CAPITULO 27
Não me deixe triste, não me faça
chorar as vezes o amor não é o bastante e a estrada fica difícil. Continue me
fazendo sorrir, vamos ficar chapados. A estrada é longa, nós seguimos adiante tente
se divertir nesse meio tempo.
Venha e caminhe pelo lado
selvagem deixe-me te beijar intensamente na chuva você gosta de suas garotas
insanas. Escolha suas últimas palavras, esta é a última vez Porque você e eu
nascemos para morrer. (Lana Del Rey)
Fazia duas semanas que estávamos no Hawaii. Nós tivemos dias muito bons
e outros muito ruins, mas isso não nos impediu de aproveitarmos todos eles.
Como dizem, na saúde e na doença.
- acordei – falei indo até a varanda do hotel que ficava de frente para
o mar onde Jay estava sentado vendo o por do sol.
- se sente melhor? – perguntou ele me olhando.
- um pouco. – falei colocando a mão do estomago – estou um pouco
enjoado.
- senta aquí do meu lado. – falou ele largando o livro.
Eu me sentei e nós ficamos olhando o sol se por e uma leve brisa passou
entre nós.
- você está arrependido? – perguntou Jay.
- de que?
- de não fazer a cirurgia?
- Jay, a cirurgia não vai me curar só vai me dar mais tempo, isso se não
me matar.
- me desculpa por perguntar.
- Jay, às vezes na vida a decisão mais difícil é desistir. Eu quero
aproveitar o tempo que eu tenho eu não quero ter que ir para uma cirurgia ao
qual eu posso não sair vivo.
- tudo bem – falou ele olhando para o sol se pondo e seu último raio de
luz iluminando o dia.
Eu me levantei e fui para dentro e me sentei na cama para poder assistir
um pouco de TV. Jay sentou-se aos meus pés e colocou-os no seu colo.
- se você quiser não precisamos ir embora amanhã podemos ficar aquí o
tempo que você quiser.
- tudo bem, temos que voltar para nossas vidas.
O que você pode fazer quando o
seu melhor não é bom o suficiente e tudo que você toca desmorona?
Porque minhas melhores intenções
continuam fazendo uma confusão de coisas.
Eu apenas quero corrigir isto de
alguma forma, mas quantas vezes serão necessárias para eu acertar? (Lea
Michele)
Eu me levantei naquela manhã e como todos os dias assisti Jay dormindo. Depois
de algum tempo ele acordou e me deu um beijo e se levantou e foi para o
banheiro tomar um banho. Eu me levantei e fui até a sacada e ví ás pessoas na
praia se divertindo.
Eu olhei para o meu lado e me ví com 9 anos de idade olhando pra mim
mesmo com uma cara de cachorro pidão.
- o que foi pequeno Jack? – falei olhando para ele eu estendi a mão e
sacudi os cabelos dele. Minhas alucinações eram tão reais que eu podia sentir
como se fosse real.
- vou sentir saudades Jack – falou ele tentando ficar na ponta dos pés
para ver o mar.
- eu também vou sentir saudades de muitas coisas. De muitas pessoas.
Eu olhei para o mar azul e via suas ondas quebrando ao longe.
- sabe às vezes eu penso que minha estadia nesse mundo foi
desnecessária. Parece que eu nasci para morrer. Só isso.
- não é verdade – falou o pequeno Jack.
- eu não tenho idéia do motivo de ter vindo aquí. Eu não queria deixar
esse mundo sem ter deixado minha marca.
- você falou comigo? – perguntou Jay vindo até a varanda e me abraçando
por trás.
- eu só estava pensando alto.
- você quer tomar café da manhã aquí no quarto ou lá em baixo.
- lá em baixo
Nós saímos do quarto e descemos até o restaurante do hotel e nos
sentamos e logo vieram nos atender. Alguns minutos depois de anotar os pedidos
nosso café da manhã chegou.
- então, sobre o que você pensava alto.
- não era nada, algumas bobeiras.
- que tipo? – perguntou ele.
- do tipo que eu não tenho o direito de pensar.
- como assim – perguntou ele dando um gole de algo.
- não quero falar sobre isso.
- diga, se não vou ficar triste.
- promete não ficar com raiva?
- prometo.
- eu estava pensando que quero ter um filho. – falei olhando sem piscar
para ver sua reação. – pode ser até o câncer se infiltrando por partes do meu
cérebro querendo me fazer querer isso. Eu sei que essa é a última coisa que
você quer pensar especialmente por causa de Roger.
- eu estou com raiva na verdade nós poderíamos sim ter um filho.
- para de brincadeira – falei dando um sorriso.
- não estou brincando. Eu falo sério eu adoraria ter um filho com você.
- não alimente minhas esperanças.
- é sério Jack - falou ele chegando mais perto de mim, é possível.
Existe tantas maneiras diferentes de termos um filho, adoção por exemplo se
você não se importar de ter um filho que não é do seu sangue.
- não me importo com isso, não é um sangue que te torna uma família, mas
eu creio que eles adorariam entregar uma criança para um pai em estado
terminal.
- me desculpa – falou ele.
- eu é que não devia estar pensando nessas coisas.
Depois que terminamos de comer nos arrumamos e fomos direto para o
aeroporto. Assim que chegamos em Boston eu fui direto para a casa do meu pai
que agora não podia mais chamar de minha.
- que saudades – falou meu pai me recebendo na porta. – como foi à
viagem?
- melhor do que esperávamos.
Assim que viu Jay meu pai mudou o
olhar e a feição no seu rosto com certeza eu tinha mudado durante a viagem
provavelmente mais magro e mais abatido.
- como você está Jack - Lara
também me recebeu na porta.
- você está morando aquí? –
perguntei sem pensar.
- sim – falou ela com um sorriso
– devíamos ter-te contato.
- não... eu fico feliz, me perdoa
por perguntar de uma vez é que não tenho muito tempo.
Realmente eu não fazia muito
sucesso com minhas piadas. Porque ninguém deu uma risada sequer. Eu então me
sentei no sofá da sala.
- onde está o Jake?
- no trabalho. – respondeu meu
pai
- sério? ele está trabalhando de
que?
- ele está trabalhando de mecânico ele entrou como sócio de um amigo.
- ótimo.
- o almoço está quase pronto – falou Lara.
- como Kyle está?
- ele está morando com o namorado também.
- fico feliz por ele. – quando disse isso Lara foi até a cozinha
- então – falou Jay – Jack está pensando em ter um filho.
- Jay! – falei olhando pra ele – por favor.
- sério? – perguntou meu pai.
- não quero falar sobre isso.
- eu disse pra ele que nós podemos se ele quiser.
- como eu posso ter um filho nas condições que eu estou?
Todos ficaram calados.
- eu estou morrendo, eu sei que posso parecer a pessoa mais conformada
do mundo, mas eu estou morrendo de medo. Acho que ninguém quer saber quando vai
morrer de verdade porque é aterrorizante. Isso é uma das poucas coisas que eu
tenho certeza nesse momento.
Jay me abraçou e meu pai ficou em pé com os braços cruzados.
- você pode tentar – falou meu pai.
- como? Eu não estou em condições de adotar.
- pode ser através de uma barriga de aluguel. – falou meu pai.
- como? Esse processo leva meses, eu não tenho esse tempo.
- pode ser eu – falou Lara.
Todos nós olhamos para ela.
- eu poderia ser sua barriga de aluguel.
- não precisa – falei. Esse assunto já está mais do que encerrado.
- Jack eu sei que não sou sua mãe e nos conhecemos um pouco, mas eu
realmente ficaria feliz de te realizar esse último desejo. – ela falou isso se
sentando ao meu lado e pegando em minhas mãos.
- você faria isso? – perguntei sentindo uma vontade tremenda de chorar,
mas me segurei.
- sim – falou ela sorrindo.
- mas, eu não teria tempo nem de vê-los nascer.
- você pode! – falou Jay – é só fazer a cirurgia.
- não quero mais falar sobre essa cirurgia – falei me levantando. – eu
já tomei minha decisão e não quero ter essa cirurgia.
- Jack! – gritou Jay se levantando – eu sou a única pessoa que ficou ao
seu lado desde que isso tudo começou, eu te apoiei incondicionalmente mesmo que
te apoiar me rasgasse o coração, mas agora eu não sou só seu namorado agora sou
seu marido e estou te pedindo. Se você não fizer essa cirurgia por bem eu
arrumo um jeito de um amigo alegar insanidade e você vai ter que fazer ela de
qualquer jeito.
Eu fiquei olhando pra ele que estava alterado de pé olhando pra mim.
- eu tenho medo – falei limpando um dos meus olhos – e se eu morrer na
cirurgia?
- eu preciso de mais tempo com você – falou ele começando a chorar, mas
ainda mantendo a postura. – vamos ter um filho vamos aproveitar um pouco mais
eu não tive o suficiente de você.
Eu fui até ele e o abracei.
- tudo bem – falei apertando ele. – eu faço a cirurgia.
- nós vamos ter um filho – falou Jay me beijando ainda abraçados.
Nós tínhamos decidido que não saberíamos quem seria o pai biológico.
Eles pegariam o meu esperma e o do Jay e misturariam fazendo a inseminação no
útero de Lara. Quando chegou o dia da inseminação todos foram para o hospital,
na verdade uma clinica particular.
Tudo ocorreu bem e tínhamos que esperar alguns dias para saber se Lara
estava grávida ou não. Minha cirurgia tinha sido marcada para uma semana depois
da inseminação e eu estava com muito medo de não acordar mais. Marisol e Sky
estavam me dando a maior parte do apoio. Eu os fiz prometerem que se eu não sobrevivesse
à cirurgia e Lara ficasse grávida eles fariam parte da vida do meu filho ou
filha.
Quanto mais se aproximava o dia da cirurgia mais nervoso eu ficava e com
isso mais mal eu passava. Eu estava enjoado e minhas alucinações estavam
piorando, mas eu tentava comer bastante para estar forte o suficiente para a
cirurgia que o Dr. Max iria realizar Já que ele era neurocirurgião. Minha
cirurgia seria em uma terça-feira o mesmo dia que saberíamos se Lara estava
grávida ou não.
Finalmente chegou a terça. Eu dormi o máximo que eu pude a noite e antes
da cirurgia assinei papéis para não ser ressuscitado em caso de parada cardíaca
e em caso de coma os aparelhos fossem desligados.
Apesar de eu querer me despedir de todos nenhum deles aceitou a
despedida dizendo que a cirurgia iria ocorrer tudo bem.
Eu estava deitado na maca esperando para me levarem para a sala de
cirurgia. Ela estava marcada para ás 10:00 da manhã e Jay entrou no meu quarto.
- não fica assustado! Vai ficar tudo bem. – falou ele.
- eu te amo Jay. – falei levantando a mão para que ele me desse um
beijo.
- eu também te amo.
- já sabe o resultado do exame? Lara está grávida?
- ainda não sabemos.
- Jay, se por acaso eu morrer durante o procedimento eu falei o nome que
eu quero para nosso filho ou filha para Sky e Marisol.
- quais são os nomes?
- você só vai ficar sabendo quando o bebê nascer.
- você vai me dizer pessoalmente, está ouvindo? Não se atreva a morrer.
– ele disse isso me dando um beijo.
Após alguns segundos todos vieram me desejar boa sorte, Lara meu pai,
Jake, Zoey, Marisol, Sky e Kyle. Depois de mais alguns minutos de muito
nervosismo finalmente veio um enfermeiro ao meu quarto para me levar para a
sala de cirurgia. Eu estava muito nervoso.
Assim que eu entrei na sala as enfermeiras e os enfermeiros arrumavam a
sala e eu olhava assustado para tudo eram tantos aparelhos e logo apareceu um
homem com uma máscara no rosto com uma voz familiar. Era o Dr. Max.
- está pronto Jack? – perguntou ele.
- sim. – respondi respirando fundo.
Eles colocaram uma máscara no meu rosto e logo eu peguei no sono.
“O sonho encheu a noite, extravasou pro meu
dia, encheu minha vida e é dele que eu vou viver, porque sonho não morre”.
Adélia Prado
No momento que colocaram a máscara eu tive a visão de uma vida passada.
Eu era o narrador de uma história sobre mim. A minha vida tinha um sentido. As
mesmas pessoas com papéis diferentes em minha vida
1910
O terror o consumiu, suado e ofegante. Jack havia tido mais um daqueles
seus sonhos. Aquele mesmo sonho que o assombrava desde que havia chegado aquele
orfanato. Jack tinha apenas dezesseis anos. Pelo menos para ele era velho
demais para ter pesadelos. Ele se levantou tentando fazer o menos barulho o
possível, ele já conhecia cada um de seus colegas do orfanato e o quanto podiam
ser irritantes para poder ferrar com ele e infelizmente cada quarto tem um
banheiro compartilhado, mas Jack iria aproveitar esse momento único para poder
lavar seu rosto sem ninguém o enchendo para que andasse depressa. Entrou no
banheiro fechou aporta com cuidado para que não fizesse ruído.
Foi até a pia e jogou uma mão cheia de água bem fria em seu rosto para
poder tentar se esquecer daquele sonho ridículo. Ele apoiou as duas mãos na pia
sustentando seu corpo olhando pra baixo. Forçou-se a olhar para o espelho
levantando a cabeça vagarosamente. Seus olhos castanhos escuros e seus cabelos
negros não conseguiam distrair sua atenção daquele terrível sonho – ou pesadelo
– na verdade não o assustava muito e sim estava começando a encher a paciência.
Não conseguia descobrir de maneira nenhuma de onde conseguira esses
sonhos. Tentou sorte com o psicólogo do orfanato, mas veio com a mesma e tola
desculpa – “você não conheceu seus pais” – disse o Dr. Monterbeel como se Jack
fosse burro o bastante para acreditar em tal desculpa – “isso deixa você
frustrado e sua cabeça cria esses sonhos” – quase preferia que aquele
monstrinho do sonho tivesse comido sua cabeça ao tentar ir ao psicólogo de
novo. O banheiro estava silencioso. Jack pegou uma toalha e enxugou o rosto,
colocou a toalha novamente no lugar e foi andando novamente até aporta quando
uma porção de garotos o surpreendeu atirando-lhe balões de água e gritando:
– toma isso seu idiota – gritou um garoto enquanto atirava um balão que
acertou em cheio seu rosto.
As luzes dos corredores foram se acendendo e passos pesados foram
ouvidos os garotos foram todos se deitando rapidamente deixando apenas Jack
caído no chão todo molhado:
– o que está havendo aqui? Que barulho foi esse? – disse o Sr. Golfredo
zelador do orfanato abrindo a porta e dando de cara com Jack no chão.
– o que está fazendo ai seu garoto desastrado – dava pra ouvir risadas
bem baixas no quarto.
– calem-se seus monstrinhos – disse Sr. Golfredo pegando firme em seu
braço – você vai receber o que você merece – ele levou arrastando-o pelo
corredor até o porão onde jogou Jack em um quarto escuro com apenas uma
abertura tampada com uma grade:
– vai ficar aqui até aprender a se comportar – houve um estrondo quando
a pesada porta de ferro se bateu. Mais uma vez lá estava ele vitima do mundo e
consumido pela raiva – onde passaria mais uma noite no chão fétido e gelado.
Jack se espreguiçou como nunca antes, seus ossos pareciam todos
quebrados, além de que a cada minuto acordara por causa de insetos lhe fazendo
cócegas e lhe assustando. Já estava acostumado a essas noites. Jack estava no
Saved Blessed desde que tinha um ano de idade então não tinha como se lembrar
de algo. Só sabia que todas as vezes que algum casal ou até mesmo alguém
sozinho iria adotar alguma criança nunca era escolhido.
Agora que tem dezesseis anos fica mais difícil de ser escolhido já que
todos os casais preferem adotar crianças e bebês. De uma coisa ele sabia, a Sr.
Margareth sempre jogou em sua cara que ele fora abandonado por seus pais em um
dia qualquer, simplesmente eles foram embora e deixaram apenas um livro com
capa dura e as páginas em branco. O barulho de molho de chaves deslizando pela
porta de ferro fez Jack se levantar em um pulo.
A porta se abriu e o Diretor Reich Petry vestindo seu terno cinza. Ele
recusou-se a entrar no quarto como se estivesse com nojo e ficando parado na
porta olhando fixamente para Jack imóvel – me acompanhe – disse o diretor que
saiu andando. Jack continuou parado até que Golfredo deu um empurrão em suas costas.
Ninguém no orfanato inclusive ele mesmo não sabia o que tinha tornado o velho
de uns sessenta anos tão rabugento. Ele foi em direção à diretoria o diretor
estava em pé com a mão na porta. Ele entrou e se sentou. Ele fechou a porta e
foi em direção de sua acolchoada e enorme cadeira:
– pois bem trouxe você aqui para poder te dar uma tarefa…
– nossa que previsível – interrompeu Jack.
– como disse?
– que estou honrado em servir mais uma vez de escravo para esse maldito
orfanato – o diretor atravessou rapidamente e mesa e de frente para o garoto
deu lhe um bofete no rosto e disse gritando:
– não permitimos esse tipo de palavreado na Saved Blessed. Ele se
recompôs com um brilho no olhar onde imaginou arrancando a perna do Sr. Reich
com a própria boca:
– Jack,estou falando com você – disse o Diretor Reich atrapalhando seus
pensamentos. Reich continuou:
– como estava dizendo você está incumbido de apresentar o orfanato a
recém-chegada interna – Jack apenas abaixou a cabeça tentando conter um
sangramento em seus lábios, seqüela da bofetada:
– sim senhor.
– e a propósito – o Diretor Reich abaixou-se e ficou cara a cara com ele
apertando o queixo de Jack em suas mãos forçando a encará-lo – qualquer palavra
sobre isso – apontando para a ferida – e passará uma semana no porão com apenas
água e pão – apenas abaixou a cabeça imaginando que ele já soubesse a resposta.
– pode ir agora e tome um banho, voce está mais fedido do que um
cadáver. Ele saiu cabisbaixo da sala do Diretor praguejando em sua mente mais
do que gostaria.
Os outros alunos comentavam e falavam baixo enquanto Jack passava por
eles com o lábio sangrando agora bem menos – o que estão olhando?! – disse
enfrentando os alunos e os mesmos desviaram os olhares disfarçando. Era bem
cedo e os alunos estavam prontos para ir para as aulas que começavam oito da
manhã da manhã e terminavam ás três da tarde. Chegando ao quarto ele abriu sua
gaveta de roupas e tinha um desenho de um rosto com chifres escrito o seu nome.
Ele embolou e jogou de lado. Pegou uma roupa qualquer e entrou no chuveiro. Era
um enorme banheiro lembrava aqueles de shoppings, tinha umas afinal era um dos
banheiros coletivos para banho dos meninos.
Ele entrou em um dos boxes e ligou o chuveiro para poder tentar tirar os
indícios da terrível noite que passou. Estava concentrado esfregando xampu em
seus cabelos quando uma batida no Box ao lado o fezele parar e olhar para o
lado rapidamente. O silencio mortal passou-se. E de repente – Pam! – outro
murro do Box ao lado que desta vez o fez desligar o chuveiro e enrolar a toalha
em volta do corpo. Abrindo a porta vagarosamente ele foi saindo olhando de um
lado para o outro quando a luz do banheiro começou a piscar.
Ele olhou para cima achando aquilo tudo muito estranho. Ele foi então
abrindo a porta do Box ao lado bem devagar para surpreender o brincalhão e –
pam! – nada dentro, ouviu apenas passos rapidinhos como se uma galinha
estivesse tentando correr em um chão liso demais. Ele Saiu abrindo os Box ao
lado, uma a um fazendo o barulho ecoar pelo banheiro rapidamente até que chegou
ao ultimo e viu apenas a janela do banheiro aberta e o vento entrando. Ele
viu-se decepcionado e voltou para seu banho batendo a porta.
A essa altura já eram quase nove e estava pronto para se apresentar ao
diretor e apresentar o orfanato para a
nova interna. Estava vestindo o uniforme: uma camisa branca com gravata preta,
bermuda preta até a canela e um colete cinza com o símbolo do orfanato. Ao
chegar mais perto da sala da direção ouviu uma conversa que vinha lá de dentro
– os pais dela morreram em um acidente ela morava com o reverendo que a trouxe
até aqui – ele olhou para o vento imaginando como seria ruim conhecer os pais e
perdê-los.
Jack já achava ruim o bastante ter perdido os seus sem ao menos se
lembrar deles. Ele então bateu na porta – toc, toc, toc – pode entrar disse o
Diretor Reich. Ele abriu a porta e entrou – com licença – entrou ficou em
postura de sentido. A única coisa que via era uma garota de costas mais ou
menos da sua altura com os cabelos um pouco abaixo dos ombros negros e anelados
que aparentava estar bem abatida. Jack essa é Zoey nossa nova interna. Poderia
fazer o favor de mostrar oi orfanato pra ela? – eu tenho escolha? – pensou em
dizer – sim senhor – a garota se virou olhado pra baixo com uma mistura de
timidez e tristeza ao mesmo tempo. Ela foi andando em direção a ele em passos
pequenos e vagarosos que quase fez Jack puxar ela para que viesse logo. Ela
estendeu a mão para ele:
– meu nome é Zoey Hide – ele segurou sua mão gelada
– meu nome é Jack Felix.
– vá agora – disse o Diretor – como que estivesse apresado.
– mostre a ela o orfanato, as salas de aula, explique o cronograma da
escola e o dormitório das meninas – sim senhor – Jack abriu a porta e fez um
gesto de – você primeiro – eles saíram e fecharam a porta.
Eles foram andando pelo corredor Zoey estava com sua mochila Preta e
vermelha pendurada apenas em um de seus ombros e variava olhando para baixo e
para frente evitando o olhar de Jack:
– esse corredor vai terminar no pátio onde tem área verde, algumas
árvores e moitas onde é ótimo pra relaxar. As salas de aula ficam deste lado –
disse apontando para o lado direito quando chegaram ao fim do corredor. Eles
começaram a subir as escadas;
– lá em cima fica uma grande sala e uma biblioteca – veja como ela é
grande – Zoey deu uma breve olhada e voltou para sua hipnose admirando o chão.
Jack já estava começando a ficar incomodado com o jeito da garota. Ele então
pegou uma espada que estava pendurada na parede e apontou para ela;
– acalmai querida donzela seu príncipe chegou para salvá-la – Zoey deu
uma risada baixa, mas foi suficiente para que ouvisse.
– olha o que quer que tenha acontecido com seus pais eles estão em um
lugar melhor agora. Se fizer você se sentir melhor eu nem cheguei a conhecer os
meus. Zoey deu uma olha em seu rosto, ele reparou então que ela tinha os olhos
castanho-dourados e claros que sob a luz parecia incendiados. Ela deu-lhe um
sorriso largo.
– Venha vou te mostrar seu dormitório. Eles desceram as escadas.
– Do lado direito é o dormitório das meninas, do lado esquerdo bem ali –
disse apontando o dedo – fica o dormitório dos meninos. Eles pararam em frente
a um grande quadro parecia ser uma pintura abstrata. Olha as aulas se iniciam
as oito da manha e terminam as três da tarde seus livros já estão em seu quarto
em cima de sua cama. Ela olhou para ele e agradeceu.
– Peço mil desculpa se fui meio sem educação, mas é que meus pais... –
ela deu uma pausa –…sofreram um acidente de carro… apenas… eu sobrevivi –
naquele momento seus olhos haviam perdido o brilho – ele olhou em seus olhos
tentando encontrar novamente sua cor.
– eu sinto muito – disse afagando o ombro dela – estou indo quando
precisar de qualquer coisa é só me chamar. Cada um então saiu andando em
direção ao seus respectivos dormitórios.
“Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me
consome muito”.
Clarice
Lispector
Eu abri meus olhos devagar. Minha cabeça doía. Olhei em volta e ví o Dr.
Max.
- Jack tudo bem? Consegue me ouvir? – falou Max. – não responde apenas
balance a cabeça positivamente.
Eu balancei a cabeça e ele viu meus reflexos e pupila.
- Jack agora eu preciso que diga alguma coisa, qualquer palavra?
Eu me forcei e mesmo muito fraco e com dor disse a primeira palavra que
veio a minha boca.
- “obrigado” – falei para o médico.
- Jack a cirurgia correu com sucesso. Conseguimos retirar o máximo do
tumor o que deve te dar muito tempo.
- quanto tempo? – perguntei fraco
- mais ou menos 10 meses de vida.
Jay estava logo atrás dele. Ele veio e pegou minha mão.
- você vai ser papai! – falou ele beijando minha mão.
Eu sorri e me forcei a dizer.
- você também.
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