CAPITULO 26
O médico me disse que a única saída seria a cirurgia, mas os riscos
tinham duplicado. Eu tinha decidido não arriscar. Era o fim. Era o meu fim. Ele
tinha sugerido que eu poderia continuar com a quimioterapia mais agressiva para
que eu tivesse mais tempo. Ou eu vivia mais 6 meses sofridos ou vivia 3 meses
como se fossem os últimos na minha vida e era isso que eu tinha escolhido.
Meu pai e meu irmão não tinham aceitado a minha decisão. Meu pai não
aceitava que seu garoto caçula estava morrendo. Jay e eu tínhamos decidido nos
casar, mas não seria nada religioso já que nenhum de nós acreditávamos em força
maior decidimos fazer apenas uma pequena cerimonia e nos casar no civil para
apenas alguns amigos e familiares.
Como eu decidi me casar apenas quando meu cabelo crescesse novamente
tínhamos que esperar pelo menos 1 mês e já tinha se passado duas semanas. Eu
tinha voltado a se parecer comigo eu tinha engordado um pouco e meus cabelos
começavam a crescer. Eu tinha apenas alguns poucos meses de vida até que
finalmente partisse deixando para trás todos os que eu conhecia e o amor da
minha vida.
Eu estava sentado assistindo TV quando Jay chegou do trabalho.
- boa noite – falou ele sentando ao meu lado e ficando junto de mim.
- obrigado por sempre me apoiar – falei dando um selinho na boca dele.
Jay era o único que tinha me apoiado em minhas decisões até agora. Jake
e meu pai não me apoiavam nas decisões. Eu sei que era difícil para eles terem
que me ver morrer, mas era mais difícil pra mim ver tudo o que eu amo passando
diante de meus olhos e tendo que deixa-los mesmo sem querer.
- eu te amo – falou ele fazendo bico e me dando outro selinho – eu estou
aquí pra você.
Jay tirou os sapatos e subiu as pernas no sofá.
- você se sentiu mal hoje?
- um pouco.
- o que você sentiu?
- precisamos mesmo falar sobre isso? Eu não quero gastar meus últimos
dias pensando em como estou ruim.
- eu preciso saber. – falou ele com seu olhar de cachorro pidão.
- ok. Eu fiquei tonto a manhã inteira agora a tarde bati um papo o
Patolino.
- muito engraçado – falou ele me abraçando e beijando meus poucos
cabelos.
- logo vou estar pronto para poder casar. – falei deitando a cabeça em
seu ombro.
- por mim eu teria me casado há muito tempo atrás, mas você é tão
encucado com esse seu cabelo.
Nós assistimos TV e Jay pediu comida japonesa que eu tanto amava. Peixe
era também uma das minhas comidas favoritas.
Jay foi tomar um banho e eu fiquei na sala assistindo TV enquanto a
comida não chegava. Por volta dás 20:31 finalmente o entregador chegou na
portaria.
- boa noite – atendi o interfone – pode deixar ele subir.
Depois de alguns segundos alguém bateu na porta. Assim que eu abri eu
levei um susto. Eu ví Kenny segurando a entrega.
- é aquí mesmo? – falou ele com um sorriso no rosto como se nem me
conhecesse. Eu confesso que fiquei assustado, mas logo caiu a ficha de que não
passava de uma alucinação.
- é sim – falei tremendo um pouco e estendendo a mão para pegar a comida
e entregar o dinheiro.
- obrigado – falou ele se despedindo e eu fechei a porta aliviado.
Eu fui até a cozinha e coloquei a comida em cima da mesa e sentei no
chão escorando na parede e encolhi minhas pernas deitando minha cabeça com
medo. Eu estava assustado e eu tinha que passar por aquilo sozinho. Às vezes as
alucinações eram boas e até uma distração, mas às vezes elas eram muito cruéis.
- tudo bem? – falou Jay entrando na cozinha e se sentando ao meu lado.
- não sei – falei limpando meus olhos.
- teve alguma daquelas alucinações?
- sim – falei olhando pra ele.
- foi melhor do que a outra vez que você correu assustado.
- foi sim... um pouco.
- vem, vamos comer porque estou morrendo de fome.
Passou-se 1 semana e eu acordei naquela manhã de quarta-feira um pouco
melhor do que nos outros dias. A cada dia que passava eu me sentia pior, mas
por alguma razão eu não me sentia assim.
Eu olhei para o lado e Jay ainda estava dormindo, o relógio marcava
07:20. Eu tinha acordado cedo demais.
Eu decidi não me levantar eu apenas me deitei de lado e fiquei olhando
Jay dormindo. Enquanto ele dormia tudo parecia tão mais calmo era bom ver ele
dormir, toda sua simplicidade e ternura. Eu estava com raiva porque não queria
deixar Jay.
Ele então acordou e deitou de lado.
- bom dia – falou ele.
- bom dia – falei aproximando o rosto do dele e dando um beijo na boca
dele. Ele não me deixou se afastar me abraçando.
- está tão gostoso aquí eu queria não ter que trabalhar. – falou ele.
- está mesmo uma manhã linda.
- você dormiu bem esta noite?
- por incrível que pareça não acordei nenhuma vez essa noite.
- que ótimo – falou ele alisando meu braço.
- eu acho que estou pronto – falei esperando que ele perguntasse o
porquê, mas ele apenas ficou olhando pra mim com um rosto sem feição. – acho
que devíamos nos casar esse fim de semana. Apenas de estarmos noivos e você não
ter me dado uma aliança ainda eu acho que estou pronto.
- mas foi você quem disse que não precisava de aliança para...
- brincadeira – falei interrompendo ele.
- sábado?- perguntou ele.
- sábado. – respondi sorrindo.
Sábado chegou. Apesar da data ter sido decidida muito em cima
conseguimos organizar tudo. Nós alugamos uma chácara perto de um lado e de uma
área verde muito agradável, exatamente como eu queria. Meu sonho sempre foi se
casar ao ar livre.
Os convidados eram apenas alguns amigos e familiares de Jay. Apenas a
mãe de Jay veio. Todos estavam sentados em cadeiras brancas.
- estou feliz por se juntar a minha família – falou a mãe de Jay me
abraçando. – você faz meu filho feliz Jack de um jeito que Amy nunca foi capaz
de fazer.
- obrigado – agradeci.
Por volta dás 19:00 quando o sol brilhava mais decidimos iniciar a
cerimônia. Marisol e Sky vieram assim como Kyle e seu namorado Ricky. Lara que
namorava meu pai veio também.
O juiz de paz finalmente apareceu e eu e Jay ficamos em pé de frente
para ele. Jay usava um terno preto com gravata azul marinho e eu usava um terno
perto com gravata verde a cor dos olhos dele.
A cerimonia se iniciou e enquanto juiz de paz dizia algumas palavras
muito bonitas era como se todos os sons e pessoas a minha volta tivessem
desaparecido eu só conseguia ver Jay. Aquele era o dia mais feliz da minha
vida.
- peguem as alianças por favor – falou o Juiz de paz.
- nós não temos alianças – falei para ele.
- temos sim – falou Jay sorrindo e colocando a mão nos bolsos. – me
perdoa, mas eu não podia negar a essa tradição.
Ele abriu uma caixa preta com duas alianças de ouro cravadas a frase: “de
volta ao começo”.
- não precisava – falei dando um beijo no rosto dele.
- o beijo não é agora – falou o juiz de paz fazendo todos darem boas
risadas.
- perdão – falei abrindo a mão e sorrindo para Jay.
- repita comigo – falou o juiz enquanto uma leve brisa nos pegou de
surpresa fazendo aquele momento mais especial ainda
- Eu Jay Silver Rodriguez, recebo-te como meu esposo a ti Jackson Daher,
e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.
Ele disse isso e colocou a aliança em meu dedo. Eu me esforcei para não
chorar.
- agora o outro noivo – disse o juiz.
Eu peguei a aliança e peguei a mão de Jay.
- Eu Jack Robert Daher, recebo-te como meu esposo Jay Rodriguez, e
prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde
e na doença, todos os dias da nossa vida.
Eu coloquei a aliança no dedo dele e Jay apertou minha mão e olhou pra
mi. Ele apertou os lábios e eu ví uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Eu
limpei usando as costas da minha mão.
- pelo poder investido em mim pelo estado de Boston eu vos declaro agora
casados. Podem se beijar.
Nós nos aproximamos e nos beijamos enquanto éramos cobertos por uma
salta de palmas e gritos.
Nós nos viramos de mãos dadas e ficamos sorrindo enquanto todos batiam
palmas. Meu pai veio até mim e me abraçou chorando.
- eu te amo filho.
- eu também te amo pai.
Todos vieram nos cumprimentar. Todos estavam felizes por nós.
Meu irmão veio com Zoey nos dar os parabéns.
- meus parabéns mano – falou ele me dando um abraço.
- obrigado Jake.
Ele estendeu a mão e me entregou um envelope.
- presente de casamento.
Eu abri o envelope e ví que eram passagens de avião.
- são para o Hawaii – falou ele – o voo sai daqui a uma hora.
- mas e a festa e os convidados? – perguntei.
- que se danem – falou Jake – vão para sua lua de mel e aproveitem o
presente.
Jay deu um abraço nele.
- estou feliz por te ter em minha família Jay – falou Jake.
- obrigado – falou Jay para Jake.
Jay e eu seguramos nossas mãos e saímos do aglomerado de pessoas que se
sentavam ao som de uma música que começava a tocar. Nós então saímos rumo ao
aeroporto. Um carro preto nos esperava do lado de fora da chácara. Jay então
entrou no carro e antes de entrar eu dei a volta para olhar atrás do carro. Eu
ví que tinha fitas brancas longas e latas amarradas e no vidro estava escrito
de branco “mantenha distância, recém-casados transando”.
- eu te mato – falei pensando em Jake.
Eu entrei no carro e sentei do lado de Jay. Ele segurou minha mão e me
olhou.
- Jay, porque “de volta ao começo”?
- é assim que eu me sinto todos os dias quando te vejo como se fosse
aquele dia em que te beijei pela primeira vez ou quando você disse pela
primeira vez que me amava ou até mesmo nossa primeira briga. Eu agradeço por me
sentir assim todos os dias.
Nós ficamos nos olhando.
- eu te amo Jack.
- eu também te amo. – falei dando um beijo na boca dele. Um beijo
demorado e apaixonado.
0 comentários:
Postar um comentário
Comente aqui o que você achou desse capítulo. Todos os comentários são lidos e respondidos. Um abração a todos ;)