AVIÕES DE PAPEL capítulo nove
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xpliquei tudo para o meu pai na segunda-feira cedo
sobre o dinheiro que Xavier tinha me dado de presente. Meu pai é um homem
orgulhoso, mas eu conversei bastante com ele e com muito custo ele aceitou. Fui
até o banco e paguei a divida no horário de almoço. Pagar aquela divida foi
como tirar um peso de cima dos meus ombros. De cima dos ombros do meu pai.
Agora que essa parte de nossa vida tinha ficado para trás tudo o que tínhamos
que fazer era seguir em frente. Na sexta feira todos nós viajaríamos para Nova York e só retornaríamos na segunda
de manhã.
Depois do horário de almoço
voltei para o trabalho e não muito depois disse o meu telefone tocou.
- boa tarde Sr. Adam.
- Boa Tarde Mike – falou Adam com
a voz grave – você pode vir na minha sala por gentileza?
- sim senhor – falei desligando o
telefone.
Bati na porta e em seguida eu a
abri.
- com licença – falei entrando e
sentando.
- você já avisou seu pai que vai
viajar conosco para Nova York?
- avisei sim senhor.
- ótimo, quero tudo organizado
até quinta-feira que vem. Sexta nós saímos daqui cedo.
- não se preocupe.
- Mike vou precisar te pedir um
favor – falou Adam.
- qual?
- preciso que você passe a noite
aqui na empresa e atualize os contratos com a empresa que representaremos
amanhã. Preciso que envie para o meu e-mail até ás dez da manhã. Hoje é dia
trinta de maio, não se esqueça de colocar a data da semana que vem, dia seis.
- sim senhor.
- você tem duas opções: Ou fica
aqui e faz até terminar ou se ficar cansativo podemos ficar aqui até umas onze
e continuamos amanha de manhã.
- não se preocupe senhor. Vai
estar na sua caixa de entrada amanhã antes das nove.
- obrigado – falou Adam com um
sorriso – sabe… você merece um aumento, sabia? – falou Adam rindo com um olhar
enigmático.
- não prometa se não quiser que
eu cobre – falei em tom de brincadeira.
- pode cobrar – falou Adam rindo
– sabe Mike eu estou tão feliz por finalmente poder resolver esse caso. Eu
faria qualquer coisa para poder vencê-lo.
- o senhor vai vencer. O senhor é
o melhor.
- você acha? – perguntou ele
pensativo.
- acho sim senhor.
- ao ponto de fazer uma aposta
comigo?
- aposta?
- sim. Você disse que acredita
fielmente que eu vou vencer porque eu sou o melhor. Você apostaria comigo?
- sim – falei me atrevendo – eu
apostaria qualquer coisa que o senhor vence esse caso.
- vamos fazer assim: se eu não
vencer esse caso você terá que fazer duas horas extras todas as sexta feiras
durante o resto do ano.
- okay – falei ansioso.
- o que você quer se eu vencer?
- não sei… - falei sem graça – o
aumento?
- não. o aumento você merece de
qualquer forma. Tem que ser algo que eu não posso te dar com frequência.
- eu não sei oque escolher senhor.
- qualquer coisa Mike. Pode
dizer!
- qualquer coisa?
sim – falou ele rindo qualquer coisa – falou
ele respirando fundo.
- o senhor escolhe. O que o
senhor quiser me dar…
- pode dizer Mike. Não precisa
ter vergonha. Somos dois homens fazendo uma aposta séria.
- eu não sei… - falei sentindo
algo cortar minha garganta. Tinha borboletas no estômago.
- está me dizendo que não tem
nada que eu possa te dar que você queira muito?
- tem sim… - falei nervoso. Não
sabia se devia mesmo dizer o que estava em minha mente.
- o que?
- o senhor podia… me comer…
Ao me ouvir dizer aquilo a
expressão de Adam mudou. Não sei se devia ter dito aquilo e agora que disse eu
me arrependi. Minha cara pegou fogo de vergonha.
- combinado – falou Adam
esticando o braço – uma aposta de cavalheiros – falou ele com um sorriso.
- não precisa fazer isso senhor…
- falei esticando o braço e apertando a mão dele.
- eu sabia que você era doido em
mim – falou ele rindo.
- para de falar isso senhor… é só
uma aposta… não precisa cumprir.
- vou te dizer Mike… – falou ele
rindo – eu vou ficar tão feliz se ganharmos esse caso que eu sou capaz de
cumprir.
- pois é… - falei sem graça me
levantando – com sua licença senhor – falei saindo da sala.
- só mais uma coisa.
- sim senhor – falei parando e
olhando para ele.
- Lembra semana passada quando
você dançou grudadinho comigo?
- O que? – perguntei rindo envergonhado.
- só queria ver você ficar
vermelho de vergonha.
- o senhor lembra disso? – falei
rindo.
- mas é claro, eu não estava tão
bêbado. – falou Adam.
- que vergonha, minha esperança
era que todos esquecessem.
- vergonha do que? – perguntou
Adam rindo – você tinha esse homenzarrão todo pra você e estava com vergonha? Eu
mandei tão bem na dança que agora você está tentando me levar pra cama usando a
aposta como desculpa.
- quer saber? Esquece esse
negócio de aposta…
- só estou brincando – falou Adam
rindo – minha mulher adoraria ouvir essa conversa – ele continuou a rir ao
imaginar a mulher sabendo o tipo de assunto que ele falava no trabalho – por
falar nisso… - falou ele parando de rir –não estou atrapalhado sua noite não
né? Ficaria péssimo em saber que você já tinha planos para hoje e mais uma vez
eu estou atrapalhando.
- pra falar a verdade…
- noite de filmes? – perguntou
Adam.
- sim – respondi.
- prometo te recompensar bem.
- não tem problema senhor.
- tudo bem então – falou Adam com
um sorriso.
Sai da sala e voltei ao trabalho
com toda aquela conversa na cabeça. Eu dei risada imaginando se a conversa da
aposta era real. Eu ainda não estava acreditando que eu tive coragem de falar
aquilo sobre ele me comer. Acho que ele estava levando na brincadeira. Tentei
focar em outra coisa e resolvi liguar para Charley para avisar que mais uma vez
eu não compareceria a noite de filmes. Disse também que era para Charley levar
os filmes e beber com meu pai. Eles tinham se divertido tanto na outra noite.
Charley concordou e assim que voltei ao trabalho Gray apareceu.
- boa tarde Sr. Gray.
- boa tarde Mike – respondeu ele
com uma cara séria – Mike você pode fazer um favor pra mim?
- sim.
- você passa essa pomada nas
minhas costas? Eu estou com uma alergia. Acho que de uma camisa nova que eu
usei hoje de manhã. Está pegando fogo.
- passo sim senhor
- vamos lá para o quinto andar.
Ele foi até a porta deu duas
batidas e abriu. Ele perguntou para Adam se podia me pegar emprestado por
quinze minutos e Adam disse que sim. Grey fechou a porta e nós entramos no
elevador a caminho do famoso quinto andar.
- Me mostre aonde ir. Acho que é
a segunda vez que eu venho aqui – falou Gray se referindo a noite em que me
comeu.
- aquela porta é a cozinha,
aquela é uma sala escura com vários colchões e puffs para relaxar, aquela tem
TV, e aqui ficam os chuveiros, mas nós vamos onde ficam os armários. Nesse
momento não deve ter ninguém lá.
- naquele lugar onde eu te comi?
- sim senhor. Lá mesmo.
Nós entramos e Gray foi se
sentando em um dos bancos de madeira e eu me sentei atrás dele. Gray tirou a
camisa branca que usava revelando o corpo vermelho com a alergia
- está vermelho, não está? Está
coçando muito – falou ele resmungando.
- está sim senhor – falei
espantando com o quanto estava vermelho.
- eu comprei essa pomada a
caminho daqui – falou ele me entregando. Abri a pomada e joguei um pouco nas
costas dele e comecei a esfregar a mão.
- haaaaaa – gemeu Gray me fazendo
lembrar da noite em que tranzamos – que alívio.
Continuei esfregando. Não devia
estar fazendo aquilo afinal tinha traído Charley com ele, mas ele era meu chefe
e eu tinha que fazer o que ele mandava.
- sei que é pedir demais, mas
passa aqui também – ele falou isso abaixando a bermuda e a cueca deixando a bunda
mostra.
Senti um calafrio quando vi
aquela bunda grande com alguns pelos claros. Metade dela estava vermelha.
Fiquei imaginando se ele estava excitado me sentindo tocá-lo novamente. Coloquei
um pouco na mão e fui em direção a ela para esfregar.
- com licença – falei encostando
a mão e esfregando de leve.
- eu uso a camisa por dentro da
calça e acabou dando alergia ai também, desculpa te usar pra isso. Sei que deve
ser estranho depois do que fizemos.
- não tem problema. estou aqui
para servi-lo – falei brincando.
- o que achou? – perguntou ele.
- do que?
- do que? Do meu “traseiro”.
Eu dei uma risada.
- porque está rindo?
- está me deixando envergonhado Sr.
Gray.
- Desculpa – falou ele rindo –
sei que é chato, mas me responde: você comeria? – perguntou ele em tom de
brincadeira.
- eu não vou responder isso. Acho
que é assédio sexual – falei em tom de brincadeira.
- assedio sexual? E tomar minha
porra como se fosse milk-shake é o que?
- engraçadinho.
Depois de mais algumas esfregadas
eu coloquei a tampa na pomada.
- prontinho Sr. Gray.
- obrigado Sr. Mike – falou ele
subindo a cueca verde e logo em seguida a bermuda.
- vou lá ao banheiro lavar a mão
– fui andando em direção a porta.
- o seu traseiro não é ruim. Eu
comeria de novo – falou Gray.
- Shhh – falei chegando à porta –
pelo amor de Deus não fala isso aqui. As paredes tem ouvido – falei me
segurando para não rir – abre a porta pra mim se não vou sujar a maçaneta.
- tudo bem, só estou dizendo a
verdade – ele disse isso abrindo a
porta.
Fui ao banheiro e lavei minhas
mãos e fiquei pensando em Charley. Eu precisava ser fiel a ele e não podia dar
moral as brincadeiras de Gray. Se ele se insinuasse de novo eu deixaria bem
claro que a noite de sexo não se repetiria nunca mais. Depois que lavei as mãos
eu voltei para o meu posto de trabalho. O expediente acabou ás seis horas da
tarde e eu fui até a sala de Adam e tranquei a porta. Em seguidas liguei em
casa e avisei que passaria a noite toda no trabalho.
Quando o relógio marcou pouco
mais de meia-noite eu tinha feito mais da metade do serviço, mas eu começava a
cometer alguns erros por causa do sono. Meus olhos estavam embasados e eu
decidi ir embora e voltar no dia seguinte. Chamei um taxi e ele me deixou na porta
de casa. Como todos estavam dormindo eu entrei em silêncio e tranquei a porta
ativando o alarme.
Vi que eles tinham tomado
cerveja, pois tinha latinhas espalhadas na mesa de descanso da sala além de
alguns filmes espalhados. Subi as escadas e fui em direção ao quarto do meu pai
para dar um beijo de boa noite e logo vi que a luz estava acesa. ‘Meu pai acordado
até agora?’ – pensei comigo mesmo. Fui em direção a porta com a mão estendida e
antes que encostasse na porta entreaberta eu ouvi um barulho e parei. Estranhei
o barulho e continuei ouvindo. Pareciam… gemidos.
- meu pai trouxe uma mulher para
casa? – pensei inicialmente – que milagre!
Fiquei feliz por meu pai estar
seguindo em frente. Virei e dei dois passos em direção ao meu quarto quando
ouvi duas palavras que me fizeram congelar.
- me fode! – o som veio de dentro
do quarto do meu pai. O mais estranho é que era uma voz masculina.
Me virei rápido e bem devagar
olhei para a porta entreaberta e vi meu pai deitado na cama e Charley em cima
dele. Eles estavam transando. Charley rebolava devagar no caralho do meu pai
que estava sem camisinha comendo meu namorado.
Aquela imagem me deu um choque. Nem
acreditei no que eu estava vendo. Foi como se algo subisse na minha cabeça e
explodisse. Meu coração bateu em disparada.
- não pode ser – falei baixo
engasgando.
Desci as escadas tremendo e fui
até a porta desativei o alarme e sai da casa. Caminhei pelo jardim e sai pelo
portão. Me sentei na calçada pensando no que tinha acontecido.
- não pode ser – falei chocado
com aquela cena.
Não sabia o que fazer. Peguei o
celular e disquei o número do Denny. Chamou várias vezes até cair à ligação. Coloquei
o celular no chão e coloquei as mãos na cabeça deixando cair à primeira lágrima
e foi quando meu celular tocou, era Denny me ligando de volta.
- Mike? Aconteceu alguma coisa? –
falou Denny com a voz sonolenta.
- vem me buscar aqui em casa.
- o que aconteceu?
- por favor Denny vem me buscar.
Estou na porta de casa.
- tudo bem. Logo eu estarei ai.
Esperei por longos minutos e
enquanto isso eu limpava minhas lágrimas que desciam em silêncio pelo meu rosto
e tocavam o chão gelado. O frio fazia com que eu me sentisse mais
insignificante do que eu me sentia naquele momento. Estava enojado com a cena e
a traição. Logo o carro de Denny veio descendo a rua e parou na minha frente.
Ele saiu do carro com a calça do pijama, sem camisa e descalço.
- o que aconteceu? – perguntou
Denny.
- posso dormir na sua casa hoje?
– perguntei.
- claro que pode – falou ele me
ajudando a se levantar – porque está chorando? – falou ele sussurrando - Pelo
amor de Deus, diga alguma coisa!
Uma vez que eu já estava no carro
com o cinto de segurança Denny tomou seu lugar e olhou para mim preocupado.
- o que aconteceu?
- eu não quero falar sobre isso.
Eu não quero falar sobre isso nunca. Se você é meu amigo não me pergunte nunca
o que aconteceu comigo hoje.
- tudo bem – falou Denny – mas
pode pelo menos me responde se você está bem? Está machucado ou algo? precisa
que eu te leve ao hospital?
- estou bem – falei limpando as
lágrimas, meus olhos estavam inchados – fica tranquilo eu não estou machucado.
- ótimo – respondeu ele ligando o
carro e partindo para seu apartamento. Cada escolha que eu fazia na vida era
como se eu fizesse um avião de papel e jogasse no vento e esperasse que ele
planasse e que seguisse viagem. Eu tinha jogado aviões de papel toda a minha
vida e agora eu me sentia como se um dos aviões que eu tinha jogado tivesse
voltado pra mim e me acertado bem no olho me ferindo de uma forma profunda e traiçoeira.
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