer por telefone então até hoje eu não sei o motivo.

- faça o que tiver que fazer – falou Madeleine escrevendo o endereço deles em um pedaço de papel. Em seguida ela me entregou.

- muito obrigado – falei abraçando-a – Espero que Chris tenha melhoras.

- eu também – falou Madeleine olhando para Chris.

Ela se despediu de Lea e de Luke e nós saímos do hospital. Eu precisava ir atrás das respostas. nós seguimos viagem e eu decidi que precisava ir ao veterinário antes de qualquer coisa. Eu precisava saber como o Dobermann dos Simpsons morreu.

Eu fui mostrando o caminho do veterinário para Luke. Nós chegamos em um bairro onde havia vários veterinários. Pet shops, lojas de animais entre outros lugares. Eu sabia exatamente qual era porque não eram todos os veterinários que atendiam vinte e quatro horas por dia. Eu reconheci a faixada logo de cara. Uma faixada azul com o nome do veterinário escrito em dourado. “Aquarius Vet” era o nome da clínica. Luke estacionou o carro e nós três entramos.

- boa tarde – falou o recepcionista olhando para nossas mãos. Acho que ele estranhou não estarmos com nenhum animal.

- boa tarde, eu gostaria de falar com um veterinário.

- sobre? – perguntou o recepcionista.

- Um Dobermann Sufocado.

Quando eu disse essas palavras o rapaz da recepção arregalou os olhos. Ele sabia exatamente do que eu estava falando.

- espera só um momento – falou o recepcionista deixando o local.

- o que nós viemos fazer aqui? – perguntou Lea curiosa.

- o cachorro. Eu tinha dois motivos para estar aqui em Chicago Lea. Um dos motivos era encontrar meus pais adotivos. O outro motivo era Christopher. Antes de começar a procurar sobre meus pais adotivos eu vasculhei as coisas na casa do meu pai Leon.

- você mexeu nas coisas dele?

- sim. Eu precisava de uma pista.

- e você encontrou alguma?

- sim. Um papel com um endereço aqui em Chicago.

- um endereço? Foi só isso que achou?

- sim, mas era algo importante. Eu não sei porque. Eu estava certo afinal eu encontrei Christopher.

- você voltou – falou o veterinário chegando a recepção.

- boa tarde Doutor.

- eu pensei que você nunca fosse voltar.

- então você lembra de mim?

- claro. Eu nunca poderia esquecer – falou o veterinário olhando para Lea e para Luke – onde está o outro?

- Christopher?

- sim.

- infelizmente nós sofremos um acidente de carro naquele dia. Christopher continua em coma. Só agora eu consegui me recuperar. Por isso não voltei antes.

- foi bom você voltar – falou o veterinário seguindo pelo corredor. Lea, Luke e eu o seguimos – talvez você posse me explicar uma coisa.

Nos passamos pelo corredor e chegamos até uma pequena sala. O veterinário pegou um pote de vidro e tirou algo e lá de dentro.

- foi com isso que o cachorro se engasgou?

- sim – falou o médico mostrando um osso. Era um osso grande. Devia ter uns doze centímetros.

- um osso? – falei pegando-o – mas isso é normal. O que tem demais no osso?

- olhe do outro lado – falou o veterinário.

Lea e Luke parecia curiosos. Quando virei o osso eu obtive minha resposta. “SOCORRO”. A Palavra estava cravada no osso.

- eu analisei o osso e a inscrição da palavra. Ela foi feita por um dente humano.

- você está dizendo que um ser humano cravou a palavra “Socorro” nesse osso usando os dentes? – perguntou Lea.

- sim. Eu encontrei uma lasca de dente humano – falou o veterinário mostrando um pequeno saquinho com três pedacinhos brancos de dente humano – A pessoa pressionou o dente não forte que quebrou o dente ao gravar a mensagem. Acho que alguém estava em apuros e entregou esse osso para o cachorro.

- você acha que alguém estava pedindo ajuda? – perguntei perplexo.

- sim. Eu acho.

- porque você não levou á policia?

- o que você queria que eu fizesse? Entrasse na delegacia com um osso de javali com a inscrição “Socorro” e desse queixa? Eu iria preso por fazer piada.

- eu posso ficar com isso?

- pode – falou o veterinário – eu mesmo vou averiguar isso.

- muito obrigado pelo seu tempo – falei agradecendo o veterinário.

Nós saímos da Clínica e Luke veio até mim.

- o que está acontecendo Max? O que é isso tudo?

- eu não sei Luke – falei olhando para o osso – eu realmente não sei. Tudo o que eu sei é que eu encontrei nas coisas do meu pai Leon um endereço aqui de Chicago e esse endereço é próximo a casa de Christopher e Madeleine. O endereço que encontrei me levou ao mesmo bairro onde eles moravam. Eu não acho que seja coincidência.

- nós precisamos ir a policia – falou Lea.

- não. Não podemos. Vamos entrar lá com um osso? O veterinário está certo. Eles vão achar que somos loucos. O que nós precisamos fazer é ir até a casa de Christopher tentar descobrir onde foi que o cachorro pegou esse osso.

- tudo bem – falou Luke.

Nós entramos no carro e seguimos viagem. Luke colocou o endereço dos Simpsons no GPS e eu comecei a reconhecer o caminho. Estava escuro naquela noite, mas eu me lembrava. Era a mesma estrada. Do lado esquerdo eu vi o campo florido e ao longe uma pequena casinha.

- foi aqui que o carro capotou – falei apontando.

- naquele campo? – perguntou Luke.

- sim. O mesmo campo com as mesmas flores amarelas.

- Sabe o que eu achei curioso? Depois que saímos da cidade grande eu quase não vi casas. Porque as casas aqui são tão separadas? – perguntou Lea.

- por causa da preservação ambiental – falei olhando em volta. A distância de uma casa a outra era de quase um quilômetro.

- eu acho bacana – falou Luke – essa região é ótima pra quem gosta da natureza.

- dá um pouco de medo – falou Lea.

- acho que Foi por isso que Chris e Madeleine vieram morar aqui. Acho que eles gostam da natureza. E é isso que me intriga mais. As casas ficam no meio da floresta onde foi que o cachorro pegou esse osso com esse pedido de socorro?

- imagina o desespero da pessoa que marcou o osso deixando lascas do dente – falou Lea.

Nós passamos pela última casa já fazia pouco mais de um quilômetro. Havia só floresta, floresta e mais floresta. Dos dois lados. Não foi difícil ver a casa quando nos aproximamos. Era rústica e bem chamativa.

- é essa a casa? – perguntou Luke batendo a porta do carro.

- sim – falei de frente para ela. A casa era enorme e Lea estava certa. Era assustadora. Quando você olhava para os lados e só via a estrada e árvores. Não tinha vizinhos. Eu acho que não teria coragem de morar em um lugar assim.

- você se lembra do que aconteceu naquela noite? – perguntou Lea enquanto nos aproximávamos da porta de entrada.

- sim. Me lembro – falei colocando a chave na fechadura. Destranquei a porta e a luz do sol iluminou a casa.

- onde o cachorro estava quando vocês chegaram? – perguntou Luke.

- aqui – falei colocando a mão no chão – ele estava bem aqui.

- se ele estava dentro de casa significa que ele pegou o osso aqui. Alguém pediu ajuda de dentro dessa casa – falou Lea.

Eu caminhei até a cozinha e descobri a resposta.

- não necessariamente – falei gritando da cozinha. Quando Lea e Luke chegaram eles viram que havia uma portinha de cachorro na porta da cozinha.

- ele pegou esse osso na floresta – falou Luke.

- nós não vamos entrar na floresta – falou Lea.

- sim, nós vamos ter que entrar. Precisamos descobrir de onde veio essa mensagem de pedido de ajuda.

Abri a porta da cozinha usando a chave vi que a casa tinha um enorme quintal. Depois de alguns metros gramados havia a floresta. A densa floresta. Eu sabia que Lea não queria ir então pensei que talvez fosse melhor ela ficar.

- Eu vou entrar – falei caminhando para fora da casa.

- nós não podemos ir – falou Luke segurando meu braço – vai escurecer em menos de uma hora. Você vai ficar perdido na floresta.

- eu preciso saber se alguém pediu ajuda ou se isso é uma infeliz coincidência.

Luke olhou para Lea e depois olhou para mim.

- tudo bem, eu vou com você – falou Luke – mas Lea, você fica aqui.

- tudo bem.

- se nós não voltarmos até as sete horas você chama a policia.

- tudo bem, mas cuidado – falou Lea dando um beijo na boca de Luke, em seguida ela veio até mim e me deu um abraço.

Luke foi até a cozinha da casa dos Simpsons e pegou uma faca. Ele a colocou na  bainha e em seguida ele a colocou no bolso. Nós caminhamos em direção a floresta e quando chegamos ao chão íngreme nós paramos e respiramos fundo. Luke olhou para mim e mordeu os lábios pensativo. Nós olhamos para trás e Lea acenou apreensiva.

- está pronto para isso? – perguntei olhando para ele.

- estou – falou Luke – pegando a faca.

Nós demos alguns passos e pisamos em cascalhos. Já não era tão fácil caminhar. Nós atravessamos longos galhos e Luke movimentava o braço de um lado para o outro cortando os galhos. Ele abriu caminho na floresta enquanto adentrávamos o desconhecido. Era estranho. Era calmo. Dava pra ouvir os passarinhos cantados, macacos e é claro, lobos uivando. Admito que senti um arrepio na espinha.

- o que você acha que vamos encontrar? – perguntou Luke depois de quinze minutos caminhando.

- eu não sei… eu sinceramente espero que não encontremos nada – falei tropeçando na raiz de uma árvore. Consegui me equilibrar antes de cair.

 Eu estava cansado e suado.

- cuidado – falou Luke parando e olhando em volta. Nós olhamos para o alto e dava pra ver os raios do sol brilhando nas folhas lá no alto. Ele estava prestes a se pôr. Nós tínhamos uns trinta minutos no máximo.

- eu estou morrendo de sede – falei engolindo em seco enquanto recuperava o fôlego.

- acho melhor voltarmos.

- não. Só se passaram quinze minutos. Vamos andar mais um pouco.

- OK – falou Luke contrariado. Eu sentia que ele não queria ir, mas estava fazendo isso por mim.

Nós continuamos a caminhar. Luke continuava cortando os galhos que apareciam. Certo momento vimos uma clareira. Era como uma trilha.

- vamos por aqui – falei apontando para uma pequena trilha.

- nos devemos ir reto – falou Luke.

- essa trilha indica que pessoas tem passado por aqui, está vendo? – falei mostrando um caminho que seguia pelo noroeste.

- OK – falou Luke.

Nós seguimos a pequena trilha.

- é impressão minha ou está ficando cada vez mais frio?

- estávamos no meio da floresta de Chicago. O sol está quase se ponto. É normal ficar frio.

- olha eu sei que você não queria vir – falei me apoiando em uma árvore. Havia um bicho no chão e eu quase pisei nele.

- não. Eu não queria, mas nós precisamos averiguar isso. Nós podemos deixar para amanhã.

- talvez amanhã seja tarde demais.

Um galho se quebrou atrás de nós. Luke e eu paramos de conversar e ficamos imóveis.

- o que é isso?

- Shhhh! Silêncio – falou Luke olhando em volta.

- o que será que é? – perguntei cochichando.

- não. sei – falou Luke – talvez não seja nada.

Antes que Luke e eu pudéssemos voltar á caminhar Lea saiu por entre os galhos e pulou na gente.

- que droga Lea! – falei morrendo de susto.

- desculpa, eu não queria assustá-los – falou Lea.

- o que diabos está fazendo aqui? – perguntou Luke.

- eu me senti mal por vocês virem sozinhos então eu decidi vir.

- como você nos encontrou? – perguntei curioso.

- eu vi a trilha que vocês deixaram e além do mais eu fui escoteira quando criança vocês vão precisar de mim – falou Lea mostrando uma  mochila. Ela tirou de lá de dentro duas garrafas com água.

- Obrigado Lea – falei virando a garrafa. Joguei a água na boca e o restante eu joguei no rosto. Eu estava suado e começava a me coçar.

Luke também bebeu alguns goles da outra garrafa e Lea tirou da mochila uma lanterna.

- eu também trouxe isso – falou ela entregando uma para mim e outra para Luke.  Ainda estava claro então nós colocamos no bolso.

Depois de recuperar as energias e matar a sede nós continuamos a caminhar.

- onde você encontrou essas coisas? – perguntou Luke para Lea que caminhava ao seu lado direito

- eu encontrei uma dispensa na casa dos Simpsons.

- você revirou a casa dos outros? – perguntei olhando para Lea.

- o que foi? – perguntou ela espantando alguns mosquitos – eles moram praticamente no meio do mato. Eu sabia que eles tinham essas coisas. Eles não morariam aqui se não gostassem de fazer trilha na floresta. Além, do mais  não existem animais selvagens nessa floresta.

- como você sabe dessas coisas?

- Eu li em um livro. Lá em casa tinha um livro sobre a história de Chicago e a página sobre a floresta de Glen Preserve estava marcada.

- essa é a floresta Glen Preserve? – perguntei.

- sim, gênio. E só para que saiba: Não existem animais selvagens aqui.

- é bom saber disso – falou Luke

- pelo menos não nessa época do ano – completou Lea.

- muito obrigado – falou Luke preocupado – sou um cara da cidade grande e é lá que eu devia estar.

Deixei Lea e Luke para trás e comecei a caminhar mais rápido. Nós chegamos a uma clareira na floresta. Havia algumas árvores secas do lado direito e bastante mato do lado direito.

Eu parei lá no meio e fiquei olhando de um lado para o outro.

- quer saber? Eu desisto – falei sentindo uma brisa gelada passar por mim – vamos embora daqui. Não há nada aqui além de mato.

- nós fizemos o que podíamos Max – falou Luke.

- OK – falei respirando fundo. O suor escorria por meu rosto.

- vamos embora. O sol vai começar a se por daqui á alguns minutos.

- OK – falei voltando.

Nós demos alguns passos e então eu me lembrei do que Lea tinha dito. Eu parei por alguns instantes. Luke Lea deram mais alguns passos e pararam

- vamos Max – falou Luke.

- Lea… onde foi que você disse que tinha lido sobre essa floresta?

- em um livro – falou ela.

- de quem era esse livro?

- da minha mãe – falou ela pensativa – ela provavelmente estava pesquisando algo para as aulas.

- ela não é professora de Geografia, não é professora de história… porque diabos ela teria um livro sobre Chicago e porque as páginas que falam sobre essa floresta estavam marcadas.

- eu sei lá – falou Lea.

- isso não pode ser coincidência – falei olhando para trás continuando de onde tínhamos parado.

- vamos embora Max – falou Luke alto.

- não. Eu não vou voltar – falei olhando para ele.

- você não vê que está tomando uma decisão idiota? Como você sempre fez?

- para com isso Luke – falou Lea tentando acalmá-lo.

- Não. nós precisamos continuar – falei com raiva de Luke por querer desistir – Lea encontrou um livro sobre essa floresta nas coisas da minha mãe e eu encontrei um endereço com coordenadas que davam para essa floresta nas coisas do meu pai. Tem algo aqui.

- Nós estamos caminhando por mais de quarenta minutos. Não tem nada aqui – gritou Luke com todas as suas forças..

Nesse momento os pássaros nas árvores voaram fazendo um grande barulho. Isso chamou nossa atenção. Não porque os pássaros voaram ,mas porque não foi a voz de Luke que os fez voar. Tinha algo do lado direito.

- tem alguma coisa ali – falei correndo em direção ás árvores. Luke e Lea fizeram o mesmo.

Atravessei o montante de árvores secas e os galhos se quebraram em meus braços e em meu rosto. Alguns até me arranharam. Senti meus braços ardendo um pouco.

- espera Max – falou Luke correndo atrás de mim.

Eu não dei ouvidos e continuei. O mato estava alto, mas pelo menos não havia galhos secos para me cortar. Havia arbustos. Entrei com tudo nesses arbustos e quando sai do outro lado eu quase não acreditei. Havia uma cabana. Não muito grande. Em frente a essa cabana havia uma árvore de sicômoro. O enorme caule e as folhas enormes lá do alto. Eu fiquei parado olhando para a árvore. Havia alguém amarrado nela.

Quando Lea e Luke surgiram atrás de mim eles também ficaram perplexos. Meu coração bateu forte ao vê-lo. Os mesmos olhos azuis, a mesma barba. Havia uma mordaça em sua boca.

- Pai! – gritou Lea correndo na direção dele.

- Lea! – gritei indo atrás dela.

Ao chegarmos na árvore eu cai de joelhos no chão. Lá estava ele. De olhos abertos olhando para mim. Ele se movia tentando se soltar. Lea tentava soltá-lo. Soltar suas mãos.

- Que merda Max, me ajuda soltá-lo.

Eu não me movi. Fiquei lá de joelhos.

- isso não é possível – falou Luke parando ao meu lado.

Lea parou de tentar soltá-lo e tirou a mordaça da boca dele.

- graças a Deus – falou meu pai. Ele parecia cansado, parecia mais magro do que de costume.

- esse não é nosso pai  -falei me levantando e puxando Lea – é o Teddy.

- não – falou meu pai – sou eu. Sou eu filho – falou meu pai – me solte antes que eles voltem.

- nosso pai morreu Lea – falei segurando o rosto dela entre minhas mãos.

- do que vocês estão falando – perguntou o homem – sou eu Max. Lea. Luke! – falou ele com lágrimas nos olhos. Sou eu.

- Leon morreu. Eu fui ao enterro dele.

- não. Me escutem  -falou ele – eu sou o Leon. Eu fui sequestrado.

- sequestrado? – perguntei confuso.

- sim. Onde eu estou?

- você está em Chicago – falou Luke.

- o que? Chicago? – perguntou meu suposto pai. Ele estava pensativo.

- você foi sequestrado em frente ao aeroporto? Em frente ao tiroteio? – perguntei.

- tiroteio? Não – falou Leon – eu estava indo para o trabalho. Uma vã preta parou e eu fui jogado para dentro dela. Quando acordei estava dentro de uma caixa de madeira. No começo eu pensei que tinha sido enterrado vivo. Depois de alguns horas um homem mascarado me tirou de lá e me colocou no porão daquela cabana.

- ele está mentindo – falei.

- não. É ele – falou Lea chorando – eu sei que é ele.

- Lea, nosso pai morreu. Você foi ao velório. Você viu o corpo dele.

- não. na verdade eu não vi – falou Lea. Ela parecia um pouco perturbada como se ela realmente acreditasse que aquele homem era nosso pai.

- do que você está falando?

- é verdade – falou Luke – o caixão estava fechado.

- porque? Ele não levou um tiro?

- não. Eles disseram que houve uma bomba. Houve uma bomba – falou Luke.

- não houve bomba – falei eu estava no aeroporto. Foram só tiros. Houve realmente o boato de bombas no local, mas não havia bombas – falei pensativo – porque o caixão estava fechado?

- foi por isso que Bonnie não quis que você fosse ao velório – falou Luke.

Agora as peças se encaixavam. Meu pai não morreu. Meu pai nunca estava lá comigo. Era Teddy. Era Teddy o tempo todo.

- era Teddy – falei para Luke – os dois são idênticos. A barba era a única diferença – falei olhando para o homem na árvore – Teddy apareceu alguns dias depois do meu pai ter morrido.

- a quanto tempo está aqui? – perguntei me aproximando do homem na árvore.

- eu não sei. No começo eu marquei os dias, mas então eles começaram a me sedar. Eu passava horas, dias e semanas apagado. Eu não tenho ideia.

- do que você se lembra? você se lembra de quem?- eu não sei – falou ele. Porque vocês não acreditam em mim? – perguntou ele cansado.

- você se lembra do Kevin? Do meu casamento? Isso faz ,mais ou menos uns seis meses…

- Kevin? Quem é Kevin? – perguntou o homem confuso.

Olhei para trás e Lea estava com os dedos cruzados. Torcendo para que ele fosse nosso pai. Luke olhou para mim e então olhou para o homem.

- quando você saiu para trabalhar, que dia foi? Você se lembra que dia era? – perguntou Luke.

- eu não sei – falou o homem pensativo.

- tente se lembrar – falou Luke.

- eu não sei – falou o homem tentando lembrar – eu lembro que acordei, vesti meu terno, me despedi da Bonnie e da Lea. Eu lembro Max não estava…

- eu não estava? Estava viajando?

- não… - falou o homem – você estava se preparando para algo… - falou ele pensativo… - sua formatura. É Isso. Era sexta feira e era dia da sua formatura. Eu estava ansioso e orgulhoso.

- minha formatura? Mas faz mais de dois anos que eu tive uma formatura – falei sentindo um fogo preencher meus pulmões – Teddy roubou sua identidade todo esse tempo?

- Teddy? – perguntou Leon – Teddy fez isso? Eu sou promotor de justiça. Pensei que tinha sido alguém que eu incriminei.

- não. Foi teddy – falou Luke – por isso ele não te matou. Ele é seu irmão. Ele não conseguiu.

- tira ele de lá – falei me aproximando tentando tirar a corda.

Luke se aproximou e com faca ele cortou as cordas que o amarraram a árvore. O homem caiu no chão. Sob alguns galhos. Agora eu percebi que haviam alguns galhos em voltas da árvore. Colocados no chão como se fosse uma fogueira.

- quem te colocou aqui – falei ajudando Luke a levantar meu pai – quem te amarrou nessa árvore?

- não sei, ele estava de máscara – falou Leon – eles iam me queimar – falou Leon – ele me colocou na árvore, arrumou os galhos, mas acho que não conseguiu combustível então foi comprar.

Todo esse tempo. Tudo o que passei com meu pai não foi com ele foi com Teddy. As brigas, os vídeos, o sexo… nada. Tudo foi com Teddy. Porque? Ele ama tanto assim a minha mãe? que tipo de amor doentio é esse? Ele matou meu irmão, abusou da minha irmã e tomou o lugar do meu pai? Ele sempre teve inveja do sucesso dele. Inveja da vida, do dinheiro e da família. A vadia da minha mãe sempre soube. Ela sempre foi apaixonada por Teddy. A ironia é que Teddy e meu pai são exatamente iguais, mas imagino que sejam as coisas que os fazem diferentes que a atraiu.

Nós voltamos pelo mesmo lugar que viemos. O sol começava a se pôr e agora a floresta se apagava a cada minuto que passava. Lea estava andando na frente com a lanterna ligada iluminando o caminho. Ela chorava e não dizia nenhum palavra. Eu ainda estava em choque. Não sabia o que sentir. Depois de uns vinte minutos caminhando nós ouvimos uma explosão. Nós paramos e olhamos para trás. Vimos um clarão.

- o que foi isso? – perguntou Lea.

- Teddy está apagando as provas – falou Luke – ele chegou, viu que Leon não estava e botou fogo no lugar.

- não tem problema – falei continuando a caminhar em direção ao casa de Christopher e Madeleine.

- como assim não tem problema? – perguntou Luke.

- eu tenho filmagens. Eles serão presos de qualquer jeito. 

Meu pai já não caminhava mais. Luke e eu arrastamos ele o mais rápido que pudemos e quando nós víamos a casa eu perdi as forças.

Nós caímos no chão. Nós estávamos no chão gramado. Leon caiu ao meu lado. Eu respirei fundo vendo as estrelas lá no alto. Eu não acreditava naquilo. Meus braços doíam e as sensações estava á flor da pele. Me sentei no chão e vi Luke abraçado com Lea no meio do campo gramado. Em seguida eu vi as luzes iluminando tudo. As luzes piscavam sem parar. Madeleine estava parada na porta com um bebê nos braços. Vermelho e azul eram as cores que piscavam. Eram os socorristas. Havia uma viatura e duas ambulâncias.

- você está bem? – perguntou o socorrista.

- estou – falei olhando para o socorrista – James?

- sim – falou ele olhando preocupado para mim – Nós nos conhecemos?

- sim. você não se lembra de mim?

Ele ficou pensativo, mas ele claramente não se lembrou.

- de onde nós nos conhecemos?

- você me socorreu. Eu estava no carro capotado no campo florido. Se lembra?

- sim – falou ele com um sorriso – você é o garoto sem memória.

- eu mesmo.

- em que confusão você se meteu agora…

- Max. Max Loudorn – falei apertando a mão dele.

- James Thornton – falou ele com um sorriso.

- o que posso fazer por você Max?

- aquele é meu pai – falei apontando para o homem desmaiado no chão – garanta que ele fique vivo e você terá feito o seu trabalho bem. Duas vezes.

James me deixou e foi até meu pai. Outros dois socorristas apareceram. Eu voltei a me deitar no chão e encarei as estrelas lá no céu. Eu não sei bem  oque o futuro me reserva.

Dois anos. Durante dois anos tudo foi uma mentira. Tudo o que eu sabia sobre mim, relacionado á minha família, não foi real. Meu pai Leon não sabia nada sobre mim. Ele nunca chegou á ir á minha formatura. Foi Teddy que me abraçou e disse como estava orgulhoso. Eu sinceramente não me importo. A distinção entre passado, presente e futuro na minha vida é apenas uma ilusão teimosamente persistente.

- Max! – gritou uma voz – Max!

Quem estava me gritando. Tudo o que eu queria era olhar as estrelas. Me levantei do chão enquanto meu pai era levado para a Ambulância e eu vi Ralf.

- Ralf!

Ele correu na minha direção e me abraçou. Ele me segurou no ar e me girou. Nossos lábios estavam unidos como um só. Sentir o calor do seu corpo foi ótimo. Eu ainda estava gelado devido ao passeio na floresta.

- eu te amo – falei segurando seu rosto entre minhas mãos quando ele me colocou no chão.

- também te amo – falou Ralf dando um selinho na minha boca.

Enquanto beijava Ralf eu vi ele se aproximar. Era Derek. Ele estava de braços cruzados.

- me desculpa, eu não consegui ir embora – falou Derek – quando Ralf leu o recado que você deixou eu pensei que talvez pudesse te ver só mais uma vez.

Soltei Ralf e fui até Derek e o abracei. O mesmo beijo que dei um Ralf eu dei em sua boca.

- o que está fazendo? – perguntou Derek.

- eu te amo – falei pressionando sua nuca obrigando que ele voltasse a me beijar. Derek se rendeu e levou suas mãos até minha cintura e beijou minha boca – me perdoa pelas coisas que eu disse. Eu te amo e se Ralf me quiser ele vai ter que te querer também.

- do que está falando? – perguntou Ralf – porque mandou Derek embora? Porque você disse aquelas coisas para ele.

- porque você me disse que “me queria só pra você”.

- Max eu estava bêbado, dormindo… Eu quero você só pra mim. E eu também quero Derek só pra mim. Eu quero os dois.

- eu fico chateado em saber que você estava se desfazendo de mim porque pensou que Ralf não me queria mais.

- não foi por causa disso – falei olhando para Derek.

- então porque foi?

- você não se lembra? – perguntei para Derek.

- do que?

- seis anos atrás. Antes de você ir para a guerra. Era meu aniversário e eu sai para comemorar… sozinho é claro. Eu não tinha muitos amigos. Nós nos conhecemos nesse dia. Você disse que era soldado e que estava deixando o país para ir para a guerra… você não se lembra?

Derek apertou os olhos tentando lembrar de mim, mas não conseguiu. Ele ficou em silêncio mais alguns segundos e então eu percebi que a expressão dele mudou. Ele pareceu surpreso..

- o que está acontecendo aqui? – Perguntou Ralf. Eu não estou entendendo nada.

- Derek e eu ficamos um dia antes dele ir para a guerra… antes de vocês dois irem para a guerra.

- é verdade – falou Derek olhando para Ralf – foi um dia antes de deixarmos o pais para irmos ao Iraque. Lembra que eu te chamei para ir a um bar para bebermos e comemorarmos e você disse que queria passar sua última noite com sua família e com Kyara?

- sim.

- pois é. Eu fui sozinho e conheci Max. Lembro que era aniversário de dezoito anos do Max.

- …dezessete anos – falei interrompendo Derek.

- Dezessete? Você mentiu sua idade?

- sim.

- porque fez isso?

- Eu te achei gostoso e queria ficar com você.  Você ficaria comigo se soubesse que eu era menor? Não. Então eu menti.

- Espera… – falou Ralf então quer dizer que…

- sim – confirmou Derek – eu tirei a virgindade de Max.

- sim. Você foi o primeiro homem a me comer e me magoar. Eu me apaixonei por você naquela noite. Eu disse que tinha gostado muito de você  então você prometeu que iria me ligar, enviar cartas, prometeu que iria manter contato. Eu nunca mais ouvi falar de você. Quando eu vi seu rosto hoje eu me lembrei na hora. Eu me lembrei e eu morri de raiva, eu tinha ódio de você e na época eu queria te matar. Acho que eu sempre tive raiva de você. Recuperar a memória tornou tudo recente e eu senti ódio. Você foi a minha melhor e pior lembrança daquela época. Fiquei com tanto ódio que disse aquelas coisas.

- me perdoa é que…

- não precisa se explicar – falei interrompendo Derek com um beijo em sua boca – você foi meu primeiro e Ralf foi o meu último. Os dois juntos serão o meu futuro. Os dois tem um lugar especial no meu coração – falei esticando a mão para Ralf.

Ele se aproximou e eu dei um selinho em sua boca. Em seguida Ralf deu um selinho na boca de Derek. Nós três nos abraçamos e os dois deitaram duas cabeças em meus ombros. Era bom sentir o corpo deles junto ao meu. Eu sabia que os dois tinham muitas perguntas e eu tinha todas as respostas. Não pretendia dá-las agora. Não tinha pressa, eu teria muito tempo para responder todas as suas questões. Tudo  o que eu queria fazer era ir ao hospital para saber como meu pai estava.

EPÍLOGO

O vento soprava lá fora. Era uma brisa agradável. Não sei bem quando um pequeno encontro se tornou uma pequena festa na casa daqueles estranhos tão conhecidos. Estávamos na casa de Cheryl e Richard Byrd. Eles são os pais de Annabeth Byrd. A garotinha que me encontrou sem memória dentro de um carro no quintal de sua casa. Essa era uma espécie de comemoração. Está fazendo exatamente um ano que fui encontrado no quintal dessa família. De cabeça para baixo. Foi aqui que tudo começou. É aqui que tudo deve acabar. Todos estávamos conversando e tomando cerveja. Eu preferi um refrigerante. Estávamos todos famintos esperando pelo almoço. Cheryl disse que era ótima cozinheira. A casa era pequena então todo mundo conversava com todo mundo. Acho que essa pequena casa perdida no meio de Chicago nunca esteve tão cheia.

Muito tempo de passou. Alguns meses. Era bom finalmente sentir que algo fazia sentido em minha vida. Era bom me lembrar. Muita coisa aconteceu nesses noventa dias. Teddy e Bonnie aguardavam julgamento no Centro Penitenciário de  Chicago. Como eles cometeram crimes em estados diferentes o FBI entrou no caso e não foi difícil encontrá-los. Eles estavam tentando fugir do país e agora estávamos todos torcendo para que eles peguem perpétua. Ninguém quer pena de morte. A morte seria uma saída fácil. Os dois estão sendo acusados de homicídio por Charlie. Bonnie está sendo acusada de ser cúmplice nos crimes de Teddy que por sua vez está sendo acusado de estupro, tentativa de homicídio, sequestro e falsidade ideológica. A melhor parte de ter meu pai por perto é que eu não precisava contar tudo  o que passei até porque ele não queria saber. Ele só estava feliz por estar vivo para poder ver Leona e eu.

Admito que no começo foi difícil para ele aceitar Ralf e Derek. Gray aceitou com mais facilidade. Pra dizer a verdade meu pai Leon aceitou o fato de eu ter encontrado meu pai biológico, mas não aceitou Ralf e Derek. Ele não queria que eu tivesse dois namorados. Era estranho para ele. Derek e Ralf tiveram que conquista-lo. Meu pai tem um coração mole. Ele só quer me ver feliz. Ele acabou aceitando no final. Ele até conseguiu um advogado para que nós três pudéssemos nos casar. Agora Ralf, Derek e eu estávamos casados. Tudo de papel passado e aliança no dedo. Eu não sabia que era possível, mas sim. Nesse país é possível se casar com duas pessoas. Depois de muita burocracia é claro. As três alianças foram compradas por meu pai Gray. Ele queria ajudar de alguma forma.

Kevin e Bryan tinham um relacionamento no fim das contas. Os dois acabaram se apaixonando naquela festa que teve na casa de Luke. Eu sou culpado disso e fico feliz por ser o cupido do amor deles. Digamos que não demorou para que Adrien fosse preso. Ele não tinha jeito. Ele andava com as pessoas erradas e foi preso durante um assalto à uma loja de conveniência em um posto de gasolina. Acho que Kevin ficou até feliz. O filho era um pouco perturbado.

Christopher estava bem. Griffin era um saco. Ele precisou de um exame de DNA que provasse que Christopher era seu irmão biológico e o DNA comprovou isso. Não o julgo. É direito dele duvidar afinal depois de anos acreditando que seu pequeno irmão estava morto ele merecia o benefício da dúvida. Griffin pediu perdão por todas as coisas que tinha dito para mim. Todas as ofensas. Ele e Gray se acertaram no final. Era bom que ver que haviam dois finais felizes e não só um.

Agora todos nós morávamos em Los Angeles. Inclusive meu pai Leon, Lea e Luke. Eles acabaram cedendo. A casa e a cidade de Miami  só traziam más lembranças. Péssimas lembranças. No fim das contas não era tão estranho ter dois namorados, eu tinha dois pais. Era tudo tão normal como pode ser. Luke, Lea, Gray, Griffin, Meu pai Leon, Ralf, Derek, Christopher, Madeleine e eu. Nós tínhamos sido convidados por Richard e Cheryl. Eles viram nosso caso na TV e se lembraram de mim.

- o almoço está pronto – falou Richard.

- ótimo, estou faminto – falei olhando para Lea. Eu conversava com ela.

- mas antes de irmos comer vamos brindar – falou ele abrindo uma garrafa de champanhe. Todos bateram palmas quando a garrafa espumou.

Cheryl começou a distribuir as taças enquanto Richard colocava um pouco de bebida em cada uma delas. Depois que todos estavam bem servidos. Richard subiu em uma cadeira.

- ao que nós vamos brindar? – perguntou Griffin.

- só não brindem a mim – falei levantando a taça.

- mas é claro que vamos brindar a você – falou meu pai Leon se aproximando de mim e dando um beijo no meu rosto. Era bom vê-lo gordinho com as bochechas rosadas. Ele estava acabado quando nós o encontramos na floresta.

- eu tenho uma ideia melhor – falei entregando minha taça para meu pai. Eu me abaixei e peguei Annabeth nos braços – vamos brindar a Annabeth. Foi ela que me encontrou no carro. Tenho certeza que se não fosse por ela eu teria ficado mais alguns dias naquele carro.

Ela deu um sorriso e colocou as mãos no rosto envergonhada.

- Um brinde á Annabeth – falou Gray.

Todos levantaram suas taças e tomaram um gole. Ralf levou a taça até minha boca e eu dei um gole. Dei um beijo no rosto de Annabeth e coloquei ela no chão. Todos começaram a caminhar para a sala de jantar, mas eu segurei na mão de Ralf e na mão de Derek.

- vem aqui – falei puxando.

- o que foi? – perguntou Derek – eu estou com fome.

- vamos ali comigo – falei segurando na mão deles.

- vocês não vem? – perguntou Cheryl?

- sim, nós só vamos ali fora e já voltamos – falei saindo pela porta da cozinha. Derek e Ralf me seguiram. Ao chegar lá fora nós vimos o enorme campo com flores amarelas. Foi ali que tudo começou. As flores brilhavam com a luz do sol e havia uma ventania.

Era estranho. Minha cabeça já não doía mais. Não sentia nada escorrer pelo meu rosto. Eu não estava preso em algum lugar. Eu sabia quem eu era. Sabia quem eram as pessoas que estavam ao meu redor. Não havia borrão. Eu via tudo claramente. Em minha cabeça eu me lembrei da música que tocava no carro quando acordei. ‘Wishin' And Hoping’. Comecei a tocar a música em minha cabeça e começou a pular em direção ao campo de flores. Olhei em volta e movi meus braços para o alto girando. Ralf e Derek estavam sorrindo ao me ver pular feito bobo.

- o que foi? Eu estou feliz – falei olhando para eles.

Eu dei três passos para trás e cai para trás em cima das flores. Vários dentes de leão voaram para o alto.

Ralf e Derek correram até mim preocupados.

- você está bem? – perguntou Derek.

- sim. Eu estou – falei fechando os olhos respirando fundo – foi exatamente aqui que eu fui encontrado.

- eu adoraria ouvir essa história… de novo, mas eu realmente estou com fome – falou Derek.

- para com isso e deita aqui. Deita aqui Ralf – falei esticando as mãos.

Ralf e Derek se deitaram. Ralf do meu lado direito e Derek do meu lado esquerdo. Eu segurei a mão dos dois e trouxe até mim. Respirei fundo e abri os olhos.

- o que está pensando? – perguntou Ralf.

- em nada.

- em nada? – perguntou Derek – eu duvido.

- sim. Pode acreditar. Pela primeira vez na vida eu não estou pensando em nada. Nem no passado e nem no futuro. Eu só estou vivendo o presente.

Derek virou seu corpo de lado e beijou minha boca. Dois selinhos e eu senti sua língua na minha boca. Ralf fez o mesmo. Ele deu dois selinhos e um beijo na ponta do meu nariz.

- amo vocês – falei.

- também te amamos – falou Derek voltando a olhar para o alto.

- muito – completou Ralf.

Quem eu era? Quem eu fui? Isso não importa. O que importa agora é quem eu sou. Eu sou feliz com quem eu sou. sou feliz com quem estou, com quem compartilho, com quem eu choro e com quem ou caio na gargalhada. Toda essa experiência me deu uma nova perspectiva de vida. Me deu a chance de escrever a minha história, eu tive a chance de reescreve-la eu tive a chance de revive-la. Se eu fico imaginando o que o futuro me reserva? Quando eu não tinha memória eu queria muito saber o futuro. Se o futuro traria de volta o meu passado. Eu fui tolo, tudo o que eu tinha que fazer era esperar. Eu tirei uma lição muito valiosa disso tudo. Se você quer prever o futuro, estude o seu passado. E nunca lamente uma ilusão perdida ou obstáculo que a vida coloca em seu caminho, pois não haveria fruto se a flor não caísse. Ou melhor dizendo; eu não teria frutos se não tivesse caído nas flores.

Quero agradecer a todos que estiveram comigo nesses últimos capítulos. Agradeço também quem está aqui desse o primeiro capítulo e não desistiu de ler. Quando eu pensei em desistir de escrever (por volta do capítulo 20) muitos me animaram a continuar e eu continuei. Eu NÃO me arrependo de ter continuado. Gostei de continuar e de como terminei. Só que várias pessoas desistiram de ler só porque eu coloquei algumas coisas que eles não gostaram como o ‘incesto’ e o ‘relacionamento á três’. Isso me chateou um pouco porque as pessoas pedem pra mim continuar, mas não pensam duas vezes antes de desistir.  

Sei que muitos não gostaram de algumas decisões que tomei. Isso refletiu no feedback de vocês. Os votos e comentários caíram MUITO e como eu sempre disse, esses são meus combustíveis. Eu não brinco quando digo que os comentários me animam. Não é mendigar gente, não é isso, mas vejam pelo meu lado: Eu não cobro pra escrever. Eu uso o tempo de folga do trabalho pra escrever. Eu gosto de escrever, mas muitas vezes eu não gosto de ‘postar’ e ‘compartilhar’. O mínimo que eu espero em troca são os comentários, as reações as minhas palavras e isso estava bem escasso. Vocês perceberam que as postagens demoraram. Fiquei 3, 4 e até 6 dias sem postar nada. Por quê? Porque o combustível não foi suficiente e eu não tinha vontade de escrever. Eu estava desanimado porque eu sabia que quase ninguém ia reagir.

Devido a esses acontecimentos eu decidi NÃO fazer segunda temporada de "Príncipe Impossível" e "Sete Formas de Medo". Inicialmente eu faria uma segunda temporada e cheguei a dizer isso para algumas pessoas, mas se os comentários e votos estão poucos, significa que não estou agradando então eu decidi dar por encerrado esses dois contos.
Eu farei um conto inédito? Sim. Futuramente. Também decidi adiar um pouco. Não sei quando voltarei a postar um novo conto. Escrever “Sete formas de Medo” foi bem desgastante pra mim. Ficarei pelo menos uns 18 dias sem postar nada. Se eu voltar a postar será por volta do dia 20 de setembro.  O conto tem nome provisório de "Queimando Em Segredo"Se quiserem manter contato nesse tempo ou me dizer alguma coisa mandem e-mail pra thegravedigger.skull@gmail.com

Espero que tenham gostado de “Sete Formas de Medo” e de “Príncipe impossível”. A Saga de Griffin e Max terminam aqui, com essas palavras. Eu posso mudar de ideia no futuro? Sim. Se eu perceber que as pessoas voltaram a se interessar eu estaria disposto a fazer uma segunda temporada dos dois contos. Pretendendo Também fazer uma sexta temporada para "Paixão Secreta"… enfim… Comentem o que acharam do conto, o que acharam do final. Se vocês gostaram ou odiaram, essa é a hora pra dizer. Um grande abraço a todos. Adeus.