RUMO AO DESCONHECIDO capítulo vinte e cinco
O relógio
marcava ás duas e vinte e seis da manhã. Adam estava em pé de frente a janela
aberta fumando seu cigarro. Ele havia parado de fumar a um mês quando teve que
comprar a parte de todos na empresa. Os negócios não estavam indo tão bem desde
essa época. Apesar dele não dizer nada eu sabia que ele estava com problemas.
Me atrevi a ler seus e-mails e descobri que a empresa não lucrava a dois meses.
Ele teve que cortar pessoal na empresa e os clientes haviam diminuído desde que
a filmagem de Adam perdendo a virgindade comigo vazou na internet. Ele ficou
arrasado e sentiu sua masculinidade sendo tirada. As pessoas caçoavam dele na
internet e nos jornais mais fuleiros. E todos sabem que os jornais mais
fuleiros são os mais comprados. Ninguém se interessava em comprar sua parte na
empresa e agora ele e Roman tinha diminuído o preço que cobravam. A consultoria
agora era grátis. Ele e Roman estavam segurando toda a empresa em suas costas e
parecia que eles não conseguiriam por muito tempo.
Levantei-me
da cama e fui andando de mansinho.
- algum
problema amor?
- só estou
sem sono – falou ele assoprando a fumaça sem olhar para mim.
Eu respirei
fundo e me aproximei abraçando-o por trás dando um beijo em suas costas.
- você
precisa, relaxar… eu sei de algo que vai te ajudar a dormir.
- a oferta é
maravilhosa, mas vou ter que negar. Estou me sentindo um pouco mal.
- ok – falei
me afastando.
- não está
com raiva de mim né?
- não tudo
bem – falei forçando um sorriso.
Ele se aproximou e me deu um selinho de consolo.
Adam não
disse nada e de repente ele colocou a mão no queixo coçando e vi que ele estava
segurando o choro.
- Adam, você
está bem?
- não –
falou ele colocando a mão no rosto chorando.
Eu me
levantei rapidamente e o abracei deitando sua cabeça em meu peito – o que
aconteceu?
- ela está
grávida – falou ele chorando.
Senti um calafrio
percorrer meu corpo.
- me perdoa
– falou ele me abraçando.
- tudo bem –
falei alisando seus cabelos tentando reconforta-lo.
- me perdoa,
me perdoa… - ele repetiu várias vezes.
- ok, ok –
repeti sentindo meu peito encher e meus olhos quererem transbordar, mas eu fui
mais forte do que ele. Deus sabe que eu precisava ser.
Bryan e eu nos vestimos
rapidamente. Não sabia nem o que era pior: Ser pego no ato ou Marisol ter
mentido para Adam.
Adam tentava se recompor do soco.
- você sabia falou Nathan olhando para mim – ele estava
eufórico.
- Nathan não é verdade.
- quero você fora da minha casa –
falou ele me agarrando pela camisa tentando me jogar para fora do apartamento.
- pai – falou Bryan enfrento
Nathan tentando me tirar das mãos dele.
Nathan parou na hora.
- o que está fazendo Bryan? Você
não era assim!
- eu sempre fui assim. Você é que
ficou cego desde que se casou com essa mulher.
- eu sei que você não gosta dela,
mas ela é minha esposa.
- você não percebe pai? Essa
mulher te manipula. Duvido que ela tenha sido mesmo estuprada.
- como você pode dizer isso? –
perguntou Nathan decepcionado com o filho – ela nunca mentiria sobre uma coisa
dessas. Estupro não é brincadeira.
Marisol já não chorava mais, mas
Ethan em seus braços sim.
- eu não estuprei ela – falou
Adam.
- você está bem? – perguntou
Bryan para mim.
- estou – falei tentando me
recompor.
- vai ficar tudo bem – falou
Bryan
- como você pode me olhar nos
olhos todos esses meses sabendo que o filho que estava na barriga da minha
esposa era fruto de um estupro? – falou Nathan para Adam – seu filho.
- ela está mentido – falei
chamando a atenção de Nathan – Adam tranzou mesmo com Marisol, mas foi tudo
concedido. Ela queria porque o casamento estava acabando e ela achou que um
filho seguraria o casamento.
- não é verdade – falou Marisol
começando a chorar novamente. Lágrimas de crocodilo.
- se acalme Marisol – falou
Nathan tentando acalmá-la.
- Marisol, se você foi mesmo
estuprada, pode dizer onde foi? – falei desafiando ela.
- claro que ela não vai dizer.
Essa deve ser uma noite horrível.
- como foi Marisol? Ele segurou
seus pulsos e te jogou em cima da mesa dele?
- já disse que já chega – falou
Nathan.
- eu não em lembro – falou ela
irritada.
- você não se lembra?
- não. Acho que apaguei da
memória.
- eu sabia que você era
mentirosa, mas nunca imaginei que mentiria sobre algo tão sério.
- ela não está mentindo. Porque
fica defendendo ele?
- Você não se esquece de algo
como isso. Você se lembra de cada detalhe de cada toque. Seria muito bom se
pudéssemos simplesmente apagar de nossas mentes uma lembrança como essa, mas a
verdade é que ela nos persegue – Por alguns segundos me senti Olivia Pope.
- porque você me odeia tanto –
gritou Marisol.
- eu não te odeio. Você está
mentindo.
- você sabe qual é o meu
sobrenome?
- não.
- Wolf – falou ela chorando.
- por alguns segundos eu não
entendi o que o sobrenome dela tinha a ver com toda a discussão, mas logo me
lembrei da audiência. O nome de Jeff é Jeffrey Audley Wolf – você é parente do Jeff?
- ele é meu meio irmão – falou
ela com as lágrimas escorrendo – foi por isso que Jeff mentiu para o juiz. Ele disse que você não estava preparado
para viver em comunidade. Ele sabia que se você fosse solto você voltaria com
Adam. Foi por ir isso que ele mentiu. Para que você ficasse longe dele. Ele fez
isso pelo seu próprio bem. Ele não queria que você soubesse.
Aquilo foi um choque. Olhei para
Adam e vi que ele segurava o queixo. Eu vi em sua expressão que todo esse tempo
eu defendi o lado errado. Adam havia mesmo estuprado Marisol.
- “Quando você olha demais para
um abismo o abismo olha de volta pra você” – falou Adam – sinto muito Mike.
- você estuprou Marisol.
- eu me arrependo todos os dias
pelo o que fiz – falou ele começando a chorar – estava passando pro uma época
tão ruim em minha vida. O vídeo de sexo vazou e todo mundo ria da minha cara.
Eu perdi o respeito das pessoas. Eu estava sendo desrespeitado e a minha
empresa afundando. Tudo por sua culpa. Eu não pensei direito. Marisol apareceu
e tudo aconteceu como aconteceu. Eu queria que fosse mentira, mas não é.
- não acredito – falei me
sentando no sofá. Eu estava decepcionado – nunca pensei que você fosse capaz
disso.
Antes que pudesse dizer algo a
mais Bryan pulou em cima de Adam e Nathan foi para cima do filho. Enquanto
Bryan quebrava a cara de Adam e Nathan tentava separar os dois eu fui até a
cozinha e peguei uma faca dentro da gaveta e voltei até a sala.
- você não precisa fazer isso –
falou Nathan enquanto me vai caminhando com a faca na mão.
- preciso sim – falei me sentando
no sofá e cortando a tornozeleira – não quero mais ficar aqui. Não posso mais
ficar aqui. Apenas por forçar a tornozeleira já apitou. Os policiais estariam
aqui a qualquer minuto.
- tem certeza? – falou Nathan
segurando Bryan – você pode ficar aqui se quiser.
- pelo amor de deus. Não. Agora
que todos sabemos a verdade tudo o que mais preciso é de uma lobotomia. Talvez
lá no hospital psiquiátrico eles tenham algum remédio ou algum tratamento que
consiga acabar com a dor que eu sinto aqui dentro.
Não demorou para que dois
policiais chegassem ao apartamento. Eles devem ter ficado confusos com o que
viram. Adam sentado no chão com o nariz sangrando, Bryan com a camisa cheia de
sangue, Nathan sentado no sofá com Marisol e Ethan e eu com uma faca na mão.
- estou aqui – falei largando a
faca e me levantando – sou de vocês – falei me virando com as mãos para trás.
Eu deveria ter muita sorte. Olhe
só para mim. Olha o quão patético não pareço agora? Acabei de descobrir que o
homem que amei era um patético estuprador e canalha. Acho que não posso chegar
mais baixo do que isso. Essa é a parte boa: quando se está no fundo do poço só
nos resta subir.
Estava infectado por aquele amor
doentio. Amor Adam foi a melhor e a pior coisa que já me aconteceu na vida.
Estava literalmente no fundo do poço. Divida cela com um bêbado e um homem que
tentou fugir da policia para evitar uma multa. As grades eram geladas.
- será que nunca vai parar de
chover? - foi o que me perguntei – tudo o que eu pedi foi um ano sem chuva.
Minha respiração estava ofegante.
Segurava firmas grades e encostava meu rosto. Meu corpo estava cansado e eu já
nem aguentava mais nem o peso da minha própria cabeça.
- você tem visita – falou o
policial batendo na grade me assustando. Abri os olhos cansado.
- quem é?
- aqui não é hotel cinco estrelas
florzinha – falou o policial desaparecendo.
Olhei para a porta esperando por
qualquer um menos Adam. Meu desejo foi atendido. Quem passou pela porta foi
Roman. Ele estava acompanhado por alguém.
- Roman? O que faz aqui?
- é claro que eu fui a primeira
pessoa para quem Nathan ligou.
- por favor, me diga que ele já
te contou tudo. Eu não quero ter que dizer o que aconteceu.
- ele me contou – falou Roman
respirando fundo – sinto muito.
- não sinta. Eu mereço – falei
olhando para o homem ao lado dele. Era Axel. O novo sócio de Adam.
- você não será mais meu
advogado?
- não.
- porque? Fiz algo que não
gostou?
- não é isso. Preferi deixar na
mão de outro. Estou aqui mesmo por seu pai. Ele pediu que eu viesse e me
assegurasse de que está tudo bem com você.
- Ok – falei olhando para Axel – por
favor. Me tira daqui.
- felizmente você tem o Advogado
mais inteligente do mundo.
- porque? Você acha que consegue
me deixar livre de vez?
- sim. Axel será seu advogado no
papel e eu vou pedir a sua guarda – falou Roman.
- vai ser igual ao tempo que
fiquei com Nathan? Com tornozeleira e tudo?
- seria dessa forma se eu não
tivesse conversado com o Stephen.
- você conversou com ele?
- sim e ele ligou para o juiz
Morrison e pediu um favor. Ele vai te liberar da sentença de uma vez por todas,
mas só vai fazer isso porque eu me ofereci para ser seu guardião.
- parece que no final das contas
você será meu pai.
- não serei seu pai. Só um tutor.
Serei responsável por tudo o que fizer e vou ser responsável também pelas suas
finanças e todos os seus bens.
- nem acredito que vou sair
daqui.
- em breve você vai estar em
casa. Larry vai ficar feliz ao ver você chegar em casa.
- também estou ansioso para ir
para casa – falei respirando fundo – o que estão esperando para me tirar?
- já cuidei dos papéis – falou
Axel – já tenho a assinatura do juiz e a minha, falta a assinatura do seu
psicólogo e do…
- o que? – perguntei não
entendendo porque Axel parou e logo entendi – precisa da assinatura do meu
marido?
- sim. Ele precisa assinar. Como
ele é seu marido e parceiro, legalmente ele decide por você. Ele é seu tutor.
Ele precisa assinar passando essa obrigação para Roman.
- tudo bem. Aproveitem e façam um
pedido de divorcio.
- vamos pensar nisso depois.
Vamos torcer para que ele assine a procuração abdicando os direitos que tem
sobre você.
- OK – falei respirando fundo.
Esperei e esperei. Nada de Adam e
nem de Aaron. Estava cansado e decidi me sentar bem longe dos outros dois presos.
Alguém pagou a fiança do bêbado e meia hora depois o advogado do cara fujão
conseguiu uma fiança para ele e em seguida ele pagou a fiança a multa e saiu.
Agora eu estava sozinho. Roman e Axel haviam ido lá para fora.
Ouvi um certo barulho e vi que Aaron
havia chegado.
- boa noite Mike – falou Aaron.
- péssima noite – falei me
levantando – estou preso em uma cela nojenta e você me vem com boa noite?
- sinto muito é que… me desculpe.
- como você está se sentindo?
- estou bem.
- você não está bem. só de olhar
pra você eu vejo a decepção nos seus olhos.
- quer dizer… para quem acabou de
descobri que o homem ao qual eu dividia uma cama, uma vida é um estuprador, eu
estou uma maravilha. Estou surpreso comigo por estar também. Na verdade eu acho
que você não devia estar perdendo tempo comigo. Devia estar com a pobre mulher
que ele engravidou e que foi corajosa o bastante para ter o filho dele.
- acho que você está bem. só queria saber como
se sentia – falou ele com um sorriso.
- obrigado.
- vou lá fora assinar os papéis.
- obrigado – falei me sentando no
desconfortável acento na cela acoplada a parede. Era duro e minha bunda doeu
depois de ficar lá sentado por longos vinte minutos.
Depois de ficar esperando como um
panaca Roman veio até a cela.
- já posso sair?
- na verdade falta a assinatura
do Adam.
- ele ainda não veio?
- ele está lá for a e disse que
só assina depois que falar com você.
- pelo amor de deus.
- não consegui convencê-lo de
assinar de uma vez por todas.
- quer saber? Manda ele vir até
aqui.
- quer que eu fique aqui com
você?
- não. Uma hora ou outra eu vou
ter que conversar com ele né? É melhor deixarmos tudo em pratos limpos.
- tudo bem – falou ele saindo
pela porta e em seguida o policial trouxe Adam.
- obrigado – falou Adam
agradecendo ao policial.
- e então? Vai me livrar dessa
cela ou não?
- nós precisamos conversar sobre
tudo o que está acontecendo.
- não precisamos nos falar Adam.
Você não precisa se explicar. Seus atos nos últimos anos falam por você.
Traição atrás de traição e agora um estupro? Você sabe que meu pai me estuprou.
Eu nunca vou te perdoar por ter feito algo isso.
- eu ainda te amo.
Eu não respondi apenas cuspi na
cara dele.
Ele fechou os olhos e passou a
mão no rosto limpando.
- é isso que eu penso de você.
Agora seja homem e admita seu erro, assine esse papel, me tire daqui e pegue o
resto de dignidade que ainda te resta e faça você mesmo os papéis do divorcio e
assine. Agora que você tirou sua máscara e eu sei o tipo de pessoa que você é,
você só me dá pena. Você é movido pelo desejo Adam. Eu sei que tenho minhas
falhas eu sei que gosto muito de tranzar, mas eu nunca faria algo desse tipo.
- é o que você quer?
- é o que eu mais anseio.
- OK – falou ele saindo.
Não demorou para que finalmente
Roman viesse acompanhado do policial que finalmente abriu a cela.
- eu estou livre?
- sim – falou Roman me recebendo
para um abraço.
Ficamos abraçados por um longo
tempo. Era bom finalmente estar livre. Perdi um ano da minha vida por causa de
Adam. Um amor que me causou tanto mal não pode ser saudável.
- vamos pra casa – falou ele me
guiando para fora.
Ao chegarmos em casa meu pai me
recebeu de braços abertos. Me deu um abraço e me guiou até o quarto de
hóspedes. Ao fechar a porta eu arranquei meu tênis e me sentei escorado nela.
Fiquei lá por muito tempo pensando na vida. Não sabia bem como prosseguir com
ela. Estava sem destino certo, rumo ao desconhecido.
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