APOCALIPSE
“[…]e foi então que eu
vi… vi a besta surgindo do mar com dez chifres e sete cabeças. Havia um nome blasfemo em cima de uma delas. A besta
que eu vi era como um leopardo. Seus pés eram como os de um urso e sua boca era
como a boca de um leão. Foi para ele que o dragão deu seu poder e o seu trono.
A terra se curvou o adorou. Esse era seu novo Deus. Seu novo Cristo. Não
deixei-vos se enganar pela tua bela voz, pelo teu belo rosto, pois ele será tão
lindo quanto o mais belo dos anjos. Misericórdia das almas que ficarem para
trás, daquelas que ficarem sob a Terra, pois aquele vale perdido sem Deus se
tornará o parque de diversões do Diabo.”
Capitulo 1
REVELACAO #1
S
|
ei que faz um bom tempo desde a última vez que nos
comunicamos e é claro que eu tenho completa consciência disso. Na verdade faz
quase um ano que você não ouve falar de mim, mas eu estou aqui para fazer você
lembrar da minha história. Dos detalhes, personagens e lugares. Talvez você não
se lembre, mas a última vez que leu sobre mim eu fugia de uma furiosa Quimera
com meus amigos tentando chegar ao único lugar a salvo da terra: Eternia.
Quimera é um monstro com duas cabeças: uma de leão e outra de bode. Seu rabo é
como o corpo de uma serpente. Ele andava em duas patas e tinha grandes garras
em suas patas pronto para atacar. Ross estava ferido e eu mal conseguia
carrega-lo. O restante de nós já tinha chegado em segurança e eles não
imaginavam que um monstro como esse acabaria nos atacando.
A verdade é que eu pensei que
esse seria o fim da linha para Ross e eu. Ele estava sangrando no chão e eu
tentava arrastá-lo, mas ele é um homem grande e eu sou só um garoto que terá 19
anos para sempre. Ele insistia que eu fosse e o deixasse para trás. Ele não
queria que eu morresse porque tinha descoberto o meu segredo: além de eu ser
imortal eu tinha o poder da cura e sua filha de 5 anos Seraphyne, por algum
motivo, tinha contraído uma doença e estava morrendo. Ele sabia que a minha
saliva a curaria. Mesmo ele implorando para que eu não consegui deixa-lo.
- vá embora Kyle! – falou Ross
gemendo de dor segurando a ferida que jorrava sangue.
- não! – falei me ajoelhando e
cuspindo no ombro dele – você vai ficar bem.
- não temos tempo – falou ele
respirando fundo segurando no meu braço – eu vou ganhar um tempo para você.
Corra o mais rápido possível e chegue em Eternia. Salve a minha filha – não
sabia o que fazer naquele momento. Minha respiração se tornou ofegante e o medo
tomou conta de mim quando eu vi a Quimera correndo na nossa direção.
Em um impulso deixei Ross no chão
e corri para o lado esquerdo. A Quimera veio atrás de mim. Foi então que eu
percebi que ela me queria. Corri no sentido contrário tentando afastar a
criatura o máximo que pude de Ross, mas agora ela estava na minha cola. Podia
sentir seu bafo quente em minha nuca e a o vento cortando meu rosto enquanto eu
sentia meus pulmões queimando. Sem muitas opções parei e encarei a criatura
fazendo um movimento com as mãos tentando movê-la com o poder da minha mente,
mas nada aconteceu.
- merda! – falei me virando e
voltando a correr – merda, merda, merda!
A criatura soltou um rugido alto
e continuou ferozmente a me seguir. Dei vários pulos tentando desviar de
algumas rochas que haviam no caminho, mas acabei tropeçando em uma delas e cai
no chão. Me virei e imaginei que se quisesse de verdade eu conseguiria deter
aquela criatura.
- por favor! – falei de olhos
fechados movendo as mãos torcendo para que a criatura fosse jogada para longe
assim como aconteceu com o lobisomem.
Abri os olhos e a criatura estava
parada. Não por causa dos meus ‘poderes’. Ela na verdade estava preparando o
bote. A Quimera estava andando em volta de mim como se estivesse me
encurralando. A sua proximidade mostrou que a minha morte era certa. Fechei os
olhos esperando pela mordida da criatura, mas ao invés disso ouvi o som de dor
misturado com seu rígido cortando a floresta de tal forma que os pássaros no ar
voaram do topo das árvores ao nosso redor. Ela urrava de dor como um leão e a
serpente em sua calda se movia de um lado para o outro até que parou. Foi então
que eu vi que dentro da cabeça do bode havia uma enorme lança que havia sido
fincada com força.
- você está bem? – falou uma voz
feminina convencida se aproximando.
Assustado eu abri os olhos e
contra a luz do sol eu vi Misty. Ela estava usando os cabelos amarrados em rabo
de cavalo e ela tinha em sua cabeça uma espécie de bandana improvisada. Ela
parecia uma heroína com a capa esvoaçada pelo vento.
- Misty? Você está viva?
- sim – falou ela estendendo a
mão me ajudando a levantar – a propósito: muito obrigada por me esperar.
- mas… você morreu e então…
- eu sei – falou ela rindo – não
precisa se explicar. Eu segui o rastro de vocês ao longo de um lago e um
cemitério. Não foi tão difícil encontrar vocês..
- é tão bom ver você – falei
abraçando ela.
- tem alguém ai? – falou Ross
gritando.
- quem é ele? – perguntou Misty
enquanto corríamos.
- é um militar. Ele nos ajudou a
chegar em Eternia – você está se sentindo melhor? – falei me abaixando.
- um pouco – falou Ross passando
a mão na ferida – já não está mais saindo sangue da minha boca – falou ele
respirando fundo – sua saliva é mágica – falou ele rindo.
- ótimo – falei segurando nos
ombros e puxando ele pelo uniforme – Ross essa é minha amiga Misty.
- olá – falou Ross sentindo suas
pernas serem levantadas por Misty.
Misty e eu carregamos Ross colina
abaixo e entramos na floresta torcendo para que nenhum outro monstro
aparecesse. Meus braços estavam doendo e nós paramos algumas vezes. Podia-se
ver o muro entre as árvores enquanto saiamos da floresta. Um enorme muro que parecia
ser de uma instalação militar. Quando nos aproximamos e saímos da floresta um
monte de militares se juntaram ao redor de nós apontando armas. Eles usavam
máscaras de gás.
- fiquem parados – falou um dos
militares – não vamos machucar vocês. Sei que vocês estão confusos agora, mas
você precisam prestar atenção em mim. O mundo que vocês conheciam já não é mais
o mesmo. Todas as suas duvidas serão esclarecidas em breve. Nós só queremos
ajuda-los a se reintegrarem a sociedade.
- okay – falei feliz vendo Mike,
Ted, Dorothy, Rodolfo e os outros do outro lado acenando para nós. Eles estavam
sendo acolhidos por outros militares que os tinham entregue cobertores. Tanto
Misty quanto eu levantamos as mãos e Ross deitado no chão começou a rir. Na
verdade ele dava gargalhadas de felicidade. Ele estava feliz por estar vivo e
por ter me conhecido. Eu salvei a vida dele e vou salvar a de sua filha. Acho
que ele me deve agradecimentos.
- você não quer me dizer nada? –
falei rindo olhando para ele no chão.
- Claro – falou Ross com um
sorriso – Seja Bem vindo a Eternia.
Dois militares me seguraram com
força e me colocaram uma máscara de gás o que impediu a minha visão completa
dali a diante. Eles me colocaram e um dos carros militares junto com Misty e
nós seguimos para dentro da instalação militar. Dentro dos enormes muros pude
ver que ali não era apenas uma instalação qualquer e sim uma gigante cidade. Vi
que Ted, Mike e os outros também estavam usando máscaras de gás e tinham sido
levados pelos militares em outros carros. Nós fomos levados através das
instalações militares até que chegamos a um enorme prédio. Os carros
estacionaram e então nós fomos arrancados dos carros.
- pra fora! Agora! – falou um dos
militares me puxando do carro e segurando no meu braço ele me levou para dentro
do prédio. O lugar parecia uma enorme empresa e do lado de dentro havia o nome:
‘Instalação Militar de Solus’.
- onde nós estamos? – perguntei
para o militar enquanto ele me arrastava prédio a dentro. Agora eu já não via
mais os outros. Nem mesmo Misty que estava comigo.
- sem perguntas forasteiro –
falou o militar.
O militar bateu a mão em um botão
vermelho e uma grande porta se abriu revelando um elevador. Nós entramos e ele
desceu alguns andares. O prédio era enorme e parecia ter uns 40 andares e eu
não imaginei que houvesse mais 40 no subsolo. Nós descemos exatamente 30
andares no subsolo até que finalmente saímos. Chegamos a um corredor e eu vi
mais dois militares armados até os dentes que nos acompanharam por um corredor.
- olá forasteiro – falou um outro
militar aparecendo na minha frente quando chegamos ao fim daquele corredor.
Nesse momento eu ouvi gritos. Pareciam gritos de dor. Ouvi Misty gritar e dizer
‘Parem por favor!’. Em seguida ouvi mais e mais gritos e aquilo me assustou.
- onde nós estamos? – perguntei
dando dois passos para trás assustado olhando para os lados
- seja bem vindo a
descontaminação – falou o militar me empurrando com força. Achei que ele fosse
me atacar, mas ele me empurrou para dentro de uma pequena sala. A porta se
fechou rapidamente e eu me vi preso lá dentro enquanto eles me olhavam por uma
pequena janela.
Eles apertaram um botão do lado
de fora e um jato de gás saiu do dedo e outro jato de gás saiu do chão me
assustando pra caralho. Já tinha visto aquilo em filmes. Eles eram usados
quando havia perigo ou suspeita de contaminação por radiação.
- você pode retirar seu traje e
toda sua roupa – falou o militar também retirando sua máscara de gás revelando
seu rosto. Ele usou um interfone para falar comigo.
Tirei a máscara de gás e em
seguida tirei a roupa que usava. Ouvi um estrondo e percebi que uma porta se
abriu atrás de mim revelando um banheiro forrado com azulejos brancos. Meio
envergonhado eu fui para esse banheiro e percebi que não havia nada nele. Nem
ao menos um chuveiro. A porta da sala de descontaminação se fechou e foi então
que dois militares com trajes especiais de cor amarelo entraram. Um deles
estava portando uma mangueira como a usada por bombeiros e ele logo a ligou
começando a jogar água em mim. O jato forte me jogou contra a parede me fazendo
gritar de dor.
- Haaa! Pare, por favor! –
tentava me desviar, mas ele me seguia com a mangueira. Era impossível. Me virei
de costas gritando e o outro militar começou a esfregar o meu corpo com um a
espécie de vassoura com cerdas duras que fizeram a experiência ser triplamente
mais dolorosa. Ele esfregou minhas costas, pernas, bunda, rosto, barriga… a
única parte que consegui proteger foram meus genitais. Tive que aguentar a dor
e segurando meu saco deixei a água e a vassoura rasgarem minha pele e queimarem
meu corpo enquanto eu gritava alto.
Não sei bem quanto tempo aquela
agonizante experiência durou, mas quando terminou eu estava caído no chão
respirando fundo sem forças para levantar. Meu corpo estava vermelho e todo
dolorido. Os militares me forçaram a levantar me deram um roupão para vestir e me
acompanharam a uma sala parecida com aquelas usadas para interrogar criminosos
nos filmes. Eles me deixaram lá sozinho sentado em uma cadeira de metal olhando
para o meu reflexo naquele espelho dupla face. Havia uma mesa a minha frente e
uma cadeira. Isso significa que alguém viria conversar comigo em breve. A porta
da sala se abriu e um homem entrou para conversar comigo. Eu logo o reconheci.
Era o militar que tinha me empurrado para dentro da câmara de descontaminação.
- olá forasteiro. Seja bem vindo
– falou o homem se sentando á minha frente.
- quem é você? – perguntei
respirando fundo e cruzando os braços sentindo o ardor das esfregadas – onde
estão os outros?
- meu nome é Percy Keswick. Sou o
chefe da segurança de Solus e seus amigos estão bem. Nesse momento estão
passando pelo mesmo que você.
- sendo torturados e feitos de
prisioneiros? – perguntei com raiva.
- me desculpe pela a nossa
recepção, mas é preciso. Vocês vieram lá de fora e não sabemos com o que tipo
de coisas vocês entraram em contato. Sei que tudo dói agora, mas vai ficar tudo
bem. Se você for como eu, sei que é imortal e suas feridas irão se curar
rapidamente.
- Solus? – perguntei confuso –
achei que estávamos em Eternia.
- Não. você está em Solus. Encare
esse lugar como uma unidade de quarentena. É aqui que nós vivemos: inclusive
eu. Eternia é apenas para pessoas… digamos… selecionadas. Não podemos deixar
qualquer um viver por lá a menos que tenhamos certeza de que ela está 100%
limpa. Isso não significa que aqui não seja seguro. As instalações de Solus
foram construídas a mais de 100 anos e nós funcionamos como uma enorme cidade.
As pessoas que vivem aqui trabalham, vivem, se relacionam, se divertem e
esperam que algum dia ganhem o bilhete dourado que as levarão a Eternia.
- bilhete dourado? Como assim? –
perguntei confuso.
- veja por si mesmo – falou Percy
me mostrando algumas fotos um enorme lago separa a cidade de Eternia da cidade
de Solus. Existe apenas uma entrada: Uma enorme ponte suspensa que é vigiada 24
horas podia por militares que tem ordens explicitas de atirar para matar
qualquer pessoa que se aproxime a menos de 300 metros do local sem permissão.
As fotos que eu olhava naquele
momento era de um verdadeiro jardim do Edens. Era como se Eterna fosse um
condomínio fechado com enormes mansões. Haviam piscinas, restaurantes, com
muito lazer e natureza.
- porque não colocam todos para
viverem em Eternia logo de uma vez? – questionei Percy.
- nós erramos da primeira vez
garoto. Dessa vez precisamos fazer as coisas da maneira certa e como você deve
ter percebido a bomba causou mutações nos sobreviventes e não podemos deixar
qualquer um ir para Eternia. Aquele lugar é um santuário. As pessoas que
vivarem naquele lugar são as responsáveis por darem continuidade a raça humana.
- e como eu faço pra ganhar um
‘bilhete dourado’ pra Eternia?
- nós faremos exames em você.
Essa é a primeira fase. A segunda fase é contribuir. Todos em Solus precisam
trabalhar. Precisamos de mecânicos, engenheiros, caçadores, pessoas para fazer
a colheita de alimentos… enfim… Toda sexta feira ‘A Companhia’ organiza uma
Loteria que sorteia o nome de uma pessoa que a essa altura já tenha passado
pela triagem e que tem contribuído de forma significante para com a nossa
cidade.
- ‘A Companhia’? – perguntei
confuso.
- é como se fosse ‘o Governo’,
mas eles decidiram não usar esse nome. Traz lembranças ruins do passado.
- e quem é o presidente dessa
Companhia?
- O Presidente Bryon Lemus. Um
cara legal. Você vai conhece-lo – falou Percy com um meio sorriso.
- não acha que sortear apenas um
nome por semana é muito pouco? Vai demorar uma eternidade até encher aquele
lugar.
- que mal tem isso? – perguntou
Percy rindo irônico – a eternidade é tudo o que temos. 98% da população morreu
com a bomba, metade do que sobrou morreu com a radiação. Nós somos os últimos
indícios de civilização que sobraram na face da terra e nós estamos felizes por
ter encontrado você e seus amigos senhor…
- Kyle – falei respirando fundo –
Kyle Bouchard.
- oka senhor Bouchard – falou
Percy pegando uma pasta e se preparando para escrever algo – vou te fazer
algumas perguntas e eu preciso que responda com total sinceridade.
- sim senhor.
- notou alguma mudança no seu
corpo? Algum apêndice externo que tenha crescido?
- não senhor – falei respirando
fundo.
- você morreu desde que acordou
da hibernação?
- sim senhor. Afogado.
- okay – falou ele anotando no
papel – você notou alguma outra coisa além da imortalidade e da regeneração? Qualquer
outra coisa diferença que você tenha percebido?
Nesse momento me lembrei da minha
saliva. A minha habilidade de curar. Eu sabia naquele ponto que mesmo os
imortais morrem na eternidade. Todos tem uma fraqueza. Sabia disso porque Melly
tinha morrido afogada e isso significa que em certo ponto todos nós temos uma
fraqueza. Se alguém arrancasse a minha cabeça por exemplo eu morreria. Mark se
feriu seriamente e a regeneração não funcionava com ferimentos graves, mas
apenas algumas gotas da minha saliva tinha o curado em alguns minutos.
- não! – falei respirando fundo –
não notei nada de diferente – eu era esperto o suficiente para saber que a
maior praga que já habitou o planeta terra ainda continuava sob ela e se eles
descobrissem do que eu era capaz eu seria desmembrado e estudado.
- okay Kyle – falou ele
escrevendo algo e virando a folha – tenho só mais algumas perguntinhas – qual o
seu maior medo?
- o que? – achei aquela pergunta
ridícula – essa pergunta é séria?
- sim. – falou ele esperando a
resposta.
- porque vocês precisam saber
disso?
- nada muito importante. Nosso
psiquiatra desenvolveu esse questionário e quando ele colocou essa pergunta eu
fiquei tão intrigado quanto você.
Percy não me enganava e por mais
que eu soubesse qual o meu maior medo, eu não diria e foi então que eu resolvi
mentir.
- fogo – falei começando a mover
as pernas – tenho medo de fogo.
- ótimo – falou ele escrevendo.
- sabe, eu estou intrigado com
algo Sr. Percy Keswick.
- com o que? – ele olhou para
mim.
- como vocês conseguiram
construir tudo isso em tão pouco tempo? Toda essa fortaleza? Eu nem sei o
tamanho que toda a área segura tem, mas imagino que seja grande.
- na verdade é – falou ele
parecendo orgulhoso – Eternia é um verdadeiro santuário e a sua área total é de
5.375.000 km². É mais ou menos metade do tamanho que era o Canadá. Solus é
metade disso.
- pois é. Pelo o pouco que vi
desde que cheguei as instalações são modernas e a tecnologia que vocês tem aqui
são incríveis. Como a humanidade conseguiu progredir tanto em pouco mais de 250
anos?
- como é? – perguntou Percy
confuso – 250 anos?
- sim. Contanto o ano em que
houve o ataque nuclear e o ano que estamos que é 2282 é mais ou menos 250 anos.
- acho que você entendeu errado
Sr. Kyle – falou Percy virando ao folha e fazendo uma espécie de linha do tempo
– quando houve o ataque nuclear aquele ano foi considerado o ‘marco zero’ e uma
nova contagem se iniciou. Nós não estamos no ano de 2282 d.c. (depois de
Cristo). Nós estamos no ano de 2282 p.a. (pós apocalíptico). Isso significa que
2282 anos se passaram desde que houve o ataque.
- nós dormimos por mais de 2 mil
anos? – perguntei confuso e em choque.
- sim – falou Percy rindo da
minha ingenuidade – não se espante com o que você verá fora dessas instalações.
Vai se parecer muito com a vida que tinha antes só que com mais seguranças,
menos pessoas e criaturas mais horripilantes – falou ele rindo – será como
viver no passado, mas com muita tecnologia.
- okay – falei coçando a cabeça –
desculpa a reação é que foi um choque. Acho que o senhor entende.
- sim, eu entendo – falou ele
virando o papel – que tipo de trabalho você gostaria de estar fazendo aqui na
cidade de Solus?
- o que você me recomendaria.
- você é um garoto de que idade…
16, 17 anos?
- 19 anos – falei lambendo os
lábios.
- você com certeza não tem porte
para ser um caçador, mas com certeza ajudaria bastante na colheita.
- pode ser.
- perfeito. Você será um
Colheitador – falou ele anotando no papel – A cidade de Solus é dividida em
bairros, que são divididos por quadras. Nós temos dois modelos de casas. Com 1
quatros para casais e casas com 2 quartos. Nós geralmente não damos o poder da
escolha e realocamos os novos habitantes para locais aleatórios, mas nós nunca
encontramos um grupo tão grande como o de vocês então se você quiser pode
escolher um dos seus companheiros de viagem para morar com você.
- apenas um? – perguntei
respirando fundo.
- sim. apenas um. Seja sábio na
sua escolha porque você não poderá voltar atrás.
Nesse momento a porta se abriu e
um soldado entrou trazendo consigo duas pastas. Ele entregou para Percy e se
inclinou dizendo algo em particular para ele. Consegui ouvir o que diziam, mas
não entendi as palavras.
- obrigado Dominic – falou Percy
enquanto o soldado saia pela porta. Percy abriu as duas pastas e deu uma lida
na ficha dos dois e deu uma risada – acho que posso facilitar o trabalho para
você Kyle.
- o que? Como assim?
- Dominic me trouxe a ficha de
dois dos seus colegas forasteiros: Michael McKinney e Ted Wolfe. Os dois
escolheram você como o parceiro. E sabe qual a parte mais interessante?
- não, qual?
- o modelo de casa que eles
escolheram para viver com você é o de apenas um quarto de casal.
- vocês tem algum problema com
isso aqui? Quer dizer… pelo amor de Deus, né? O mundo acabou e estamos literalmente
começando do zero…
- não se preocupe Kyle. Não temos
nada contra gays – falou Percy rindo me interrompendo – ser gay não tira as
suas chances de ganhar um bilhete dourado para viver em Eternia. Claro que
estamos pensando em procriação, mas gay ou não vocês tem esperma e nós temos
cientistas que dominam a técnica da inseminação artificial.
- ainda bem – falei rindo – isso
significa que as mulheres podem engravidar?
- não – falou Percy fechando as
fichas de Ted e Mike – esse é o maior problema. Tentamos milhares de vezes, mas
não deu certo nenhuma das vezes. Parece que gravidez é uma dádiva que ficou no
passado.
- sinto muito.
- não vamos desanimar – falou Percy pegando a
caneta e olhando para mim – e então Kyle? Quem você escolhe? Ted ou Mike?
Por um momento eu pensei que as
escolhas difíceis tinham ficado para trás. A dor, o ódio, as contas, os problemas,
desafetos… pensei que após o fim do mundo as reponsabilidades também ficariam
para trás, mas elas só tem um peso cada vez maior. Ainda estavam choque com a
revelação de que nós dormimos por 2 mil anos e diante aquela pergunta: Ted ou
Mike, pela primeira eu pensei no dia do Marco Zero. O que eles deixaram para
trás, porque eles me escolheram? Porque os dois queriam ficar comigo agora que
estávamos a salvo?
27 DE OUTUBRO DE 2029, FILADÉLFIA
33 minutos antes do Ataque Nuclear
Mike
Era sábado e se deu ao luxo de
dormir até mais tarde naquele dia mesmo sua esposa tendo-o acordado aos beijos.
Ele até se rendeu por alguns minutos fazendo carinho e passando al íngua em seu
pescoço e a mão em sua barriga. A sua pele negra em contraste com a pele branca
de Mike o deixava de pau duro. Especialmente quando ele jorrava seu leite pelo
seu corpo. Ele adorava ver como seu esperma escorria por sua pele chocolate. As
vezes ele até o provava.
- hoje não amor! – falou Mike aos
beijos se virando se virando na cama.
- por favor amor. O médico disse
que é bom para o mim – falou ela colocando a mão na barriga – ajuda se nós
quisermos um parto normal.
- nós não devemos ficar tão
animados Eva – falou ele olhando para a espoa e passando as dedos em seu rosto
– essa é nossa segunda tentativa.
- eu sei – falou Eva tocando o
peito forte do marido – mas eu sei que dessa vez eu vou segurar – falou ela
colocando a mão na barriga. Ela estava grávida de apenas dezesseis semanas e da
última vez ela não tinha conseguido
passar da décima primeira. Deve ser por isso que ela estava tão animada.
- espero que seja um menino –
falou Mike com um sorriso.
- eu também – falou Eva com um
sorriso se levantando. O primeiro bebê que os dois esperavam morreu depois que
eles sofreram um assalto. Mike e Eva tinham ido a uma ópera e na volta um
assaltando tentou roubar o relógio de Mike e ele acabou dando uma cotovelada na
barriga de Eva. Todos diziam que era uma acidente, mas no fundo Mike achava que
tinha matado o filho.
Quando a ferida tinha sido curada
eles tentaram engravidar, mas o médico disse que era uma gravidez de risco e
quando chegaram a décima primeira semana Eva teve um aborto espontâneo. Ela
fazia compras e quando foi aos frios comprar peixe para fazer o jantar favorito
do marido escorregou em algo e caiu. Ela logo pensou no bebê, mas ao perceber
que tinha escorregado no próprio sangue ela sabia que tinha perdido o filho.
Eles prometeram um ao outro que nunca mais tentariam, mas mesmo usando
camisinha aconteceu de Eva engravidar. Eles receberam aquilo como um sinal
divino. Eles não queriam elevar as esperanças, mas quando chegaram a semana 11
e nada aconteceu foi inevitável sentir que aquele filho nasceria. A cada semana
que passava os pais de terceira viagem, mas sem nenhum filho começavam a fazer
planos. Mike começava a pensar nos nomes mesmo que em segredo e Eva já tinha
começado a pensar em como decorar o escritório do marido para transformá-lo no
quarto do novo bebê.
- eu vou me levantar e fazer o
seu café da manhã – falou Eva se levantando – você pode dormir o quanto quiser.
- só mais dez minutos – falou
Mike de olhos fechados tentando dormir. O trabalho de professor de história não
é fácil ainda mais agora que ele tinha aceitado um novo emprego. Seria uma nova
boca para alimentar e ele queria dar tudo do bom e do melhor para seu filho e
sua esposa. Mike ouviu o momento em que sua esposa abriu a tornei e começou a
escovar os dentes. Era com aquele som tranquilo que ele esperava cochilar mais
um pouco, mas o som tranquilo parou de repente.
Por alguns momentos Mike se
permitiu ficar deitado. Ele pensou que ela terminara e que logo em seguida
ouviria o som do chuveiro sendo ligado. Seria a deixa para ele entrar no banho
com a esposa para fazer amor com ela, mas não aconteceu. Mike abriu os olhos e
se virou na cama olhando para a portado banheiro aberta e se sentou na cama
confuso.
- Eva? Amor? Você está bem? –
Mike se levantou e calçou os chinelos e caminhou até o banheiro. Ao chegar na
porta viu sua esposa com a escova na boca encarando-o. Foi então que ele olhou
para baixo e viu o sangue pingando no piso de madeira do banheiro. Eva não
conseguia se mover e os olhos de Mike se encheram de lágrimas ao ver que não
conseguiriam passar daquela semana. Não havia nenhum sinal divino quando a camisinha
falhava. Apenas uma ironia do destino – okay – falou Mike se aproximando de Eva
e tocando seus ombros ela deixou as lágrimas escorrerem por seu rosto. Ela
sentiu Mike a abraçar forte e então ele a ajudou a enxaguar a boca e ligou para
o médico dizendo o que tinha acontecido. Eva estava sentada no sofá em estado
de choque usando o roupão e o sangue escorria por suas pernas. Mike não sabia
se continuava a contar ao médico a situação ou se pedia pra esposa se levantar
do sofá novo que agora era manchado com o sangue do aborto.
A TV estava ligada e a ligação de
Mike com o médico foi interrompida por uma mensagem no celular. Ele olhou na
tela e não acreditou no que leu.
‘Emergência: ALERTA DE BOMBA.
Procurem abrigo’
Mike tentou conversar com o
médico, mas a ligação tinha caído. Ele viu que algo estava passando na TV, mas
ela estava em um volume tão baixo que ele não conseguia ouvir nada. Ele pegou o
controle e aumentou o volume.
- autoridades afirmam que Hong
Kong e Rio de Janeiro foram dizimadas. O pentágono não consegue mais contato
com aliados na Rússia e temos filmagens exclusivas do ataque que destruiu o
oriente médio – falou a repórter do noticiário – é isso pessoal. Nós vivemos
para ver acontecer. É o apocalipse.
- está acontecendo – falou Eva se
levantando do sofá.
- nós precisamos ir embora Eva –
falou Mike pegando a chave do carro.
- eu não vou – falou ela olhando
para Mike – meus filhos estão me esperando – falou ela passando a mão no rosto
– todos os três.
- Eva, você ficou maluca?
Precisamos sair daqui. Meus pais tem um abrigo anti-bombas. Eles ficam a dez
minutos daqui.
- eu não vou Mike! – falou Eva
chorando – você não vê o que está acontecendo? Do que adianta viver se é o fim
do mundo?
Nesse momento o sinal de TV foi
perdido e o alarme de ataque nuclear começou a soar. Mike se desesperou e deu a
volta na mesa para pegar Eva, mas ela se recusou ir.
- me solta Mike – falou ela
correndo até a cozinha.
- precisamos ir Eva. Nós vamos
sair dessa. Vamos passar por isso juntos.
- meus filhos não podem ficar sem
a mãe! – falou Eva pegando uma faca na cozinha – o alarme começou a soar mais
forte e então ouviu-se o som de gritaria e desordem. Todos estavam ficando
loucos lá fora – você vai ficar bem sem mim. Pode ir – falou Eva chorando.
- vá para o porão pelo menos –
falou Mike ouvindo a música ‘I Swear’ de All 4 One começando a tocar do lado de
fora – Mike foi até a esposa e deu um último beijo nela. Eva recebeu o beijo do
marido e aceitou ir para p porão como o marido tinha pedido.
Mike saiu correndo para o lado de
fora e percebeu que um carro estava tocando a música e um homem bêbado estava
dirigindo-o.
- é o fim do mundo porra! –
gritou o homem atravessando a rua atropelando um monte de gente. Mike percebeu
que as pessoas estavam assustadas assim como ele. Mike entrou em seu carro e
deu partida seguindo pelo jardim dos seus amados vizinhos. Ele destruiu as
hortênsias de sua vizinha e detonou a caixa de correios de seu melhor amigo,
mas ele não tinha escolha. A música continuava a tocar alto porque agora estava
tocando no carro de Mike que estava na mesma estação. Mike pisava fundo no
acelerador tentando desviar dos carros e foi então que ele viu algo surgir no
horizonte. Ele sabia o que era e quando chegou em um engarrafamento saiu do
carro e viu as pessoas fazendo o mesmo correndo contra ele. Mike ficou lá
parado vendo o míssil passar no alto de sua cidade e seguir em queda. Ele não
se lembra muito depois disso. Apenas de um enorme cogumelo de poeira.
27 DE OUTUBRO DE 2029, BOSTON
47 minutos antes do Ataque Nuclear
TED
Ted não conseguia respirar e
movia os braços o mais rápido o possível. Quando ele voltou a superfície ele
sentiu os braços o envolvendo-o tentando puxá-lo para baixo e então ele se
virou e a abraçou e beijou sua boca. Fazia tempo que Ted havia prometido aquele
fim de semana a sua noiva Michelle. Eles esperavam um filho juntos e ela está
grávida de 6 meses e Ted tem trabalhado muito para tentar dar o melhor –ara o
seu futuro filho. Ted conhecia esse lago desde que era criança e sempre quis trazer
sua noiva aqui. É um lugar calmo e longe da civilização. Eles chegaram na sexta
a noite, tranzaram a noite inteira e agora estavam tomando banho nu. É meio que
o fim de semana perfeito depois de uma semana de cão.
- eu te amo, sabia? – falou
Michelle beijando o rosto de Ted sentindo a barba por favor tocando seus lábios
– obrigado por me trazer aqui. Sei como esse lugar é importante para você –
falou Michelle. A mãe de Ted (que morreu em decorrência de um câncer quando ele
era criança) que o trazia a esse lugar quando ele era pequeno.
- você é especial para mim e
convenhamos que já era hora de te trazer aqui – falou Ted rindo.
- isso é verdade – falou Michelle
se virando e Ted a abraçou por trás e começou a beijar seu pescoço – você
prometeu a mãe do seu futuro filho que a traria aqui a 4 meses atrás e quebrou
a promessa um monte de vezes.
- você sabe que eu tenho andado
atarefado amor – falou Ted fazendo carinho em Michelle.
- a culpa é minha. Quem mandou eu
me apaixonar por um advogado de 46 anos viciado em trabalho – falou ela
sentindo Ted tocá-la dentro da água – mas que me toca como ninguém lá embaixo.
- isso que eu queria ouvir –
falou Ted rindo e mordiscando sua orelha enquanto passava os dedos no grelo de
sua futura esposa que gemia como cadela. Michelle segurou o membro de seu noivo
e o segurou forte enquanto gemia. Ela sabia como ele gostava.
Depois de mais uma rodada de sexo
que se iniciou dentro da água e terminou do lado de fora os dois pombinhos
resolveram relaxar um pouco e tomar sol. Ted estava na quarta cerveja e
Michelle estava deitada em seu peito acariciando seu forte peito sentindo que
aquele era o homem de sua vida e que passaria o resto de sua vida com ele.
- é bom relaxar um pouco – falou
Ted terminando outra cerveja – uma pena que você não me deixa fumar. É só o que
falta pra ficar mais perfeito.
- nem pensar. Você será pai. Tem
que parar com esses mal hábitos – falou Michelle virando o rosto de Ted e dando
um beijo ela sorriu para ele.
- é bom relaxar um pouco – falou
ele olhando para o topo das árvores.
- você ainda está envolvido com
aquele caso de abuso sexual dos irmãos Kyle e Anita?
- você andou lendo meus arquivos?
– perguntou Ted repreendendo-a.
- mais ou menos. Queria saber o
que você anda fazendo que é mais importante que ficar com a mulher que está
carregando seu filho.
- respondendo sua pergunta: sim é
sobre aquele caso e é um suposto abuso sexual. Não existem provas. O pai
inclusive já foi liberado.
- mas e se ele tiver feito. você
não se sente mal? – perguntou Michelle.
- por favor – falou Ted rindo – o
cara é um ex militar e esses dois filhos, Kyle e Anita Bouchard, não dois
filhos ingratos tentando denegrir a imagem do pai só porque ele foi linha dura.
Meu pai foi linha dura comigo quando era criança e nem por isso eu cresci e
acusei ele de estupro – Ted parecia convencido de que seu cliente era realmente
inocente. Ele se inclinou e após pegar outra cerveja no cooler ele a abriu e
tomou outro gole.
- não fica bravo comigo Ted é
que… e se fosse nosso filho? Eu só estou pensando que se ele acusasse alguém
que você confia de algo tão horrível eu gostaria de pensar que você acreditaria
nele.
- não faça suposições como essa
envolvendo meu filho, ficou doida?
Nesse momento os celulares de Ted
e Michelle começaram a vibrar e a dar sinal de mensagem. Ted fez menção de que
ia se levantar, mas Michelle não deixou. Ele havia prometido um fim de semana
sem celular e sem trabalho. Um fim de semana apenas do casal. A verdade é que
os dois não se deram conta do que acontecia até que ouviram ao longe um som
estranho. Um som que fez a floresta se agitar. O som do alarme de ataque
nuclear soando. Na verdade eles nem tiveram tempo de assimilar o que acontecia
direito. Quando Ted pegou o celular e viu a mensagem de emergência já era tarde
demais.
- o que está acontecendo amor? –
perguntou Michelle vestindo a roupa assustada.
- eu não sei – falou Ted ouvindo
o som de um helicóptero. Ele olhou para o alto e viu um helicóptero
passando por cima deles. Ele o observou
pouco por um momento enquanto ele seguia pelo horizonte e então ele viu um
clarão. Parecia uma explosão. De repente ele viu algo inacreditável. O
helicóptero ser jogado para trás. Era o efeito cataclisma da bomba que tinha
atingido Boston. Ele correu na direção de Michelle para abraça-la e protege-la,
mas as hélices do helicóptero fizeram com que ela desaparecesse em um piscar de
olhos. Ted sentiu o poder a bomba atingir seu corpo e jogá-lo para trás.
27 DE OUTUBRO DE 2029, BOSTON
19 minutos antes do Ataque Nuclear
KYLE & ANITA
O testemunho de Anita foi
invalidado pelo estado depois que um psiquiatra contratado pelo advogado do meu
pai, Ted Wolfe, declarou Anita incapaz de testemunhar. Ele disse que ela tem
transtorno esquizofrênico e muitas vezes entrou em conflito em seus testemunhos.
Eles querem que nos lembremos de todas as vezes e de todos os detalhes, mas nós
lutamos tanto para esquecer de todas as vezes que ele gozou em nossos rostos,
peito, bunda… em nossa comida… é claro que vamos entrar em conflito. A verdade
dói. Mas no tribunal a verdade não importa: É quem monta o espetáculo mais
atraente que ganha. A história mais convincente. Era apenas eu contra meu pai
já que minha mãe se recusou a testemunhar contra ele. O julgamento acabou sendo
anulado já que o júri não entrou em consenso e essa foi a brecha para o
advogado pedir que as queixas fossem retiradas. Vai ser questão de tempo até
que ele venha atrás de mim e de Anita. Não quero viver em um mundo onde um
homem como ele faz o que fez e continua livre.
Havia combinado de encontrar com
Anita na biblioteca para cumprir o acordo que tínhamos feito. Era sábado dia 27
de outubro de 2029. Eu estava suado e minha cabeça doía. O sol estrava entrando
pela janela do meu quarto. Fui direto para o banheiro e tomei um longo banho.
Vesti minha roupa e antes de sair do quarto fui até a gaveta da minha
escrivaninha e tirei de lá uma caixa de madeira. Eu a abri e vi a Pistola
Tauros 380. É incrível como é fácil comprar armas nesse país e antes que
proibissem a compra eu tratei de obter uma para proteção afinal quando o nosso
caso foi parar na mídia Anita e eu recebíamos ameaças. Todo mundo ficou contra
nós só porque meu pai é um ex veterano de guerra. Como se militares fossem
alguma espécie de ‘Deus’ nesse país.
Peguei minha mochila e coloquei
alguns livros e a pistola com algumas balas. Anita havia me mandado mensagem
dizendo que estaria em alguns minutos. Quando cheguei a biblioteca vi Anita
sentada lendo um livro. Ela trouxe consigo sua mochila. Me aproximei dela e me
sentei de frente a ela. Anita olhou para mim e respirou fundo. Ela parecia
nervosa.
- você está pronta?
- sim – falou ela nervosa. Ela
olhou para a televisão que estava ligada na biblioteca no mudo. Uma reportagem
sobre frutas e seus benefícios passava na TV.
- eu trouxe a pistola – falei
abrindo a mochila e mostrando para ela – você trouxe a sua?
- sim – falou ela abrindo a
mochila e me mostrando uma Pistola 840.
- onde você conseguiu?
- uma amiga me deu para me
proteger.
- okay – falei respirando fundo e
levantando o mindinho. Anita levantou o
mindinho de sua mão e nós os cruzamos – eu sei que essa é uma promessa de
mindinho, mas você não precisa fazer se não quiser.
- não, Kyle – falou ela passando
a mão rosto limpando a lágrimas – eu não vou conseguir ficar aqui sem você. Nós
vamos estar juntos. Eu te amo tanto.
- eu também te amo Anita. Nesse
momento todos que estavam na biblioteca correram para olhar algo na televisão.
Olhei para trás e vi o que parecia ser algum acidente. Havia fumaça e um lugar
que havia sido destruído.
- é nossa chance! – falou Anita
se levantando e eu a segui até a parte de trás da biblioteca. Nós nos ajoelhamos no chão um de frente para o
outro. Eu peguei a minha pistola e fiz como aprendi em um tutorial no Youtube.
Coloquei as balas e destravei. Estava pronta para atirar. Anita fez o mesmo com
a dela.
- Vamos contar até três? –
perguntei.
- sim – falou ela balançando a
cabeça positivamente – mas vamos atirar no ‘3’ ou no já?
- no ‘3’. É melhor.
- okay – falou ela apontando a
arma dela para a minha testa. Eu apontei a minha arma para a testa dela. Como
combinamos. Ouvimos o que parecia ser o som de uma sirene e então ouvimos uma
gritaria – o que é isso? – perguntou Anita.
- eu não sei e não importa mais.
- okay – falou ela lambendo do
lábios.
- no três – falei respirando
fundo – um… dois…
Antes que dissesse o três nós
atiramos. Ou foi o que eu pensei. Apenas eu atirei. Anita foi jogada para trás.
- Anita! – falei nervoso vendo
que apenas ela tinha atirado – Anita! – falei com lágrimas nos olhos. Ela me amava
demais para conseguir atirar em mim. Peguei a arma de Anita e dei um tiro na
parede. Ela funcionou. Significa que ela não teve coragem de atirar – sua
idiota – falei pegando a minha arma – eu não vou ficar aqui.
- Kyle? – falou Lucy me vendo de
pé com a arma na mão – o que está fazendo?
Eu não respondi apenas abri a
boca coloquei a arma e apertei o gatilho estourando os meus miolos. Ainda sinto
o meu corpo amolecer e toda a dor desaparecer do meu corpo. Minha cabeça não
sabia como lidar com aquela sensação. Meu cérebro espalhado na parede atrás de
mim. Senti aquela sensação de paz. Eu entendo o que querem dizer quando falam
que não se leva nada daqui. É verdade. Nada. Nada de bom, nada de ruim. É como
antes de nascer. A gente não se lembra.
2282 p.a.
Percy Keswick líder da segurança
de Solus continuava a me encarar esperando por uma resposta. Em minha mente
tudo o que eu pensava era em tudo o que tinha ficado para trás. Teria eu sido
fraco ao tocar aquela decisão por Anita? O que Ted e Mike estariam fazendo
quando o ataque aconteceu?
- preciso de uma resposta Sr.
Kyle.
- Ted – falei rápido – eu escolho
Ted Wolfe.
- tudo bem – falou ele anotando
na minha ficha – viu só? Não foi tão difícil.
- você que pensa – falei respirando
fundo.
Percy olhou para mim e pareceu
surpreso ao ver algo.
- poxa, você se curou rápido das
feridas da descontaminação.
- eu nem percebi – falei passando
a mão nos ombros.
- nós terminamos aqui – falou Percy
se levantando e esticando a mão ele apertou a minha – um dos soltados de trará
roupa e você encontrará seus amigos na superfície.
- obrigado Sr. Percy.
- não me agradeça. Agradeça ‘a
Companhia’ – falou ele com um sorriso – eles podem demorar um pouquinho a
trazer sua roupa então vou colocar uma música pra você ouvir. É de uma seleção
pessoal então espero que não se importe – falou Percy saindo da sala. Quase me imediatamente ‘Making Love Out of Nothing at All’ do Air Supply
começou a tocar. Me levantei da cadeira e respire fundo abrindo o roupão me olhando no
espelho vendo que meu corpo estavam quase que regenerado da descontaminação. Admito
que fiquei assustado quando cheguei aqui e estava até um pouco pessimista. Aqui
não é Eternia, mas pelo menos não estamos lá fora jogados as traças.
Surpresa! Meu aniversário foi ontem dia 19 e decidi dar de presente pra vocês Crônicas de Perpétua adiantado. Era pra ter sido no dia do meu aniversário, mas o capítulo ficou grande demais e não consegui terminar. Espero que tenham gostado desse capítulo, não esqueçam de deixar a opinião nos comentários (que me motiva a continuar com mais frequência) e não esqueça também de deixar o seu voto que é muito importante. Compartilhe com seus amigos que gostam de ler sobre a temática. Um grande abraço a todos e até o próximo capítulo.
Logo abaixo tem o link para comprar as minhas obras na Amazon. Tem também o link do convite para fazerem parte do meu grupo do Whatsapp. Espero que tenham gostado desse capítulo e até o próximo. Um abraço.
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