A
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capítulo dezenove
OLHO POR OLHO
bri os
olhos e me senti estranho. Era como se tivesse apenas piscado. Era sempre muito
rápido. Era como dormir. Acima de mim eu vi Rupert. Olhei em volta procurando
pelo Dr. Bryan e vi que ele estava diferente. Não era o mesmo homem de quando
dormi na minha primeira sessão. Ele era diferente. Completamente diferente para
ser mais exato. Respirei fundo e movi os braços, as pernas e consegui me mover.
Me sentei no sofá e limpei os olhos. Cada sessão eu sentia algo diferente.
- como você está? – perguntou Rupert.
- muito bem – falei bocejando.
- eu sou tão chato assim? – perguntou Rupert brincado.
- nenhum pouco – falei olhando para Bryan.
- e então? Eu sou o homem loiro ou moreno?
- moreno – falei rindo.
- está funcionando – falou Rupert.
- isso é um milagre – falei rindo – é tão estranho estar feliz por uma
coisa que eu fazia antes que era reconhecer as pessoas.
- nós só damos valor a algo quando perdemos – falou Rupert anotando algo
em seu caderno.
- é ótimo olhar para as pessoas e saber que elas sãos reais – falei
olhando para Rupert – e então? Como eu estou?
- essa é sua quarta sessão e eu acho que está dando certo.
- ótimo.
- e os remédios? Como tem se sentido?
- sabe a única coisa que eu notei de diferente nos primeiros dias foi a
insônia. Eu tive insônia. Passava as noites em claro e não dormia mais do que
uma hora. De lá pra cá eu tenho melhorado a cada dia. Noite passada eu dormi
quase seis horas.
- isso é ótimo – falou Rupert fechando seu caderno de anotações – você
já está se adaptando ao remédio.
- maravilhosamente bem – falei me levantando.
- você notou mais alguém diferente? – perguntou Bryan.
- minha amiga Ursula é diferente. Já a namorada dela é a mesma. Você é
diferente Dr. Bryan. O senhor sabe, quando acordei na primeira sessão eu
surtei. Você é muito diferente.
- alguém mais? – perguntou Rupert.
- eu ainda olhando umas fotos de família na casa da minha irmã e notei
que minha mãe é diferente. As feições dela mudaram.
- nós tivemos quatro sessões seguidas de Hipnose. Sexta, segunda, terça
e hoje. Acho que podemos diminuir a intensidade para dia sim, dia não e depois
para uma vez por semana até que apenas os remédios sejam o suficiente.
- ótimo. Então eu vou poder me focar nas minhas lembranças.
- por falar nisso – falou Dr. Bryan – você já foi ver o seu herói?
- não – falei respirando fundo.
- Herói? – perguntou Rupert.
- sim. O soldado que salvou ele.
- a ta. O Deus Americano – falou Rupert – você ainda mantém contato com
ele?
- nós dois meio que tivemos um lance, mas ele meio que está no armário.
Quando disse isso Bryan começou a rir para Rupert.
- o que foi? – perguntei curioso.
- Acho que Rupert pode te ajudar com esse problema – falou Bryan.
- porque?
- eu também já passei pro esse problema – falou Rupert – não ser
assumido – falou ele se repousando no sofá.
- você é gay?
- sim – falou ele mostrando uma aliança no dedo.
- você é casado?
- noivo.
- você que fez a proposta?
- não. Foi Cody que fez a proposta – falou Rupert parecendo feliz – ele
se chama Dr. Gordon English na verdade. É médico.
- fico feliz por vocês.
- olha eu já passei pro essa fase confusa que é não ser assumido e eu
posso afirmar com certeza que a pior coisa do mundo é quando alguém assumido se
aproxima e depois se afasta. Quando eu não era assumido conheci algumas pessoas
e elas se afastavam de mim quando descobriam que eu era casado com mulher e não
era assumido.
- O herói… Ralf – falei rindo – Ralf tem uma namorada. Na verdade ele
está noivo.
- Olha eu tenho um conselho para te dar. Não se afaste dele. Não estou
dizendo que você não tem obrigação de ficar com ele, mas não o abandone sem
mais nem menos. Não ter dor piro do que estar afim de alguém e ver ela sair
correndo quando você vira as costas – falou Rupert apertando os lábios.
- olha na verdade eu tenho um pouco de medo dele – falei não conseguindo
mais guardar aquilo para mim.
- com medo dos terroristas? – perguntou Bryan.
Uma imagem valia mais do que mil palavras então virei o pescoço de lado
e mostrei a marca vermelha em minha pele. Como uma laceração. O anel que Ralf
usava na hora do ataque me deixou uma cicatriz.
- o que é isso? – perguntou Dr. Bryan.
- Ralf me atacou enquanto dormia – falei voltando a posição original sentindo
meu coração acelerar um pouco – eu não tenho um diploma quem nem você dois, mas
eu sei que ele está sofrendo com transtorno de estresse pós-traumático
- provavelmente – falou Bryan – o que eles veem e presenciam na guerra
não é fácil. A maioria volta com sequelas emocionais. Essas sequelas podem não
ser tão visíveis como a perda de um braço ou uma perna, mas são tão reais
quanto.
- então assim… eu não vou mentir. Tenho medo. Eu inclusive estou
hospedado na casa de uma amiga. Era pra ser uma noite e amanhã está completando
uma semana. Queria dizer que os motivos são outros, mas eu tenho medo. O olhar
dele me assusta. As atitudes dele. Ele me enforma, me empurra, me trata bem e
depois me maltrata.
- você gosta dele? – perguntou Rupert.
- acho que sim. Eu me importo com ele. Mesmo estando longe e ele tendo
feito umas coisas que não gostei eu me preocupo com ele. Ralf me faz sentir
bem. Eu me sinto bem com ele. Eu gosto da pessoa que sou quando estou perto
dele e da família dele. Não gosto de lembrar de quem eu era antes do acidente
porque essa pessoa era mesquinha e machucava os outros.
- você poderia trazê-lo – falou Dr. Bryan – ele precisa de terapia.
- não sei se ele aceitaria.
- tente convencê-lo. Você disse que ele fica basicamente sozinho?
- sim. Ele não parece ter amigos.
- Seja um amigo – falou Rupert – Se o relacionamento não é algo que você
queira, seja amigo. Eu precisei de um amigo uma vez e ele me ajudou muito. O
relacionamento não deu certo, mas pelo menos ganhei um amigo importante.
- vou tentar. Não prometo nada, mas prometo tentar – falei me
levantando.
- obrigado por ter vindo – falou Ryan apertando minha mão. Em seguida
apertei a mão de Rupert.
- então nossa próxima sessão será quando?
- segunda – falou Rupert – vamos ficar quatro dias só com os remédios e
ver se você terá algum pesadelo, terro noturno ou se você vai voltar a ter
perda de memória.
- tudo bem. Até segunda então.
Sai do consultório e fui até a recepcionista e marquei minha consulta
para a segunda feira de tarde. Tentaria levar Ralf para uma sessão, mas não
tinha certeza se ele aceitaria. Geralmente pessoas tem preconceito com
psicólogos e psiquiatras. Ao contrário do que muita gente pensa eles não são
para os “loucos”. Louco é quem acha que é normal no mundo de hoje. Esses sim
são os verdadeiros loucos.
Ao sair do consultório peguei um Uber, mas não para ir para a casa de
Ralf ou para Ursie. Decidi ir até o Dr. Ciccone. O advogado do meu pai. Ele
queria me ajudar com a transferência do dinheiro e eu acho que já é hora de ter
os três milhões na minha conta. Eu ia precisar e muito para me restabelecer.
Papai me ajudou nessa.
Ao chegar na firma de advocacia algumas pessoas entravam e saiam. A
recepção estava um pouco cheia, mas para minha sorte Dr. Ciccone estava saindo
do elevador enquanto conversava com um casal. Eu fiquei parado no meio do
saguão esperando ele terminar, mas Dr. Ciccone olhou para mim e rapidamente
procurou se despedir do casal. Ele caminhou até mim já com a mão estendida.
- Sr. Loudorn? O que faz aqui?
- Dr. Ciccone não me chame de Sr. Loudorn. Sr. Loudorn é meu pai.
- Ok. Eu te chamo de Max, mas você me chama de Luke. Dr. Ciccone é só
para os demais clientes.
- combinado.
- o que você veio fazer aqui?
- resolvi ir ao banco para pegar o dinheiro do seguro de vida.
- ótimo – falou ele apalpando os bolsos – minhas chaves estão aqui então
podemos ir.
Nós caminhamos para fora da firma e entramos em seu carro. Nós seguimos
para a Seguradora para depois irmos ao banco.
- então… não sei se esse é o momento mais oportuno para perguntar, mas
quanto você vai cobrar pelo serviço?
- para o filho do meu melhor amigo? Só vinte por cento – falou Luke
rindo.
- então para o carro que essa corrida tá muito cara.
- brincadeira – falou Luke – eu não teria coragem de cobrar nada. Só
quero ter certeza de que você vai conseguir resolver tudo na Seguradora e no
Banco.
- tudo bem então.
Nós fomos até a seguradora e eu tive que assinar um monte de papéis.
Geralmente o seguro de vida só é complicado de receber se o beneficiário for
suspeito de ter assassinado o segurado, mas nesse caso não havia sombra de
duvidas de que os terroristas é que tinham matado meu pai e um monte de gente.
Luke foi de grande ajuda. Ele leu todos os papéis e se assegurou de que
eu não estava sendo passado para trás. Depois de lá nós pegamos a papelada e
fomos para o banco. O gerente do banco nos recebeu na maior alegria. Não é todo
dia que alguém recebe em sua conta três milhões.
- posso assinar? – perguntei para Luke enquanto ele lia a papelada. O
gerente do banco tinha nos oferecido algo de comer, algo de beber e de repente
o banco se tornou uma lanchonete.
- está tudo certo – falou Luke me entregando o papel e a caneta – pode
assinar sem medo.
- OK – falei assinando meu nome nas dez folhas que tinha o contrato com
o banco – pronto – falei devolvendo os papeis para o dono do banco.
- esse aqui é seu cartão provisório e com ele você pode estar utilizando
seu dinheiro. Você pode retirar seu cartão fixo em até cinco dias aqui na
agência.
- muito obrigado – falei me levantando e agradecendo o gerente com um
aperto de mão.
Luke agradeceu o gerente e nós caminhamos em direção a saído do banco.
Nós estávamos em silêncio e ao chegarmos lá fora ele colocou os óculos escuros
e olhou para mim.
- e agora? – perguntei confuso.
- agora? você é um milionário.
- é só isso? O dinheiro está na minha conta e eu posso usá-lo?
- sim.
- OK – falei olhando em volta – acho que vou seguir meu caminho.
- quer que eu te dê uma carona?
- não precisa. Já ocupei muito do seu tempo. Agradeço por ter me
acompanhado.
- não foi nada – falou ele abrindo a porta do seu carro – tem certeza de
qque não quer uma carona?
- tenho sim. Eu moro no norte e você vai para o sul. Não seria uma
carona, você teria que me levar até lá e depois voltar. Eu estou bem.
- tudo bem então – falou ele entrando n carro – você ainda tem meu
número?
- tenho sim.
- me liga se precisar de qualquer coisa. Se estiver com problemas no
banco, com dinheiro ou se estiver se sentindo sozinho. Eu também, sou uma ótima
companhia.
- Okay… enfim… obrigado por tudo – falei vendo Luke desaparecer me seu
carro enquanto eu caminhava de volta pela calçada. Peguei um Uber de volta para
a casa de Ursula. Quando sai do carro e caminhei em direção á casa de Ursula
senti uma mão tocar meu ombro.
- Max? – falou Kevin atrás de mim.
- o que você quer?
- Fiquei sabendo que você está morando com Ursula. É verdade?
- não te interessa – falei olhando para ele.
- olha eu sei que eu sou a última pessoa que você quer ver, mas eu sinto
sua falta. Quando você se foi eu percebi que eu sentia algo por você.
- e vai continuar sentindo minha falta.
- sei que você me odeia, mas fico feliz em saber que você está bem
apesar de tudo.
- sabe de uma coisa? Eu sinto pena de você.
- porque diz isso?
- Sabe o que Justin me disse semana passada?
- você tem conversado com Justin? – perguntou Kevin confuso.
- não. Não tenho conversado com Justin, mas na semana passada Justin
veio aqui era por volta das onze horas. Ele veio conversar comigo.
- o que ele te disse?
- ele me disse que nós dois tínhamos um caso. Ele me disse que nós
tínhamos encontros sexuais em motéis, na casa dele e em outros lugares.
- do que você está falando?
- o que? Surpreso? Quando Justin me disse eu também fiquei surpreso, mas
agora eu começo a desconfiar de que seja realmente verdade.
Kevin pareceu pensativo e não disse nada.
- bom, se me permite eu vou entrar.
- só mais uma coisa – falou Kevin segurando meu braço – por acaso você
viu a Ava?
- Graças a Deus não. porque?
- ela está desaparecida. Faz uns dois dias que eu não á vejo e imaginei
que talvez você a tivesse visto.
- não. Não vi. Não tive esse azar.
- tudo bem – falou Kevin se virando.
Quando me virei para abrir a porta da casa de Ursie ela se abriu sozinha
e eu quase esbarrei em uma morena.
- me desculpa – falei saindo da frente dele.
- não tem problema, culpa minha – falou a mulher com um sorriso no
rosto.
Logo atrás da mulher saiu um homem e ao lado desse homem estava Ursula.
- olá – falei olhando para Ursula.
- oi Max – falou Ursie com um sorriso.
- foi bom te ver – falou a mulher de cabelos pretos.
- se precisar de qualquer coisa é só ligar – falou o homem abraçando a
mulher.
- eu ligo sim – falou Ursula olhando para mim – que falta de educação –
Max, esses são Julia e Jeremy Fassbender.
- prazer – falei cumprimentando s dois.
- Julia e Jeremy são os pais do bebê que estou carregando.
- é verdade – falei me lembrando que Ursie é barriga de aluguel.
- foi um prazer – falou Julia.
- até mais – falou Jeremy me olhando fixamente. Julia se virou para ir
ao carro, mas Jeremy ficou me encarando. Talvez eu esteja errado ou os remédios
estejam me afetando, mas antes de se virar eu tive a impressão de que Jeremy
piscou para mim e sorriu. Não tenho certeza.
Nós entramos e Ursula e eu caminhamos para a cozinha. Ao chegar lá fui
até a geladeira e peguei um copo com água e tomei um gole. Estava com muita
sede.
- e então? – perguntou Ursie se sentando – como está?
- estou ótimo. Os remédios estão funcionando e a hipnose tem me ajudado
bastante.
- estou muito feliz por você. De Verdade.
- então aqueles dois são o casal que estão te usando como barriga de
aluguel?
- sim. Jeremy é estéril – falou Ursula.
- eles não pensaram em adotar?
- sim, mas levaria um tempo já que eles não são um jovem casal.
- sabe talvez eu esteja louco, mas eu tive a impressão de que Jeremy
piscou e sorriu para mim.
- você também viu? – perguntou Ursula rindo.
- sim. Então você viu?
- sim. Eu achei que estava enganada, mas eu também percebi que ele fez
isso.
- será que ele curte a fruta?
- talvez – falou ela rindo – você viu que ele tem um curativo no braço?
- não. Nem reparei.
- ele tem uma cicatriz no rosto. Ele não tinha aquela cicatriz da última
vez que o vi. Eu não quis me intrometer. Não quis perguntar o que aconteceu com
ele.
- nossa eu tenho uma novidade.
- qual?
- Ava está desaparecida.
- Ava? A Ava que mora ai em frente?
- essa mesma.
- como você sabe?
- eu tive o desprazer de ter uma conversa com Kevin quando cheguei. Ele
veio correndo conversar comigo dizer que estava com saudades e que sente algo
por mim.
- o que você disse?
- eu contei o que Justin me disse outro dia.
- você contou para ele?
- claro.
- eles com certeza vão ter uma briga.
- eu quero que eles se matem. Estou me fudendo para eles – falei me
levantando
- onde você vai?
- vou ver ‘meu’ soldado – falei rindo.
- então você vai embora?
- vou sim.
- vou sentir sua falta – falou Ursula me seguindo enquanto eu caminhava
de volta á porta de entrada..
- as roupas do seu sobrinho, que você me emprestou, estão dentro do
guarda roupas.
- tudo bem. Não se preocupe.
- agradeço muito por ter me deixado ficar aqui alguns dias. Sei que foi
inesperado e sei também que visita é igual cadáver. Depois de três idas começa
a feder.
- que nada. Você pode vir dormir aqui sempre que quiser.
- obrigado – falei abraçando Ursula antes de sair.
Peguei um Uber de volta ao bairro de Ralf. Já fazia um bom tempo. Admito
que fiquei um pouco chateado por Ralf não ter me ligado mais. Ele me ligou um
dia e eu fui mal educado então ele não ligou mais. Com certeza sentia algo por
ele e estava ansioso para vê-lo. Faz tempo que não vejo o Ralf do aeroporto.
Basicamente um Urso de olhos azuis. Um homem com cara de mal. Forte e decidido.
Ele não sorria muito e eu sabia que ele era um pouco estressado e nervoso
devido as coisas que viu na guerra.
Quando viramos á rua da casa de Ralf eu vi a Cerejeira do Japão. Suas
flores cor-de-rosa vibravam e dava um charme especial á rua. Era com certeza
uma das casas mais chamativas devido a árvore. Senti um calafrio quando o carro
parou. O motorista finalizou a corrida, mas eu hesitei um pouco antes de descer do carro. Coloquei a mão na porta e
abri. A brisa passou por mim enquanto eu caminhava até a casa.
Bati na porta e esperei alguns segundos. A porta se abriu. Era Ellen.
Pela primeira vez eu a via realmente como era.
- Max? – falou ela com um sorriso.
- olá – falei sem graça.
- quem é? – perguntou Randy chegando á porta.
- é o Max – falou Ellen.
- como você está? – falou Randy apertando minha mão – vamos entrando.
- obrigado – falei sem graça.
- que bom que você apareceu – falou Ellen enquanto caminhávamos até a
cozinha – nós estávamos ficando preocupados.
Sentei-me á mesa e Ellen fez o mesmo. Randy estava terminando o almoço.
- eu sei. Não devia ter desaparecido sem dar noticias.
- não tem problema. Nós sabemos que você tem passado por muita coisa –
falou Randy.
- na verdade eu estou ando um passo de cada vez para a melhora. Estou me
sentindo um pouco melhor.
- O cheiro está ótimo! Será que… – falou Kyara entrando na cozinha. Ela
parou de falar me viu sentado – você aqui?
- olá. Estou de volta.
- ‘que bom’ – falou ela com um sorriso sarcástico.
- eu não quero atrapalhar sabe – falei respirando fundo – eu não queria
pedir isso para vocês, mas será que eu posso continuar morando aqui por um
tempo? Eu passei esses dias na casa de uma amiga, mas ela mora perto de alguns
conhecidos meus que eu não gosto muito. Sei que eu devia arranjar um lugar só
meu, mas eu não acho que estou pronto para ficar sozinho.
- na verdade não será uma boa ideia – falou Kyara – eu agora estou
morando aqui. Ralf e eu vamos nos casar em alguns meses nós estamos construindo
uma casa para morarmos depois que nos casarmos, mas até ela ficar pronta nós
moraremos aqui e isso deve levar alguns meses – falou Kyara colocando água em
um copo.
- OK. Não tem problema.
- que história é essa? – falou Randy – Kyara isso não é jeito de tratar
as visitas. Claro que você pode ficar Max. Nos só temos um quarto de hospedes,
mas Kyara e Ralf dormem no mesmo quarto então você pode ficar o tempo que
precisar.
- tanto faz – falou Kyara tomando um gole de água – seja bem vindo de
volta – falou ela saindo da cozinha e da casa. Ouvi a porta de entrada se abrir
e se fechar.
- Talvez Kyara esteja certa. Eu não quero atrapalhar.
- não liga pra Kyara. Ela sempre foi assim – falou Randy – Ellen e eu
somos como pais para Kyara então ela tem muita liberdade conosco.
- nós gostamos muito dela – falou Ellen.
- eu também – falou Randy com um sorriso no rosto – como a filha que
nunca tive.
- ela não tem pais? – perguntei curioso.
- sim, mas a mãe tem problemas mentais e o pai se suicidou quando ela
era criança.
- que droga hein?
- pois é. Ela passou por muita coisa então ela é um pouco ciumenta. Acho
que é isso que ela tem sentido com você. Não se incomode quando ela te tratar
mal ou não parecer muito amigável. É só a defesa dela. Depois de tudo o que
passou ela acabou criando esse mecanismo.
- não me importo com as coisas que ela fala. Sei que não é sério – falei
tentando disfarçar.
- você chegou na hora certa – falou Randy desligando as chamas do fogão
– o almoço está pronto.
- onde está Ralf? – perguntei curioso.
Ellen e Randy se entreolharam antes de responder. Randy limpou a
garganta e Ellen se levantou colocando uma jarra de suco em cima da mesa.
- Ralf está dormindo – falou Randy – ele tem passado por uma fase
difícil.
- como assim? Não quero me intrometer…
- ele tem saído todas as noites para ir ao bar. Ele bebe muito e chega
em casa de madrugada e então dorme até meio dia.
- ele tem feito isso todos os dias – falou Ellen chateada colocando os
pratos me cima da mesa.
- Nós não sabemos o que ele passou Ellen – falou Randy – ele deve estar
tendo lembranças e eu acho que a única forma dele dormir é bebendo até cair.
- eu só queria que ele conversasse com a gente – falou Ellen.
- Ralf nunca foi assim e você sabe disso. Ele nunca foi de falar muito e
nunca quis nos importunar com seus problemas. É só o jeito dele. Desde criança
ele sempre foi assim.
- Estou achando ele muito triste – falou Ellen – só espero que ele
esteja bem.
- Max, você quer ir lá em cima acordar o Ralf? Ele vai gostar de te ver.
Quase todos os dias ele pergunta se você deu noticias – falou Randy.
- acho que não é uma boa ideia. Talvez seja melhor Ellen ir – falei me
lembrando da última vez que eu fui acordá-lo.
- tudo bem – falou Ellen secando as mãos com um pano de prato subindo as
escadas.
- venha colocar a comida. Aproveite que está quente – falou Randy.
Me levantei com o prato e coloquei um pouco de comida e em seguida me
sentei a mesa. Tentei me desligar um pouco dos problemas. Randy ligou a TV da
cozinha e em seguida se sentou a mesa. Alguns minutos se passaram e Ellen fez o
mesmo. Enquanto tomava um gole do suco Kyara entrou na cozinha.
- Ralf não veio? – perguntou ela se sentando a mesa.
- ele estava tomando banho – falou Ellen – deve chegar em alguns minutos.
Kyara olhou para mim e começou a
comer sua refeição. Depois do primeiro prato eu estava satisfeito. Terminei de
tomar o meu copo de suco e me levantei da mesa e fui até a pia.
- mas já? – perguntou Randy – estava tão ruim assim?
- não. Estava ótimo. Eu estou satisfeito.
- tem certeza?
- tenho sim Sr. Falconer. Está delicioso. Sou eu que não tenho tido
muito apetite devido alguns remédios que estou tomando – falei indo até a porta
da cozinha – se me dão licença eu vou param eu quarto.
Ao sair da cozinha caminhei até ás escadas e tive uma surpresa. Quando coloquei
a mão no corrimão eu vi Ralf fazer o mesmo no topo. Ele parou ao me ver e ele
hesitou. Eu fiz o mesmo. Sentia tantas coisas diferentes naquele momento. Não
sei dizer ao certo o que sinto agora que estou vendo-o na minha frente. Um
soldado, um herói, um cavalheiro, um gladiador, um Deus, não sei bem qual palavra
possa melhor defini-lo.
Comecei á subir as escadas e Ralf começou a descer. Vagarosamente.
Talvez não soubéssemos ao certo o que dizer um ao outro ou talvez só quiséssemos
que aquele momento durasse um pouco mais. Um degrau de cada vez, um suspiro por
vez. Quando chegamos ao ponto de encontrar Ralf olhou para mim. Era bom vê-lo
novamente. Podia mergulhar no azul de seus olhos e nadar por todo o oceano de
sua alma. Se eu soubesse nadar, é claro.
A barba que preenchia seu rosto, o olhar cansaço, a cara de mal. Estava
tudo lá. Seus fortes braços, o modo que ele apertou os lábios ao me ver. Podia
sentir ele se arrepiar e podia ouvir seu coração bater. Eu queria pedir desculpa
e com certeza ele diria que não foi nada demais. Sentia falta da voz dele.
Rouca e reconfortante.
- você sumiu – falou Ralf. Podia sentir o cheiro do seu perfume e um
leve hálito de bebida.
- precisava ficar um tempo sozinho. Clarear a mente.
- eu faria qualquer coisa por você – falou Ralf respirando fundo – Eu
mataria dragões, caminharia sobre ás águas, usaria meu corpo como escudo, eu
honraria a farda por você.
- porque está me dizendo isso?
- o que eu fiz não foi certo. Não devia ter te empurrado e te tratado
como se valesse menos do que é. Quero que saiba que eu andaria sobre ás águas e
mataria dragões por você.
- você está noivo. Você tem namorada e sua família gosta muito dela. Você
e eu nunca vai acontecer.
- Quando você fala você me deixa louco – falou Ralf envolvendo suas mãos
me minha cintura me puxando para perto dele. Ele me apertou contra ele.
- fiquei sabendo que você não está bem. Anda bebendo muito.
- você tem o remédio que eu preciso – falou Ralf aproximando o rosto do
meu. Ele deu um selinho na minha boca e eu senti sua respiração em meu nariz. Levei
minha mão até a sua nuca e pressionei carinhosamente antes de afastar meu
rosto.
- não posso fazer isso – falei acariciando o rosto dele antes de me
afastar um pouco mais – isso é muito complicado. Antes do meu acidente eu era complicado.
Não posso entrar em algo complicado. Complicado não tem mais espaço em meu
vocabulário.
Ralf levou as duas mãos ao meu pescoço e me empurrou contra a parede. Fechei
os olhos sentindo suas mãos tirarem meu ar. Estava assustado e fiquei um pouco
surpreso ao perceber que não eram suas mãos que tiravam meu folego. Ralf me
apetava com força contra a parede e eu tentei encontrar o degrau e apoiar meu pé.
Ralf beijava meu pescoço e sua barba me fazia cócegas. Fechei os olhos e apertei
Ralf com força. Mergulhei minhas mãos em seus cabelos e deslizei-os por entre
meus dedos.
Senti Ralf lamber meu pescoço e me morder de leve enquanto todo seu
corpo era pressionado contra mim. Usei uma das minhas pernas para abraçar Ralf e
senti-lo mais perto de mim. Era bom sentir seu corpo junto ao meu. Ralf deslizou
as mãos do meu pescoço até minha cintura e tentou me fazer subir as escadas. Nós
subimos um degrau e depois outro. Ele ficou de costas para as escadas.
- Shhhh! – falou Ralf ofegante colocando o dedo na minha boca.
Engoli em seco olhando para seus olhos. Ralf me soltou e tentou se
recompor.
- quero você, não Kyara – falou Ralf tentando se recompor. Ele parecia
até um pouco chateado. Acho que ele sentiu que passou um pouco dos limites ao
me pegar daquele jeito nas escadas, mas no fundo eu senti que ele não se
arrependia – vou ao banheiro – Ele se virou e continuou subindo as escadas. Ele
foi para o seu quarto e eu respirei fundo.
Estava ofegante e quando olhei para baixo eu vi que o pai de Ralf estava
lá parado olhando para mim. Ele me encarava e a expressão dele não era das
melhores. Ele viu o que aconteceu. Randy viu o filho me beijando e dizendo que
me queria. Não tive coragem de dizer nada. Eu apenas subi as escadas e corri
para meu quarto o mais rápido que pude. Estava nervoso e ansioso. Tranquei a
porta do quarto e me sentei na cama. Coloquei as mãos no rosto e respirei fundo
tentando entender o que tinha acontecido. “Será que ele viu?” foi a primeira
coisa que me perguntei. Talvez ele não tivesse visto nada.
Peguei o controle remoto da TV e liguei para me distrair. Estava no
noticiário. Uma reportagem sobre o roubo de órgãos acontecendo em Miami.
Aumentei o volume o máximo que consegui para ouvir tudo o que diziam.
- já são oito ataques e a policia não tem nenhuma pista – falou a repórter
– a última vítima foi encontrada ainda com vida vagando pela cidade pedindo pro
ajuda. Ela teve os dois olhos removidos cirurgicamente e assim como as outras vítimas
ela teve um corte limpo sem infecções. A vítima foi identificada como sendo Avalon
Pumpelly.
Senti como se meu coração tivesse disparado de uma vez. Ava tinha
desaparecido. Foi o que Kevin me disse. A reportagem não mostrou a foto da vítima,
mas acredito que Ava seja um apelido de Avalon.
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CARACA! Que capítulo foi esse! Tantas nuances, tantas possibilidades, tantas supresas. Você é estupendo!
ResponderExcluirA.
Arrepiei
ResponderExcluirNossa arrepiante, e esse final, o melhor capítulo, vc sabe como surpreender!
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