AMOR ESTÁ MORTO, AMOR SE FOI, AMOR JÁ NÃO
VIVE MAIS AQUI capítulo vinte e dois
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dias. Estava completando sete dias desse hoje.
O plano inicial era conversar com o juiz na segunda-feira e voltar para Los
Angeles para ficar junto de Gray, mas eu não consegui voltar. Era quarta-feira
e eu não tive coragem de ir embora. Do que adianta? Ficar no hospital não ia me
ajudar em nada. Já fazem quatro dias inteiros desde que me senti paralisado. Já
fazem quatro dias e eu ainda não esqueci as últimas palavras que ele me disse. Não
consigo arrancá-las da minha cabeça.
Foram três palavras: ‘Eu te amo’. O mais engraçado é que mesmo estando
tão longe eu ainda não posso consigo fugir da dor que queima dentro de mim em
saber o que está por vir. É uma ironia cruel. É como se o universo estivesse me
punindo. Sempre fui o cara que lê o último capítulo de um livro porque gosto de
saber o que está por vir e então acontece isso? Gray entra em coma e agora eu
sei exatamente o que está por vir.
Na segunda feira conversei com o juiz e ele não me deu resposta imediata.
Disse que decidiria até na quarta-feira em uma audiência que está marcada para
ás duas horas da tarde. O juiz não se decidiu na hora e Bryan se mostrou um
pouco preocupado. Ele acha que existe a chance do juiz o colocar em uma clínica
bem longe de mim.
Faz quatro dias que estou hospedado com Steve e eu ainda fico acordado a
noite lembrando de Gray. São quatro dias sem o abraço dele. Sem ver o seu rosto
e sem sentir o seu beijo. Sem sentir suas mãos me segurarem tão forte que eu
não poderia temer nada. Nem se eu quisesse.
Faz quatro dias desde que ouvi meu telefone tocar e eu ignorei sua
chamada e ainda hoje de vez em quando olho para meu celular esperando por uma
ligação dele dizendo que acordou.
Todos os dias Steve me levava em um lugar diferente em Omaha. Havia
vários pontos turísticos e muitos lugares para se visitar. São tantos lugares
que eu nem fui na maioria mesmo morando aqui por dezesseis anos.
Holly, Kiff, Eve e meus vizinhos Rachel e Oliver ficavam me ligando.
Desde segunda feira eles me ligavam, mas eu ignorava as chamadas deles. Sei que
eles me esperavam de volta na segunda, mas eu mudei de ideia e fiquei mais do
que devia afinal o juiz não tinha se decidido de uma vez.
Estava deitado em minha cama com a camiseta de Gray ao meu lado. Era
patético, mas era meio que reconfortante. Não conseguia mais dormir direito e
era mais fácil sentindo o perfume dele. estava olhando para a camisa de Gray e
alguém bateu na porta.
- posso entrar?
- pode – falei jogando o cobertor em cima da camisa de Gray. Em seguida
me sentei na cama.
- eu te acordei? – perguntou Steve.
- não – falei olhando para o relógio que marcava quase dez horas da
manhã.
- hoje é sua audiência?
- é sim.
- você vai embora quando?
- amanhã cedo. Eu pensei no que você disse sobre desistir e amanhã vou
tentar convencer Morgan a me deixar vê-lo. Eu preciso pelo menos tentar e mesmo
que ela não deixe acho que vou destruir todo o hospital até alguém me deixar
dizer adeus.
- é assim que se fala – falou Steve entrando e fechando a porta – o que
você acha que antes de ir para a audiência nós visitarmos o Jardins Lauritzen?
- seria ótimo. Eu nunca cheguei a ir lá.
O Jardins Lauritzen eram mais de cem hectares de terra com todas as
espécies de árvores e plantas que se pode imaginar. Nunca tinha visitado, mas
já tinha visto fotos. Era um lugar belo.
- tudo bem. Vamos ao jardim e nós almoçamos antes da audiência do seu
pai. Tem um restaurante próximo do tribunal – falou Stephen abrindo novamente a
porta do quarto para poder sair.
- Steve… – falei chamando a atenção dele que olhou para mim.
- o que foi?
- você já pensou na proposta que eu te fiz?
- a de me mudar para Los Angeles?
- sim.
- eu ainda estou pensando.
- você está pensando de verdade ou só não sabe como dizer não sem me
magoar?
- eu estou pensando de verdade – falou ele pensativo – eu estou pensando
nos prós, contras, se eu estou preparado para ter uma mudança tão grande na
minha idade. Tenho cinquenta e cinco anos e não posso me dar ao luxo de tomar
decisões das quais eu vou me arrepender no futuro.
- seja lá o que você decidir eu não vou ficar com raiva.
- tudo bem – falou Stephen sorrindo – quando eu tiver a reposta eu te
digo, OK?
- OK.
- vá se arrumar. Nós vamos sair em trinta minutos.
- tudo bem.
Quando Stephen fechou a porta do quarto eu me levantei e fui até a minha
mochila. A verdade é que não importa o que Stephen disser. Me arrependo de ter
pedido que ele se mudasse para Los Angeles agora que eu já tinha me decidido.
No armário de banheiro social encontrei vários frascos de remédios. Por
um longo tempo Steve tomou remédios controlados para a depressão, mas
atualmente acho que ele não toma mais já que tinha vários frascos vencidos
cheios de comprimidos.
Não acho que amar Gray para sempre seja errado é só que sinto que
cheguei no meu limite. Perdi minha mãe. Meu irmão. Levaram tudo o que
conquistei e batalhei para conseguir, eu me apaixonei e agora estou prestes a
perder a única coisa que amei mais do que a minha própria vida. Era engraçado.
Mórbido, mas engraçado. O irônico sobre uma pessoa com tendências suicidas é
que cedo ou tarde ela vai tentar. Do contrário ela não teria tendências ao
suicídio. Não estou dizendo que eu vou fazer, mas ter esses comprimidos
significa que eu tenho a opção. Não sei como vou me sentir depois que os
aparelhos de Gray forem desligados, mas eu sei que não quero me sentir daquele
jeito novamente. Não quero passar pelos estágios do luto outra vez. A maioria
das pessoas tem medo de morrer, mas eu não. Quando eu tomar esses comprimidos
meu único medo é de que Gray não esteja me esperando do outro lado.
Depois que tomei um banho e vesti a roupa estava pronto para mais um
passeio. Estava próximo a porta de entrada esperando por Steve que logo desceu
as escadas.
- está pronto?
- estou sim – falei abrindo a porta e saíndo da casa.
Stephen e eu entramos em seu carro e seguimos viagem até o Jardins Lauritzen.
A viagem não seria longa. Era uns vinte minutos até chegarmos lá. Me sentia
bem. Na verdade não me sentia tão bem a desde que Gray tinha levado o tiro. De
certa forma agora eu me sentia melhor. Me sentia mais livre e leve porque tinha
decidido me suicidar.
- você parece mais alegre hoje – falou Steve quando estacionamos em
frente ao Jardins Lauritzen.
- pois é – falei realmente me sentindo feliz.
- é bom saber que você está feliz apesar de tudo o que está passando –
falou Steve pagando a nossa entrada.
Assim que passamos pela catraca vi que tinha muita gente, mas mesmo
assim não aprecia cheio porque o lugar era gigante. Havia uma estufa gigante
logo a nossa frente. Do lado esquerdo tinha a placa indicando o lago e do outro
uma placa que apontava para uma floresta de bambus.
- onde você quer ir? Tem muitos lugares.
- vamos pela floresta de bambus – falei caminhando na direção. Outras
pessoas estavam indo e vindo daquele mesmo lugar. Depois de alguns passos nós
nos vimos em um labirinto verde de bambus. Algumas pessoas tiravam fotos e outras apenas apreciavam a vista.
- eu vou sentir sua falta quando se for – falou Steve depois de alguns
minutos quando nos afastamos de todos. Depois de um long tempo vi que dava para
ver o lado. Era enorme.
- não se preocupe. Eu vou voltar.
- tem certeza? – perguntou Steve.
- porque me pergunta isso?
- porque eu acho que você está feliz porque decidiu se suicidar – falou
Steve logo atrás de mim. Aquelas palavras me fizeram parar. A alegria que
sentia subitamente desapareceu –sabe essa sensação de alegria que está sentindo
é falsa. Você acha que eu já não pensei nisso antes? Essa sensação de que vai
ficar tudo bem é só a adrenalina e euforia de enganado. Não se engane Griffin.
- você não sabe do que está falando – falei me virando e olhando para
Stephen.
- acho que eu sei – falou ele colocando a mão no bolso e tirando dois
frascos de remédio.
- onde você pegou isso?
- na sua mochila – falou ele olhando para os frascos e olhando para mim.
- você não pode me impedir.
- claro que eu posso.
- você não tem esse direito. É a minha vida.
- eu não vou deixar que você faça isso.
- eu posso fazer de outras formas.
- você vai me prometer que não vai tentar nada Griffin. Aqui e agora -falou Stephen colocando os remédios no boldo
– porque se você não me prometer eu vou ter que te internar. Vou ligar para a
policia e dizer que você é um perigo para si mesmo. Não posso deixar você ir
embora depois disso.
- você não pode fazer isso.
- Sim, eu posso – falou Stephen se aproximando de mim e levantando minha
camisa – acha que eu esqueci? – falou ele olhando para as cicatrizes dos cortes
na minha cintura – eu me lembro do que você fazia quando se sentia com raiva. Posso
não ter impedido você de se machucar, mas eu vou te impedir de tomar uma
decisão estúpida.
- você não tem esse direito – falei sentindo as lágrimas caírem no meu
rosto novamente – essa não é a sua história é a minha história é a minha vida.
- a sua vida é o bem mais preciso que você tem. Não conheço Gray, mas
tenho certeza de que essa é a última coisa que ele quer que você faça. Ele ia
querer que você vivesse sua vida.
- com você sabe? Eu o conhecia e eu não sei se era isso que ele iria
querer porque eu não o conheço direito. Eu não tive tempo o suficiente com ele.
Eu não conheço as manias dele, as coisas que o deixam com raiva, não sei nem as
coisas que ele gosta de fazer na cama porque eu não tive a chance. Isso foi
tirado de mim. Estou cansado de ter as coisas tiradas de mim. Não importa o
quanto eu planeje minha vida sempre algo acontece e tudo sai do meu controle,
mas tem uma coisa que eu ainda posso controlar que é quando eu vou morrer.
Stephen apenas me ouviu em silêncio e em seguida caminhou até a lixeira
mais próxima e jogou os frascos lá dentro.
- como você acha que eu me senti quando perdi Cory? Eu me senti da mesma
forma. Não tive tempo o suficiente com meu filho. Não sei oque ele se tornaria, não sei quais erros ele
cometeria… eu nem vou ter a chance de dançar com a esposa do meu filho no
casamento deles porque meu filho foi tirado de mim. Eu perdi um filho -falou Stephen insistindo – não estou dizendo
que sua perda é menor, mas se eu consegui sobrevier um dia após o outro você também
consegue porque eu estou te dizendo. Se você não em prometer que não vai tentar
se matar eu vou ligar agora para a policia.
- tudo bem – falei com raiva – eu não vou tentar, o que eu tenho mais a
perder?
- você precisa sobreviver a isso.
- eu sei que posso sobreviver, mas sobreviver não significa que estarei
vivo. Eu seria só um morto-vivo vivendo um dia após o outro.
- você não sabe disso.
- eu me conheço o suficiente pra saber – falei respirando fundo tentando
esquecer tudo aquilo.
- você está passando por muita coisa e é normal sentir que o mundo está
conspirando contra você.
- sentir? Ele conspira contra mim desde que eu era criança. O universo
levou minha mãe, meu irmão, meu pai e agora está levando meu namorado.
- podemos parar de falar sobre isso? Podemos só… continuar com esse
passeio?
- claro, mas você precisa saber que não precisa fazer disso uma situação
ruim. Quando a vida te dá limões você deve fazer uma limonada e você não está
fazendo isso. Mais parece que você pegou os limões e está comendo eles. Não
adianta fazer cara feia pra vida. Ela continua.
- limonada? Sério? e o que tem de bom no fato dele estar em coma? O que
tem de bom no fato de eu pensar em me matar e de ironicamente meu pai não se
lembrar do motivo de estar preso?
- eu não sei, mas você vai descobrir. Você é o cara mais forte que
conheço Griffin. você viveu cada segundo que a vida te deu. Você sempre abraça
os desafios que são colocados na sua frente.
- eu não quero mais isso.
Ante que a conversa continuasse o meu celular tocou.
- só um minuto – falei pegando o celular. Era Bryan.
- oi Bryan – falei atendendo o celular.
- onde você está Griffin? – falou Bryan nervoso.
- Bryan? O que foi? Porque parece tão nervoso?
- onde você está?
- eu estou no Jardins Lauritzen, porque?
- que droga… - falou Bryan pensativo.
- o que foi? O juiz adiou de novo a audiência?
- não. é o seu pai…
- o que tem ele?
- ele acabou de dar entrada no Bergan Mercy.
- porque? O que aconteceu?
- ele começou a vomitar sangue e eles tentaram controlar na enfermaria
da prisão, mas ele só piorou.
- vomitou sangue? Porque?
- o câncer no estômago Griffin… - falou Bryan fazendo uma longa pausa –
acho que é isso. Você precisa vir pra cá agora.
- mas eu pensei que nós teríamos mais tempo.
- o tempo acabou, você precisa mesmo vir para o hospital.
- eu estou indo, chegarei em alguns minutos. – falei desligando celular
e voltando até Steve.
- o que foi? – perguntou Steve.
- você sabe onde fica o Bergan Mercy?
- sim. Fica no centro. O Centro Médico Bergan Mercy.
- me leve lá agora.
- porque? O que aconteceu?
- é o meu pai. Ele está morrendo.
- nós estamos a vinte minutos de lá – falou Steve olhando em volta.
- então eu aconselho você a dirigir bem rápido.
- OK – falou Steve quase correndo – vamos!
Steve e eu coremos o mais rápido possível até que chegamos no lado de
fora do Jardim. Steve colocou o cinto de segurança assim que entramos no carro
e deu partida rapidamente. Não tínhamos muito tempo.
Assim que chegamos ao hospital eu corri rapidamente até a recepção da
emergência e antes que a enfermeira pudesse me dar alguma informação eu vi dois
policiais armados próximos de um dos boxes. Caminhei rapidamente, mas ao me
aproximar um dos policiais me barrou.
- você não pode se aproximar – falou um dos policiais.
- é o meu pai – falei empurrando o policial que segurou forte no meu
braço e me empurrou na parede.
- você está preso por desacato – falou
o policial torcendo meu braço para traz e colocando algemas.
- o que está acontecendo aqui? –perguntou Bryan finalmente chegando – o
que está fazendo?
- esse rapaz está preso por desacato – falou o policial me fazendo
andar.
- é o pai dele que está sendo atendido. Não pode relevar? Todos estamos
exaltados. Você não estaria se algum familiar não estivesse morrendo? –
perguntou Bryan para o policial. Bryan se arrependeu do que disse ao perceber
que eu ouvi tudo.
- OK – falou o policial tirando minhas algemas.
- como ele está Bryan? – perguntou acariciando meus pulsos.
- nada bem.
- o que aconteceu?
- o câncer se desenvolveu muito e acabou criando metástase em outros
órgãos. Os médicos disseram que não há muito o que fazer.
- estou procurando os familiares de Kenneth Nicholas Blake? – falou um
médico aparecendo.
- sou eu – falei caminhando até ele – como ele está doutor?
- nós conseguimos controlar o sangramento por enquanto, mas ele está
sentindo muita dor. Nós fizemos também alguns exames de imagem e a situação não
é boa.
- vocês podem fazer alguma coisa para ajudá-lo? – perguntou Steve,
- infelizmente não já nada que possamos fazer nesse momento. O câncer
está muito avançado.
- quanto tempo ele tem? – perguntei nervoso.
O médico hesitou me dizer. Ele olhou para Bryan, para Steve e depois
olhou para mim.
- pode dizer – falei olhando para o médico – seja sincero.
- acho que ele só vai aguentar até a noite.
- o que eu faço? – perguntou para Bryan – e a audiência?
- acho que o que você pode fazer agora é ficar com seu pai. Infelizmente
é tarde para nós – falou Bryan – pelo menos nós tentamos.
- OK – falei respirando fundo seguindo o médico.
Atrás das cortinas vi meu pai deitado na maca com uma intravenosa no
braço esquerdo. Ao me ver meu pai esticou o braço e segurou em minha mão.
- o que está acontecendo Bruce? Ninguém me diz o que está acontecendo –
falou meu pai assustado.
- o senhor está doente pai.
- eu estou assustado – falou ele apertando minha mão.
- também estou.
- não conheço nenhuma dessas pessoas. Você é o único que eu conheço.
- eu sei. Estou aqui agora.
- onde está seu irmão? Está com ele?
- não – falei tentando pensar rapidamente em alguma coisa. Qualquer
mentira era melhor do que contar a verdade – ele ainda está no colégio, mas ele
virá para cá. A professora o está trazendo.
- ótimo – falou pai nesse momento tossindo. Ele colocou a mão na frente
da boca e sua mão ficou totalmente suja de sangue. Meu pai olhou para a mão e
depois olhou para mim. Uma enfermeira veio limpou a mão do meu pai.
- o senhor vai ficar bem – falei tentando reconforta-lo.
- promete que não vai me deixar aqui com essas pessoas?
- prometo – falei ainda segurando a mão dele.
Nesse momento Steve passou pela cortina ao lado de Bryan.
Meu pai olhou para eles, mas não disse nada. Ele provavelmente nem tinha
chegado a conhecer Steve. Ele não era um pai muito presente e nunca tinha a
reuniões e essas coisas.
- como ele está? – perguntou Steve.
- está bem.
- e você? Como está?
- estou tentando fazer limonada, mas não está sendo fácil – falei
olhando para meu pai e depois de volta para Steve.
- sinto muito – falou Steve colocando a mão em meu ombro.
- nós vamos internar o seu pai – falou o médico vindo até onde estávamos
– nós podemos dar remédios para amenizar a dor dele, mas agora é questão de
tempo.
- tem certeza que não tem solução? Nem cirurgia pode dar mais tempo a
ele?
- infelizmente não – falou o médico – essa é a parte em que mais odeio
do meu trabalho.
- eu sei – falei me lembrando de Gray. Muitas vezes Gray tinha chegado
no meu apartamento triste porque tinha perdido algum paciente. Ele ficava
arrasado quando não conseguia salvar alguém e isso afetava ele em um nível
profundo.
- obrigado por tudo doutor – falei voltando a olhar meu pai.
Todos ficamos em silêncio por alguns instantes até que o meu celular
tocou dentro do bolso. Assim que tirei o celular do bolso e olhei na tela vi
que era uma ligação de Eve.
- preciso atender o telefone – falei tentando soltar a mão do meu pai
,mas ele segurou forte.
- fica aqui – falou ele segurando mais forte a minha mão.
- tudo bem – falei apertando o botão e levando o celular até a orelha –
fala Eve.
- Griffin? – perguntou Eve.
- pois não?
- finalmente você resolveu atender – falou Eve do outro lado da linha.
- desculpa ter recusado suas ligações.
- eu fiquei preocupada quando você não voltou na segunda, mas imaginei
que estava bem já que conseguia recusar minhas ligações e ignorar minhas
mensagens.
- o que você quer?
- preciso que você venha embora hoje. De preferência agora.
- eu não posso Eve. Tem algo acontecendo aqui.
- é sério Griffin. Pega suas coisas e trás o seu traseiro de volta para
a Califórnia.
- me dê um bom motivo.
- Morgan decidiu desligar os aparelho de Gray hoje a noite. Ela vai
fazer antes de você ter a chance e voltar.
- ela não faria isso. Como você sabe?
- Scott me contou. Ele quebrou o sigilo por sua causa.
- ela não pode fazer isso.
- você sabe que ela pode Griffin – falou Eve – Morgan está fora de si.
Ela está confundindo o ódio que tem com você com a raiva que sente pela
tragédia que aconteceu com Gray então eu sugiro que siga meu conselho. Se você
quer mesmo se despedir de Gray venha embora agora porque Scott disse que vai
deixar você entrar para vê-lo mesmo que Morgan não queira.
Olhei para meu pai e vi que no exato momento em que Eve me disse aquela
palavras meu pai vomitou sangue. Meu pai pareceu se engasgar e o médico e
alguns enfermeiros vieram até ele fazendo eu me afastar. Era como se estivesse
assistindo a cena em câmera lenta.
O olhar do meu pai era de cortar o coração. Ele parecia assustado e
confuso e ele estava com a mão esticada para que eu a segurasse. Tudo o que
precisava fazer por ele agora era ser um filho e ficar ao seu lado em seu pior
momento durante essas últimas horas que
ele ainda tem. Como eu posso escolher entre ficar e ir? Seria uma escolha
difícil para qualquer pessoa, mas não para mim. Porque eu preciso ser um filho
para ele se ele nunca foi um pai para mim?
- filho… - falou meu pai com os dentes sujos de sangue. Ele se esticou
tanto que conseguiu segurar minhas mãos, mas eu a puxei rapidamente.
- o que está fazendo? – perguntou Bryan.
- Eu não acho que você valha a pena então eu nem preciso deliberar –
falei olhando para meu pai dando dois passos para trás e me virando para ir
embora. Caminhei vagarosamente até a saída da emergência. Bryan e Steve ficaram
me observando e não fizeram nada enquanto eu simplesmente saí de lá. Precisava
pegar o primeiro voo de volta para Los Angeles.
Alguns podem me chamar de cruel. Alguns podem dizer que nenhum pai
mereça um filho como eu por abandoná-lo desse jeito, mas esse sou só eu fazendo
limonada. Aceito que Gray se foi, mas eu preciso de uma conclusão, de um
encerramento. Preciso sentir que houve um ponto final. Preciso dizer adeus
porque se eu não fizer isso acho que nunca vou conseguir superá-lo.
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